Anjo da Cara Suja - betada escrita por Celso Innocente


Capítulo 16
Consumação dos fatos.


Notas iniciais do capítulo

É o último.
Conto com você em minhas demais estórias.



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Apesar das esperanças renovadas, depois daquela amostra de clarividência por uma mulher estranha, as coisas continuaram na mesma obscuridade de antes. Tanto para Luciano, quanto para dona Odete e senhor Rogério, com certeza, aquela amostra, só serviu para reabrir as feridas, que lentamente pareciam querer se cicatrizar e todos voltaram a sofrer, com a mesma intensidade dos primeiros dias de seu desaparecimento.

Luciano e Sara, tornavam a insistir no saber, que além de serem confortado pela vantagem de que não tinham a convivência com o menino durante todo o tempo, tinham também a grande vantagem de no mesmo dia, terem recebido seu amado filho, como grande dádiva divina, funcionando como anestésico, naquela cruel ferida; além da amizade sagrada de seu irmãozinho caçula, que os fazia se disfarçarem a agonia daquela terrível perda.

E os pais de Regis? Nada lhes foi reposto para tentar amenizar um pouco de suas dores...

Dona Odete, como sempre fazia, estava sentada na cama do filho desaparecido, segurando uma moldura de seus oito anos de idade. Na foto, o menino sorria e na realidade, sua mãe chorava em silêncio, por saudades, tristeza e sofrimento. De repente, entrou a filha Letícia, de oito anos de idade e ao vê-la chorar, perguntou:

— Por que você está chorando, mamãe?

— Não estou chorando, filhinha — negou ela. — Só estou resfriada.

— Ta chorando sim! É por causa do Regis. Não é verdade?

— É sim filhinha. Acho que sim.

— Onde ele está? Por que ele nos abandonou?

— Ele não abandonou a gente.

— É verdade que ele foi morar com Deus?

— Quem disse isso à você?

— Foi o papai.

Ela calou-se por alguns segundos, depois abraçou a filhinha e ainda chorando muito, concluiu:

— É filhinha. Acho que é verdade. Mas ele está muito feliz. Virou um anjinho que vai nos amparar.

©©©

Dezembro chegara e com ele o natal. Que natal? Quem sabe esse espírito de paz e amor, os trouxesse de volta, o maior de todos os presentes desse universo de Deus, a quem todos, apesar de coração sangrando, vos regozijam.

Nem o pequeno Paulinho, viu-se feliz em tal noite de paz e amor. Nem a famosa canção de propaganda natalina das casas Pernambucanas, que se fazia marca registrada em todos os natais e todos adoravam, parecia ter mais graça:

“Dezembro vem o Natal… Os presentes mais bonitos… As lembranças mais humanas… Pra seus entes queridos todos vão comprar… Nas Casas... Pernambucanas… Que em todos os lares, a paz seja total… E mais os nossos votos de um feliz Natal”

Dia da confraternização universal, primeiro de janeiro de um mil novecentos e setenta e três, chegou e talvez todos se alegravam. Naquelas vidas, porém, o que sentiriam prazer em confraternizar? Nas sinagogas, comemoravam-se a circuncisão de Jesus Cristo, dizendo que aquele que não for circuncidado, não entrará nos reinos dos céus. Muito bem, Rogério se atreveu a prometer, embora sem permissão da esposa: “me devolva Regis e eu o circunciso no mesmo dia”.

O ano que se iniciava, já começava a caminhar e a vida voltando à rotina, principalmente no trabalho de todos, inclusive pelos dois irmãos Luis e Leandro.

No corredor do fórum, Luciano se deparou com Rafael, que há muito tempo não o via.

— Bom dia! — Cumprimentou-lhe ele. — O que faz aqui?

— Eu trabalho aqui! Lembra? O que você... faz por aqui?

— Documentação de casos perdidos! — Insinuou ele.

— Casos perdidos ou abandonados? — Ironizou Luciano.

— Casos sem solução — riu ele.

