Elemento escrita por Grind


Capítulo 9
Capítulo 9 - Beber, cair e levantar




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Elemento / Capítulo 9 – Beber, cair e levantar

Flashback On

Para meu desagrado as duas primeiras aulas era física. Eu odiava física. Pra variar cheguei poucos minutos antes do sinal bater, o que significa que só deu tempo para cumprimentar o pessoal e entrar na sala.

No entanto quando chegamos ao corredor, uma multidão alunos, bloqueava o caminho, e eu podia escutar os gritos, tanto de uma voz feminina quanto de uma masculina aos berros.

–Você é um merda! Seu merdinha! Seu bosta!

–Você que é ignorante, egoísta, mão de vaca!

–Eu mão de vaca? Eu nunca neguei nada, pra ninguém, você pode me chamar de muita coisa, mas eu não sou egoísta, se enxerga.

–Mas é muita grosseria não?

–Você gosta de se fazer de coitado, usa o fato de ter começado por baixo para as pessoas terem dó de você.

Eu procurei-me espremer pra poder pra poder passar, e ver de fato o que acontecia. Gabrielle estava sendo segurada por Marco, Gisele, Victor.

Gael, por Denise. Gabrielle parecia completamente fora de si, estava inquieto e seu rosto vermelho, mesmo sendo segurado para não partir para cima de Gael, apontava o dedo em sua direção. Os olhos dela estavam marejados, e eu tive o súbita curiosidade de saber o porquê.

A diretora apareceu pediu para que os dois se acalmassem, e levou ambos com ela, fomos para a sala e a aula seguiu normalmente. Quando acabou as primeiras duas de física, Gabrielle entrou de supetão na sala, os olhos inchados e a ponta do nariz vermelho, ela ergueu o rosto olhou a sala no geral de cabeça erguida e se sentou no seu lugar, Marco, que sentava atrás dela a cutucou provavelmente perguntando o que havia acontecido.

Ela segurou o choro outra vez, e acho que a sala inteira parou para prestar atenção. Foi a única vez em que eu a vi chorar.

Flashback off

A festa foi boa até determinado parte. Eu fiquei conversando com Alessandro, Rodrigo, Fábio, Lucas e Joaquim. E pelo que pude avistar de Gabrielle ela se sentia inquieta na presença de Gael na mesma roda. No entanto, alguém colocou algumas músicas da nossa época da escola, e logo parte já estava dançando, foi bom para distrair um pouco e quando já estava começando a ficar cansado o suficiente procurei me sentar. Gabrielle estava sentada com uma latinha na mão, um pouco alta. Sentei ao seu lado e perguntei o que estava bebendo.

– Cerveja.

– Não deveria beber muito, você perde o controle.

– Eu sei e não estou nem ai. Fui obrigado a escutar o Gordo falando sobre tudo o que ele fez desde que saiu do colegial pelo que me pareceram horas, e eu estou a ponto de explodir, como alguém consegue falar só de si mesmo por tanto tempo?

– Por isso estou te pedindo pra parar.

– Virou meu pai agora? – Bebericou outro gole ralhando sem olhar pra mim

Suspirei fechando os olhos.

– Pelo menos hoje Gabrielle, só pra não estragar a festa dos outros.

– Se eu quiser beber eu vou beber merda! Foda-se se eu vou estragar a festa deles, estragaram o meu ensino médio!

– Que seja! – Joguei os braços para o alto dando-me por vencido - Depois e começarem a te xingar, você não vem descontar em mim, tá me ouvindo?

– Ótimo! - Girou o pescoço com rapidez pra me encarar

– Ótimo!

– Ótimo.

– Ótimo.

Alessandro parou em nossa frente e pigarreou. Senti Gabrielle endurecer do meu lado.

– Quer dançar comigo Gabrielle?

Ela gelou.

Eu estreitei os olhos e a respiração dela ficou um tanto quanto descompassada. Ela deu a lata na minha mão, agradeceu com um sorriso cínico e os dois se afastaram.

Gabrielle parecia gostar de chamar atenção, estava de salto alto preto, e um vestido Pink pouco acima da linha dos joelhos. O colo do peito, ombros e braços estavam recobertos por uma espécie de renda trabalhada da mesma cor, como uma espécie de mini casaco. O vestido também era recoberto por renda, um tecido fino de cetim por baixo para que não ficasse transparente e uma saia rodada.

E o jeito com que andava parecia incrivelmente sexy. Me amaldiçoei mentalmente por pensar assim, e comecei a caça-la com os olhos depois que tinha parado de me remoer por dar tanto credito ao seu corpo. Ela estava incrivelmente animada, e dançava alegremente, não parecia se preocupar tanto quanto com o meu olhar quanto o de Marco que pelo que percebi, também a observava de longe. Ela sabia que olhávamos para ela, ela queria provocar.

