O anjo e o demonio escrita por Lu Rosa


Capítulo 6
Sensações Curiosas




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Ângela remexeu-se na cama, espreguiçando-se. Como sempre, o chá restaurador de sua avó lhe deixava ótima. Ela se sentia cem por cento. Ela levantou da cama, indo até a janela. Ela abriu as cortinas revelando um sol matinal maravilhoso. Incrédula, ela olhou para o relógio. Eram oito e quinze. Começo de um dia ensolarado. Ela decidiu tomar um banho de sol e á tarde ela iria até a empresa para trabalhar. Começou a assobiar uma canção desafinada enquanto se dirigia ao banheiro para tomar um banho.

***

Carmem Sanchez era muito religiosa. Na sua mesa junto à foto de sua família havia uma imagem de Nossa Senhora de Fátima de quem era devota. Nunca havia temido ninguém, pois confiava que Deus lhe livraria de qualquer mal. Como secretária da Diretoria da Dougherty Ambiental, ela tinha conhecimento de tudo que acontecia na empresa. Então, ela achou que era estranho quando Joseph Reston, o diretor do Departamento de Engenharia não cruzou a sua mesa exatamente às sete e quarenta e cinco, como fazia todos os dias. Ela ainda estava pensando no que poderia ter atrasado ele, quando uma voz profunda provocou-lhe um sobressalto.

– Senhora Sanchez...

– Ah! Senhor Cartwright! Desculpa. Eu não ouvi o senhor chegar.

Ele assentiu brevemente.

– Gostaria de ver minha agenda para hoje, e diga a Senhorita Dougherty que gostaria de lhe falar.

– A Senhorita Dougherty não virá agora. Ela... – a pobre senhora não pode terminar a frase.

– Como assim não virá?! – ele a interrompeu bruscamente. Depois, claramente se controlando, ele perguntou: - O que aconteceu, senhora Sanchez?

Carmem teve certeza por alguns segundos que, se pudesse, aquele homem teria lhe matado.

– Elinor Dougherty, a mãe dela, ligou avisando. Parece que ela não se sentiu bem ontem a tarde. Ela só virá na parte da tarde. – ela respondeu em voz baixa

– Transmita-lhe meus desejos de melhora. Talvez eu vá lhe fazer uma visita. – ele lhe dirigiu um sorriso, para amenizar sua explosão.

Carmem sentiu mais medo desse sorriso do que das palavras bruscas. Não deixou de fazer um sinal da cruz e murmurar uma oração.

***

O som ritmado do celular fez com que David murmurasse uma praga. Meio sonolento, ele pegou o aparelho com vontade de jogá-lo contra a parede, mas ele apenas desbloqueou a tela.

– Alô, é Marshall.

– Olá David. Queria saber com vão as coisas.

David sentou-se na cama, passando a mão nos cabelos. Era o seu chefe e amigo, Solomon Dupont. Sua família era uma das fundadoras do Instituto. O cargo era passado para cada um dos membros das famílias fundadoras. Dupont, Cross, Oswald e Schwartz. Com a morte de Talbot Cross, Solomon havia assumido. Ele sentia um paternal carinho por David Marshall. O Instituto tinha obrigação de proteger a humanidade de criaturas das trevas, mas, algumas vezes, ele falhava nessa missão. Mas Solomon reconhecia que o jovem tinha direito a vingar seu mentor. Vingar até coisas que o próprio David desconhecia.

– Está tudo bem, Solomon. Descobri que tenho raízes aqui. E vou tentar marcar uma entrevista com a matriarca da família, para ter acesso a Torre.

– Bom. Que bom você ter descoberto um ramo da sua família. Assim não passa mais o Natal sozinho.

– Não sabia que você sabia disso. – David respondeu surpreso.

– Não é difícil imaginar. Nunca vi você com nenhuma amiga, ou amigo. Sem família e apesar dos meus convites você nunca foi até a minha casa. Então...

– Eu não acredito que você está fazendo uma ligação internacional por causa da minha pobre vida solitária.

– É claro. E nosso outro assunto?

– Já consegui informações sobre ele. Agora tenho que me aproximar.

– Tenha cuidado, David. Você sabe do que Ormonde é capaz.

Inconscientemente David tocou o sinal de nascença antes de responder.

– Sei sim, Solomon. Bem, tenho que ir ver com Nigel está e tentar me encontrar com Margaret Dougherty.

– Se você precisar de reforço. Não hesite em chamar. Até logo.

– Até logo, Solomon. – ele desligou o aparelho.

Ele se levantou da cama e abriu a janela. Um dia ensolarado anunciava-se e recortado contra o horizonte, ele viu a silhueta da Torre Dougherty.

– Hoje começarei a desvendar os segredos desse lugar.

***

– Se você tem alma, David, me deixa ficar aqui quieto. – resmungou Nigel debaixo das cobertas.

David abriu as cortinas e o sol invadiu o quarto.

