Elemento escrita por Grind


Capítulo 7
Capítulo 7 - Casos de Família




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Elemento / Capítulo 7 – Casos de Família

A Irritadinha entrou na casa de meus pais e começou a trocar conversa com eles, como se fosse intima da família, que asco...

Ela vestia um vestido rosa de aparência simples, que mesmo sem decote algum, não possuía mangas, expondo seus braços suados, assim como os meus. A diferença era que os meus eram fortes e envoltos por pelos, já os dela pareciam-se com peças frágeis de uma boneca de porcelana, lisos, finos, graciosos. A verdade é que eu tenho raiva de mim mesmo por descrevê-la desta maneira.

Finalmente as duas entraram, dividindo o espaço da sala de estar comigo e com meu pai, que se encontrava sentado no sofá enquanto batia um papo comigo, foi ver o rosto de Gabrielle e eu já comecei a sentir raiva.

— E há quanto tempo estão juntos?

— Não estamos juntos – Me aprontei em responder. Minha mãe não pareceu contente, resolveu levar Gabrielle para o jardim dos fundos me mandando buscar algo para que bebêssemos. Bufei me levantando a contra gosto e caminhando a passos rápidos da cozinha. Abri a geladeira, tirei a jarra de suco de caju que minha mãe e não se cansava de beber, todo final de semana ela fazia mais.

Tirei com dificuldade a bandeja escondida dentro do armário, e peguei quatro copos, até sentir alguém atrás de mim. Suspirei fechando os olhos, apoiando os braços na bancada quase como se realmente precisasse dela pra me manter em pé quando o perfume dela me inundou, e inspirei varias vezes tentando controlar meus nervos.

— Eu disse a Angela que vinha te ajudar... – Falou serena, uma voz que até então eu desconhecia.

— Não preciso de ajuda – Disse entre dentes permanecendo com os olhos fechados

— Eu estou tentando ser gentil... – Tentou se justificar, mas eu a interrompi.

— Não, não está – Vir-me-ei com brusquidão e me arrependi a julgar pela pouca distância que havia entre nós dois, tentei deixar esses pensamentos de lado. – O que raios está fazendo aqui? – Começamos a discutir aos sussurros – Você já devia ter ido embora!

— Eu ia! – Bateu um dos pés nervosa, de forma mimada, quase adorável – Mas ela começou a me tratar tão bem que simplesmente não dava pra dispensar. - Afundou o rosto por entre as mãos frustrada.

— Arruma-se um jeito! Agora minha mãe vai passar a semana inteira falando que você é bonita, uma pessoa agradável, e blá blá blá sem fim!

— E o que quer que eu faça?! - Ergueu o rosto indignada.

— Eu não sei! O problema é seu, se vira! Foi você quem resolveu invadir o meu carro!

— Isso porque foi você quem começou a insinuar coisas sobre a noite pas-

— Algum problema? – Minha mãe gritou de algum lugar na casa. Eu ergui as sobrancelhas e a Irritadinha suspirou enquanto se retirava revirando os olhos. Mais alguns minutos e logo minha mãe estava gritando o meu nome.

— Oi? – Disse logo que a vi, procurando fazer a minha melhor cara de desentendido.

— Venha se despedir de Gabi, ela não pode ficar tem uns assuntos de família pra resolver, mas ela prometeu que volta.

Sorri falsamente.

— Que bom ai na próxima as duas podem fofocar bastante.

Minha mãe me repreendeu com o olhar e voltou sua atenção a Irritadinha.

— Então até a próxima.

— Com certeza – Ela sorriu de forma singela e sussurrou algo no ouvido de minha mãe.

Ela olhou pra mim e riu, meu sorriso morreu.

— É, às vezes ele é bem insuportável.

Gabrielle olhou diretamente na minha direção contente. Despediu-se do meu pai, e dei graças a Deus quando a porta se fechou atrás dela. Suspirei aliviado. O sorriso de minha mãe se desfez completamente quando voltou sua atenção a mim.

— O que foi que você fez pra ela? Por que mandar ela embora daquele jeito?

— Eu? – Perguntei inconformado – Eu não fiz nada!

— Ninguém resolve assuntos de família em um domingo. Podem até visitá-la, mas não ‘resolver’, isso ta com cara de mentira improvisada, e pelo que percebi dela quando chegou ela não queria ir embora tão cedo. - Simplesmente não dava pra mentir pra minha mãe. Revirei os olhos e ela continuou. – Sem contar também que se, se ela fosse resolver assuntos de família ela nem estaria no portão de nossa casa pra começar.

— Tá bom mãe eu já entendi, eu pedi que ela fosse embora, era isso que você queria ouvir?

— Por quê?

Meu pai suspirou e deu meia volta em direção ao sofá.

— Juan! Você tem que ficar do meu lado, esse menino não pode trazer uma garota pra casa pra dispensar ela as escondidas!

— E o que você quer que eu faça Anjêe? – Suspirou se jogando na poltrona.

Depois quem suspirou cansado fui eu.

— Você tem que ficar do meu lado, não vê que ele tem ficado muito mimado ultimamente?

