O dia estava completamente lindo e ensolarado. As nuvens haviam dado um tempo e não havia previsão de chuva. Seria um lindo dia para se estar lá fora, mas eu havia escolhido me sentar no assento acolchoado da janela e apenas observar tudo em silêncio. Eu nem sequer havia descido. Apenas me levantei e sentei-me ali, observando os carros passando pela rua de casa.

Era meu aniversário. O primeiro desde a morte de John.

Normalmente eu seria acordada com uma batida leve na porta e então meu pai entraria, depositando sobre minha cama uma bandeja com meu café da manhã e meu presente com um enorme sorriso no rosto. Mas ele não fez isso – talvez pelo fato de estar morto. Novamente eu senti aquele buraco crescer em meu peito. Toda aquela raiva e a sensação de ter sido traída. Mas, mais uma vez, eu abafei tudo. Não poderia lidar com aquilo hoje. Ou talvez apenas não pudesse lidar com isso nunca mais.

Eu me sentia como um balão. Cada sentimento ruim dentro de mim soprava e soprava continuamente. O problema era; balões estouram quando são preenchidos com mais ar do que podem suportar, e eu não sabia quanto tempo mais levaria até que eu explodisse.

Houve uma batida na porta e meu coração disparou por um breve segundo. Não seja estupida, aquela parte de mim sussurrou com desdém enquanto Raven colocava a cabeça pela fresta da porta e sorria.

–Eu disse que ela estava acordada. – ela abriu a porta e deu espaço para Charlotte passar antes de se jogarem em minha cama. – Se não estivesse, estaríamos ouvindo seu ronco do andar de baixo.

Eu sorri. Sabia o que ela estava tentando fazer. Raven poderia ter um laço mental comigo e mesmo assim não poderia saber mais do que já sabia sobre mim.

–Eu não ronco.

–Diga isso às janelas. Elas tremem durante a noite. Até parece que há algum trilho de trem por aqui. Me senti como se estivesse em um terremoto.

Nós rimos.

–É melhor se vestir. – Char disse. – Nadia e Bonnie vão estar aqui logo. Elas querem ir ao shopping e deixaram bem claro que lhe arrastariam até lá se não fosse por livre e espontânea vontade.

Eu suspirei.

–Será que elas não podem mudar de ideia? Eu realmente só queria deitar no meu sofá com um bande de sorvete de flocos gigante e chorar assistindo The Sisterhood Of Night pela milionésima vez.

–Definitivamente não. Vamos comemorar seu aniversário você querendo ou não. – Char revirou os olhos, e naquele momento eu soube que ela estava fazendo como sua missão pessoal me arrancar daquela casa até o final do dia. Às vezes eu realmente odiava o quão insistente ela poderia ser. – Já sabemos que a Emily é uma vaca e que Rose Hall e aquele professor com cara de indiano vão acabar se comendo. Você realmente não precisar recitar todas as falas desse filme sem nexo perto de mim novamente.

Raven levou a mão ao peito e arregalou os olhos como se tivesse sido profundamente atingida.

–Ouch! Você está brincando? Onde o seu bom gosto cinematográfico foi parar? Aquele é um dos melhores filmes que o mundo já viu! Isso sem mencionar que a Georgie Henley é simplesmente uma deusa, e...

–Tanto faz. – ela levantou a mão, cortando Raven, que cruzou os braços contra o peito como se tivesse sido extremamente insultada. Mais um das coisas que dividíamos era a opinião sobre esse filme que podia simplesmente ser descrito como perfeito. – Você. – Charlotte apontou para mim. – Banho. E você. – ela apontou para Raven. – Eu realmente preciso daquele sapato bege que você comprou no mês passado. Eu sei que você o trouxe.

Elas se levantaram e saiam pela porta ainda discutindo.

–Eu me recuso a lhe emprestar qualquer coisa enquanto você continuar com essa opinião sem fundamento.

–Não é sem fundamento. Georgie Henley era uma pirralha em As Crônicas de Nárnia e continua sendo...

