Arrow de coco escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 5
Capítulo 5 - Baile de máscaras




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Meu nome é Olívio Rainha. Após cinco anos em Dois Irmãos pensando apenas na minha água de coco Kids, eu volto para casa com um objetivo: Salvar a minha água de coco dos sabores adicionais que a envenenam. Contudo, agora eu estou almoçando com o homem que me deteve na última noite e com o filho do homem que prejudica a minha água de coco, além da minha irmã e da minha mãe. Isso não tem como acabar bem.

– Um baile de máscaras. – Expliquei, quando perguntaram que tipo de festa eu pretendia dar. Eu vira muito desses bailes nas novelas da Rede Esfera, quando eu invadia a casa do vizinho. Coisas ao melhor estilo Jomeo e Rulieta, Priscila e Yudi ou algo assim. Se eu estou de volta, quero ter um momento como esse.

– Concordo plenamente. – Bruno falou. Não tenho a certeza de que ele sabe a minha identidade de arqueiro, ou cuecão, mas definitivamente ele é o BHatman. Esse queixo de bunda é único em toda a raça humana. Já Tome Merlin é um aleatório. Embora seja a prole de Mal Come Merlin, eu duvido que ele faça parte do plano para dominar a minha água de coco.

– Bom, e quando vai ser o tal baile? – Tome pergunta. Ele me lembra do meu antigo eu: Desinibido, festivo, um garotinho deslumbrado com os luxos que uma vida afortunada pode oferecer.

– Que tal, daqui a dois dias? – Eu digo, após refletir um pouco. Com sorte, é tempo o bastante para Caminhone sair da cidade. Mas a prioridade é que seja o mais cedo possível, afinal, não é todo o dia que se volta dos mortos. E, aparentemente, a sorte não está ao meu lado:

– Isso daria fôlego para os nossos preparativos, mas o Bruno ficará tanto tempo aqui em Brasília? – Minha mãe, Maria, questiona, um tanto preocupada. Isso me dá uma noção do quanto as Empresas Caminhone são importantes no mundo dos negócios, ela parece querer agradá-lo. Comigo ele não tem tanta alegria: quero destruí-lo. Mais um problema na minha lista, infelizmente.

– Não se preocupe, Maria. – Bruno falou. Sua voz natural é um tanto diferente da voz que usa enquanto vigilante noturno. Ok, muito diferente, na verdade. É praticamente como se ele fosse outra pessoa, mas como ninguém pôde associá-lo com esse queixo horripilante? – Eu ficarei mais alguns dias em Brasília. Terei até tempo para escolher uma fantasia, você sabe do que vai se vestir, Olívio?

– Robin Hood. – Eu devolvo para ele, enquanto bato palmas para mim mesmo, como se tivesse acabado de pensar a respeito disso. Não é verdade, pois eu penso nisso desde muito tempo atrás, desde aquela ilha…

“ - Curativo para o ombro. – Yaoi Feio falava, enquanto me entregava alguns trapos embebidos em álcool. Ele havia me levado para o seu esconderijo naquela ilha, embora não me explicasse porque precisávamos de um esconderijo. De qualquer forma, era uma caverna. Uma caverna pequena e simples, havia espaço para uma fogueira, algumas pedras para confeccionar pontas de flechas, palha estendida no chão como uma cama e uma maleta, que me fez lembrar:

– Minhas coisas! – Eu havia gritado, repentinamente, lembrando da mala que sobreviveu comigo ao naufrágio. – Eu as deixei na praia!

– Praia do Bode. – Falou Yaoi Feio, desinteressado.

– O quê? – Eu perguntava, confuso, sem receber nenhuma resposta além do olhar presunçoso do velho. – Fale algo que faça sentido, china estúpido! – Se ele se ofendeu, dessa vez não descontou no ombro ferido, mas sim no que estava bom…”

Levei os dois dias de preparativos para o meu baile me recuperando. Não é fácil, não tenho uma base de operações e os malditos empregados nunca me deixam em paz. Tereza sente a minha falta, não deve ter sido fácil para ela durante todo esse tempo. Infelizmente, não tenho tempo para a família, pois o meu filho, o coco, está em apuros.

