Elemento escrita por Grind


Capítulo 17
Capítulo 17 - Natal




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Elemento / Capítulo 17 - Natal

Estava frio, muito frio. Chovia, mas não era forte, nem fraca, apenas... Chovia, sem parar. Sábado de manhã, a floricultura fechava aos sábados, então eu estava simplesmente sentada no sofá da minha sala escutando o barulho da chuva.

Nunca gostei do frio, sempre tive uma sensação sombria do frio, como se ele só viesse para trazer noticias ruins, e aquilo não me agradava nem um pouco. Eu me sentia exausta, quase poderia tocar o peso inexistente que parecia possuir as minhas costas.

Havia desistido da ideia de colocar meias, de qualquer forma era inutil pra im, meu pé parecia se manter gelado a todo instante. A TV estava ligado em um canal qualquer, não sei o que estava passando ou sobre o que falavam, eu não estava prestando atenção mesmo.

Marco havia passado aqui noite passada, sexta a noite era a nossa noite da pizza, as vezes na minha casa, as vezes na dele, e a julgar os últimos acontecimentos, foi na minha casa.

'A' não veio mais me ver, e achei que seria melhor assim, tanto pra mim, quanto pra ele. Eu voltei a minha rotina tipica, acordar cedo, abrir a floricultura, sair as 17hrs e voltar pra casa, tomar um banho, cochilar uma hora ou duas antes de jantar e começar a estudar antes de ir para a faculdade. Sábado, eu saia para dar uma volta, as vezes só uma caminhada, e quando eu estava inspirada de bicicleta.

Depois passo a tarde em casa, de vez em quando assistindo TV, ou fazendo faxina, ai eu ia dormir cedo pra esquecer os problemas. Domingo, eu era obrigada esperar ansiosa pelo horário de visita - as coisas não eram assim largadas como eu imaginava que era - mas não era a primeira chegar, sempre procurei chegar uma hora ou das depois, pra dar espaço a Angela e Juan, eles precisavam ver o filho primeiro, eu não era ninguém além de uma antiga amiga de infância rabugenta.

Marco havia dito que eu precisava me preocupar menos, que esse tipo de processo além de delicado, levava tempo, que mesmo se eu não quisesse eu tinha que tocar a vida, porque ficar parada ao lado da maca dia e noite não faria ele acordar.

Eu chiei muito antes de começar a diminuir a frequência das visitas, mas Marco estava certo, eu não poderia entrar mais tarde na floricultura sempre, sabia que dona Maria tinha seus limites, e muito menos ficar faltando na faculdade sempre que me desse um dor no peito.

Por fim, as visitas se resumiram apenas para domingo a tarde, vez ou outra Marco ia comigo, sempre que podia ele evitava, ele nunca se sentiu muito bem em clima de hospital. Eu cuidava das margaridas, e trocava sempre que podia.
Angela dizia que combinava com o ambiente, dava um ar de esperança, mas para mim foram se tornando simples margaridas, e já tinha um mês que isso estava acontecendo. Porém, de repente eu me assustei com uma batida forte na porta.

Com certeza Marco não era, ele sempre ligava antes de resolver aparecer. Levantei, o cobertor - que dizia ser para se proteger do frio - caiu no chão, em cima do tapete e eu pouco me preocupei em pega-lo. Caminhei até a porta sem motivação nenhuma, e fiquei surpresa ao abri-la e deparar-me com Stella.

– Oi! - Sorriu de orelha a orelha.

– Oi! - Minha voz saiu um pouco confusa. - É, como você...

– Ah! Eu peguei seu endereço com Marco.

– Hum é claro - Balancei a cabeça em negativo como se fosse óbvio - Entre, está muito frio ai fora. - Abri espaço para que ela passasse.

– Com licença - Sorriu outra vez entrando e caminhando até a sala.

– Você quer beber ou comer alguma coisa?

– Não, de forma alguma eu comi na lanchonete do hospital, estava vindo de lá.

– Ah - Eu recolhi o cobertor do chão e me sentando na poltrona com o mesmo no colo. Indiquei que ela sentasse no outro sofá e ela o fez.

– Falei com Angela e ela disse que ele está melhorando, de acordo com o médico as chances de ele acordar estando aumentando. Então eu resolvi perguntar sobre você e ela me pareceu meio desanimada, você está bem?

– Estou - Balancei a cabeça em positivo - Estou ótima.

– Você foi vê-lo?

– Eu só o visito de domingo, tenho coisas pra fazer durante a semana e sábado é meu dia de domingo.

– É você quem leva as margaridas?

– Sou eu sim.

Stella sorriu.

– Ele comprou margaridas pra dar de presente pra Camila no aniversário dela, apesar dela odiar, ele disse que gostava e não estava nem ai, ela tinha que agradecer porque ele nunca se sentiu confortável dando presentes. Como sabia que ele gostava?

Eu lhe lancei um sorriso fraco.

–Não sabia, ele comprou as flores na floricultura onde eu trabalho, então resolvi levar, mas eu prefiro tulipas.

– Bom, semana que vem é natal, você vai passar com alguém?

Suspirei.

Eu sempre tive uma família pequena, então natal não era algo que eu pensava como grandes festas e almoços em família, e um amigo secreto de cem pessoas. Era só eu, minha mãe e minha irmã mais nova.

