A luz da manhã invadiu o quarto antes do que eu queria . Por mim, passaria o dia todo deitada em minha cama quente e confortável, evitando todo o mundo novo lá fora . Eu não queria enfrentar a escola nova ou qualquer outra coisa do tipo . Mas infelizmente, era isso que eu teria de fazer .
Após quatro meses depois da morte de meu pai, Logan Pierce, minha mãe havia simplesmente surtado, dizendo que Nova York estava me deprimindo e que precisávamos recomeçar em outra cidade . Um lugar onde tudo não me fizesse lembrar dele . As vezes acho que não era de mim que ela estava falando . Bem, estávamos aqui agora . Mystic Falls, Virgínia . E de repente eu teria de me adaptar à uma cidade nova, escola nova e uma vida nova, morando na casa de minha tia Miranda e do tio Grayson e suportando meu primo Jeremy . O sonho de qualquer adolescente americana .
Puxei a coberta para tampar meu rosto e voltar a dormir, mas logo o despertador começou a apitar freneticamente, apontando que ja era hora de levantar . Tateei o criado-mudo ao lado da cama e soquei algo que julgava ser o maldito objeto ,fazendo o barulho parar.
– Katherine Summers Pierce - Ouvi Jenna gritando da escada .- , se não levantar agora mesmo dessa cama, eu mesma irei aí .
– Só pode ser brincadeira . - Resmunguei jogando o cobertor de lado .
Droga de quinta-feira droga de escola nova, droga de cidade nova, droga de vida nova... Será que podia ficar pior? Pelo menos podia agradecer por já ser quase final de semana.
Coloquei os pés para fora da cama, sentindo um arrepio percorrer minha pele devido ao frio, e caminhei tropega até o banheiro . Assim que abri a porta, dei de cara com Jeremy .
– Oh! Jeremy! - Eu parei,cobrindo os olhos com medo de ver algo que não deveria .- Me desculpe . Eu não sabia ...
– Não . Tudo bem .-Ele me interrompeu rindo .- Pode olhar . Não tem perigo .
Eu abri meus olhos, somente para vê-lo totalmente vestido colocando a escova de dentes no lugar . Rindo de minha reação, Jeremy saiu pela outra porta do banheiro que ligava nossos quartos e fechou a porta atrás de si . Balançando minha cabeça, busquei por minhas coisas na bancada que havia arrumado na noite anterior e cuidei de minha higiene matinal, voltando para o quarto e procurando algo para vestir . Estava frio lá fora, o que me fez optar por um conjunto preto de calça jeans, jaqueta por cima de uma blusa colada e uma bota de salto e cano baixo . Talvez fosse muito para uma cidade pequena como Mystic Falls, mas seria difícil achar algo mais simples em meu closet. Meu cachos estavam,como de costume, caídos sobre meus ombros em cascatas castanhas e encaracoladas, e em meu rosto,apenas um lápis preto,rímel e delineador .
Peguei minha mochila preta na poltrona ao lado da cama e desci as escadas, indo em direção a cozinha . O cheiro de bacon invadiu o ar no momento em que entrei no cômodo . Miranda, é claro, estava a frente do fogão fazendo o café da manhã . Era algo impossível imaginar Jenna cozinhando ja que sua especialização se limitava a pratos rápidos feitos no microondas . Jeremy já estava sentado ao lado de sua mãe na mesa, comendo quase desesperadamente .
–Vá com calma, garoto! -Minha mãe repreendeu,dando-lhe um tapa em sua cabeça . - Até aparece que está morrendo de fome .
– Eu não tenho culpa se a comida da minha mãe é tão boa .- Ele se defendeu .
– Queria poder dizer o mesmo .-Brinquei,recebendo um olhar reprovador de tia Miranda.
– Olá, querida .- Minha mãe me abraçou, destraindo-se do café da manhã por um momento .- Dormiu bem?
– Como uma pedra . - Respondi, dando um beijo na face de Miranda e cumprimentando meu primo com um aceno de cabeça . - Onde está o tio Grayson?
– Ele saiu mais cedo para o trabalho, mas desejou boa sorte para você .- Miranda respondeu .
Sorte, pensei sarcasticamente pegando uma maçã e tomando um gole rápido de leite . Tudo que precisa.
