Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 17
Ela


Notas iniciais do capítulo

Caros, peço desculpas pela demora.
Ontem a noite me permiti algum tempo de interação social, logo fiquei em dívida com vocês.
Pretendia postar dois capítulos ainda hoje, mas este capítulo em especial é tão intenso para mim que não consigo de fato me distanciar o bastante da Tris para poder enxergar o cenário de Tobias através do olhar dele...
Portanto eu prometo, amanhã depois da ressaca emocional deste capítulo, prometo postar dois capítulos.

P.S.: Não esqueçam que a narrativa de ambos são em espaço de tempo diferente... Enquanto para Tris passaram-se meses desde que foi dada como morta, para Tobias são quase três anos.

Obrigada, obrigada e obrigada!



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Estamos em frente as portas da sala de controle. Percorremos todo o caminho até aqui sem que eu percebesse por onde estávamos passando, sei que deveria me concentrar em memorizar o caminho, mas simplesmente não consigo pensar em mais nada além de voltar a vê-lo.

Wes abre a porta e sinaliza para que eu entre primeiro. A sala não é muito grande, mas todas as paredes possuem muitos monitores de diferentes tamanhos. Um enorme que fica na parede de fronte a porta é o maior da sala. Todos mostram imagens diferentes e eu demoro um certo tempo para reconhecer os locais. No monitor maior vejo o Departamento, a recepção, o laboratório, o alojamento. O monitor exibe cerca de 15 a 20 segundos cada imagem.

Corro os olhos para o monitor ao lado e vejo Chicago, as imagens se alternam entre o Milleniun Park, o Hancok, As ruas pelas quais eu costumava caminhar. E vejo que a movimentação é intensa. As pessoas circulam por todo os os lados e o que mais me surpreende é que todas estão vestidas com cores diversas, alguns usam calça jeans azul, camiseta preta e casaco vermelho, algumas vestem amarelo e azul, cinza e vermelho. Não há mais como classifica-las através das cores de acordo com as Facções. Mas ainda consigo encontra-las nas suas feições. A Audácia, de todas é a mais simples de identificar, os piercings e as tatuagens ficam ainda mais evidente por causa das camisetas laranjas, azuis, amarelas e brancas. A minha facção de origem, também reconheço, os homens continuam com os cabelos bem aparados e vejo muitas mulheres usando o coque tradicional da Abnegação. A expressão apática e condescendente não é camuflada pelas cores das roupas. Erudição e os óculos, pelo visto a sua vaidade os diferencia dos demais. A Amizade entrega a sua identidade pelos gestos calorosos exibidos em público, a camaradagem irritante tão inerente a sua Facção. Os irreconhecíveis mesmo são os membros da Franqueza, que estão totalmente camuflado entre os demais. De modo que começo a divagar, identificando um a um e chego a conclusão que os membros da franqueza só podem ser os que não se enquadram visualmente em nenhuma das outras Facções.

Não sei quanto tempo se passou desde que entrei aqui e só me dou conta do meu torpor quando Wes sacode levemente o meu braço para chamar minha atenção. Eu olho para ele em expectativa.

_ Beatrice, este é Derick, ele é responsável pelo monitoramento das câmeras nesse turno.

Derick está sentado junto ao que posso pensar ser o painel que controla todas as câmeras e monitores. Este painel de controle fica bem no meio da sala, como uma ilha suspensa em pleno oceano.

_ Olá Derick. - Eu o cumprimento ele apenas acena a cabeça e sorri. Está usando fones de ouvido. Imagino que deva estar ouvindo alguma conversa de alguns dos monitores em especial.

_ Você estava longe. No que estava pensando? - Wes quer saber.

_ Fiquei impressionada como as Facções desapareceram e estava tentando identificar as pessoas de acordo com suas características. Veja. - Eu digo apontando para o monitor indicando as pessoas com tatuagens e piercings evidentes.

_ Audácia. - Digo.

_ Interessante. Você pode reconhecer todas as facções apenas pelas características físicas? - Ele pergunta.

E você não pode? Penso, mas não verbalizo, ao invés disso respondo:

_ Bem, consegui identificar a Abnegação pelo modo como mantém os cabelos, pelas expressões do seu rosto, suas atitudes. A Erudição ficou evidente pela vaidade. Embora usem cores diversas ainda são os mais bem apresentáveis e note: Eles usam óculos, embora em sua maioria nem tenham necessidade. A amizade são os mais sorridentes e calorosos. Mas não vi traços que indicassem a Franqueza em ninguém, então concluí que todos que não apresentavam traços de nenhuma outra Facção só poderiam ser da Franqueza.

_ Excelente percepção. - Wes elogia e parece impressionado, o que de fato não entendo, porque a identificação deve ser fácil para qualquer pessoa que passou toda a sua vida convivendo com esse modelo de vida ou simplesmente observando. Ma tem outra dúvida que está exigindo resposta neste momento. E a medida que corro os olhos por todos os monitores, vendo familiaridades, vendo lugares desconhecidos e não vendo To

_ Como vamos saber onde encontrá-lo?