— Que mimado o que Angêe, seu filho já é homem feito...

— Juan!

— Olha gente, eu vou pro meu quarto e depois tomar um banho – Os adverti apesar de saber que não teriam me escutado. Eles ficaram na sala, e eu procurei tomar um banho gelado o mais rápido possível. No entanto minha mãe não me poupou dessa vez, logo que eu já estava vestido e pronto pra ir embora pra minha casa me ver livre daquela discussão sem fim ela voltou a me chamar.

— Que grosseria da sua parte! Mandar uma moça daquelas pra fora... Por isso você continua ainda sozinho.

Bufei com as narinas, fingindo não estar ouvindo uma palavra se quer de minha mãe sobre a Irritadinha.

— Mãe, ela não é a doce que parece ser, acredite em mim!

— Como não? – Meu pai interviu – Ela até disse que vocês eram amigos e estudaram juntos.

— Argh... Aquela víbora... – Murmurei

— Que disse? - Minha mãe me questionou

— N-Nada... – Evitei contato com os olhos com meus pais, o fiz encarando o chão.

Tentei explicar meu posicionamento quanto à Gabrielle para eles, mas a tentativa foi em vão. Eles realmente se apegaram a chatonilda e sua personalidade fingida. No entanto eu sinto uma pitada de sinceridade quando ela ofereceu ainda... Sinto-me mal, foi muito agressivo. Talvez eu deva apenas... “Não”. “Não” Disse minha mente para mim mesmo. Não poderia ceder assim tão fácil, tinha noventa por cento de certeza de que ela adoraria me ver implorar por desculpas, que iria adorar rir na minha cara, eu não poderia dar a ela tal luxo, eu pediria desculpas, apenas uma vez, se recusasse, pelo menos minha parte estaria feita.

Minha mãe pareceu ficar um pouco mais aliviada quando contei que iria pedir desculpas, mas disse só se mostrar satisfeita se fosse ainda hoje.

Bufei, peguei minhas coisas e dei graças a Deus quando entrei no carro e a voz de minha mãe sumiu, dei a partida e fiz o trajeto para casa de Gabrielle, estava muito receoso em me desculpas com ela.

Foi ela quem mandou aquela carta, ela quem me procurou no bar quando estava com minha prima e foi ela me beijou quando dançamos naquela festa, todas as atitudes pareciam vir dela até nos momentos mais inesperados.

Depois de ter me arrastado a sala em meio as pessoas, com aquela música em uma batida única insistente e sem sentido. Eu perdera um pouco do juízo que me restava depois que ela começou a dançar, rodopiando, rindo, e puxando o meu corpo contra o dela.

E foi só depois de ter gargalhado muito pelo fato de eu estar desconfortável, que ela colocou as mãos em meu pescoço e puxou meu rosto ao seu.

Gosto de álcool, o sabor que foi apagado de suas papilas quando ela aguentou os incontáveis copos de cerveja que desceu garganta a baixo. Ela não precisa se lembrar.

De repente eu á estava em frente a casa dela, parado dentro do carro observando a luz que escapava por entre as frestas da porta. Fiquei imaginando o que ela poderia estar fazendo. Se estava jantando e o que comia, se estaria assistindo televisão de forma empolgada sozinha ou na companhia de alguém, ou até mesmo no banho. A água quente escorrendo por seus cabelos, refletia em minha cabeça a silhueta cheia de curvas de seu delicado corpo banhado pela água proveniente de seu chuveiro. A mão esguia deslizava pelo tronco, delineando caminhos suaves enquanto se ensaboava. A pesar de ser tudo apenas fruto da minha imaginação, eu era capaz de sentir as sensações de seu toque abraçarem minhas mãos anteriormente gélidas, agora aquecidas pela adrenalina sentida por mim.

Minha imagem sobre ela havia mudado, eu acho. Seu perfil era quase outro, eu não estava confuso nem certo com relação do que meu peito dizia.

Enfim criei coragem para descer do carro, respirei fundo e bati três. Ela gritou um “Já vai” e pude ouvir passos apressados de um lado pro outro, pensei que ela poderia estar com alguém, e aquilo não me soou nem um pouco agradável. “Quem é?” Gritou.

— Eu – Respondi e toda a movimentação parou. Ela abriu a porta colocando a penas a cabeça do lado de fora.

— O que está fazendo aqui? – A curiosidade era quase palpável entre nós dois.

— Tem alguém com você? – Eu simplesmente não consegui me segurar

— Não. Pensei que fosse Marco, ele vive me criticando por estar sempre uma bagunça, por isso a correria.

— Hum

— Então? – Ergueu as sobrancelhas.

— Eu vim... – Suspirei fechando os olhos.

Ficamos em silêncio.

— Eu posso entrar? – Perguntei já me sentindo desconfortável.

— Vai ter que esperar.

— Eu não me preocupo com a bagunça.

— Não é isso, é só que... – Ela corou – Eu ia deitar daqui a pouco e...

— Está de pijama – Conclui de forma um tanto quanto entediada.

