Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 47
Capítulo 46 - Ela




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_ Impossível! Sua Margareth não é Edith Prior! Deve haver algum engano aqui!

_ Absolutamente minha querida! Este rosto, que você vê nesta foto e o mesmo rosto que figura em todas as outras, e que está gravado para sempre na minha memória é ela.

_ Eu me lembro bem! Edith Prior foi a identidade que ela assumiu no experimento, seu nome de verdade era Amanda Marie Ritter, eu li sua declaração de consentimento para participar do experimento! Eu li! E além do mais, Caleb disse que ela era uma tia do nosso pai de sete gerações passadas, impossível ser nossa avó.

_ De onde é que ele tirou essas informações? - Ele quis saber.

_ Dos registros do Departamento de Auxílio Genético.

_ Documentos Beatrice, passíveis de manipulação de qualquer um... - Ele responde e suspira como se estivesse dizendo o óbvio e então, vendo que não há qualquer vestígio de convencimento em minha expressão, ele continua:

_ O Experimento Chicago tem 100 Beatrice, foi fundado na gestão do meu pai... Então seria humanamente impossível passar sete gerações por alí...

_ Você está me enganando. Por quê? Por quê está me mantendo aqui? Por quê mente que é meu avô?

_ Eu sou seu avô e Margareth é sua avó.

_ Por quê ela se identifica como Amanda Ritter?

_ Minha querida, embora a minha identidade seja secreta e da minha companheira também fosse preservada, àquela altura creio que Margareth não quis arriscar... A única forma de entrar em um experimento era se voluntariando ao Departamento de Auxílio Genético. E foi o que ela fez, o vídeo que tanto impressionou a todos vocês foi gravado com mais da metade dos voluntários e algumas pessoas-chave dentro do experimento tinham a informação de que em caso de revolução ou conflito uma cópia deveria vir a público e nesse caso, vocês tiveram a feliz coincidência de ver o vídeo gravado pela minha Margareth. - Ele explica calmamente, esperando um sinal de que eu compreendi, que aceitei a sua argumentação, caso contrário parece pronto para repetir a lição de outra forma se preciso for... Mas eu não digo nada... Apenas analiso seu rosto, seus traços, seus olhos... Fico procurando semelhanças entre ele e meu pai... Encontro muito mais do que eu gostaria.

_ E então, minha doce Beatrice, será que seu avô merece um voto de confiança?

_ É muita informação para processar... Quer dizer que a sua Margareth é Edith Prior, que por sua vez é minha avó... E tem ainda Alejandra... Minha prima... O que aconteceu com Sophia, a avó de Alejandra, a mãe de Amélia?

_ Sophia morreu há alguns anos, teve câncer nos ossos. Mas não sofreu, a doença foi silenciosa e fatal. Perséfone sofreu muito, a avó a mimava demais por isso ela era muito ligada à ela.

O desprezo do avô, a perda da única pessoa com quem poderia verdadeiramente contar... Isso explica muito algumas das atitudes de Alejandra...

_ Por quê Perséfone? Acho que ela prefere ser chamada de Alejandra.

_ Você conhece mitologia grega? A Rainha do mundo Infernal que ficava vigiando as almas e sabia dos segredos das trevas...

_ Como o senhor pôde batizar a sua neta com o nome de tal besta?

_ Não julgue sem conhecer os dois lados da moeda, minha doce e querida Beatrice...- Ele faz uma pausa e se ajeita em sua poltrona..

_ Antes de tornar-se a rainha do mundo infernal Perséfone, a única filha de Zeus e Deméter, era Deusa da terra e da agricultura. Mas então a beleza dela aplacou o pobre Hades, Deus dos mortos, que a tomou para si levando-a para o mundo inferior e deu a ela uma Romã que era considerada o fruto do casamento... - Mais uma pausa só que desta vez limpa a garganta e torna a pegar a xícara de chá... Maldito chá que nunca tem fim! Permaneço em silêncio, me perguntando qual o propósito de tudo isso?

