Alpha: O mundo antes de Divergente escrita por Regiane Belmonte


Capítulo 3
Capítulo 3




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Minha primeira aula é Literatura Inglesa, Tori faz essa matéria comigo. Minha segunda aula é História das Facções, nessa matéria aprendemos sobre o papel que cada facção desempenha na sociedade, seus manifestos, porque acreditam ou culpam algo.

– Gostaria de lembrar a vocês que amanhã será realizado o teste de aptidão. Atrasos não serão aceitos, portanto mostrem respeito. O teste pode mudar o futuro de vocês, pode ajudar ou atrapalhar a escolha que deverá ser feita depois – nossa professora fala com frieza e sem expressão alguma. Essa frase já deve ter sido decorada há muito tempo e está automatizada em seu plano de aula. Com isso ela nos despensa para que possamos ir. Estou tão nervosa com as palavras dela que nem me preocupo em parecer menos aliviada pra poder ir para minha próxima aula: História Humana.

Nessa matéria tenho a companhia de George, o que a deixa ainda mais agradável, nela aprendemos a história das civilizações que já povoaram a terra a milhares de anos atrás. E agora estamos aprendendo sobre Mitologia.

– Dá pra acreditar que eles acreditavam que existia um deus para cada coisa George? Que várias civilizações acreditaram nisso? Que adoravam imagens, faziam preces, oferendas e orações pensando que eram ouvidos? E que até entre eles mesmos existia diferença? Enquanto os gregos acham que o deus criador era Zeus, os romanos achavam que era Júpiter e os egípcios o deus Ré?

– Naomi você está começando a ficar fanática por isso. Deve ter sido uma deusa em outra vida – debochada George.

– Me diga de verdade se todas essas culturas, visões e crenças não te deixam encantado e assustado ao mesmo tempo? George, qual será o tamanho do mundo fora das fronteiras da cidade? Eu sei que aqui dentro estamos em segurança, mas não consigo eliminar a sensação de que estou perdendo algo extremamente importante – digo enquanto folheio encantada, o livro “Mitologias” que peguei emprestado da biblioteca.

– Uma verdadeira herdeira dos genes da Erudição - ele faz uma encenação, como se estivesse me entregando algum prêmio importante. - Seus pais devem sentir muito orgulho de você – termina apertando a minha mão.

Sou obrigada a rir com toda essa encenação cômica. George me faz bem, tinha quase esquecido por completo as palavras da professora de História das Facções. Assim que entramos na sala de História Humana e nos acomodamos, a professora, a senhora Charlote, começou a dizer.

– Hoje vamos terminar de conhecer os deuses egípcios. Abram na página 267, por favor. – ela fornece um olhar rigoroso aos membros da Audácia. Eles não são de dar valor aos conhecimentos gerais, então, ela sempre precisava ser mais rígida com eles.

Todos abriram o livro na página pedida e nela continha várias imagens diferentes.

– “A crença egípcia conta que no início existia apenas o oceano, e Ré, o deus do Sol, tendo nascido de uma flor de lótus, surgiu à superfície da água, trazendo consigo quatro crianças: os deuses Shu e Geb e as deusas Tefnut e Nut. Ré reinava acima de todos. Da união de Geb com Nut nasceram quatro crianças : dois filhos, Osíris e Seth, e duas filhas, Ísis e Néftis. Osíris sucedeu a Ré como rei da terra, com o apoio de sua irmã e esposa, Ísis – Charlote faz uma pausa e observa, acima do seu óculos, se a sala esta prestando atenção. - Seth, odiava o seu irmão, Osíris, então matou-o e conquistou o poder sobre a terra. Ísis embalsamou o corpo do marido com a ajuda do deus Anúbis, e ressuscitou Osíris, recorrendo à magia e o tornando senhor do submundo. Hórus, filho de Ísis e Osíris, derrotou, mais tarde, Seth numa grande batalha e tornou-se senhor da terra.”