Ela sorriu, a face corada e fechou a porta. A correria começou outra vez, e eu me sentei, tentando me manter paciente, tentando controlar a minha ansiedade. Eu não me importaria em vê-la de pijama. Não me importaria mesmo.

E depois de alguns minutos, eu finalmente pude entrar.

— O que você quer?! – Gabrielle foi curta e grossa, não olhava pra mim e me perguntei o que tinha mudado.

— E-Eu...

— Por que foi que eu deixei você entrar mesmo? – Disse pra si mesma irônica –Ah é, ao contrário de você eu não coloco as pessoas pra fora!

— Gabrielle, deixa eu me explicar – Tentei respirar e recuperar o fôlego perdido.

— Eu não quero ouvir! – Brandou. Gesticulava os lábios com violência que até gotículas de saliva voavam do canto de seus lábios, tingindo-me as maçãs faciais. Eu queria contra argumenta-la apesar dela estar certa.

— Me escute! – Elevei o tom de voz, tentando equipar o meu ao dela.

Fechei os olhos e Gabrielle me recebeu com um tapa.

— Tem noção do quanto foi humilhante eu ter que ir embora daquele jeito? - Cerrou os dentes e eu não me atrevi a olhar em seus olhos - O olhar de “você não precisa fazer isso” que sua mãe deu pra mim? – Gesticulava exasperada – E o sufoco que eu tive pra voltar pra casa? Eu não sabia onde eu estava! Eu entrei em completo desespero, você sabia que minha voz some quando estou nervosa e tenho que socorrer a estranhos? Meu celular tinha ficado em casa!

— Se tivesse me falado-

— Eu nunca mais quero entrar no mesmo carro que você de novo está me ouvindo? Eu estou falando, qualquer hora você vai se matar! E eu não quero estar lá pra ver isso! Você dirige como um completo louco no transito! Você se quer me guiou no caminho de ida, tudo o que sabe fazer é praguejar, praguejar, praguejar!

— Gabrielle-

— Você já dirige como um louco, me levou há um lugar desconhecido-

— Gabrielle! – Eu gritei mais alto que seu tom de voz. Ela se calou ainda enraivecida.

— Você tem que deixar eu me explicar!

— Você tem dez minutos antes de eu colocar você pra fora, nem que eu tenha que chamar a policia.

— Oh... Eu saio... Mas! – Quebrei a atmosfera tensa adocicando a frase com uma pitada de humor. Gabrielle não esboçou se quer um sorriso de canto. Percebia – se o fato de que seus olhos me metralhavam.

E aquilo me fez sorrir.

— Vai embora logo, eu não quero mais ouvir sua voz.

— Gabrielle eu só queria que você soubesse que...

Gabrielle foi até um simples criado mudo, deixando o indicador a poucos centímetros do primeiro digito da emergência.

— Eu queria me desculpar!

Silêncio. Ela estava completamente surpresa, arfou uma vez, os dedos recuaram de forma lenta do telefone, enquanto ela mantinha o olhar de completamente impressionada na minha direção.

Eu a vi suspirar algumas vezes, da mesma forma que fizera com o Zé Ninguém, e não soube se deveria ficar feliz por aquilo.

— E desde quando você pede desculpas?

— Ao contrário do que você pensa Gabrielle, minha mãe me educou muito bem, e eu sei ver quando eu exagero, ou estou errado.

Ela recuou o braço devagar, colocando o telefone no gancho.

— Só isso? - Havia uma pontada de desapontamento, e eu fiquei curioso, curioso porque ela queria que eu dissesse mais alguma coisa.

Eu fiquei tentado a continuar, apesar da minha cabeça ficar dizendo que eu já havia feito o que queria.

—Eu... – Vacilei ao dar um passo pra frente. Só então reparei a nossa volta, tudo muito característico com a personalidade dela. O modo como os livros se empilhavam na estante ao fundo, a TV ligada em um canal de filmes com o volume baixo.

A mesinha de centro repleta de papeis da faculdade, provas, boletins, anotações; Ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo firme, um ou outro fio ousava escapar. Estava descalça, os pés pequenos, brancos por causa do frio do piso, mas ela não parecia se incomodar com isso provavelmente devido ao nervosismo.

Estava com um roupão enrolado no corpo rosa bebê, a faixa fazendo a volta na Cintra e formando um nó firme no estomago, deixando perfeitamente visível suas curvas. O tecido fino azul marinho da parte de cima do pijama era dificilmente visto.

Minhas mãos começaram a formigar outra vez.

Alguém bateu na porta, e eu suspirei.

—Fica ai – Ela passou por mim indo em direção a porta.

—Como se eu fosse a algum lugar – Revirei os olhos e ela me ignorou.

Eu escutei uma voz familiar, mas não era de Marco, era masculina, o que já descartava Camila e Stella. De repente Gabrielle fechou a porta com brusquidão, e colocou uma mão sobre os olhos fechados.

—Ai meu Deus... Isso não pode estar acontecendo. - Cobriu a boca com uma das mãos.

—O que foi? - Eu girei o corpo

Ela abriu os olhos como se lembrasse de que eu estava ali.

—O A e Gigante estão aqui.

Franzi o cenho.

—Quem?


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