Depois da Meia-Noite escrita por Borboleta Negra


Capítulo 4
Caçada




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Quando as três belas criaturas emergiram do lago para os limites da floresta de Forks, notaram imediatamente que havia algo estranho acontecendo. Um cheiro insuportável preenchia o ar e a terra tremia conforme o ritmo de passadas pesadas e rápidas do que pareceu ser o início de uma perseguição. Algum ser, ou melhor, um grupo de seres se aproximava ferozmente dali.

— Beth, acho que não somos bem-vindos. — disse o rapaz para a vampira negra que ouvia atenta às passadas se aproximando — Alguma coisa está vindo reivindicar o território.

— Talvez eles se dispersem quando virem que só estamos de passagem pela floresta...

— Que nojo! — reclamou Charlotte, farejando o ar — Tem alguma ideia do que são esses bichos fedorentos?

— Não, mas aposto que descobriremos logo, logo, se ficarmos aqui. Vamos tentar despistá-los.

Os três concordaram e correram para o meio das árvores, numa direção diferente daquela de onde vinha o cheiro desagradável. Mas nem bem se afastaram do lago, ouviram as passadas mudarem de direção, seguindo-os.

— Ah, tá de sacanagem! — bufou Charlotte.

— Devemos parar e confrontá-los? — indagou Vince.

Elizabeth irritou-se com a simples ideia de parar naquele momento. Estavam tão perto!

— Nem pensar. — disse ela, dobrando a força de suas pernas até que a velocidade fizesse seus pés mal tocarem o chão durante a corrida. Os outros dois fizeram o mesmo, logo a mata passava como um borrão por eles.

Já haviam suportado tanta coisa antes de conseguirem chegar até ali. Desde confrontos com outros vampiros, até uma horrenda viagem de navio, em que tiveram de conter sua sede até quase morrerem de fome, não era agora, por causa de simples animais selvagens, que iam parar. Elizabeth só pensava em chegar logo ao seu destino. O que mais queria naquele momento era achar os Cullen, e nada iria lhe impedir.

Mas as passadas ferozes que os perseguiam também aumentaram a velocidade e chegavam cada vez mais perto, para o terror dos três.

Até que, num momento, Vincent olhou por cima dos ombros e viu o que pareciam cães enormes com dentes afiados, rosnando e correndo ao seu encalço. Só podiam ser cães do inferno, pensou o galês, que sempre adorou mitologia, mas não estava gostando nem um pouco daquela visão. Aquelas criaturas tinham olhos de gente, demoníacos, e estavam perto demais.

— Subam nas árvores! — gritou o vampiro.

Mas os cães pareceram entendê-lo também, o que era assustador e estranho ao mesmo tempo, e saltaram com toda a força de seus tendões na direção dos três para que eles não pudessem escapar. Por um triz, Elizabeth e Charlotte conseguiram escalar o tronco de um carvalho alto, mas Vincent não teve tanta sorte. No instante seguinte, seu rosto estava no chão de terra e patas pesadas pressionavam suas costas.

­— Vince! — gritou a vampira ruiva, em desespero.

E as duas, de cima da árvore, assistiram o galês ser abocanhado por dentes enormes e ter sua cabeça arrancada do corpo.

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            Jacob quase riu de prazer sádico ao arrancar a cabeça daquele vampiro. A sensação inebriante invadiu a todos da matilha conectados a ele telepaticamente, mas também a confusão os invadiu segundos após, quando Jacob viu o corpo decepado se evaporar diante de seus olhos como fumaça.

            Elizabeth e Charlotte também quase não acreditaram no que viram.

            — Sentiu minha falta, ruivinha? — Vincent apareceu empoleirado ao grande carvalho ao lado da vampira ruiva com um sorriso zombeteiro nos lábios.

            Charlotte só não o socou porque isso o faria voar do carvalho direto na direção dos cães selvagens. Mas ela gritou. Muito. Alto.

            — Seu idiota! Quer me matar do coração?!

            — Como se você já não estivesse morta. — riu Vincent.

            — Ah, muito engraçado. Por que fez isso?!

            — Eu disse que você ia me pagar pelo que fez conosco no lago, não disse?

            Elizabeth pensou por um segundo no que havia acontecido. Então, sorriu.

            — Muito inteligente, Vince. — ela pareceu ser a única que afinal entendera o que ele havia feito.

            Os cães enlouquecidos lá embaixo rosnavam com ainda mais ferocidade do que antes.