Suas mãos não paravam de gesticular enquanto narrava a história para a turma. Charlote caminhava pelos corredores entre os alunos para que todos pudessem ouvi-la.

– “Partindo deste mito da criação, surgiu a conceção da Enéade, composta por um grupo de nove deuses, e da Tríade, composta por um pai divino, uma mãe e um filho. Todos os templos egípcios possuíam a sua Enéade e Tríade. A origem das divindades locais é obscura. Pensa-se que umas tenham sido adotadas e adaptadas de religiões estrangeiras que, gradualmente sofreram um processo de fusão e se transformaram numa estrutura religiosa complexa”.

As vezes ela acabava sumindo do meu campo de visão, contudo, cada movimento que ela fazia com as mãos parecia estar fundido na história, então me esforçava muito para não perder um movimento sequer.

– “Os deuses egípcios eram, geralmente, representados com corpo humano e cabeça humana ou animal. Por vezes, os animais estavam associados e expressavam características dos deuses. Ré, por exemplo, era representado com uma cabeça de falcão, sendo este animal sagrado pelo seu voo cortante, Hator, a deusa do amor e da alegria, era representada com a cabeça de uma vaca. Como vocês podem observar na página 267 há algumas fotos dos deuses, seus nomes e o que os egípcios acreditavam que eles podiam fazer. Se divirtam.”

Com essas ultimas palavras ela nos deixa a vontade para discutir com os colegas as informações que acabamos de processar. Cada um virou para seus próprios grupos divididos pelas facções. Enquanto olho, abobalhada para a riqueza de detalhes das imagens esculpidas dos deuses, ouço George comentar.

– Já encontrou sua forma original de deusa Naomi?

– George, pare de ser irritante e diga se tudo isso não é maravilhoso?

– Devo concorda que você está certa super gênio mirim, mas você deve concordar comigo também quando digo que essa deusa é a sua cara. – Ele fala apontando para uma das imagens.

Sigo seu dedo com os olhos e resolvo ler o nome da deusa: “Selkis – a deusa escorpião”.

– Eu tenho cara de escorpião por um acaso George? – pergunto rindo.

– “O Egito abrigava dois tipos de escorpiões: um mais escuro e relativamente inofensivo e outro mais claro, mas venenoso. A deusa Selkis tomava justamente a forma de um desses animais e, apesar da periculosidade do bicho, era uma divindade protetora e curadora que defendia contra a picada desses artrópodes. Seu nome no idioma egípcio era Serket-Heru, que significa “aquela que faz a garganta respirar” ou “a que facilita a respiração na garganta”, já que a picada do escorpião produz asfixia. Essa denominação também se relaciona com a ajuda que a deusa prestava para que o recém-nascido ou o defunto em seu renascimento, ela os ajudava para que pudessem respirar. Nos textos funerários surge como a mãe dos defuntos, aos quais amamenta. No além-túmulo ela ajudava no processo de renascimento do falecido, orientava e dava-lhe o sopro da vida. Foram os gregos que lhe deram o nome de Selkis.” – leu ele. – Esta vendo? Você é branca e venenosa, foram os gregos que a deram esse nome a deusa e tenho minhas duvidas se você é ou não a mãe dos defuntos, porque é desse jeito que você fica quando coloca esses óculos gigantes no seu rosto: com aparência de gente morta. – Ele fala baixinho para que nenhum outro membro da Erudição além de mim possa ouvir e em seguida, começa a segurar o máximo que pode um ataque de riso.

– Seus argumentos irrefutáveis me deixaram sem fala senhor cabeça de miolo verde. Quando miolo amadurecer – soltei um sorriso enquanto apontava o dedo no meio da testa dele – retomaremos o assunto.

Os dois riram discretamente, como dois irmãos riem após muito se provocarem. Voltei a ler a descrição da foto de “Selkis – A deusa escorpião” e não pude deixar de pensar que, talvez, por ela ser representada por um animal tão fatal, ela seja ainda mais forte e perigosa do que os próprios egípcios pudessem imaginar.


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