— Ou falta de ética profissional?

— Você está magoado devido um caso que você abraçou? Qual era a situação?

— Regis!

— Regis? — Não se lembrava Rafael.

— Você tem filhos? — Questionou-o Luciano, com ironia.

— Me lembrei! O menino do aeroporto! Aquele que desapareceu no ar!

— Aquele o qual a justiça abandonou — pensou um pouco e emendou — Corrigindo... Membros da justiça abandonaram.

— Você sabe quantos casos a gente tem nas mãos?

— A pergunta é, quantos casos semelhantes vocês dão solução plausível? E depois, Penápolis não tem tantos casos assim para que seja esquecido em uma gaveta.

— O que aquele menino é seu? — Ironizou ele.

— Vizinho! Mas poderia ser filho! Ou poderia ser até um estranho! Seria um ser humano do mesmo jeito.

— Cai na real meu! Quanto tempo já faz? Seis meses?

— Quase dez!

— Sabe qual a probabilidade em encontrá-lo? Principalmente com vida? Um por cento. Talvez menos.

— Então há probabilidade! E é nessa que eu tenho esperanças. Continuo acreditando que ele esteja vivo.

— Posso te falar a verdade? Sei que é duro e cruel. Nunca falaria disso pra seus familiares, mas você é um profissional e tem que cair na real. Provavelmente ele esteja realmente vivo. Seu coração batendo no peito de outra pessoa. Seus rins filtrando o sangue de outra pessoa. Suas córneas enxergando pelos olhos em outro rosto...

— Quer saber — protestou Luciano. — Falar com você está me deixando doente.

Luciano se afastou do investigador, seguindo para sua sala, onde se sentou e percebendo que realmente, aquela conversa desanimadora fez baixar sua pressão, debruçou-se sobre a mesa, permanecendo quieto por um instante, com objetivo de se restabelecer e enquanto isto começou a meditar na conversa dele.

Ele, sendo profissional, sabia que as incidências desse tipo de crime, principalmente contra crianças, eram realmente em número alarmante. A fila de pacientes à espera de doadores de órgãos é elevada em todo o mundo. As pessoas não estão habituadas a permitir a retirada de órgãos, de seus entes queridos, em hora de tamanha dor. Com isto, os marginais e pessoas demoníacas, raptam crianças e interferem nas filas de espera, escolhendo pacientes milionários e compatíveis com o tipo sanguíneo da criança raptada, então, entram em contato e oferecem para que eles furem a fila, a um preço que o dinheiro pode pagar: em torno de quarenta mil dólares por um rim, dez mil por córneas... Sabe-se lá quanto pagam por um fígado, pâncreas, pulmão, ossos, peles... O que se sabe é, que se paga até duzentos mil dólares por um coração saudável, de uma criança saudável.

Os pacientes milionários acreditam que seu único crime, esteja sendo o de furar a fila, pela vantagem do dinheiro. São informados de que o doador teve morte cerebral e a família já teria manifestado o desejo de que seus órgãos salvem vidas; quando na realidade, o doador está bem vivo, aguardando as negociações, onde será então, submetido a um coma induzido, através de drogas injetáveis, depois, estando ainda vivo, terá seus órgãos retirados, em um dos crimes mais cruéis e hediondos que se possa existir.

— Luciano! — Despertou-lhe a secretária Silvia, loira, cabelos longos, de vinte e dois anos de idade — Você está bem?

Levantou a cabeça, retornando ao mundo dos vivos.

— Tive uma conversa desagradável com uma pessoa, que me fez cair à pressão. Já estou melhor!

©©©

Sábado, dezessete de Fevereiro, Sara fora dormir às nove horas da noite, depois de ter cuidado do nenê e o colocado para dormir em seu berço. Luciano, como já estava habituado a fazer, tomou Paulinho nos braços e o levou de volta à casa de seus pais, depois retornou, tornando a deitar-se na sala, no sofá de três lugares. Às onze horas, assim que terminou o filme “O Menino Selvagem”, pela então tevê Tupy, canal quatro, levantou-se, desligou o televisor e seguiu para o quintal, com objetivo de por segurança, trancar o portão, como fazia todas as noites. De repente, percebeu algo muito estranho no céu: Uma luz azulada muito forte, que rasgava todo aquele horizonte, em velocidade astronômica.