–Charlotte Silver Riwston, não ouse terminar essa frase ou eu juro que...

Eu fechei a porta, rindo. Essas duas nunca mudavam. E por mais estranho que fossem, eu as amava assim. Então, me sentindo um tanto melhor, eu obedeci as ordens de Char e fui direto para o banho.

[****]

Ele invadiu minha boca sem o menor pudor e em troca eu arranhei seu pescoço com força, o que o fez gemer novamente. Max estava com a mão sob minha blusa novamente, subindo em direção aos meus seios quando eu o parei.

–Calminha ai, garotão. Tenho que voltar para a festa. Devem estar sentindo minha falta. – eu puxei seu lábio inferior com um sorriso sapeca. – Nos vemos por aí.

Eu estava caminhando de volta para onde todos estavam e ajeitando minha jaqueta quando trompei em alguém. Stefan parecia ter acabado de sair do banheiro e sua reação foi tão surpresa quanto a minha.

–Katherine... – ele parou e olhou para trás de mim.

Max tentou ajeitar sua regata, mas ela parecia ter sido amassada. Sua boca estava borrada de batom – o meu batom –, e só então eu notei que havia deixado algumas marcas de mordidas e arranhados por seus braços e pescoço. Ops!

Ele parecia ter visto um fantasma quando seus olhos caíram sobre Stefan, e antes que qualquer um de nós tivesse reação, o bartender fugiu de volta para a festa.

Eu revirei os olhos. Garotos eram tão covardes às vezes.

–O que é que está acontecendo aqui, Katherine? – ele perguntou irritado.

Eu ainda estava irritada com Stefan. Talvez fosse orgulho ferido, ou talvez eu estivesse sendo mimada. A questão era que eu não ligava. Toda vez que o via, eu tinha vontade de xingá-lo com todos os palavrões do dicionário. Mas ao invés disso, eu apenas assumi minha pose sarcástica, sorrindo como uma criança travessa.

–Vamos lá, Stef. Você não vai me fazer explicar o que acontece entre duas pessoas nuas em uma sala, não é? – eu passei o dedo indicado na linha de seu maxilar e isso o fez se arrepiar. Eu sorri. – Era de se esperar que você soubesse, já que eu lhe dei todos os detalhes pessoalmente.

–O que pensa que está fazendo? Katherine, você não é assim.

–Oh, é ai que você se engana. Eu sou exatamente assim. Você deveria saber disso quando me chutou.

Stefan suspirou e fechou os olhos. Quando os abriu, eu pude ver aqueles mesmos olhos verdes carinhosos que me deixavam boba por ele.

–Eu não chutei você, Kath. Eu só pensei que talvez precisássemos de um tempo.

Eu poderia ceder ali mesmo. Mostrar para ele que a Katherine que ele havia conhecido estava louca para se jogar em seus braços e lhe beijar. Mas toda vez que eu me lembrava do que havia acontecido no estacionamento naquele dia, eu sentia meu orgulho sendo ferido novamente.

Eu me aproximei dele e parei a uma distancia em que não precisaríamos de muito esforço para nos beijar. Eu até mesmo queria aquilo. Mas se ele queria um tempo, eu lhe daria todo o tempo do mundo.

–E o que você pensou? –perguntei, observando-o lamber os lábios antes de fitar seus olhos. Aquela imensidão verde na qual já estive perdida antes. – Que eu esperaria por você como uma boa garota enquanto você passava por essa sua fase de adolescentezinho inseguro?

Eu rocei meus lábios nos deles e o senti suspirar. Só precisaria chegar alguns milímetros mais perto, e então... Quando me afastei, ambos estavam com a respiração pesada. Eu segurei seu rosto e lhe dei um beijo demorado em sua bochecha, para logo depois chegar bem perto de seu ouvido.

–Eu sou Katherine Pierce, Stefan. Não espero por ninguém. – e então eu o deixei para trás, e sai sorrindo dali como se tivesse acabado de ganhar o dia.