            Furioso, Jacob começou a atacar o tronco do carvalho com as patas e os dentes. Num primeiro momento, os vampiros riram daquela atitude, mas quando perceberam que o tronco começara a ceder, seus olhos se arregalaram de medo.

            — Jacob, pare! — gritou uma voz feminina, vinda de algum ponto da floresta. — Eles não são uma ameaça! Alice previu que eles trariam uma mensagem importante!

            Em segundos, a dona daquela voz apareceu na clareira. Estava com as mãos estendidas na direção do tronco do carvalho e, de algum modo, isso fazia com que os ataques dos lobos fossem repelidos, como que por um campo de força invisível. Logo atrás dela, outros vampiros vieram um a um.

            — Os Cullen... — deduziu Elizabeth.

            Os lobos pararam, enfim, mas não pareciam muito contentes com aquela decisão.

            — Sinto muito pelos nossos amigos. Estranhos são sempre suspeitos por aqui. — disse um vampiro loiro, que parecia ser o mais velho. Beth, Charlotte e Vincent não ousaram se mover no lugar onde ainda estavam empoleirados. Em sua opinião, os cães gigantes não haviam deixado de serem assustadores, embora tivessem parado de atacar e rosnar. — Eu sou Carlisle Cullen e esta é a minha família. Quem são vocês?

            — Graças a Deus, conseguimos... — sussurrou Charlotte.

            Elizabeth fez sinal para os outros dois e saltou do carvalho, pousando graciosamente na terra. De relance, encarou os lobos, ainda desconfiada, mas baixou a cabeça em sinal de respeito. Enfim, olhou para cada um dos vampiros que Carlisle havia apontado como sua família. Então eles existiam mesmo, os Cullen, mas eram muito diferentes do que ela havia imaginado.

            Do jeito que os outros clãs se referiam àquele, a imagem que Elizabeth criara dos Cullen era como se eles fossem uma espécie de super-heróis. “O clã que subestimara os Volturi”, eles disseram, “O clã que sobreviveu ao julgamento de Aro”, “O clã que faz o que bem entende”, “O clã que pode salvar qualquer vampiro”. Mas, olhando para eles naquele momento, pareciam apenas uma família comum. O patriarca, Carlisle, não passava a impressão de alguém feroz, a quem os Volturi não ousariam desafiar. Beth não tinha certeza se deveria ficar desapontada ou aliviada com aquilo.   

            — É um prazer finalmente conhece-los, e um grande alívio também. — começou ela. — Eu sou Elizabeth Arkwood e esses são Charlotte Scarlet e Theo Vincent Malnik... Nós estamos em apuros.

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            — Tudo começou numa noite tranquila há oito meses. Estávamos no meio de uma floresta, na Itália, num lugar completamente isolado, fora do alcance de qualquer pessoa. Passamos três dias sofrendo com a transformação vampírica, até o ponto em que tudo o que conseguíamos escutar eram os gritos um do outro. Achamos que havíamos morrido e ido parar no inferno. Quando acordamos, quase ao mesmo tempo, estávamos completamente sozinhos e fomos imediatamente atordoados por nossos novos sentidos, de modo que não pudemos nos mover por longas horas, apenas porque não conseguíamos parar de encarar o céu estrelado. Era como se estivéssemos em transe e fora do controle de nossos próprios corpos. Algo queimava em nossas gargantas e não sabíamos dizer o porquê de estarmos ali, quem éramos ou como havíamos chegado lá. Tudo o que tínhamos eram nossos nomes e pouquíssimas lembranças do nosso passado, que, na verdade, pareciam mais lembranças de um sonho.

            Estavam todos reunidos na sala de estar da casa dos Cullen, ouvindo atentamente o que a vampira negra tinha a dizer. As sensações que ela descrevia eram conhecidas pela maioria dos vampiros ali reunidos, mas ainda assim provocavam calafrios.

Todos haviam sido propriamente apresentados, até mesmo Jacob e a matilha. Os três recém-chegados ficaram impressionados ao conhecerem a verdadeira natureza daqueles lobos, só não os haviam enchido de perguntas ainda porque, como manda a ordem, os estranhos é que devem se apresentar primeiro e esclarecer o motivo de sua vinda. Assim, todos se reuniram na sala de estar e a resposta completa para a primeira colocação de Carlisle ­– “Certo, comecem do início.” – estava sendo dada agora. Beth tentava ser o mais detalhista possível.