– Você já vai? - Minha mãe perguntou ao ver minha pressa.
– Sim . Vou pegar um ônibus . Preciso pegar meu horário na secretaria e encontrar meu armário . - Respondi .- Te encontro lá? - Perguntei a Jeremy.
Com a boca cheia de panquecas com mel, Jer apenas acenou e voltou a se concentrar em seu prato . As vezes eu me perguntava se aquilo era um garoto ou uma criança.
Deixando um último beijo no rosto de minha mãe, eu peguei minha mochila e, mastigando minha maçã, sai pelo gramado dos Gilbert em direção ao ponto de ônibus na quadra seguinte . Não que a cidade fosse grande, mas o carro que meu pai havia batido no acidente que causará sua morte era meu e, aparentemente, o seguro só entregaria na semana seguinte e eu precisava chegar mais cedo.
De um Volvo preto à um ônibus, pensei ao ver o ônibus subindo a rua. Bela evolução . Sentei em meu banco e olhei em minha volta como se pudesse encontrar algum rosto conhecido dentre as poucas pessoas ali. Cidade nova,meu inconsciente me lembrou . A droga de uma cidade nova . Que maravilha! Até parece...
Suspirando pesadamente procurei por meu IPod na bolsa em meu colo ,mas não tive sucesso. Que legal ! Meu primeiro dia em uma escola nova sem nenhuma música . O dia seria bem longo. Peguei um dos livros que havia pego na minha estante, querendo terminar minha leitura, mas antes que eu pudesse de fato me concentrar nas páginas e letras em minha frente, alguém se sentou ao meu lado no banco, praticamente se jogando contra o acento . Sem sequer desviar os olhos do livro, tentei voltar minha atenção a leitura, mas o som dos solos de guitarra e músicas agitadas que tocavam nos fones da pessoa ao meu lado me impediram .
Virei-me com intenção de pedir a pessoa que baixasse o volume e quase fui petrificada com a visão . Não era uma pessoa, ou melhor, não era qualquer pessoa . Era um garoto . O garoto, por sinal . Eles tinha cabelos lisos e pretos, contrastando com a pele branca e os olhos azuis . Usava uma espécie de jaqueta de coro por cima da regata e músculos bem perceptivos a visão . E, deus, que músculos! Ele parecia absorto em seu mundo,olhando em direção a janela do outro lado do ônibus,para perceber minha presença . Parecia balançar discreta e distraidamente a cabeça ao som da música, sem dar a mínima para o que acontecia a sua volta . Ele olhava para as coisas como se nada em sua volta fosse digno de ter o prazer de ser observada por ele .
– Hey .- Eu tentei chamar sua atenção . Ele continuou olhando para o nada, sem me ouvir . Eu cutuquei seu braço, até que ele finalmente olhou para mim . Seus olhos pareceram fora de foco por um momento, como se tentasse entender o que acontecia ali . Tirou o fone e continuou a olhar para mim com olhos vagos . - Será que pode baixar o volume ?
– O que? - Ele perguntou, franzindo as sobrancelhas . Sua voz firme e quase doce, soou rouca em meus ouvidos por um breve segundo .
– Será que pode baixar essa coisa?? - Perguntei outra vez e ergui meu livro em minhas mãos .- Eu estou tentando ler aqui.
–E eu com isso? - Ele murmurou, um tanto ameaçador . Bonito e estúpido, pensei revirando os olhos .
– Grosso . Esse deve ser o tipinho dessa cidade .- Resmunguei, esperando que ele ouvisse . E deu certo . Ele se virou para mim, um tanto espantado como se não esperasse por uma resposta .
– Deve ser nova na cidade , pelo que vejo.-Tão óbvio assim, perguntei mentalmente .- Isso explicaria seu tom de voz .
– E eu com isso? - Perguntei ironicamente,lançando-lhe um sorriso falso.
Antes que pudesse ver qualquer reação que ele pudesse esboçar, apenas concentrei-me em meu livro novamente, querendo evitar qualquer contanto com o estranho . Pude ouvir o volume dos fones do garotos diminuindo e, com um discreto sorriso no rosto e sem o menor incômodo , passei a ler pelo resto do caminho até a escola.