O meu traje de Robin Hood é requintado. Eu duvido que o verdadeiro Robin Hood, o que lutava pelos pobres, se vestisse assim. O clássico chapéu verde com uma pena repousa sobre minha cabeça loira. Um violão em minhas costas substitui a aljava que o verdadeiro Robin usava. Após me arrumar eu desço as escadarias de minha própria mansão, em direção ao salão.

Na favela, as lajes eram nossos salões. E, quando chovia, aproveitávamos para tomar banho pela primeira vez em muito tempo. Era uma época muito boa. Hoje em dia, eu preciso comer com garfo e faca, fofocar com as madames e os senhores, fazer negócios, manter a aparência. Isso quase me faz entender o Bruno Caminhone, exceto quando ele se mete em meus negócios.

Chego ao salão e ele é justamente a primeira pessoa a vir falar comigo. Ele de preto, eu de verde. Exatamente como nós nos conhecemos. A primeira diferença vem no seu semblante, dessa vez sorridente e nas suas mãos não cerradas, mas abertas para um cumprimento caloroso:

– Esse traje ficou perfeito em você. – Ele diz, de uma maneira esquisita, enquanto apertamos as mãos. Eu observo seu queixo cuidadosamente. Parece uma fenda dimensional. É impossível ler o rosto desse homem, por mais que eu tente. Mesmo que a ilha tenha feito de mim um bom mentiroso e um bom leitor de mentiras, Bruno deve ter passado pelo mesmo inferno que eu. Ou talvez, por algo pior.

Eu não fico muito tempo pensando sobre isso. Simplesmente não vale a pena, Bruno não pode fazer nada aqui. Em breve ele voltará para Belo Horizonte e Brasília será apenas minha novamente. Contudo… Não pode ser. Ela. Aqui:

– Diná Laréu Lenço. Ao vivo e em cores. – Eu digo para a moça que vejo no meu salão, entre os inúmeros convidados. Ela olha para mim, me reconhece e sorri. Já fui um excelente criminoso, e um excelente criminoso precisa de uma excelente advogada. Essa é a Laréu. Não faço ideia do que ela faz aqui, afinal, não a convidei. Nem me lembrava dela, apesar de tudo.

– Olívio Rainha. Vivo. E, pela primeira vez, não estamos nos encontrando em alguma prisão.

– Admita que foi a nossa melhor época. – Eu digo, sorrindo. Adoraria conversar com ela, contudo o Tome aparece repentinamente:

– Oh, vocês se conhecem? – Mais surpreendente do que a aparição do Tome é a estranha movimentação que eu começo a perceber no portal de acesso para o salão. Homens estranhos estão entrando. Eles estão armados. Pistolas de água salgada, a coisa mais fatal que o ser humano já veio a conhecer:

– Então é aqui a festinha dos Rainha? Nós só viemos atrás de uma grana e então vamos embora. – Grita um deles. Todos ficam alarmados no salão. Algumas mulheres gritam. Tento permanecer calmo. Alguém toca no meu ombro. Por instinto, eu seguro a mão da pessoa e me viro para trás, preparado para tudo. É Bruno Caminhone:

– Se vista. – Ele me diz, brevemente. – Como cuecão.

Ele sabe. E não há nada que eu possa fazer, senão seguir a sugestão. As luzes se apagam repentinamente. Ele realmente deve gostar da escuridão. Não posso pensar sobre isso agora. No escuro, arranco minhas calças e o chapéu, e coloco a minha cueca na cabeça. Passei a vesti-la a todo o momento, prevendo uma situação de emergência, mas torcendo para que não fosse necessário.

Três flechas, um velho arco e um vigilante com queixo de bunda contra homens armados. A vida de Diná, Tome, Maria, Tereza e todos os convidados depende disso. Sem pressão, certo? Certo? Argh, eu odeio essa vida.


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