Seja Um Anjo escrita por LunaLótus


Capítulo 7
Rael


Notas iniciais do capítulo

"Ela não vai conseguir. Ele vai ser meu!'

*Revisado em 31/03/2016.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/545226/chapter/7

Então, vamos às explicações: há muito tempo, dez anjos desceram à Terra. Foi concedido a eles uma vida humana, onde eles poderiam crescer e se multiplicar, ou seja, casar e ter filhos. Não se sabe exatamente o porquê disso ter acontecido, mas há especulações de que o Pai estava precisando de novos recrutas celestiais – aqui você pode ler anjos.

Ah, Samantha, mas como isso é possível? Não sei. Parece que foi uma experiência mal sucedida. Na teoria, os filhos deste Anjos Terrestres deveriam ser 80% anjos, ou seja, ter sua grande formação angelical. Assim, quando viessem a morrer, eles entrariam em Casa na sua forma real. Sim, mas isso não explica o porquê do Pai querer novos anjos! Tá, tá, eu sei! O que o Pai queria não eram anjos comuns, mas anjos mais… humanos, por assim dizer.

Nós, anjos, perdemos, há muito, a nossa essência humana. Convivemos com a pureza, e passamos a olhar o errado com desprezo no julgamento. Como não sentimos como os humanos, perdemos também a capacidade de entender seus motivos, suas razões para certos atos. Os humanos são frequentemente levados pela emoção. E nós não tínhamos mais a capacidade de senti-la. Olhe só Rael, um bom exemplo da falta dessa capacidade!

Então, o Pai decidiu fazer isso, há cerca de cem ou duzentos anos. Só que não havia dado certo. Não se sabe se os Anjos Terrestres não tiveram filhos, ou se tiveram e eles não se tornaram anjos. Até hoje, nunca se descobriu de onde nós viemos, se morremos ou se vivemos. E nunca ouvimos falar de um Descendente.

Ao que parece, até agora.

 

— Você sabe que isso é loucura, não sabe? – pergunta Rael.

Ainda estamos no sofá, pensando nas possibilidades. No entanto, quanto mais penso, mais tenho um pressentimento de que estou no caminho certo.

— Pode até ser loucura, mas tem um fundamento de verdade! Qual é, Rael?

— O quê?

— Nós temos que pesquisar. Temos que saber se Neto é ou não um Descendente.

— Sim, senhorita espertalhona, mas como vamos fazer isso? Por um acaso, vamos chegar na casa dele e perguntar oi, a senhora é a mãe de Neto? Bem, ele vai morrer em um mês, a não ser que a senhora me diga toda a sua árvore genealógica! A senhora não teria um anjo na família, certo? Ah, a propósito, eu sou o anjo da guarda do seu filho!

Sério, eu tento. Eu juro que tento não rir. Mas não dá.

Explodo numa gargalhada, deixando Rael me olhando espantado. Tento respirar normalmente, formular alguma frase, mas acabo voltando a rir. Depois de alguns segundos, finalmente consigo dizer:

— Você é uma figura, Rael! – E me levanto. – Vá tomar um banho. Vamos sair!

— Espera! Vamos para onde? – Mas eu já estou andando.

— Hmm… Vamos visitar uma Biblioteca. – E saio para meu quarto.

— Uma biblio… Uma Biblioteca?! Com B maiúsculo? – ouço sua voz. Eu rio. Sabia que ele não ia gostar. – Volte já aqui, mocinha! Nós não vamos a lugar algum!

— Se você não quiser ir, eu vou sozinha!

— Antes terá que passar por mim!

— No meu quarto tem janela, esqueceu?

E começo a me vestir.


 

Quinze minutos depois, Rael está de braços cruzados e cara amarrada ao meu lado, no ônibus. Olho para ele.

— Se você não quiser ir, fique em casa! – digo.

— É o que eu deveria fazer!

— Não estou vendo nenhuma algema na minha mão que te impeça de ir.

— Meu Deus… Como você é grossa!

— E como você é babaca!

Cruzo os braços também e viro para o outro lado. Grossa, eu? Não. Ele é que é um idiota. Se ele quer ficar de cara grande, que fique! Durante todos esses anos, nunca precisei de ninguém. Posso muito bem me cuidar sozinha. E, quer saber? É o que eu vou fazer! Peço o ponto e me levanto.

— Aonde você vai? – ele pergunta, mas não me dou o trabalho de responder.

Em silêncio, passo por ele, me perguntando por que raios eu sentei no canto. O ônibus está quase parando. Começo a caminhar em direção à porta, quando ele segura meu braço.

— Não vai me responder?

Apenas olho para sua mão me prendendo e depois para seu rosto. Sem dizer uma palavra, me desvencilho dele e salto para a calçada.


 

Droga! Por que eu desci daquele ônibus?! E daí que eu tivesse brigado com o Rael? Aliás, por que mesmo eu briguei com ele? Por que doeu tanto que ele tivesse me chamado de grossa? Melhor dizendo, por que eu me importei que ele me achasse grossa? Eu não preciso dele para nada. Consigo me virar sozinha.

É isso aí. Sei me virar sozinha. E posso muito bem resolver tudo.


 

— Ora, ora, ora… Quem vemos por aqui… - uma voz familiar chega aos meus ouvidos.

Ah, não, Pai, por favor… Imploro não por medo, mas porque eu já estou exausta demais para isso. Meus pés estão doendo depois de ter andado por quase uma hora. E ainda não estou nem perto de chegar ao meu destino.