– Não, normalmente eu e Marco jogamos conversa fora pelo telefone, ele é ateu então chamamos de '"Feliz dia 25". O irmão mais velho dele está sempre viajando nessa época do ano, então eles comemoram juntos pelo computador, eu briguei com minha irmã há uns quatro meses e não estamos nos falando, ela é tão orgulhosa quanto eu então ela só vai me ligar perto do ano novo.

– Nossa - Ela fez uma cara de assustada - Isso não está errado? Veja bem, ela é sua irmã!

– Normal - Dei de ombros - O dia que a gente resolver juntar os dois lados da família e não brigar, ai sim vai ser errado. É assim desde que somos pequenas.

– Bom, então venha comemorar com a gente. Angela e Juan sempre fazem um festão, e eu e Camila vamos, pode chamar Marco se quiser.

– Eu não sei Stella - Abaixei a cabeça olhando para meus pés gelados - Eu não ando em clima pra comemorar nada.

– Gabrielle, passar o natal aqui sozinha não vai fazer bem pra você, não faz bem pra ninguém. E você vai gostar, é animado, e todo mundo vai adorar que você resolva aparecer.

– Está bem então, talvez e resolva dar uma passada por lá.

Ela sorriu enquanto se levantava.

– Que bom! Fico muito contente! E nem se preocupe muito com a roupa, coloque algo leve e confortável porque você vai pular bastante.

Sorri e ela também. Stella saiu, e a TV voltou a ser o único som audível. Fechei os olhos respirando fundo, talvez sair levantasse o meu astral.

(...)

Como já era de se esperar a semana passou mais rápida do que eu imaginava, convidei Marco para a festa de Angela, e combinamos que ele passaria na minha casa as 20hrs. O problema era que eu estava parada em frente ao meu guarda roupa as 19:20hrs com cabelo e maquiagem prontos sem decidir sobre o que vestir.

O frio havia permanecido, para meu desgosto, e eu não tinha uma grande variedade de roupas pra sair, mas eu tinha que me decidir, Marco não suportava esperar e não seria nem um pouco conveniente chegar atrasada.

Por fim, resolvi usar um conjunto de calças compridas azul marinho em linho e uma camiseta de seda branca com mangas compridas, era um conjunto discreto e elegante.

Marco chegou na hora, felizmente e eu fui indicando o caminho conforme ele dirigia, em poucos minutos já havíamos estacionados. Dei uma espionada e tinha vários carros estacionados a nossa volta.

Descemos, e logo na entrada deparei-me com Angela, que abriu um sorriso de orelha a orelha a me ver.

– Juan! - Gritou maneando a cabeça para o lado - Ela veio!

Marco a cumprimentou com a mesma animação, enquanto eu entrava e admirava a decoração. Foi erguido uma tenda no quintal da frente, as pernas decoradas com pisca piscas nas cores natalinas, festões vermelhos no alto dando um certo charme. Uma grande mesa ao centro, farta de comida e repleta de cadeiras em volta. Na outra parte, as pessoas se reuniam em rodinhas com suas taças na mão enquanto conversavam, e uma musica tocava ao fundo.

Camila me viu e puxou Stella pelo braço, apresentações feitas. Marco se enturmou rápido, e eu consegui me distrair bastante. Marco abusou mais do que deveria da bebida e não demorou pra que me puxasse pra dançar do seu jeito engraçado., animando ainda mais o pessoal a nossa volta.

E foi na ceia que Juan resolveu levantar pra fazer um discurso, agradecendo a presença de todos, abençoando a noite e é claro pedindo para que fizéssemos um minuto de silêncio para a melhora do Elemento.

E quando o silêncio ficou, pareceu que o tempo parou e bateu outra vez aquele aperto no peito, quando o minuto mais extenso da minha vida passou, fui obrigada a pedir licença dizendo que precisava ir ao banheiro, mas eu não consegui passar da sala.

O que eu estava fazendo ali? Por que eu resolvera ir até ali se eu tinha quase certeza que isso ia acontecer? Como eles conseguiam comemorar o natal se o filho estava no hospital? Como conseguiam manter essa chama de esperança há todo instante? Eu não conseguia manter essa barreira erguida tão facilmente.

Eu me joguei no sofá, enfiando o rosto por entre as mãos, mas eu não conseguia me controlar, eu não podia segurar mais. A agonia parecia tomar conta de mim, me sentia pressionada, eu tinha, eu precisava fazer algo.

O problema era, não havia nada que eu pudesse fazer, mesmo se eu quisesse. Pude sentir quando alguém se aproximou e sentou do meu lado, levou alguns segundos, antes de um braço passar em volta dos meus ombros e puxar-me junto a ti.

– Eu sei que tá difícil Gabi - A voz de Angela soou baixinha - Mas mesmo que você não consiga, você precisa tentar se manter forte.

– Diz pra mim que ele vai acordar Angela, eu não vou conseguir me manter assim, eu preciso ter certeza de que ele vai acordar.

Ela suspirou enquanto passava uma das mãos em meu cabelo.

– Feliz Natal querida.


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Notas finais do capítulo

Feliz Natal! :')



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