Você Me Tem escrita por Hanna Martins


Capítulo 15
O amor é destrutivo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo importante para compreender um pouquinho de Katniss.



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A tagarelice de Annie mantinha todos entretidos, até mesmo Finnick parecia estar a escutando com maior atenção do que habitual. Katniss sabia do esforço de Annie para conquistá-lo. Tudo tinha parecido inútil até aquele momento. No entanto, talvez, bem lá fundo ainda havia alguma chance.

Stefan era o segundo mais animado dos quatro (só ficava atrás de Annie). O irmão de Finnick era um cara bem interessante. Sua grande paixão eram os esportes radicais. Nos finais de semana, praticava alpinismo. E quando tirava férias sempre ia para um lugar onde pudesse praticar cave diving, uma modalidade de mergulho que incluía a exploração de cavernas subaquáticas.

― Você já quase ficou sem oxigênio em uma caverna! ― Espantou-se Katniss.

― É, foi uma experiência bem interessante ― disse Stefan, sorrindo. ― Ainda bem que sou um mergulhador experiente. ― Tomou um trago de seu drink. ― Meus pais diziam que eu só havia nascido humano por engano, porque na verdade eu era um peixe! Acho que eles tinham certa razão! Annie também concorda com isso.

Finnick lançou um breve olhar para o irmão. Deveria ser horrível para ele ouvir Stefan falando da noiva. Era nítido o amor de Stefan por ela. Isso só deveria tornar tudo ainda mais complicado do que já era.

― Ela também adora mergulhar. Annie é uma ótima mergulhadora. Até pensamos em fazer um casamento subaquático.

― Ei, Annie, vamos dançar! ― falou Finnick repentinamente.

Aquilo pegou Annie de surpresa e um enorme sorriso se formou em seus lábios.

― É claro!

― Os dois formam um belo casal, não acha? Pena que meu irmãozinho é um tanto lento em certas coisas ― disse Stefan, observando o irmão ir para a pista de dança.

― Então, você descobriu?!

― Está bem óbvio que Annie é caidinha pelo tolinho do Finnick. ― Ele deu uma gargalhada.

Annie não perdera tempo em agir, logo no dia seguinte ao conhecer Stefan já havia dado um jeito de marcar um passeio. E lá estavam os quatro. Haviam saído para dançar.

Katniss deu um trago em sua bebida.

― Eu não entendo este meu irmãozinho! Finnick nunca teve nada sério com ninguém, nunca namorou de verdade. As garotas sempre passaram pela vida de Finnick como as ondas, nunca permaneceram por muito tempo e nem deixaram marca alguma... ― afirmou Stefan pensativo, enquanto olhava para seu drink.

― Talvez, Finnick só tenha medo de se envolver com alguém ― falou simplesmente, não podia revelar a verdade, que Finnick amava tanto uma mulher que não via nada além dela em sua frente.

― Talvez... ― concordou. ― Finnick sempre foi uma pessoa solitária, embora esteja rodeado de pessoas. Ele sempre foi o garoto popular do colégio, aquele que era chamado para todas as festas. Aquele cheio de amigos, que andava sempre com algum grupinho. Mas, ninguém nunca viu sua outra faceta...

Lembrou-se de algo que Finnick havia lhe dito algum tempo atrás, “Não há nada mais solitário do que estar cercado por pessoas”.

― Perdemos nossos pais muito cedo. Isso nos tornou solitário. ― Stefan sorriu de um jeito melancólico.

― Eu também perdi meu pai muito cedo... 

Stefan tentou colocar um sorriso animado no belo rosto.

― Não é hora de ficarmos tristes! Saímos para nos divertir, não é? Que tal uma dança?

Katniss concordou. Ela também precisava de um pouco de diversão. Foram para a pista de dança.

Os quatro dançaram até seus pés implorarem para parar.

Já que era quase quatro da manhã, quando Katniss chegou em sua casa. Praticamente desmaiou na cama e só foi acordar com o som do celular, era uma mensagem de Johanna a convidando para sair junto com Rue.

