Elemento / Capítulo 28 – Decisões

Depois que ela me deu as costas e eles sumiram do meu ponto de vista tive certeza que quando eu a visse de novo seria apenas quando ela quisesse, porque ela já estaria decidida e não era desse jeito que eu queria as coisas.

Queria me desculpar por ser impulsivo, e que nos entendêssemos com o tempo, ela visse o meu lado pacifico mesmo que este não fosse assim tão frequente. Ela não iria querer me ver antes, iria querer evitar momentos como esse, ela estava confusa, tanto quanto eu naquele momento.

Isso era bom pra mim? Eu tinha uma pequena porcentagem de esperança? Podia até ser coisa da minha cabeça, mas se ela ia pensar era porque queria, mas não queria, um lado dela dizia sim e o outro não.

Fechei os olhos, a dor de cabeça me atingindo, por dentro eu me sentia exausto. Sentei-me de mau jeito no sofá, com os pensamentos a mil, não dormia direito a dias. Tinha pesadelos com o acidente, quando acordava atordoado na madrugada não voltava a dormir tinha o medo de ficar em coma, dormir pra sempre. O pensamento me provocava arrepios.

– Filho? – eu escutei a voz de minha mãe.

Afundei o rosto por entre as mãos e logo em seguida ela sentou do meu lado.

– Esta tudo bem? Estão todos almoçando lá fora, você vem?

– Eu só preciso de um minuto

– Vi quando você e Gabi entraram, vocês conversaram? Entenderam-se?

– Não, nós não... Na verdade eu... É que ela-

– Não se preocupe essas coisas levam tempo.

– Não sei se tenho todo esse tempo – Resmunguei jogando o corpo pra trás.

– O que quer dizer? – Eu a vi franzir o cenho.

Por mais que os conselhos da minha mãe tivessem sempre a tendência de serem ótimos eu hesitei em explicar a ela toda a situação, revisando todos os acontecimentos mentalmente eu ainda não conseguia entender como as coisas pareciam insistir em não darem certo.

– É muito tarde pra desistir? – Murmurei.

– É muito cedo – Me beijou na bochecha – E precipitado, se tem certeza do que sente tem que correr atrás.

– Eu estou correndo mãe – Eu fechei os olhos – Mas não me vejo chegando a lugar nenhum.

– Você precisa aprender a ter paciência – Suspirou enquanto passava a mão nas minhas costas, eu estava tenso – Sei que parece difícil, mas Gabi é uma garota decidida. Se ela ficou de pensar, o que eu acho bem provável que tenha acontecido, ela não vai negar uma resposta, mesmo que seja um não.

– Eu não sei se consigo lidar com um não. Eu me arrependi, pedi desculpas, não era isso que eu tinha que fazer?

– Você já se colocou no lugar dela?

Aquela pergunta me atingiu como outro tapa. Colocar-me no lugar de Gabrielle era algo que se quer passara pela minha cabeça em fazer.

– Não. – Franzi o cenho

Ela suspirou.

– Você e seu pai sempre discutem não é? Supondo que, quando você resolvesse se comportar de maneira diferente pra agrada-lo ele te tratasse com indiferença, como se sentiria?

– Além de frustrado, isso certamente geraria em outra discussão – Revirei os olhos.

– Então, quando algo acontece com ele e você fica preocupado ele fica todo rabugento e te acusa de coisas que você jamais admitiria ser.

– Eu não ia querer falar com ele nunca mais.

– Mas ele se arrependeu te pediu desculpas e quer que tentem de novo, o que você vai fazer? – Ela ficou de pé.

Eu sorriso me escapou por entre os lábios.

– Eu não sei - Ela sorriu igualmente.

– Vamos – Me estendeu a mão com um brilho incomum no olhar – Se corrermos ainda da tempo de pegar alguma coisa da sobremesa

(...)

– Então, o que você pretende fazer agora?

Eu me mantive abraçada as pernas, sem responder.

– Eu acho que ela não vai falar nada agora – Marco cruzou os braços, também me observando.

– Mas ela tem que tomar uma decisão, não pode ficar ai sentada esperando que o mundo decida por ela.

– Vocês se agarraram não foi? – Marco ergueu uma sobrancelha junto com um sorriso maldoso - Eu sei que sim, ta escrito na sua cara.

Eu fechei os olhos e os dois riram

– Tinha que ter visto a cara de assustados dos dois quando eu aparei – Escutei Gabriel começar a falar com um tom brincalhão na voz, eles se acomodaram – Estava quente!

Eles riram

– Gente, por favor – Murmurei – Isso é sério.

– Olha Gabrielle – Marco cruzou as mãos atrás da cabeça – Não que de alguma forma eu esteja a favor do D, mas talvez você devesse engolir esse seu orgulho e dar a ele uma segunda chance.

– Ele me chamou de mentirosa, fez pouco caso de mim disse-

– É – Me interrompeu – Eu sei disso, e eu escutei os dois lados da moeda, e pela insistência dele e tal e não vejo porque não tentar.

Franzi o cenho.

– O que quer dizer com ‘escutei os dois lados da moeda’?

Marco suspirou, como se já soubesse que eu faria aquela pergunta.

– Ele me ligou enquanto esteve fora, algumas vezes, pra saber de você.

– Uau – A exclamação veio de Gabriel na outra ponta do sofá – Ele me pareceu um traste a primeira vista, mas até agora ele só tem me surpreendido.

– Não sei se o que estamos fazendo é certo.

– Quem se importa? – Marco riu – Qual é, vocês são adultos, nossos pais não estão aqui pra apontar e dizer que ele é má gente, você é independente, tem sua casa que herdou da sua mãe, um emprego, uma entrevista daqui algumas semanas e esta pra se formar, só estava faltando um namorado mesmo.

Gabriel riu

– Isso é verdade

– Será que vocês não entendem? Eu o odiei durante anos, esqueci que ele existia, ai ele volta, vira minha vida de cabeça pra baixo e eu tenho que fingir que está tudo bem. Eu nem sei onde ele mora!

– Talvez essa seja a sua oportunidade. – Marco deu de ombros

– Eu prefiro não me declarar muito – Gabriel apoiou os braços sobre os joelhos – Eu não sei exatamente como as coisas aconteceram e não estive aqui quando vocês estudaram juntos. Talvez, se eu tivesse acompanhado tudo de perto eu até soubesse dizer pra você se ele presta ou não.

– Esse também é um dos meus medos.

– Pois acho bom pensar nele também – Sua expressão se tornou séria – As vezes as coisas não acontecem como a gente planeja e isso pode gerar uma serie de intrigas entre vocês dois. Se resolver que sim, precisa lembrar não esperar muito, vocês ainda não se conhecem e criar expectativas é ruim.

– Eu já passei por isso – Trinquei os dentes.

– Eu sei, mas pode muito bem acontecer de novo. Vão estar os dois ansiosos, porque vocês querem fazer funcionar e essa seria a primeira falha. Tem que deixar as coisas irem devagar, com naturalidade, se não fica forçado e tudo vai por água abaixo.

Eu me deitei no sofá frustrada

– Eu sei de tudo isso.