No entanto Gael se aproximou, cochichou algo no ouvido de Alessandro e ambos riram. Gabrielle colocou as mãos na cintura e disse algo, Gael respondeu e a expressão dela se desfez totalmente, a alegria se esvaziou de forma tão rápida que não cheguei a ficar tão surpreso.

Me perguntei quando foi que Alessandro e Gael viraram amiguinhos.

Eu fiquei de pé. O volume da música diminuiu e a discussão começou.

Fechei os olhos passando a mão pelo rosto e suspirei, as vezes o comportamento de Gabrielle era tão surpreendentemente previsível que eu não tinha nem o que falar. Aproximei-me devagar e perguntei o que estava acontecendo quando cheguei perto o suficiente de ambos.

– Esse desgraçado aqui – Respondeu entre dentes apontando para Gael que mantinha a expressão de satisfação. – Não é homem o suficiente pra falar na cara, gosta de ficar sussurrando que nem mulherzinha, não me admira que ele continue sendo esse gordo inútil, tudo o que sabe fazer é comer e falar da vida dos outros.

– Vai começar a baixaria – Gael revirou os olhos.

– Então fala na minha cara Gael, larga de ser essa bixona enrustida – Gabrielle deu um passo a frente. – E fala na minha cara ta ouvindo?

– Não é nada que seja da sua conta Gabrielle, se fosse do seu interesse eu teria dito pra você, eu não sou de ficar querendo puxar briga com as pessoas como você parece gostar de fazer!

– Ora seu... – Gabrielle avançou outro passo e eu a segurei na cintura. Tive a sensação de uma corrente elétrica percorrer o meu corpo, eu não soube porque fiz aquilo, muito menos porque algo dizia na minha cabeça que eu estava do lado de Gabrielle, não eramos amigos.

Se essa situação estivesse acontecendo alguns anos atrás eu com toda certeza não estaria do lado dela, provavelmente, estaria adorando entrar no meio pra brigar também.

Ela me lançou um olhar mortal.

– Gabrielle chega. - Eu a adverti, tentando fazer com que tomasse consciência do publico que ela chamava.

Ela olhou para Gael, para Alessandro e recuou um passo como se saísse de um transe, olhou para mim outra vez, virou as costas e se afastou a passos rápidos. Aumentaram o volume da música outra vez. Avistei Marco correr atrás dela, e a minha vontade foi de fazer o mesmo, conforta-la e dizer que precisava se importar menos com a opinião do Gordo, mas não acho que ela me considerava um amigo, e muito menos que possuíssemos esse grau de intimidade. E por um momento eu tive inveja da relação entre Marco e Gabrielle.

(...)

Eu estranhei ao sair quando vi o carro de Marco ainda, parado, e o mesmo frustrado diante do motor.

– O que aconteceu?

– Morreu – Bufou.

– Quer carona?

– Não, eu já chamei o guincho tenho de ficar aqui pra assinar a papelada e dizer que o carro é meu.

Eu não consegui me segurar.

– E Gabrielle? - A curiosidade era maior, as primeiras perguntas tinham sido totalmente por educação.

Ele virou na minha direção desconfiado ao estreitar os olhos.

– Tá la dentro – Disse enquanto abaixava o capo do carro – Bêbada, xingando o Gael. De tempos em tempos ela chora, fala que eu sou o melhor amigo que ela poderia ter, que foi uma péssima ideia vir e blá blá blá, o mesmo papo de sempre quando ela bebe demais.

Aquilo me fez sorrir.

– Posso leva-la pra casa? Afinal, não vai ser nada fácil ir pra casa de ônibus com ela nesse estado.

– É – Ele passou a mão na nuca um tanto quanto hesitante, ele olhou para o banco do carona onde era possível ver a figura feminina cor de rosa sonolenta e em seguida pra mim. – É melhor, antes que ela resolva vomitar lá dentro.

Eu me senti subitamente animado. Caminhei a passos rápidos até o lado do carona, bati no vidro acenando e em seguida abri a porta. Gabrielle olhou pra mim e seus olhos brilharam.

– Elemento! -Ela abriu os braços com dificuldade, considerando o espaço pequeno – Era você mesmo que eu queria ver!

Franzi o cenho.

– Tá bom então, vamos embora. Vou te levar pra casa. - Eu estendi a mão pra oferecer a ajuda pra descer do carro

– Não – Disse manhosa – Eu vou com o Marco, estou esperando ele voltar.

– Ele não vai voltar, pediu para que eu te buscasse.

Ela deu de ombros.

– Bom, se então é assim... – Colocou os pés para fora do carro e se apoiou no banco e na porta para levantar. Ela tombou para o lado mas conseguiu se erguer.