Era sábado. Poderia ficar até tarde dormindo. Entretanto, resolveu sair com Rue e Johanna. Arrumou-se rapidamente.

― Já vai sair de novo, Katniss? ― A voz da mãe a apanhou quando descia as escadas. ― Pensei que poderíamos sair nós três hoje...

Olhou para a mãe que descia as escadas.

― Não ― respondeu friamente.

― Katniss, eu estou tolerando muito bem esta sua rebeldia, mas você já está passando dos limites. Não pense que tolerar esta sua malcriação está sendo fácil para mim!

Aquilo irritou Katniss. Já estava terrivelmente cansada daquele joguinho.

― Não precisa tolerar minha malcriação mais. Você e eu sabemos muito bem que você nunca quis isso ― destilou uma enorme dose de sarcasmo.

A senhora Everdeen a olhou espantada.

― Do que você está falando?

― Eu sei, mamãe ― sua voz tinha um toque de crueldade. ― Que você nunca quis ser mãe, que você só teve Prim e eu por causa do papai. Era ele que queria ter filhos e não você! Você nunca quis ter filhos.

Katniss a encarou esperando por uma resposta.

Ela soubera daquilo desde os doze anos. Escutara a mãe falando com uma amiga que se pudesse voltar no tempo nunca teria tido suas filhas.

Só havia um ser que a mãe amava no mundo mais do que tudo. O marido. Por ele faria de tudo, sacrificaria o que fosse. E se o desejo dele fosse ter filhos, ela os teria.

O amor era uma das coisas mais maléficas que poderia existir. Tirava a razão das pessoas. Fazia-as realizarem coisas insensatas. O amor era destrutivo. Altamente destrutivo. A senhora Everdeen era um exemplo do que o amor poderia fazer com as pessoas. Ela até tivera filhos por ele. E depois de sua morte, viver era quase impossível. Por isso, Katniss, fizera uma promessa nunca amaria ninguém. Nunca se deixaria levar por aquele sentimento insensato chamado amor. O amor era uma doença.

― Vai negar, agora? ― provocou.

― Não ― disse, encarando a filha com seus límpidos olhos azuis.

Aquilo ferira Katniss mais do que ela pensara. Há anos convivera com aquela verdade, no entanto, ouvir aquilo da própria mãe doía muito.

― É verdade, ter filhos nunca foi meu desejo. Eu nunca quis ser mãe. As pessoas acreditam que ser mãe faz parte da natureza da mulher. Mas isso não é verdade. As pessoas pensam que as mães amam seus filhos com amor incondicional. Um amor tão forte que é capaz de tudo. Bem que eu desejei que isso fosse verdade. Acontece que não é. Eu nunca estive apta a ser uma mãe. ― A senhora Everdeen continua a encarando, sua voz era calma. ― Mas seu pai desejava tanto ter filhos. Eu nunca pude negar nada a ele. Nada. Eu amava seu pai de tal maneira que se ele me pedisse para pular de um precipício, eu faria com um sorriso no rosto.

Katniss a olhava atônita. As palavras que ela dizia eram como flechas que atravessavam seu corpo.

― E assim eu tive vocês...

― Você se arrepende, não é?... De nos ter... ― ousou falar.

― Digamos que ser mãe não é a parte favorita da minha vida.

― Eu nunca irei entender você. Nunca! ― Aquilo estava a ferindo cada vez mais.

― Katniss, as coisas são assim. Eu amava seu pai e faria de tudo por ele...

A senhora Everdeen desviou o olhar por um breve instante.

― Mas ninguém pode me dizer que não estou tentando ser uma boa mãe. Eu juro que estou. Não é como se eu pudesse deixar de ser mãe ou coisa do tipo. E você também poderia me ajudar um pouco. ― Ela a olhou um tanto sem jeito. Era a primeira vez que Katniss a via com aquele olhar. ― Certa vez... eu pensei ir junto com seu pai... Mas eu não consegui... ― Ficou um momento em silêncio. ― Porque seu pai não me perdoaria, ele jamais me perdoaria se eu fosse com ele e deixasse você e Prim sozinhas...

