Filhos de Clairmond Interativa escrita por Le Clair


Capítulo 7
Capítulo 6




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Isabel Vanses New Holland

Isabel arrumou o cabelo mais uma vez, fitando sua imagem no espelho. Perincesa de New Holland, e sorriu, Me cai bem. A iniciativa veio dela mesma; reivindicar o trono. Alguns meses atrás? Era apenas mais uma garota no mundo, daquelas que passava horas e horas conversando com as amigas e observando os garotos da escola de soslaio. Agora? Princesa de New Holland. Bom, ou pelo menos seria oficialmente em algumas horas. Claro, ela não era a sucessora do trono, mas conforme suas pesquisas mostraram, estava ali em algum lugar.

E tudo isso devia-se a um diário de couro preto e desgastado encontrado debaixo de algumas tábuas soltas de seu quarto. Princesa Louise Isabel Luccia Vanses, sua antecessora. Mulher qual abdicara da sucessão do trono em nome do amor, um comerciante plebeu. “O trono nos consome”, ela dizia em uma das linhas “nos toma os conceitos de amor e fraternidade mais importantes”. Esperava que a mulher estivesse errada.

― Como está se sentindo? ― seu pai desceu a mão para seu ombro, sorrindo em sinal de encorajamento.

― Nervosa?― riu, esfregando as mãos.

― Não se preocupe. Você não alterará nada muito sério em New Holland, não tem nada a temer, ninguém para se preocupar. Liesel assumirá o trono, afinal, ele foi criado para isso a vida toda. Você entrará como princesa; fará alianças em nome do bem comum e talvez até se torne uma grande referência no exterior.

Ela não sabia se o pai estava acalmando-a ou apenas expondo sua posição na corte para que não ‘extrapole’. Mas Isabel conhecia bem suas determinações assim que o anúncio fosse dado; aspirava ser uma princesa desde garotinha, portanto, quando a mínima chance de que ela realmente pudesse ser uma chegou, seus ânimos não se acalmaram até que conseguisse uma teoria completa, cercada por fatos, documentos, suposições, testemunhas e tudo mais. E quando a Seleção em Clairmond apareceu, boom, Isabel viu ali a oportunidade perfeita para reivindicar seu lugar na corte e ainda ser bem recebida.

― Vamos. O anúncio começará agora― o pai sorriu, fitando os reflexos dos dois no espelho ― Estou orgulhoso de você. Fará um bom trabalho; eles não ousariam lhe disperdiçar.

Isabel se levantou, ajustando o vestido e verificando o cabelo. Respirou fundo e encorajou a si mesma:

Eles não vão te desperdiçar. A Seleção está vindo e eles não têm uma princesa para competir.

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Morticia Yifei ♛ Huán

― Emy!― escutou Gaara chamar.

Com um suspiro de alívio, Morticia dispensou suas criadas com um aceno da mão. Finalmente. Quando Gaara chegava, era quase como se uma onda de alívio descesse pela garganta e ela pudesse, finalmente, respirar. A culpa era sua, claro. Ela trouxera isso para si: a prisão domiciliar. Aparentemente, tentar se matar e fugir de casa aos quinze anos não foi exatamente bem interpretado pela família.

Ela viu o irmão se aproximar com lentidão, usando aquela postura ereta que sempre usava.

―Oi?― disfarçou a ansiedade.

Gaara sentou-se ao lado dela, nas escadas, apoiando os cotovelos nas coxas.

― Você não apareceu para o jantar― ele estalou a língua, empurrando a irmã de lado.

― Eu não estava com fome― deu de ombros.

― Nem eu― admitiu― Mas você sabe que o jantar é muito mais do que salmão defumado por aqui.

Mortícia riu.

― É. Às vezes tem sopa e outros tipos de peixe... ― fez com o intuito de fazer o irmão rir, mas este continuou fitando-a com seriedade ― Eu só não fui no jantar, Gaara. O mundo não vai acabar.

O príncipe revirou os olhos.

― Faltar o jantar uma vez é uma coisa. Um mês inteiro já é demais― ele tirou uma mecha escura do rosto de Emy ― Você tem comido o quê?

― Eu vivo de luz.

― Ok, Srta. Flor― Emy sorriu ― É sério, Morticia. Você está tentando se matar ou algo assim?

Ela ergueu os ombros, exasperada.

Não― estava virada para Gaara― Eu só não aguento olhar pra cara deles. Todo mundo parece tão falso, cheios de intenções por baixo do sorriso branco.

E era verdade. A princesa odiava o Parlamento de Huán. Odiava todos que se sentavam na longa mesa real todo santo e bendito dia. Odiava ter que conviver com tamanha falsidade e olhares sobre o trono.

― Eu sei. Mas é nosso dever, Emy― ele virou a cabeça e lançou-lhe um olhar doído.

