O nascimento da Loucura - One Shot escrita por O Viajante


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Só gostaria de esclarecer que a presença de uma cruz aqui, não significa que estou misturando religião. Vale lembrar que isso era um instrumento de tortura.



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O nascimento da Loucura – Da Aurora do Caos ao Armageddon das filosofias

Os espelhos se quebraram – A verdadeira face – A rotina da loucura aceita – A lógica imoral do universo – Eu sou isso – Seria a Loucura nossa maior genialidade? – O que vemos no espelho do caráter? – O universo não conspira ao nosso favor

O céu estava limpo. Um azul maravilhoso e envolvente. As montanhas e planícies eram verdejantes, cheias de animais e muita vida. Mas algo me deixava inquieto. Eu. O criador de todas estas coisas.

Uma montanha negra se ergueu no horizonte, além do oceano. Como um câncer num corpo sadio.

Vamos aceitar? O câncer nos sufoca.

Correndo pelo céu, veio um anão gigante, carregando alguém amarrado a uma cruz.

Temos carregado a nossa cruz? Ou estamos nos crucificando?

A cruz pesada caiu sobre uma planície, cobrindo ela inteira. A pessoa que estava amarrada não tinha sexo, nem feições que definissem o que ela era. Ela era apenas... ela.

Nós crucificamos aquilo que não conhecemos.

Ao longe, uma montanha com cabeça de pássaro observava o céu com um olhar velho e cansado. Era o nascimento de algo pesado. Um olhar triste, como o daqueles velhos enrugados que sofrem com a seca.

Vamos aceitar os olhares tristes à nossa volta e simplesmente ignorar? Estamos parindo algo horrível. Nós mesmos.

Nuvens negras começavam a cobrir todo o céu. Baleias voavam entre as estrelas, e furacões de fogo se misturavam com os corais no fundo do mar. E que comece o parto!

O chicote profano cortou o ar em um silvo, e o grande carrasco, com cabeça de gigante, corpo de dragão e pernas de gato, açoitou o pobre corpo amarrado.

O chicote era feito com nossas próprias críticas. E de nossas ilusões.

O grito da criatura amarrada fez o céu mudar de cor, abismos foram abertos e flores nasceram na Lua.

Mais forte! Mais chicotadas!

Porque nós nunca nos cansamos de reclamar.

Os cortes profundos iam se abrindo na carne branca. Enquanto o anão gigante começava a pregar os cravos nas mãos amarrada. Pequenos demônios assistiam aquilo, horrorizados, gritando como trombetas apocalípticas.

A sanidade estava abalada. Nossa lógica é mesmo lógica? Quem somos nós para falarmos alguma certeza sobre a existência?

Uma guerra estourava nos confins da Terra. Homens com cabeça de navio lutavam contra mulheres com cabeça de machados.

Afinal, nossas cabeças foram feitas para esmagar. Es-ma-gar.

O silvo do chicote, o grito assustador, a festa profana, a bestialidade quase humana, o nascimento da dor, o regozijo do horror, a confusão do amor. Tudo isso era um torpor. Onde está a lógica de tudo? Que certeza nós temos do mundo? Vivemos em mundos próprios, alheios e sórdidos. Criamos nossa própria justiça, nossa própria polícia. Não gostamos de ouvir a verdade, nós queremos a vaidade. Vamos beber ela sem pudor, e cavalgar cegos para o fundo do oceano da crise. Nossa existência tem limites? Ou só a raça humana que tem seus fetiches?

Nós temos um prazer e sentimos uma atração por tudo aquilo que é sádico. Mas nós nos sentimos bonitos, nos sentimos... boas pessoas. Nem sabemos de onde nascemos. Nascemos das chicotadas.

O universo mental seria criado naquele mesmo dia, entre uma chibatada e outra. Os braços do céu lutavam contra os braços da terra. Naquele dia, sem motivo algum, e sem objetivo nenhum, criávamos o monstro que nos aprisionaria para todo sempre. A cruz era erguida, como espetáculo para o mundo. O sangue pingava, e a sede se saciava. Monstros inquietos, futuras pessoas incertas. Monstros existem, e moram dentro de nós.

O céu se rasgou, o chão se costurou, e tudo se misturou. Ao longe, um gato preto observava tudo na mais profunda calma e no mais assustador alienismo. Observava o próprio nascimento, a própria concepção. A própria loucura derramada sobre toda vida criada. O leão rugia e o urso matava. Quem somos nós, para encararmos a vida?


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Notas finais do capítulo

Não acho que tenham muito o que comentar... mas se quiserem, eu agradeço.

Não, não me droguei. Eu apenas tenho alguns "surtos" de consciência, e decidi escrever algo.