Nos acomodamos no sofá da sala e ligo a TV baixinho. Dan começa a falar sobre sua vida para mim e fico completamente concentrada com a narrativa.

– Lembra daquele casal que veio aqui umas 10 vezes procurando uma criança para adotar, pois a mulher não podia ter filhos, já que tinha uma doença e estava em tratamento, só que esse tratamento poderia durar a vida toda? - ele começa.

– Lembro sim. - falo depois de raciocinar uns minutos.

– Então, quando eu tinha 7 anos eles me viram aqui e perguntaram se eu já estava sendo adotado e aquela outra parte lá toda burocrática... Como a irmã disse que não, eles fizeram questão de preencher todos os formulários na mesma hora para não correr o risco de perder "um tesouro de menino" como eu. - disse Dan e pude ver que estava emocionado. Limpei seus olhos e o abracei de lado, já que estávamos deitados no sofá. Ele então continua. - E desde então eu sou há 20 anos filho de Thiago Salvador e Rosa Maria Salvador. - ele diz, com um sorriso no rosto, apesar dos olhos cheios d'água e rosto vermelho.

– E o Thiago? - acabo perguntando. - Também é adotado?

– Pois é, uns dois anos depois que eu fui adotado, minha mãe conseguiu por fim naquela merda de doença e pode engravidar de novo, mas foi muito complicado pra ela. Quando ela me adotou, já tinha 30 anos e quando se recuperou de vez, 32. Depois de mim, mamãe perdeu mais dois filhos antes do Thiago e mesmo com ele foi muito dificil. A gravidez foi de risco por que ela já não era mais tão novinha assim e eles quase morreram no parto. - ele disse e pus as mãos na boca, visivelmente surpresa. Céus, que reviravolta!

– Nossa. - digo admirada e assustada ao mesmo tempo. Santa coragem! - Lindo o modo que você chama sua mãe de mamãe. - falo e é verdade. Tomo coragem e pergunto outra coisa, mas que, no momento, está me deixando muito curiosa. - O Thiago é Junior ou Filho? - pergunto rindo e Dan sabe o porque.

– Sabia que você ia falar isso, - ele me faz cócegas e fico que nem uma ameba pelo sofá, mas logo volto ao normal. - mas para sua infelicidade, é Filho.

– Nossa, que podre! - digo rindo. - Mas e então, planos para hoje? - pergunto.

– Emma, se liga, ainda não são nem 8 horas da manhã! - ele bagunça meu cabelo. - Você não tá com sono não? Não tem nada para fazer?

– To e tenho. - admito, lamentando. Dan me da um beijo estalado na bochecha e se levanta, me puxando logo depois.

– Então pronto. Você vai dormir enquanto eu turisto pela sua casa, depois faço um almoço para nós.

Deixo ele fazer o que diz, apesar de não estar muito de acordo. Quando entro no meu quarto, vou até minha janela e observo Storybrooke, me deparando com uma cena bem esquisita e atormentadora. Killian indo em direção a casa da prefeita Regina? Que diabos ele vai fazer lá? Será que eles tem um caso? Mas ela não estava com Robin?

*

Depois de especular mais de mil coisas, deixo Killian apagar esse ponto de interrogação na minha mente, já que o questionarei assim que nos virmos. Durmo até às 13 horas e fico olhando meu teto quando, aparentemente, estou sem sono. Agora há mais questões em minha cabeça. Além de Killian, Dan.

Killian: Porque ele caiu no sono? E o que iria me propor? Lembro também que disse "é pra já" quando disse sobre conhecer NY e mostrou o Jolly Roger, será que ele iria me convidar para viajar com ele ou algo assim? E o que ele foi fazer na casa da Regina?

Dan: Porque não me contou sobre sua família antes? Porque será que ele tá tão firme em juntar eu e o Jones se nós nem nos conhecemos direito? Quer dizer, conhecemos... né?

*

– Acorda Bela Adormecida! - diz Dan, pulando em cima de mim, praticamente.

– Eu já estou acordada. - falo, vendo-o rir. - E sou a Rapunzel aqui, lembra? - dou uma piscada brincalhona.

– Infelizmente.. Sim. - ele disse, bagunçando meu cabelo. - Olha, já fiz o almoço e chamei os meninos, tudo bem? - ele disse, sorrindo.

– Cara de Pau! - falei, dando tapas no braço dele. - Quem você chamou?

– Thiago, Killian, James e Branca. - ele diz, fazendo uma careta. - Ela é adorável, não tem como você não gostar dela.

Céus, uma mulher, amém! Já estava me sentindo meio homem, já que só tenho amigos nesse sexo, mas não posso reclamar, nenhum deles (Graham, Killian, Thiago, Dan e James) são feios, muito pelo contrário.

– Cara, eu te amo! - puxei Dan pelo pescoço. Aquele perfume bom de novo. Oh céus, daqui a pouco não responderei por mim. - Vou tomar banho. - disse, depois de uma sessão de beijos no pescoço e bochecha dele.

– Vai mesmo, porque você está com essa roupa desde que acordou e isso faz tempoooo... - Palhaço. - Mas eu também te amo Em... - ele bagunçou meu cabelo. - Agora, anda porque daqui a pouco seu perfume vai acabar e eu estou me segurando para não te agarrar! - ele disse, rindo e depois saiu do quarto.

Devo ter ficado alguns segundos paralisada e corada, com certeza. Senti a segunda intenção de Dan, foi isso mesmo? É esse o mesmo Dan que tá dando mó bola para o Killian só para eu dar uma chance "dele me fazer feliz"?

Fui ao closet e peguei uma das minhas roupas favoritas: meu vestido florido. Ele é todo soltinho, tirando a parte do peito e tem um misto de flores que formam a estampa. Peguei alguns acessórios como minha pulseira de estrelas dourada e meus brincos longos, também dourados. Para ser mais rápida, ao chegar no banheiro, liguei o chuveiro em vez da banheira.

