"Do not believe in yourself. Not even in me."

( Não acredite em si mesmo. Nem mesmo em mim )

Á minha volta as paredes giravam. Ou era minha cabeça? A questão é que eu estava tonta, e abalada. Aquilo não poderia estar acontecendo comigo. Eu era uma garota normal, não uma bruxa... Ou Fada... Ou Vampira... Já era estranha como mortal, não queria ter dons.

Quando desafiei Crystal ela hesitou o quanto pode. Mas não deixei barato. Aquela brincadeira ia acabar naquele momento.

– E então? Não sabe né? - perguntei tentando parecer convicta, a verdade é que eu estava muito assustada. E louca para ouvir um " Não eu não sei, foi mal pela brincadeira de mal gosto, estávamos só brincando" . Mas não era tão fácil assim, ainda tinha aquela porta estranha e o garoto que se transformara em um panda com chifre... Só faltava ele vomitar arco-íris... Não dava para ignorar tudo aquilo.

– Valerie... Até agora o padrão que eu li em você é o de Protetora... Como o meu. Mas não tenho certeza. Seu padrão está esquisito. - disse Crystal. Protetora? Ah claro. Maravilha... Mas até que faz sentido. Como quando eu consegui chegar rápido demais perto de Crystal quando ela estava sendo atacada por aquela criatura. Eu correra rápido demais !!!

– Protetora? Eu? Mas eu nunca curei ninguém ou, salvei pessoas na minha vida... - respondi ofendida e confusa.

– Valerie, você tem que entender... A Fakey Fall's é uma escola apropriada para esses tipos de problemas. Ela vai te preparar e ajudar com tudo isso. Eu vou com vocês... Nós todos vamos !! - Crystal parecia preocupada. O remorso em sua voz alterava seu tom autoritário.

– Morena, vai dar tudo certo. Se tudo ocorrer como planejamos você vai descobrir o que você realmente é e...

– Josh... Cala a boca - gritaram as meninas interrompendo-o.

Josh calou-se rapidamente e baixou a cabeça. Fiquei com certa pena do ruivo.

– Valerie Collins. Você vai voltar para aquela escola e sem reclamar !! - ordenou Crystal dizendo meu sobrenome. Como sempre fazia quando estava com raiva.

– Não !!

(...)

Sabe o quão humilhante é ser arrastada por duas malucas psicóticas e um ruivo magrelo pela porta "mágica" até meu dormitório num internato? Pois é... Muito humilhante.

Cryst, Mellie e Josh resolveram que era melhor me tirar do chão e obrigatoriamente passar pela "porta".

E isso tudo só porque eu disse que não passaria pela "Merda Misteriosa". Sim eu disse exatamente essas palavras e convenhamos que não fosse uma das melhores.

Quando chegamos ao quarto. A janela estava exatamente como estava. Arreganhada e emperrada. O vento estava gelado e batia nas cortinas fazendo-as balançar freneticamente. No chão de madeira negra, os colchões que Nickolas e Josh dormiram ainda estavam lá. E quando olhei pela janela, ainda era noite. O céu estava preto e as estrelas brilhavam lindas e belas no céu.

Caminhei levemente até a porta do quarto e a abri, esperando que a casa de minha irmã ainda estivesse lá. Mas não estava. O corredor estava escuro e todos os dormitórios silenciosos. Em meu celular, o dia era o mesmo de quando eu parti. O tempo não havia passado... Ou eu tivera um sonho muito maluco e nada daquilo tivesse acontecido. Ah como eu queria isso...

Dei um suspiro pesado e fechei a porta. Quando me virei, Crystal, Mellie, Josh e Derek estavam de braços cruzados em pé, um do lado do outro.

– Não, não foi um sonho pequena Valerie!! - disse Crystal, lendo meu pensamento - O tempo não passou enquanto estávamos lá. Eu parei o tempo.

– O quê ? Quer dizer que amanhã é meu primeiro dia de aula ainda? - perguntei incrédula fazendo uma careta em seguida.

– Sim... É nosso primeiro dia de aula Valerie, também estudamos aqui lembra? - perguntou Mellie.

– Não, não lembro. Nem sei se conheço vocês direito !! - disse com a voz embargada.

– Pare de drama Valerie, essa é sua chance de aprender a lidar com seus dons... Vai ser legal !! – gesticulou Crystal. – Afinal aqui tem matérias normais como numa escola mortal nova-iorquina. Pelo menos você vai praticar sua matemática. Estava olhando seu caderno um dia e vi suas notas. Pelos Deuses você é pior que eu. – zombou a morena enquanto saía andando.

Mas ela tinha razão, minhas notas eram horríveis tanto em Matemática quanto em História e Geografia. Odiava ambas. As únicas que me identificava eram Música, Artes, Português ( mais ou menos ), Ciências e Física. Mas não pude deixar de me sentir ofendida.

Balancei a cabeça freneticamente tentando afastar o pensamento e finalmente disse algo.

– Aonde você vai?

– Vou para o meu dormitório ué. – respondeu obviamente – Ah! E acho que meninos não podem dormir nas cabines das meninas. – Se virou e saiu andando porta-fora pisando duro.

– Era pra eu ser a mais velha não você! - gritei para a mesma e bufei.

– Também vou! Ela tem razão, se Marina descobrir que estávamos aqui ela engole a gente vivo sem nem mesmo mastigar. – disse Josh. – Ah, Valerie! Tome a sua leggin de ginástica que você me emprestou.

Josh pôs em minha mão uma meia-calça preta com um bordado de coração do bolso traseiro.

– Mas eu não te emprestei ela... E ela não é de ginástica. Tem até um coraçãozinho no bolso traseiro. – disse mostrando o pequeno desenho bordado – E nem é minha. Odeio bordado... e corações !!

– Não é sua? Então de quem eu peguei emprestado? – perguntou provavelmente para si mesmo e saiu andando. Duvidava de que Josh fosse a cara da masculinidade, mas uma meia-calça preta, apertada, e com um coraçãozinho desenhado já era demais até para o ruivo.

Passei tanto tempo olhando para o nada pensando, que nem havia reparado que Mellie já dormia pesadamente em sua cama, os colchões haviam sido retirados do quarto ( não quero saber como ), e Derek nem estava mais lá. Devia ter saído logo depois de Crystal enquanto eu falava com Josh.

Estava tão exausta que me joguei na cama e peguei no sono rápido. Sem banho, sem escovar os dentes nem nada. Só eu, o travesseiro e a cama.

Naquela noite tive um sonho.

(...)

Sonhei que estava de volta a floresta da casa da minha irmã.

Nickolas estava ao meu lado, segurando minha mão. Olhava para o horizonte, mergulhado em seus pensamentos.

Quando olhei diretamente para ele, seu rosto estava escuro. Sua expressão era dura. Olheiras fundas e roxas faziam presença em volta de seus olhos.

Quando nossos olhares se encontraram, ele deu um meio sorriso e me beijou. Seus lábios eram gelados, mas macios. Senti como se meu cérebro estivesse escorrendo por todo o meu corpo.

Quando ele se afastou, consegui ouvir uma palavra formada dificilmente. Sua voz saiu rouca e áspera. Como se estivesse segurando lágrimas. Mas não havia nenhum sinal de que ele iria chorar.

– Estar naquela escola não vai fazer você ser boa. Você ainda vai ficar do nosso lado. E nosso amor vai ser aceito por todos.

Levou sua mão até meu rosto e o acariciou.

*****CONTINUA*****