Afinal quem é este homem que gosta de comunicar-se através de fábulas e metáforas, do que ou de quem ele realmente se esconde? O que faz há mais palmos de baixo da terra do que eu poderia contar?

Ele pigarreia exigindo minha atenção e prossegue com sua história mitológica:

_ Como a moça já havia comido as sementes, não poderia mais deixar o marido. Inconformada com a situação da filha Deméter pediu a Zeus que intervisse, mas Hades não cedeu, foi então que Perséfone passava um período com a mãe e outro com seu marido... Quando se tornava a sombria Proserpina. Deste momento em diante, a cada vez que ela estava com Hades virava inverno na terra, e quando estava no Olimpo com Deméter se tornava novamente uma adolescente e chegava a primavera e o verde da natureza fazia brotar muitas flores e frutos... - Ele encerra a história com um sorriso no rosto esperando que eu tenha capitado qual a lição a ser aprendida, mas permaneço impassível, de modo que ele fecha o cenho e diz.

_ Batizei minha neta com este nome em homenagem a minha filha Amélia... Você não percebeu semelhança alguma em ambas tragédias?! - Ele pergunta, mas não espera resposta apenas continua falando... Desabafando eu diria a julgar pelo olhar distante, quase saudoso. Tenho que lembrar à mim mesma repetidas vezes que não estou diante do meu querido avô que acabo de conhecer, com quem poderei reatar os laços de família, mas sim diante do Presidente Nicholaus King, controlador, sanguinário, frio e extremamente calculista e acima de tudo manipulador.

_ Eu tinha esperança de poder acreditar que poderiam haver dois lados, que poderíamos ter uma primavera em algum momento... Mas ela nunca entenderia... Amélia era como um animal selvagem, agia somente por instinto, nunca reconheci nela nada da mãe e nenhum traço meu...

_ Por quê dois lados? Por que genes danificados e genes puros? Por que tanta distinção entre as pessoas?

_ Um mal necessário para evitar mais guerras e destruição.

_ Com mais guerra ainda? Isso não soa no mínimo estranho Presidente?

Ele me olha e sorri carinhosamente, estende a mão e acaricia meus cabelos enquanto meu corpo inteiro se retesa...

_ Parece que ouço sua avó falando. Acho que já está muito tarde, você deve descansar. Amanhã podemos tomar o café da manhã juntos e conversar um pouco mais... Afinal, há quanto tempo não tenho companhia para o café da manhã. - Ele diz animado.

_ Como o senhor consegue viver aqui embaixo longe da luz do sol? Como sabe que está tomando o seu café da manhã no turno da manhã? - Pergunto imaginando se eu mesma não estarei louca até o final do próximo dia... Sem saber ao certo se os relógios estão me pregando uma peça ou se apenas estou me tornando uma pessoa paranoica.

_ Minha querida tudo vem até mim... O sol, a lua e tudo mais o que eu quiser e precisar.

É muita presunção e uma boa dose de loucura...

_Em tempo lhe mostrarei como. Por ora, acho que já tivemos o bastante. Vá descansar. - Ele responde às palavras não ditas, à minha expressão de estranheza.

Antes mesmo que eu possa responder uma senhora com cabelos brancos, vestindo uniforme todo preto me aguarda junto a porta, com a cabeça baixa, fitando os próprios sapatos. Um sinal de respeito, submissão ou medo?

_ Cerinéia lhe aguarda para mostra-lhe os seus aposentos. - Ele menciona a criada, mas nem se quer olha em sua direção.

Meus olhos especulativos pairam sobre a velha senhora que mantém a mesma postura imóvel junto à porta. E que nome estranho, nunca conheci ou ouvi falar em alguém com tal nome.

_ Não estou cansada, gostaria de poder explorar o local, tenho sua permissão?

_ O Bunker é um ambiente muito convidativo eu sei, porém demasiadamente perigoso para quem não o conhece. Por tanto minha cara é prudente que vá direto para sua suíte. Tenho certeza de que haverá distração suficiente por lá, pelo menos por esta noite, até que se sinta pronta para dormir... - Ele faz uma pausa, sorri como um anfitrião satisfeito recebendo um hóspede há muito aguardado.