— Horas depois um homem encapuzado apareceu, acompanhado de três crianças que não reconhecíamos. Ele se apresentou como nosso mestre, mas não disse seu nome e tampouco mostrou o seu rosto. Disse que as crianças seriam nossa primeira refeição e disse também que havíamos deixado de ser humanos para nos tornarmos criaturas da noite. Não nos deixou fazer nenhuma pergunta. Parecia estar com pressa e queria se livrar logo de nós. Ele não demonstrava a mínima paciência para com os nossos anseios. Vincent tentou até argumentar com ele, mas levou uma surra descomunal, que serviu de exemplo para nós duas.

Nesse momento, Vincent pareceu se encolher no sofá.

— Ele partiu deixando as crianças ali adormecidas ao nosso lado. Havia dado alguma droga a elas, de modo que nem sentiram quando ele cortou seus pulsos deixando o sangue jorrar para nos enlouquecer. A primeira vez que percebemos que nosso desconforto na garganta era por falta de sangue, nos apavoramos. Imediatamente lembramos as histórias de vampiros e nos tocamos do que havia acontecido conosco, por mais que tudo aquilo parecesse extremamente surreal. Recusamo-nos a saciar aquela fome, mas o impulso foi maior do que a nossa vontade. Lembro-me de ter perdido a consciência quando cravei os dentes pela primeira vez na carne humana. Foi como se, por um momento, tivesse me transformado em um animal... Sem ofensas. — Beth olhou para Jacob, que franziu o cenho, claramente irritado com a comparação.

— Não chegaram a ver o rosto de quem os havia transformado? — perguntou Rosalie.

— Ele ficou conosco por menos de uma hora e não se apresentou nem removeu o capuz uma única vez. Nos deixou ao Deus dará, completamente sozinhos e sem nenhuma informação sobre a nossa nova condição. Sinceramente, até agora não sei como sobrevivemos à nossa primeira noite.

— Conheço a sensação. — disse Alice, com um sorriso triste nos lábios. — Bem, pelo menos vocês tinham um ao outro.

—... Isso não tornou as coisas mais fáceis, pelo contrário. — retrucou Charlotte — Lutamos até quase nos matarmos nas primeiras horas em que ficamos sozinhos.

— Estávamos completamente descontrolados. — ajuntou Vincent.

Renesmee ouvia tudo atentamente. Como nunca havia experimentado nenhuma das sensações descritas por Elizabeth, a narrativa lhe fascinava tanto quanto as histórias de terror contadas em volta da lareira fascinam às crianças curiosas.

— Ok, ok. Isso é comovente. Mas, que tal vocês encurtarem a lenga-lenga e nos dizerem de uma vez o que estão fazendo aqui? —Jacob não conseguia encarar com bons olhos aqueles três vampiros de olhos vermelhos sentados à sua frente. Especialmente aquele tal de Vincent, o que tinha lhe feito de bobo durante a caçada na floresta. Renesmee quase lhe socou por fazer aquela pergunta sem noção.

— Não seja tão insensível, Jake!

— O que a historinha de transformação deles tem a ver com o fato de estarem aqui?!

— Nunca pensei que ia dizer isso... — começou Edward, sentado sobre o piano de cauda — Mas concordo com o Rex...

— Rex é a sua...!

—... Acho que o que vocês estão tentando fazer é nos comover, para conseguir que os ajudemos mais facilmente.

— Não estamos tentando nada. — respondeu Beth. — Mas realmente precisamos de ajuda. O fato é que... Como eu disse, não nos foi explicado absolutamente nada na noite em que fomos transformados. De modo que nos encontrávamos completamente desamparados e sem ter para onde ir quando os Volturi nos acharam, e essa é a parte importante da história.

O silêncio recaiu sobre todos ao escutarem o nome do clã italiano.

— Então vocês se associaram a eles. — concluiu Edward.

— Pelo menos até descobrirmos quais eram suas verdadeiras intenções...

— Não tivemos escolha. Eles nos ofereceram um teto. Era tudo o que precisávamos saber.

Carlisle lhes entendia perfeitamente. Ele mesmo havia se aliado aos Volturi em tempos antigos, justamente por querer encontrar neles uma família a qual pertencer. Infelizmente, o clã italiano não pensava em si mesmo como uma família, mas como uma Ordem, uma organização... um exército.

— Faz algum tempo que não ouvimos falar nos Volturi. Eles perderam parte de sua influência no mundo vampírico, mas aposto que ainda continuam ameaçadores. — refletiu o patriarca.

— Sabemos muito pouco sobre quem eles foram no passado. — respondeu Beth. — Mas por causa dessa perda da influência que tinham, o clã tem agora um novo propósito...

— Caçar vampiros. — terminou Vincent.


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