— Olha, você precisa melhorar esse seu vocabulário, hein? Esse ora, ora, ora é tão cena de filme mal feito! Sabe aqueles bem antigos, de faroeste? Então! – replico, virando-me para confrontar o Armário.

— Ainda continua muito desaforada. Tsc, tsc, tsc… Acho que vou ter que lhe ensinar boas maneiras, menina…

— Tsc, tsc, tsc? Cara, sério? Onde foi que você aprendeu isso? Em algum filme policial de quinta categoria, só pode! Olha, mande devolver, porque te enganaram!

— Você deveria ter mais cuidado com o que diz. E para quem diz – grunhe.

— Aham, tá bom. Dá para você adiantar logo o assunto? Eu estou com um pouco de pressa.

Coloco a mão na cintura, em sinal de impaciência. Olho em volta rapidamente, procurando opções, mas não encontro nenhuma. Acabei em uma rua deserta, com vários becos, provavelmente sem saída. Se eu gritasse, ninguém iria me ouvir, já que é sábado de manhã, e todas as pessoas costumam sair ou trabalhar. Não haveria um homem em casa naquele maldito bairro residencial. Eu teria que correr. Porém, havia dois armários me cercando também.

— Não vai falar? Bom, então saia da minha frente. Como eu disse, tenho mais o que fazer.

— Agora não temos mais plateia.

— Sério? Nem tinha notado – falo, irônica.

Ele se aproxima de mim num passo calculado. Encaro seus olhos e vejo algo que me faz ficar paralisada: um brilho. Um lampejo de um brilho vermelho.

— Você vai ver, sua vadiazinha. Vou acabar com você. Você vai se arrepender do dia em que pisou os pés aqui. Este é o meu território. – Sua voz fica mais grossa, como um rosnado.

Não. Não pode ser.

É claro que eu já tinha ouvido falar deles. É claro que sim. É claro que eu conhecia a sua existência. Se nós, anjos, existimos, é claro que criaturas como ele existem também. Eu só não esperava encontrar um.

Droga! Como pude ter sido tão burra a ponto de não me proteger? Como pude ter sido tão estúpida a ponto de deixar minhas armas em casa?

Observo suas presas nascerem e seu corpo parece ficar cada vez maior. Olho rapidamente para suas mãos, e suas unhas estão virando garras.

Maldita hora em que renunciei minhas asas temporariamente para esta missão!

— Saia da minha frente! – exclamo, com o máximo de coragem que tenho. Tá, talvez não seja muita, mas como sou bastante petulante, ajuda a disfarçar.

— Ha! E quem é você para me dar ordens? – Sua voz agora definitivamente é um rosnado. Controlo-me para não tremer.

É nessa hora que ele ataca. Com meus reflexos angelicais - e graças a muitos treinos - esquivo-me quando suas garras voam para minha garganta. Os armários 2 e 3 estão vindo em minha direção também, mas, para minha surpresa, eles não estão se transformando.

Ah, não! Possuídos também não! Com dois golpes, acerto-os na cabeça, fazendo com que eles desmaiem. São apenas humanos, digo a mim mesma. Eles não têm culpa.

Os movimentos do Armário estão mais rápidos e fica cada vez mais difícil escapar. A fúria exala de cada poro de seu corpo. Se eu estivesse com minhas asas, poderia usá-las para me defender e acabar com a raça dele. Droga!

Numa investida mais forte, tento sair da sua frente, mas ele consegue me derrubar. Uma dor horrível no meu braço indica uma fratura. Olho para meu assassino e, em minha alma, tento não sentir raiva dele. Se eu ia morrer – seja lá o que aconteça com os anjos depois que eles são mortos –, que fosse de uma forma pura. Sem raivas, sem ódios. E eu o encaro, quando suas garras voam para meu pescoço, rasgando-o.


 

Eu gostaria de conseguir lutar. Gostaria, de verdade. Mas a forma humana me limita. Ao me submeter a essa missão, eu tive que renunciar grande parte do poder angelical. Meu corpo é mais pesado, meus movimentos são menos ágeis e, principalmente, estou sem armas. Então eu oro:

Pai, o Senhor sabe que nunca pedi nada, mas pedirei desta vez. Me ajude.


 

Uma sombra cai sobre nós dois. Uma sombra grande e… com asas!

Vejo quando uma lâmina corta o braço do meu quase futuro assassino e ele me solta rapidamente. O dono da sombra se coloca entre mim e o monstro.

Rael!

— Vá embora, demônio! – diz, com autoridade.

— Ela não vai conseguir. Ele vai ser meu! – sentencia o monstro.

— Ele não é seu! Ele não será seu! – grito, com forças não sei de onde.

— Vá embora! – Rael ordena mais uma vez, agora atirando uma lâmina no demônio.

E com um sorriso sombrio, o monstro desaparece.

Viro-me para aquele ser de asas e sinto uma tontura me abater.

— Rael – murmuro, e então a escuridão me engole.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Heeey! Desculpas, desculpas, desculpas! Sei que demorei muito para postar esse capítulo! Minha semana foi horrível também, e não tive tempo de escrever. Mas...
A Nath e a Biia Potter Duchannes fizeram recomendações tão lindas que escrevi este capítulo dedicado a elas! Obrigada, meninas, e espero que gostem!
Ah, e aos meus leitores fantasmas, espero que gostem também! E comentem, por favor! Nem que seja um Oi! Eu vou adorar e responder!
P.S. Capítulo maiorzinho para compensar o sumiço e... talvez amanhã tenha mais!
Beijooos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Seja Um Anjo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.