A princípio, imaginou uma estrela cadente, porém como elas não existem, pensou em um asteroide, meteorito, ou cometa, depois, como o formato se alterara, imaginou um grande avião, mas como parecia descer em rumo à Terra, imaginou até uma nave estranha.

Era incrível, só que aquele negócio estava caindo na sua cidade. Mais do que isto: em seu bairro. Seu formato esférico e grandioso, o fazia pousar com muita rapidez ali mesmo, no campinho de futebol, construído e conservado, pela criançada de sua vizinhança.

Curioso correu até próximo ao local, se escondendo atrás da árvore, em frente à casa dos pais de Regis.

Aquela gigantesca espaçonave, preta e dourada, construída de um material semelhante a aço inoxidável, inimaginável por ele, parou a menos de dois metros do solo daquele campinho; em sua parte inferior, a qual não apresentava nenhuma ranhura, abriu-se algo em oval, como a ser uma porta, caindo até aos trinta centímetros do solo, quatro degraus de escada, nos mesmos tons de cores. Para sua grande surpresa, imediatamente, de dentro da espaçonave, descendo pelas escadas, surgiu o pequeno Regis, com a mesma fisionomia, o mesmo uniforme e bolsa escolar, o qual usava, a quase um ano, no dia de seu desaparecimento.

Assim que ele tocou o solo, as escadas se recolheram rapidamente, a porta se fechou na mesma proporção e aquela nave tornou a subir aos céus, desaparecendo do alcance de suas vistas, em menos de dez segundos.

Regis, apressado, embora sem vê-lo, seguiu em direção do amigo, com objetivo de chegar à sua casa.

Não acreditando no que estava acontecendo e com o coração disparado, Luciano saiu de trás da árvore, causando até um pequeno susto no menino, que surpreso gritou:

— Senhor Luciano!

Correu a seu encontro e o abraçando carinhosamente, perguntou-lhe surpreso:

— O senhor sabia que eu estava chegando?

O homem não conseguia responder, tomado pela surpresa agradável.

— Estava com tanta saudade! — Alegou o menino, beijando o rosto do amigo por várias vezes, deixando-lhe retribuir. — Vamos ver meus pais?!

— Onde você esteve, menino? Seus pais sofreram tanto com sua ausência!

— Acho que o senhor não acreditaria em mim! — Insinuou ele sério. — Venha comigo!

Luciano tomou o menino nos braços, com intenção de levá-lo até seus pais.

— Não precisa me carregar no colo, senhor Luciano! — Negou o menino, rindo — Já sei andar sozinho!

Meio que confuso, o homem colocou-o no chão e o acompanhou, que, entrando em seu quintal, bateu fortemente, por várias vezes, na porta da sala de sua casa, a qual estava toda escura, pois devido o horário, com certeza todos estavam dormindo.

Demorou pelo menos um minuto, quando, perguntando de quem se tratava e sem obter respostas, a porta se abriu e sua mãe, pensando estar vivendo um lindo sonho, o abraçou, chorando de tanta felicidade.

Fim.

Nota:-

Depois de dez dias de muita explicação e protesto, Rogério conseguiu convencer o pequeno Regis, em fazer uma pequena cirurgia de fimose, com intuito de circuncisão, como promessa realizada por ele, sem a permissão do condenado.

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Notas finais do capítulo

Será que pelo menos no final eu mereço seu comentário pra saber que você esteve presente?

O que aconteceu com o pequeno Regis neste período de um ano? Onde ele esteve? Com quem? Por quê? Convido-o a conhecer o outro lado deste drama, lendo "Regis um menino no espaço"
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