– Tudo bem ai? – Perguntei quando ela permaneceu parada.

– Não – Franziu o cenho, o olhar preso no asfalto – Tá tudo girando...

– Posso imaginar, venha – Eu apoiei um de seus braços em torno dos meus ombros. Caminhamos, e quando vimos Marco encostado na frente do carro ela sorriu.

– Viu só? Ai está ele, não preciso mais de você Elemento. - Eu senti o halito quente bater contra o meu rosto, e o cheiro de álcool.

– É pra você ir com ele Gabrielle – Marco respondeu e Gabrielle fechou a cara.

– Nossa, vai me dispensar assim?

– Vou. - Deu de ombros

– Tá bom então, eu vou com o Elemento. - Disse como se sugerisse algo

– Tá bom. - Ele conteve um sorriso

– Tá... – Ela ficou em silêncio – Nossa, você não vai se importar nem um pouquinho?

– Não.

Gabrielle revirou os olhos.

– Vamos embora.

(...)

O sacrifício que tive para coloca-la dentro do carro foi em dobro para tira-la quando paramos em frente a sua casa. Gabrielle estava caindo de sono, no entanto, forçava-se a lutar contra o cansaço devido ao efeito do álcool. Para ela, era súbita a sensação de que ou acabaria vomitando ou capotando.

– Você estava todo chique hoje com seus amigos descolados – Falou com os olhos fechados apoiando a cabeça em meu ombro.

– Quem? – Perguntei enquanto vasculhava a sua bolsa procurando a chave a fim de destrancar a porta.

– Seus amiguinhos – Disse com desdém apoiando o corpo sobre a porta me observando. - Aquela gentinha que também gosta de se sentir superior quanto aos outros

– É claro. Devo levar isso com um elogio?

– Eu os odeio, interprete como preferir.

Encontrei o molho de chaves, apoiei o ombro novamente no braço de Gabrielle e por fim entramos no recinto, uma fresta barulhenta riscou um vão que me permitia ver a escuridão do interior da sala de estar. Entrei, tranquei e comecei a procurar pelo interruptor de luz. Depois de acender a luz da sala, melhorando em cem por cento a minha visão a avistei sentada no sofá com uma das mãos sobre o rosto, quase de forma pensativa.

– Acho que eu bebi demais.

– Você acha? – Respondi colocando suas coisas sobre mesa de centro.

– Não sei. Que sou eu pra fazer autoanálise? Uia! Lembrei-me da aula de filosofia.

– Vai dormir Gabrielle – Delineou em meus lábios um sorriso de canto com sentido de compreensão.

– Ai Elemento... O que você faz da vida? – Perguntou em deboche.

– Estou indo – Guardei as chaves em meu bolso, não antes de trancar a porta. Ela não iria acordar cedo para perceber que estava trancada, então eu iria aparecer o quão antes.

Fechei a porta. Encostei-me a mesma e liberei um suspiro pesado, sentindo minhas pálpebras pesarem pelo cansaço. Diante disso, virei-me para a janela, que por sinal estava com as cortinas abertas, a luz ainda acesa. Pude vê-la sentada, em algo que acreditei ser completamente desconfortável. Mordi o lábio inferior, batucando meus dedos animados a espera de algo, curioso sobre o que ela faria a seguir, se acabaria por dormir ali mesmo, se fechara a janela ou sumiria do meu ponto de vista. E acabei sendo surpreendido com a cena que estava em andamento. Gabrielle estava se despindo.

Eu assistia aquilo com uma sensação horrível, mas eu não podia parar, não conseguia me mover, ao mesmo tempo que algo dentro de mim me xingava de cretino desprezível, algo falava “fica”.

Observei seu corpo liso e bem moldado, como esperava as curvas se seguindo com naturalidade, nada de mais, nada de menos. Minha mão suplicava para toca-la e sentir o calor de seu corpo, saber se seu toque era tão perfeito quanto parecia ser. Seu semblante, sereno como se estivesse sóbria em uma sala completamente fechada apenas fazia daquela visão ainda mais tentadora, e eu tive a quase sensação como se ela soubesse que eu a observava.

Senti-me culpado, e comecei a suar frio respirando fundo quando ela retirou suas vestes intimas. De primeiro momento eu sorri, mas me afastei voltando a me apoiar sobre a porta sem fazer barulho com os olhos fechados, com a cena completamente visível em minha mente, e eu tinha plena certeza de que não esqueceria tão cedo.

A imagem que eu tinha de seu corpo era quase a mesma que uma vez eu havia imaginado, e saber que eu estava tão perto assim da realidade me causava uma sensação maravilhosa. Ri internamente.

Eu sou deplorável.


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