Seu dever, você diz― a princesa balançou a cabeça, deixando os ombros caírem ― Você assumirá o trono. Nada de Morticia. Só Gaara― reclamou. Não estava realmente ressentida por ele ter mais atenção do que ela, mas percebeu que ele, talvez, não tenha pensado nisso.

Emy viu os músculos do irmão se enrijecerem antes dele tirar a blusa.

Gaar― disse rapidamente, ainda em choque ― O quê...?― Então ele se virou de costas – ela segurou a respiração, sua boca aberta num círculo perfeito. Cicatrizes longas e finas marcavam as costas do rapaz ― Eu...

Só Gaara. Nada de Morticia.

E ela se sentiu dolorosamente culpada depois disso.

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Simon Dark ♛ Wenger

Metade do tronco de Simon estava apoiado na parede, os braços cruzados e uma sobrancelha levemente erguida. Aquele olhar, somado à boca –curvada de modo estupidamente travesso, parecia, faziam garotas se derreterem como seu boneco de neve no verão.

Vamos lá― implorou.

A cabeça do príncipe se curvou levemente para o lado, lançando à moça aqueles olhos em tom verde-acobreado. Ela revirou os olhos, abraçando os lençóis brancos ainda mais para perto de si.

― Eu não posso― ela ainda parecia em dúvida se negava ou não, afinal, era o príncipe Estou em trabalho, Vossa Alteza.

Ele desdobrou uma das fronhas perfeitamente passadas, brancas e cheirosas, e enrolou-a na mão, contornando a cintura da criada com esta mesma.

― Você está mesmo me negando um beijo, Lys?― e puxou-a para mais perto de si, os quadris se tocando.

― Nós não podemos― ela se afastou. Então girou a cabeça para a esquerda e direita ― Não aqui, pelo menos― escondeu-se mais fundo na pilastra e cruzou os dedos atrás da nuca do rapaz, que quase de imediato tirou-a do chão para que a alcançasse; Simon era alto ― Venha.

E puxou sua gravata para o quarto mais próximo. Ele, ainda sorrindo, não acompanhou-a para a cama.

― Mas... ― ela franziu o cenho.

― Vocês... ― ele sorriu de lado ― Se entregam fácil demais.

― Mas...

Flerte, minha cara, é melhor do que os “finalmentes”.

E girou nos calcanhares, dobrando a fronha com uma rapidez assustadora. Deixou o quarto com aquele andar meio de lado. Uma coisa que jamais poderiam dizer é que Simon Dark não tinha gingado, porque, bem, estariam redondamente enganados. Tinha aquele andar cafajeste e “flertante”, aquela fala extremamente sedutora e olhos brilhantes que encantavam qualquer uma em juízo perfeito.

― Eu vi― uma figura rápida e esperta cruzou seu caminho ― O que, diabos, foi aquilo?!

Segurou os ombros da irmã mais nova, Flair, tirando-a da frente.

― Nada.

― Nada?!― ela desdenhou, tentando acompanhar os passos longos do irmão com suas pernas curtas e estrutura pequena ― Você nunca dispensou alguém.

Hora de mudar― virou-se rapidamente para a garota, fazendo um gesto abrangente. Ela arqueou as sobrancelhas como quem diz ‘sério?’― Além do mais, a Seleção está por aí.

―... E...?

E que minha ilustre pessoa prefere não se apegar― deu de ombros― E para não haver toda aquela melação, choro, velas e rosas da parte das garotas quando me entregar à Céline de corpo e alma.

Flair balançou a cabeça. Não compreenderia Simon nem em um milhão de anos.

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Italo Sona Gutersang

As cores voaram do pincel para a tela; Italo virou a cabeça, examinando seu mais recente trabalho: o Jardim Principal. As luzes estavam acesas e a noite brilhava, no entanto, sua pintura fazia com que o lugar parecesse muito mais poético, delicado e melancólico do que realmente era. Deus, como o Jardim era rígido, desajeitado e nada misterioso como supostos jardins deveriam ser; havia aquela grande árvore bem no centro, que, no natal, ficava repleta por cartões presos em longos e finos fios de barbante. Apesar de não ser Natal, seu quadro mostrava a árvore daquele jeito; com cartões pendurados e luzes brilhantes. Não a versão atual: uma árvore estranha com folhas não tão escuras e sem vida na paisagem sem graça do jardim. Argh, se ele fosse rei o jardim ficaria eternamente iluminado. Argh, se pelo menos não tivessem dois irmãos mais velhos em sua frente. Argh.

Ligou o celular, checando o aplicativo recém-instalado, qual mostrava a economia atual de Gutersang, como sempre fazia. Seria um bom rei, definitivamente. Mas quem se importava com isso quando seus irmãos mais velhos é que eram os prometidos ao trono? Ninguém. Ele, talvez, mas não tinha muita voz no Senado para reivindicar ou algo assim.