_ Tome um banho e relaxe... Cerinéia providenciará uma refeição digna de uma rainha para a minha querida e doce Beatrice, não é mesmo Cerinéia?! - A criada apenas acena com a cabeça em afirmativa.

_ Ela é muda, nasceu assim. Mas pode ouvi-la. Se lhe faltar alguma coisa, ela estará à sua disposição. - Ele diz em tom conspiratório. E fico pensando o quando a deficiência da criada lhe é conveniente... Aposto que a pobre deve ser analfabeta... Assim não poderá nem se quer escrever o que gostaria de dizer.

Levantamos os dois e antes que eu possa me dirigir até Cerinéia ele me puxa para um abraço e me mantenho ereta com os braços esticados ao longo do corpo enquanto ele me envolve com os seus. Suas mãos pressionam minhas omoplatas, fazendo com que minha cabeça toque seu paletó. Minhas narinas de encontro ao sedoso tecido aspiram um aroma adocicado de flores... Sinto meu estômago revirar. Estou tão atônita com o gesto que não o repilo, espero os intermináveis segundos se passarem para que ele enfim me solte. E graças a Deus é o que ele faz.

_ Boa noite minha querida. - Ele se despede enquanto me afasto ainda sentindo seu cheiro impregnado em mim.

_ Boa noite Presidente. - Respondo.

Saio porta fora sem olhar para trás. Acho que já tive o bastante por hoje... Cerinéia caminha na minha frente quase que como um fantasma, mas ouço seus passos. Há tanta coisa que gostaria de perguntar a ela, porém exigiriam respostas muito maiores do apenas um aceno de cabeça...

Toco em seu ombro resignada a pelo menos tentar de alguma forma. Ela se encolhe recuando como um animal acuado.

_ Não lhe farei mal algum. - Ela concorda com a cabeça.

_ Há mais criados trabalhando por aqui? - Ela concorda.

_ Vou vê-los? - Ela discorda.

Droga! Como é que vou descobrir alguma coisa se não puder falar com ninguém além do presidente e de sua criada muda?!

Ela acena com a cabeça para que continuemos e frustrada eu a sigo pelo corredor até a sinuosa suíte. Ao entrar no cômodo que deve ter no mínimo um 200 metros quadrados me deparo com o quarto mais lindo que já vi na vida. O chão aparentemente feito em madeira confere ao ambiente uma sensação aconchegante ao mesmo tempo em que contrasta com a decoração que é basicamente toda branca, desde a tapeçaria à roupa de cama, tudo praticamente claro, iluminado, bege e em tons pastéis com alguns toques de dourado aqui e ali. Lindos quadros substituem o que deveriam ser janelas, e parecem tão realistas... Ao lado da minha cama há uma gravura emoldurada por uma cortina que até me faz crer que estou olhando para uma cidade à noite, bem viva e iluminada, pessoas estáticas na rua, carros parados no sinal, prédios cheios de anúncios luminosos... Fascinante.

No outro cômodo, há uma sala de leitura, com dois sofás nos mesmos padrões de cores, entre eles uma mesinha adornada por um abajur estranho que se ramifica em duas luminárias. Uma estante com diversos livros, e na parede mais uma gravura de uma cidade, desta vez um lago gigantesco onde não é possível ver o fim e sobre ele uma ponte enorme onde vários carros trafegam nos dois sentidos. Tudo isso sob um céu crepuscular incrível. E não é tudo...

O Banheiro que é muito maior do que o quarto que eu ocupei aqui mesmo nesta base chega ser ostensivo. Todas as paredes tem espelho, sem exceção a única diferença é que onde há duas cubas e armários inferiores e nichos os espelhos preenchem a parte superior. De resto, eles vão do chão ao teto. No lado esquerdo há uma banheira, cuja parede lateral é toda de vidro e através dela é possível ver um lindo jardim de inverno... Jardim de Inverno? Claro, mais ilusão de ótica ou alguma bizarrice tecnológica do Presidente... De frente para banheira, protegida por um box de vidro há uma ducha e ao lado do box de vidro uma cabine discreta que imagino ser destinada as necessidades fisiológicas... Pelo menos nesse momento menos pompa e circunstância.

