Arrow de coco escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 4
Capítulo 4 - Cuecão




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Meu nome é Olívio Rainha. Eu passei cinco anos na ilha de Dois Irmãos com apenas um objetivo: Tomar a minha água de coco Kids. Contudo, alguns crápulas insistem em envenená-la com outros sabores. Eu pretendia dar um fim nisso, contudo, um homem misterioso vestido de morcego me repeliu antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

Todo o meu corpo dói. O ombro em especial, mas todo o meu corpo dói. Não consigo pensar em nada além de todo o meu corpo doendo. Ok, eu penso em água de coco. Ocasionalmente. Olho para cima, preciso me concentrar. O homem-morcego sumiu, é melhor eu fazer o mesmo antes que alguém apareça e acabe com a minha carreira que sequer começou.

A dor é excruciante. Eu preciso de mais determinação do que algum dia já encontrei na minha vida. Aos poucos, banhado pela escuridão da noite cerrada, eu me locomovo, quase que serenamente. Se alguém fosse capaz de me ver, jamais diria que eu estou ferido. Mas eu estou. Gravemente.

Entro em casa da mesma maneira que fugi, pela janela. Escondo a aljava, agora com apenas três flechas restando, e o arco embaixo da cama. Retiro toda a minha roupa e visto a cueca com mais rasgos que meia de jogador de futebol que estava em minha cabeça. Eu fico na esperança de que uma boa noite de sono possa me recuperar embora já sejam quatro da manhã e o homem-morcego não sai da minha cabeça.

– Óleo, que bom que você está acordado. – Maria fala para mim, ao me ver de olhos abertos no quarto. Eu olho para o relógio mais uma vez. Nove horas. Eu sequer preguei o olho durante todo esse tempo. Por sorte, o cobertor esconde os meus hematomas apesar de eu poder justificá-los como uma herança da ilha. De qualquer forma, não é bom aparecer machucado para a minha mãe.

– Sim, foi uma excelente noite. – Replico, com um toque de ironia. Yaoi Feio tinha muito dessa ironia…

“Uma flecha passou voando pelo pombo que me confundiu com uma vasilha de dejetos. Eu precisava urgentemente me acostumar com o fato de flechas voarem sempre por aquele lugar.

– < Comida >. – Yaoi Feio falou, apontando para o pombo morto. Contudo, ele falava em uma língua que eu não entendia, na época:

– O quê?

– < Comida >.

– Eu não falo chinês, seu velho estúpido. – E naquele dia… Ganhei mais uma cicatriz no ombro.”

– Que bom! – Maria falou, empolgada. Não sei dizer se ela está feliz ou não pelo meu retorno, mas faço o possível para acreditar que sim. Ela é a minha mãe, afinal. – Hoje, vamos oficializar o seu retorno ao mundo dos vivos.

– Claro, mãe. – Eu concordo com ela. Ainda não estou acostumado com essa vida de rico. Nossa casa é tão grande que eu me perco facilmente. Me lembro dos tempos de favela. Gatos de energia, farofadas, festas na laje. Hoje em dia, eu posso dar festas de rico. Não posso?

– Mão, eu posso dar uma festa de retorno? – Pergunto, só para confirmar, já que parte do dinheiro é minha.

– Claro que pode. Eu ouvi dizer que aquele empresário de Belo Horizonte está na cidade: Bruno Caminhone. Deveríamos convidá-lo, é uma oportunidade para abrir negócios. – Ela responde, enquanto me guia para o carro com a minha irmã, Tereza, a Ligeirinha. Temos um motorista. Que aparentemente também é o nosso segurança:

– E aí, cara. – Eu digo. Não sei fazer o papel de patrão malvado, sou um cara popular. Um Robin Hood que luta pelo povo. Digo, pelo coco.

– Senhor Rainha. – Ele se limita a dizer, me olhando pelo retrovisor. Acho que ele não gosta muito de mim. Vejo Brasília como nunca vi antes, durante o trajeto. A parte bonita do Distrito Federal, eu digo. Passamos por um ou outro outdoor que diz:

“Água de coco Rainha: Todas as cores, todos os sabores, um arco-íris de coco.”

Aquilo me enraivece, mas não deixo nem Maria nem Tereza perceberem:

– Ligue o rádio, por favor. – Eu digo para o motorista, preciso me distrair.

– Então, detetive Lenço. O que você acha dos mascarados que invadiram a Coconsolidados ontem? – É a primeira coisa que ouço do rádio recém-ligado. Eu esperava uma certa repercussão, mas a polícia não pode estar na minha cola tão cedo.

– Mãe, invadiram a fábrica? – Tereza pergunta, um pouco assustada. Eu tenho fazer uma expressão de babaca surpreso. Percebo que, para isso, só preciso fingir surpresa.

– Não foi nada demais, filha. – Ela a conforta. – Senhor Dingle, por favor, desligue isso. – Minha mãe diz para o motorista, mas antes disso meus ouvidos conseguem captar mais alguma coisa:

– Temos a confirmação de que um deles é o BHatman. Por enquanto, o outro é desconhecido, estamos chamando-o de cuecão já qu...

Cuecão. Eu estou tentando construir uma reputação em Brasília. E então eles me chamam de Cuecão. Cuecão. Bom, pelo menos agora eu sei quem é o outro sujeito. Tenho uma margem para pesquisar. Ele me avisou que a cueca era ridícula. Bem, na ilha todos a respeitavam. Era um disfarce supremo. Nunca me chamaram de Cuecão antes.

– Chegamos. – Maria diz. O sr. Dingle abre a porta do carro para nós. Outra novidade em minha vida. Normalmente eu abria minhas próprias portas. Portas de supermercados, casas, bancos, eu era um arrombador nato.

A imprensa brasileira é muito gentil e amigável. Eles te tratam bem, são compreensíveis, agradáveis. Mas na hora de publicar a seu respeito, são verdadeiros urubus. Eu me lembro de quando ganhei o GIB. Olívio Rainha para lá, Olívio Rainha para cá. Metade das reportagens eram coisas ruins. A outra metade eram coisas piores ainda.

– Como você se sente por estar de volta? – Perguntou uma linda repórter, durante a coletiva.

– Me sinto vivo. E com vontade de tomar água de coco. – Respondi sorrindo para ela. Na verdade, me sinto moído. Meu corpo ainda doí completamente. Ao final da coletiva, quando todos estão se preparando para sair, sou chamado discretamente por um rapaz:

– Olá, Olívio. Eu sou Tome. Tome Merlin. – Ele falou, estendendo a mão para mim.

– Merlin? Você é parente do Mal Come? – Perguntei. Ele parecia ser alguém legal, mas o Mal Come é inimigo do coco. Portanto, meu inimigo.

– Sim. Sou o filho dele. – Ele afirmou, sorrindo, como se isso fosse algo bom. Contudo, o perigo ainda não acabava ali. Na verdade, ele mal começava. Atrás do pretensioso Tome Merlin, aparecia um homem bem-vestido e com queixo de bunda que minha mãe apresentava como:

– Olívio, quero que você conheça o produtor de Guaravita em BH, Bruno Caminhone. – Mas eu sei a verdade. Não é Bruno Caminhone. É BHatman. O homem-morcego que eu enfrentei. O homem… Que me derrotou.


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