*

Depois de mais ou menos uns 30 minutos, eu estava pronta. Deixei meu cabelo não ficar tão molhado, até porque ficava super cheio e eu odiava com todas as forças ele assim. Passei uma maquiagem leve com apenas lápis de olho, rímel e gloss claro.

Dou uma olhada pela minha janela e meus olhos focam em uma cena épica: Killian saindo da prefeitura conversando animadamente com a nossa queridíssima prefeita Regina. "Resolver problemas, né Killian Jones?", penso, mas deixo de lado, até porque tenho que descer.

Vejo ele andando depressa, provavelmente atrasado com o horário que Dan marcou, se bem que, até eu, que sou a dona da casa, estou, então não o colocaria numa guilhotina ou coisa parecida por conta disso. Da porta do meu quarto eu pude ouvir vozes e risadas conhecidas ou não, minha curiosidade conseguia aumentar a cada degrau que eu descia. Incrível.

– Olha ela ai gente! - disse James de mãos dadas com a Branca, suponho.
– Oi galera. - cumprimentei com um alô geral e depois fui falar um por um, passando reto por Killian e Dan, que já tinha visto hoje. - Oi, você é a Branca né? Me falaram tanto e tão bem de você. - digo, dando dois beijinhos nela.

Branca está com um short jeans e uma blusinha branca larga. Ela tem cabelos longos e pretos e olhos de mesma cor, seu sorriso é doce e é possível ver a inocência em seu rosto. Céus, ela deve me achar a puta das putas, afinal, é como eu sou conhecida nessa cidade.

– O que houve? - pergunta Thiago.

– Nada não. - digo e é, de certo modo, verdade. Ninguém precisa saber o que penso, né?

– Ah tá... - ele se fez de desentendido. - Mano, pode trazer a comida agora, por favor? Eu estou morrendo de fome! - ele diz, passando a mão pela barriga.

– Ai eu também! - me pronuncio. - Alias, deixa eu contar. Esse ser saiu metendo a mão na minha casa para cozinhar, - digo, rindo com todos, que me acompanham. - então se estiver ruim, não fiz nada. Não me culpem! - finalizo.

– É claro que vai estar bom! - pronuncia-se Branca. - Dan é um cozinheiro de mão cheia, - ela diz, sorrindo. James olha para ela com um brilho no olhar tão grande, que se estivesse escuro e faltasse luz naquele momento, os olhos dele seriam nossas lanternas mais potentes. - adoro tudo que ele faz. - ela continua e depois dá um beijinho de leve na boca de James, que pela sua reação, parece surpreso. - Ah, não posso deixar de lado meu namorado, se não ele acaba comigo. - ela diz, fazendo uma careta e rio inocentemente, mas calma, namorado?

– Vocês estão namorando? - pergunto. - Que meigos! - digo, tomando um gole de refri. Nada de bebida, por enquanto.

Thiago conversa animadamente com James e Branca. Killian está tão quieto que tenho até medo, já que ele é um tanto que, falante. Ouço Dan gritar pedindo ajuda para pegar a comida e aproveito a chance para tirar a criatura viajante vulgo Killian do mundo que ele está e ir ajudar comigo.

– Vamos? - pergunto em pé ao lado dele. Killian levanta da cadeira e vai atrás de mim para a cozinha.

Vejo a cena mais engraçada da vida. Dan está com aquelas luvas de pano(aquelas que não te deixam queimar a mão, sabe?) segurando duas travessas de algo que ainda não sei o que é. Ele está apontando para minha bancada e vou com Killian pegar o que resta. Arroz, feijão, uma salada verde e outra de legumes. Quanta comida! Faz milênios que não como comida caseira. Além da lasanha da vovó e meus doces, meus pratos são a base do fast food e delivery, já falei isso, não é?

Peguei a saladas e Killian as panelas com o resto da comida. Andamos em um silêncio absurdo até o corredor, quando eu consegui falar algo.

– Está tudo bem?

– Sim. - ele disse, sem olhar para mim.

– Mesmo? - deixei uma salada na mesa por perto e fiz ele virar seu rosto, obrigando-o a olhar para mim. Ele parecia abatido e não sei porque, mas aquilo me incomodou. O que teria acontecido? - O que houve Killian?

– Nada Emma. - ele apontou com o olhar para a salada. - Vamos, eles estão esperando.

– Claro que tem algo acontecendo! - protesto mais alto do que imaginei, então cubro a boca meio assustada e Killian me repreende com o olhar. - Porque você saiu daqui que nem louco? E dormiu do nada! Você está doente ou foi a bebida mesmo? - ele voltou a olhar para baixo. Me bateu uma vontade de dar um tapa naquela cara que estava até me preparando psicologicamente para isso. - O que você foi resolver que não pode nem esperar o café que eu estava fazendo, se não fosse por Dan... - paro por conta da mão de Killian na minha boca, pedindo silêncio. Boto a outra salada em cima da mesma mesa, implorando mentalmente que nada estrague.

– Emma, eu ter dormido foi a bebida sim, isso é bem normal.

Cruzo os braços.

– E o resto?

– O resto não interessa agora. - ele diz, mais seco que o Saara. - Agora pega essas merdas de saladas que eu estou com fome e não estou nem um pouco afim de discutir com você, tá legal? - ele diz, e meus olhos ardem de raiva ou qualquer outra coisa. Obedecendo suas ordens, pego as saladas e vou para a mesa. Vejo Thiago tentar falar algo, mas ele fica mudo, percebendo o clima tenso.

Almoçamos todos em silêncio e isso é esquisito demais. Quem esse cara é, afinal?