Ele olha no relógio pensativo e parece estar procurando as palavras certas e então responde:

_ Não vai ser difícil.

E me pergunto como pode ser fácil, a cidade não é pequena, a sua população parece ter dobrado a julgar pelas pessoas que vejo nas ruas e como podemos ter certeza de que ele voltou para o local onde tudo que encontrará são lembranças.

Wes parece perceber a minha descrença e então esclarece:

_ Em respeito a você, tenho acompanhado um pouco da rotina dele. Com intenção de em algum momento poder te tranquilizar.

Estou um pouco confusa, ainda não entendo toda essa consideração e preocupação que ele tem comigo. Antes que eu possa abrir a boca para exigir mais explicações ele continua:

_ As pessoas o tem sufocado com preocupações e cuidados. Então nos últimos dias ele tem ido até o velho parque de diversões para poder ficar sozinho. - Ele diz e percebo que tem observado muito mais do que admite, pois ele está falando das motivações de Tobias. O que é muito estranho, vindo de alguém que não o conhece.

Wes se aproxima de um teclMeu ado que fica posicionado no junto ao painel de controle e Derick abre caminho para ele, afastando sua cadeira. Após digitar alguns comandos a roda gigante surge imponente no maior monitor da sala. E tudo que vejo é a solidão daquele parque.

Estamos calados observando a tela há algum tempo, então no canto inferior da tela uma vejo uma sombra surgir pouco a pouco no chão, crescendo a medida que o seu dono se aproxima do nosso campo de visão.

Meu coração está batendo forte, como as asas de um pássaro alçando voo. Eu levo a minha ao peito na tentativa de contê-lo, mas é em vão. Me aproximo do monitor na intenção vê-lo melhor como se alguns poucos passos pudessem diminuir a distância entre nós. Acho que ele deve ter exitado e parado, pois a sombra também parou de crescer diante de mim, eu olho para Wes buscando uma explicação então me dou conta que o velho parque de diversões está em todos os monitores de vários ângulos diferentes e em alguns deles posso vê-lo.

Meus olhos paralisados na sua imagem. Eu o vejo de costas e o vejo de lado. Ele está parado, não sei ao certo para o que ele está olhando, não vejo nada além dele. Ele usa uma camiseta branca, jeans claro. Deus, como é lindo, mesmo a essa distância consigo me perder observando seus ombros largos, os braços fortes.

Agora ele está se movendo, sua sombra cresce no monitor tornando-se um grande borrão seu corpo tomando o espaço antes ocupado apenas por ela. E nesse momento meu coração salta dentro peito, tentando abrir caminho através da minha pele para chegar até ele. Eu me aproximo ainda mais do monitor e debilmente tento tocá-lo, meus dedos passeiam pela sua imagem.

Ele caminha até a roda gigante e quando chega ao pé da escada pela qual subimos na noite de caça a bandeira, ele se senta no chão e se escora na estrutura metálica. Ele olha para cima como se buscasse ver através do céu. Um zoom, e ele está mais próximo. Posso ver seu rosto, os olhos se fecham ligeiramente e quando ele os abre lágrimas começam a cair, deslizando sobre o seu rosto. Eu acaricio o monitor como se pudesse toca-lo e secar suas lágrimas, mas não posso, simplesmente não posso. Não consigo segurar, lágrimas irrompem dos meus olhos encobrindo a minha visão e não sei distinguir o que é sofrimento e o que é dor física. Tudo em mim arde, como se eu estivesse submersa em ácido.

Tobias esconde o rosto com as mãos e vejo seu peito tremer. Eu quero abraça-lo, quero dizer que estou viva, que vou arranjar um jeito de voltar para ele, mas não posso. Ele não me ouviria e mesmo que ouvisse eu não poderia, não seria seguro para ele. A parte de mim que é egoísta me domina e por um momento desejo com todas as minhas forças que realmente estivesse morta para não sentir o que estou sentindo agora, para não vê-lo sofrer.

_ Beatrice você está bem? - Wes está preocupado.

_ Posso ficar sozinha? Por favor. - Minha foz sai fraca como um sussurro.

Wes se aproxima, toca o meu ombro num gesto de solidariedade, em seguida ele se afasta e sai da sala. Derick o segue sem questionamentos.

Então eu me concentro na tela, minhas mãos estão espalmadas no vidro, meu o rosto a centímetros do dele. Tento pensar em meio ao caos, mas não consigo, só o que vejo são seus grandes olhos azuis torturados, transbordando e nesse momento eu me convenço de que a vida jamais seguirá para nós, não existe um meio de superar. Longe um do outro a vida é uma solitária noite sem fim. Eu jamais seria capaz de condená-lo a escuridão.


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