Ouço três leves batidas na porta do quarto, retirando-me do meu deslumbramento momentâneo.

De volta ao cômodo principal abro a porta e vejo Cerinéia atrás de um carrinho daqueles usados para trazer refeições. Um pouco confusa, porque nem havia me dado conta de que ela saíra do quarto e também pelo fato dela estar trazendo sobre o carinho uma bandeja coberta.

_ Cerinéia, me desculpe. Mas ainda nem tomei banho, vou jantar mais tarde. - Digo ainda bloqueando sua passagem, mas ela permanece parada diante de mim, como se não tivesse me ouvido.

_ Olha, agradeço a gentileza, não tenho fome. - E a mulher permanece imóvel...

Então pela primeira vez desde que fomos apresentadas, se é que posso chamar assim, ela levanta a cabeça e me encara com seus grandes olhos castanhos e suplicantes. Eu não esperava pelo gesto, mais uma vez sou pega de surpresa, então abro caminho e a mulher entra no dormitório empurrando o carrinho, o posiciona na saleta de leitura e sai com a mesma rapidez e descrição com que surgiu, sem nem se quer olhar para mim novamente.

Uau, isso foi no mínimo estranho!

Olho com desdém para a bandeja e volto para o banheiro e preparo meu banho, embora eu esteja sentindo uma imensa vontade de encher essa banheira e submergir na água morna, opto por uma ducha quente, visto que já me sinto traidora o bastante por não ter liquidado com o tal presidente Nicholaus King quando tive a oportunidade... Quando esse pensamento atravessa minha mente me dou conta de que durante esse tempo todo em que estivemos naquela biblioteca eu estava armada até os dentes... E em momento algum ele pareceu temer ou se quer notar, até mesmo eu esqueci completamente do fato... Será que eu estava sob o efeito de algum soro ou gás venenoso o mesmo que derrubou Tobias e Enrico?! Balanço a cabeça para afastar a ideia e me convencer de que foi apenas o assunto em questão que acabou me distraindo mais do que deveria e de que isso não voltará a acontecer. Mas nada me tira da cabeça que essa missão está longe de ser tão simples quanto parecia ser... E que provavelmente eu não serei a pessoa certa a executá-la, não mais. Não sei se sou capaz de matar meu próprio avô.

De volta ao quarto procuro pelo armário, deve haver algo para vestir e qual não é a minha surpresa quando descubro um closet com diversas opções de vestidos, calças, camisas, camisetas, casacos, saias, sapatos, tênis, coturnos, botas, roupas de todo o tipo que provavelmente vestiria a ala feminina de todo o Setor da Abnegação se nos fosse permitido é claro, usar roupas de diversas cores. Pego uma camiseta simples e uma calças simples ambas na cor cinza, na esperança de me sentir mais próxima dos meus pais. Na esperança de me sentir menos sozinha. Apago a luz do closet e fecho a porta ruidosamente como forma de protesto, sem saber exatamente contra o quê estou protestando... Se é o fato de alguém ter mais roupas do que poderá usar durante toda a sua vida ou se é o fato de eu estar ali, quando eu deveria estar de volta a Base, com o problema solucionado. Mas então quando estou prestes a ceder e cair no choro ouço a voz da minha mãe sussurrando em minha mente:" _Na hora certa, você saberá como agir, querida." É mãe, talvez um pouco de fé num momento como esse não seja nada mal não é mesmo?! - Respondo aos sussurros de minha mãe.

Meu estômago ronca reclamando a falta de alimentos e resolvo conferir banquete que o Presidente prometeu-me. Mas tamanha é a minha surpresa quando levanto a tampa e vejo que na bandeja há no lugar da minha refeição, uma caixa retangular de metal com uma pequena chave ao lado. Pego a caixa, a pequena chave e me sento no sofá.

Por algum tempo admiro a caixa em minhas mãos e fico pensando em Cerinéia, na sua insistência em deixar "meu jantar aqui". Então insiro a pequena chave na fechadura e giro abrindo a caixa, deixando que seu conteúdo se revele a mim.