– Eu vou me encontrar com as bruxas Dougherty. Isso não te interessa?

– Se ela me arranjar algo pra parar com essa dor de cabeça infernal, eu danço até tango com elas, mas, por favor, feche estas cortinas!

– Bem, você vai ficar mesmo ai? – David sentou-se na cama.

– Vou! – a resposta resmungada veio debaixo das cobertas.

– Vou pedir a senhora Michaelis o endereço de alguma farmácia. Tente dormir.

Um som indistinto saiu das cobertas e David sorriu.

Ele desceu as escadas e já estava saindo quando Elspeth o chamou

– Ah, Professor. Espere!

David dirigiu-se ao balcão e Espeth estava se despedindo ao telefone.

– Eu vou dizer a ele, querida. Posso contar com você na reunião de quinta? Ótimo! Um beijo. Até logo. – ela voltou-se para David – Professor, eu acabei de falar com Maggie Dougherty. Ela o aguarda às dez. Aqui está o endereço dela.

David olhou o papel e o guardou no bolso. Depois olhou no relógio. Eram nove e quinze. Pouco tempo.

– Senhora Michaelis, Nigel precisa de um remédio. Sabe onde posso encontrar uma farmácia.

– Ora, - ela disse saindo de trás do balcão – o rapazinho não é a primeira vitima do uísque do Tom. Tenho aqui uma beberagem que vai ajudá-lo. Receita do avô do Tom. Já curou a ressaca de metade da população dessa cidade.

– Então se a senhora puder servi-lo desse remédio, lhe agradecerei.

– O Tom me disse também que você faz parte da família dele. Um Maguire, não é? Sabia que um dos fantasmas da Torre também é um Maguire? – ela serviu duas xícaras de café.

– Verdade? – ele perguntou aceitando uma das xícaras.

– Oh sim! O noivo da pobre donzela. Seu nome era Shane Maguire e era um primo distante de Donegal. Os dois se apaixonaram assim que se viram, mas como o senhor já sabe, eles não tiverem tempo de viver esse amor.

David teve uma sensação estranha ao ouvir a história. Como se já conhecesse. Olhou para o relógio. Nove e vinte e cinco.

– Senhora Michaelis eu acho que é melhor eu ir. Não quero que a senhora Dougherty me transforme em um sapo se eu me atrasar. E obrigado por cuidar do Nigel.

– Não se preocupe Professor Marshall. Seu amigo ficará como novo. E Margaret Dougherty não transformará você num sapo. Em um poodle, talvez. Mas não em um sapo. – ela riu quando os olhos azuis dele se arregalaram – Brincadeirinha, Professor. Brincadeirinha.

David entrou no carro e deu a partida. Mas estranhamente o carro não pegava. Ele olhou o medidor de gasolina e viu que ainda estava pela metade. Aquilo não estava acontecendo com ele, pensou irritado. Ele olhou no relógio novamente. Eram nove e quarenta. Nunca chegaria a tempo.

Ele saiu do carro e voltou para o hotel. Elspeth ficou surpresa quando o viu.

– Professor! O que aconteceu?

– Por alguma razão que a lógica não explica, meu carro não quer pegar.

– Provavelmente é o motor. Está frio à noite. E ontem garoou um pouco. Aposto que quando o motor esquentar, ele pega – declarou Thomas juntando-se a eles na recepção.

– Vou chegar atrasado ao encontro com a senhora Dougherty.

– Vou ligar para ela, falando do seu atraso. – Elspeth anunciou. Ela virou-se para o marido dizendo baixinho enquanto David voltava para o carro – ele está com medo de ser transformado em sapo.

O irlandês deu uma risada estrondosa. Em seguida foi até o carro onde David já o esperava.

– Vamos lá David. Dê a partida novamente.

O americano girou a chave e nada. Ele girou a chave novamente e o carro nada. David olhou para Thomas desanimado.

– O que eu faço agora? Não posso perder essa oportunidade...

Thomas abriu a porta do carro de David.

– Venha, eu te levo até lá. E aproveito e pego mais algumas ervas com Elinor Dougherty.

Eles atravessaram a rua até onde estava estacionado o carro de Thomas, um Land Rover verde brilhante. Ele realmente era torcedor do Saint Patrick.

– Ervas? Para quê? – David quis saber.

– Ora, para beberagem do meu avô. Ele e o pai de Elinor inventaram isso. Agora eu pego as ervas com ela e a preparo. Metade da população dessa cidade já precisou dela.

– Agora junte a esse número mais um. Nigel não conseguiu acompanhar o ritmo do seu uísque. – completou David rindo.

– Mas ele é jovem. Um dia ele consegue. Agora vamos. Se não, você vira uma tartaruga.

– Não seria um sapo? – David perguntou entrando no carro.

– É. Sapo, tartaruga... Quem sabe o que essas bruxas podem fazer? – respondeu Thomas ligando o carro.


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