Então, quando não estava tentando argumentar com alguns possíveis aliados para sua ascensão ao trono, estava ali, pintando. Seu pai riria, afinal, Italo era o adolescente de dezoito anos mais sério que qualquer um poderia encontrar em anos.

― Vossa Alteza― uma criada colocou a cabeça para dentro do quarto do rapaz ― Lorde Byron está lhe convocando em seu escritório.

O príncipe acenou para que ela saísse, seguindo-a logo em seguida até o local indicado. Lorde Byron, o Conselheiro do Rei. O homem que o rei mais confiava, mas também aquele que estava trabalhando com o príncipe mais novo para uma ascensão ao poder; qualquer um em sã consciência poderia ver que ele seria o monarca mais sensato para Gutersang. Mais do que seus irmãos mais velhos.

Bateu na porta antes de entrar no escritório de cheiro amadeirado apenas por educação, entrando logo atrás e fechando a porta atrás de si com urgência.

Novas?― perguntou ao homem com uma empolgação contida.

Ele ergueu uma sobrancelha.

― Não te chamei para tomar chá, rapaz.

O príncipe se sentou na cadeira mais próxima, apoiando os cotovelos nas coxas e fitando os olhos de Lorde Byron.

― E...?

― Eles aceitaram.

Soltou um suspiro de alívio. Byron ainda continuou:

― Com uma aliança como Clairmond, sua ascensão ao poder de Gutersang viria como um pulo: todos sabem o melhor para a Nação.

― Eu.

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Daniel Specter Valyria

Quatro gerações, ele agradeceu, quatro gerações sem que um príncipe nascesse em Valyria.E lá estava ele: o único príncipe em séculos. O único também que não assumiria o trono – mas não se importava com isso, não mais. Arrumar seu próprio quarto já era um problema: imagine um dos maiores países do mundo?! É, definitivamente...

Valyria tinha aquele Sol exclusivamente brilhante que alguns poetas descreveriam como belo e tropical, mas que ele mesmo, apesar de amar o país com toda sua força, classificaria como irritantemente brilhante. Era de arrancar órbitas fora. O inverno na Europa, obviamente, era coberto por neve e aquele ar escuro, enquanto o de Valyria constituía naquela massa quente o ano inteiro. Poderia, eventualmente, chover – mas isso só se estivessem com muita, muita, muita sorte mesmo. Mas, claro, Daniel não trocaria seu país por nenhum outro de estações bem definidas, afinal, adorava sair do castelo debaixo de sete moletons e passar pela praia no meio do dia com trajes de banho; era, tipo, todas as estações do dia comprimidas em um só dia. Digo, que outro país tinha isso?!

Depois que Valyria, quando ainda era Brasil, tomou os países vizinhos e tornou-se um país continental, acabou por ter todas as estações do ano, bastando apenas andar um pouquinho; extremo frio num lugar e extremo calor noutro – e, muitas vezes, ambos num só. Era incrível. Ele adorava seu país como adorava jujubas ― e ele amava jujubas.

Batucou os dedos sobre o papel com apenas uma linha ocupada:

Senhoras e Senhores, Reis Rainhas, Ladys e Lordes das Nações de todo o mundo.

Tecnicamente, seu discurso deveria ficar bonito, afinal, Valyria era, basicamente, o país conhecido pela União por ser bom em discursos – a culpa não era dele se todos os seus antepassados eram malditos poetas com espírito de escritor. E, mesmo assim, com toda aquela carga hereditária, Daniel tinha certeza, que, mesmo a apresentação de seu discurso, estava ficando uma bela bosta. Tecnicamente, deveria falar de como estava “abandonando” a mulher a quem estava prometido (que parecia um crocodilo) para participar da Seleção. Bagunçou os fios castanhos frustradamente, deixando-se cair em cima do papel.

Aquilo era um saco.


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Notas finais do capítulo

First of all: super desculpas pela demora! Eu estive tããão absurdamente ocupada essa semana e não deu tempo de escrever ;-; Segundamente: Quatro personagens ainda não apareceram, mas como estou sem tempo nenhum para escrever, farei encontros deles com a Céllie e o Étienne, o que acham? *-* Já tenho o próximo capítulo pronto, então depois de amanhã posto =DD
Outra coisa: mil e uma desculpas por não estar respondendo os comentários de vocês. Responderei tudinho, é que agora eu 'tô em semana de provas e esse bimestre, cês sabem, tenho que ter uma boa média para o próximo ficar só no "bem e bom"; faltando antes das aulas acabarem e "vagabundear" pelas aulas, hihihihi. Sabecoméné? XD #kidding. Eu sou uma boa aluna o ano inteiro.
Enfim, espero que tenham gostado ^_^ Deixe sua opinião.