Uma porção de fotos... Uma jovem senhora exibe orgulhosa um bebê nos braços, Uma menina com cabelos cacheados usando um vestidinho rodado dá seus primeiros passinhos, a mesma menina agora um pouco mais crescida posa para foto com lágrimas nos olhos e o cenho fechado, a menina se torna uma moça e para o meu espanto lembra muito Alejandra... Só pode ser Amélia! Mas por que Cerinéia teria em suas mãos essa caixinha que deve pertencer à Alejandra? E por que, acima de tudo, a entregou à mim? As três fotos seguintes são de uma Amélia com roupas de militar, séria e contrariada. Já as seguintes parecem revelar a outra face da mesma pessoa. Feliz, com um largo sorriso ela está na garupa da moto de um jovem rapaz de cabelos desgrenhados num tom de castanho claro diferente com reflexos acobreados que poderiam ser apenas um efeito causado pela luz do sol, mas que ainda assim lhe conferiam um aspecto perigoso e ao mesmo tempo enigmático, instigante... Ele usava uma jaqueta de couro sobre uma regata e um jeans rasgado e olhava de forma séria e sedutora para câmera. Não me admira que Amélia tenha caído de amores pelo rapaz. A foto seguinte a moça ostentando um barrigão sob um confortável vestido de verão. Ela acaricia a barriga e olha com carinho para o mesmo rapaz da motocicleta enquanto ele olha orgulhoso para a barriga dela e a última foto da caixa é de Amélia, agora com o semblante sofrido. Olhos inchados, com dois bebês lindos e rosados no colo. Uma deles veste azul e o outro veste rosa. Ela não sorri, o rapaz não está na foto.

Agora no fundo da caixa estão algumas folhas de caderno amareladas, algumas até com indícios de que alguém havia cogitado a hipótese de queimá-las, mas acabou desistindo. Respiro fundo e abro a primeira que encontro.

Querida Mamãe

Sinto por tê-la deixado, mas nunca estive tão feliz em toda a minha vida. Antes não podia compreender o fato da senhora aceitar viver uma vida de humilhações e privações ao lado desde homem que se diz meu pai. Mas hoje mãe, posso lhe dizer que verdadeiramente compreendo suas razões.

Além de ter sido atraída pela causa rebelde, mesmo sem a sua aprovação, eu conheci alguém. Mamãe, ele é simplesmente maravilhoso. Não sei se existem palavras suficientes que possam descrever Sean, bem ele é lindo e faz com que eu me sinta de um jeito como nunca antes me senti.

Por favor mamãe, diga que nos abençoa! Sei que a senhora me ama, por isso jamais entregaria meu paradeiro ao meu pai, mas também sei que por amor a ele não o contraria, mesmo ele tendo ignorando e tratado a senhora como uma simples criada durante todos esses anos.

Desculpe mãe, se as minhas palavras a magoam, mas eu aprendi a odiá-lo por tudo o que ele nos fez. Gostaria que a senhora não o amasse tanto, seria tão mais fácil.

Com amor da sua filha que pensa na senhora todos os dias.

Amélia.

Ela não me pareceu uma diaba voluntariosa como o Presidente a descreveu, e a relação com a mãe era muito mais próxima do que ele imaginava... Ou será que ele sabia e quis manipular a minha opinião? Preciso Pensar a respeito, mas não sem antes ler o restante destas cartas...

Querida Mamãe

Obrigada pela sua benção, significa muito para mim, principalmente agora que a senhora vai ser avó.

Por favor não se zangue mãezinha, sabemos que é muito cedo, mas aconteceu e estamos muito felizes, Sean tem certeza que será uma menina e quer que a batizemos com o nome da falecida mãe dele Alejandra. A senhora se importaria? Eu disse a ele que só lhe daria esse nome se a senhora assim permitisse.