Outra vez, o pai, outra vez aquele amor louco que a mãe sentia por ele. Ela não tinha se suicidado por causa dele, não por causa de suas filhas, que precisavam dela mais do que tudo no mundo.

― Katniss... ― A mãe tentou tocar seu braço.

― Me deixa! ― falou de modo feroz, se livrando de suas mãos.

Saiu o mais rápido que pode da presença da mãe. Sentiu as lágrimas que caiam por sua face. Era a primeira vez em muito tempo que estava chorando.

Andou. Andou. Andou. Não soube por quanto tempo. Apenas que caminhou sem um destino certo.

Não se lembrava de muita coisa do que aconteceu, apenas que se via diante de Annie.

― O que aconteceu, Katniss? ― questionou ela perplexa, abrindo a porta de seu apartamento. ― Você está bem?

Katniss praticamente desabou no chão.

― Katniss! ― Annie estava preocupava e tentava fazer Katniss ter alguma reação. ― Vem, vamos...

Conseguiu com algum esforço levantar Katniss do chão e a levar até um sofá. Colocou nas mãos dela uma xícara de chá quente.

Aos poucos Katniss conseguiu se acalmar. O chá já estava frio em suas mãos.

― O que foi que aconteceu? ― perguntou Annie gentilmente.

― Eu... ― Não sabia o que falar. ― Desculpa, Annie, eu não deveria ter vindo... é que apenas eu andei por aí... e vim parar em seu apartamento...

Annie a olhou com tristeza.

― Katniss, pode falar comigo sobre tudo. Mais do que sua orientadora vocacional, sou, sobretudo, sua amiga. O que foi que aconteceu para te deixar assim?

Soltou um longo suspiro. Falar sobre seus sentimentos nunca fora sua praia. No entanto, sentia que precisava falar com alguém sobre aquilo antes que fosse explodir. E Annie lhe parecia uma ótima opção.

Ela contou tudo para Annie.

― Katniss... eu não sei exatamente o que te dizer... Você pode não ter sido desejada por sua mãe, mas ela está tentando ser uma boa mãe para você e Prim... ― Annie falou gentilmente.

― Eu odeio o amor, ele faz as pessoas fazerem coisas insensatas, como minha mãe. Ela amava tanto meu pai, que seria capaz de fazer de tudo por ele, até mesmo ter filhos, coisa que ela nunca desejou...

― Oh, Katniss! ― Annie a abraçou. ― Não fique assim! Sei que de alguma forma sua mãe gosta de você. Se ela não pode ser sua mãe, pelo menos tente ser amiga dela... Realmente, nem todas as mulheres nasceram para ser mãe... Eu estudei um pouco sobre isso na faculdade... As pessoas pensam que as mulheres estão destinadas a ser mães. Porém, não é bem assim. Isso não significa que sua mãe é pior ou melhor do que ninguém...

Tudo estava um caos. Nunca pensara que aquela conversa lhe doeria tanto, como espinhos que entravam na carne.

Passou o resto do dia no apartamento de Annie. Não queria ver a mãe, não queria ver mais ninguém.

Odiava se sentir frágil. Mas era o que estava sentindo. Aquilo tudo estava lhe machucando.

Era por isso que nunca amaria ninguém. Tinha medo do amor, do que ele poderia fazer com as pessoas. O amor era a coisa mais poderosa, destrutiva e nefasta que existia no mundo.


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Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? Katniss é alguém que sempre julgou o amor como uma das coisas mais ruins do mundo. Ela nunca se apaixonou antes, mesmo por Gale, ela no máximo gostou dele, mas amar realmente, ela não amou. Será que ela será capaz de superar este trauma? E mudar sua opinião sobre o amor um dia?