Mãe sinto tanta saudades suas, tenho desejado tanto estar com a senhora para conversarmos como antigamente. Tenho tantas dúvidas, a cada dia que passa sinto meu corpo mudar, as vezes fico emotiva e choro por qualquer motivo, sem falar no meu estômago... Ai mãezinha... Só espero que a senhora não tenha ficado brava comigo.

Sei que prometemos não falar a respeito, mas na minha condição eu preciso saber, como estão as coisas por aí, meu pai desistiu de me caçar pela margem? Ai mãe, agora não é só a minha vida que está em jogo, temo pelo meu bebê e por Sean, ele é corajoso demais, chega a ser imprudente.

Mãe, prometa que a senhora dará um jeito me enviar um alerta caso ele esteja próximo de descobrir nosso paradeiro?! Conto com a senhora!

Com todo o amor da sua filha adorada Amélia e neto ou neta.

Meu Deus! Ela nem sabia ainda que eram gêmeos. E que obsessão era essa de Sophia pelo presidente? Como pode alguém amar tanto a ponto de se submeter de tal forma? Coitadas, que tragédia. Me sinto culpada por induzir Enrico a seduzir Alejandra... No fundo ela se sente só, ela só precisa se sentir um pouco segura. Ela só precisa ser amada.

Dou uma olhada na Caixa restam mais duas folhas apenas...

Querida Mamãe

Passei suas informações para Sean, mas eles não nos levaram a sério, acham pouco provável um ataque a este posto. Disse que estamos mais seguros aqui do que em qualquer outro lugar do planeta. Mas meu coração está apertado mãe. Sei que se ele tem uma leve desconfiança de onde estou ele virá atrás de mim e quando souber do meu estado a sua gana aumentará ainda mais. Joel, irmão mais velho de Sean é mais sensato e me prometeu que providenciará um esconderijo ou uma rota de fuga fácil até mesmo para uma baleia, como ele costuma brincar comigo. Mãe não se ofenda por mim. Joel não fala por mal ele é muito brincalhão e estou realmente enorme. A tia Judith (tia de Sean) é parteira, ela disse que tenho dois bebês na barriga, ela jura ter ouvido o som de dois corações! Será mamãe? Teremos uma Alejandra e uma Sophia?

Mamãe, só queria dizer que te amo muito e agora que os bebês estão quase chegando eu começo a compreender o tipo de preocupação que lhe causei e o tamanho do amor que a senhora tem por mim. Então se algum dia lhe dei algum desgosto espero que a senhora possa me perdoar.

Com todo o amor do mundo da sua filha que morre de saudades, Amélia.

Respiro fundo sem processar direito e passo para última e decisiva carta...

Mãe,

Não sei nem por onde começar, mas imagino que a notícia já tenha chegado até a senhora. Então como pode imaginar, quem lhe escreve aqui é um trapo humano que ficou viúva e pariu dois filhos que jamais conhecerão o pai!

Ele me tirou a vida mãe, aquele maldito matou o pai dos meus filhos mãe! Eu amava o Sean, eu amo, mãe! Eu só não fui com ele porque tenho dois pequenos motivos bem aqui no meu colo que dependem de mim... Seus netos. Alejandra e Sean.

Me diz mãe, o que foi que eu fiz de tão ruim pra ele? Por que é que ele não podia me deixar livre, por que mãe? Por que ele tinha de matar o amor da minha vida? Ele não podia simplesmente esquecer da filha bastarda que ele nunca quis ter?

Mas isso não vai ficar assim mãe, custe o que custar ele vai pagar! Eu perdi um pedaço do meu coração, mas nos meus filhos ele jamais porá as mãos.

Espero estar viva para ver esse maldito Governo ruir, quero assisti-lo sendo soterrado nesse Bunker em que ele se esconde. Joel disse que nossas perdas nos farão mais forte e que a nossa dor vai nos levar a diante, vamos espalhar nossa mensagem pelos experimentos, mãe! Logo seremos tantos que ele não poderá nos deter!

Ah, mãe, antes que eu esqueça... Como única herança deste maldito, meus filhos tem seu sobrenome, para reclamarem seu lugar de direito caso haja alguma justiça divina e ele morda a própria língua e morra envenenado.


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