Um Outro Lado da Meia-Noite escrita por Gato Cinza


Capítulo 31
Verdades, Segredos e Mentiras


Notas iniciais do capítulo

Expectativas???
Boa leitura e até as vistas



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/544239/chapter/31

Tentar me regenerar foi uma das muitas idiotices que cometi por imprudência, para usar cura precisei de magia e usar magia fragilizada como ainda estava me deixou fraca. Dylan gritou comigo e me chamou de irresponsável, ameaçou me trancar em um calabouço até que eu aprendesse a obedecer, discutimos inutilmente como se fosse um costume natural em nossas conversas depois não o vi mais. Andando de um lado para o outro e falando sozinha como maluca resolvi que estava bem o bastante para sair do quarto e para meu desagrado descobri que ele realmente foi capaz de me trancar. Restou-me deitar e aguardar até que me tirem daqui, não quero me arriscar a desmaiar usando magia novamente, infelizmente para mim desde ontem á noite após Julieta me trazer o jantar que não vejo mais ninguém.

Ouvi a porta se abrindo, não me levantei tão pouco abri meus olhos, não queria e nem ia ver Dylan, mas para minha completa surpresa quem chamou por meu nome com algum receio não foi o ruivo malvado. Abri os olhos e permaneci imóvel me recuperando do choque inicial em ver o rosto bonito de traços finos manchado de lágrimas, diante da reação dela em me ver, imitei e comecei a chorar. Margarida me abraçou me forçando a sentar-me. Margarida era a última pessoa em quem eu pensaria para ficar ao meu lado enquanto estivesse acamada, mas naquele momento não me importava com isso.

– O que faz aqui? – perguntei desfazendo o abraço – Você é real, não é?

Ela revirou os olhos me cutucando na testa.

– Não sou uma alucinação se é o que quer saber. O senh... Dylan foi me chamar, ele se preocupa muito com você.

Deitei-me novamente, estava feliz com a presença dela, mas precisávamos falar dele? Eu tinha tantas centenas de perguntas que não tinha menor vontade de falar sobre o assunto Dylan.

– A preocupação dele se chama culpa, mas isso não importa. Diga-me, Margarida, o quanto sabe sobre mim e tudo o que está acontecendo?

– Como assim? – a expressão confusa dela me lembrou do por que não era minha irmã preferida.

Narciso era o irmão que toda garota precisa ter, sempre disposto á proteger sem tirar a liberdade. Verbena era minha confidente, a bruxa brilhante á quem eu podia recorrer mesmo que fosse para levar uma bronca. Magnólia sempre foi a mimada da família que tinha o que queria, ela era meu brinquedo preferido até descobrir que podia brincar com outras crianças sem ser vendada ou responsabilizada pelas coisas que se quebravam. Mas Margarida, ela sempre foi a mais velha dentre nós, a que ajudava a mamãe quando éramos pequenos e a que assumiu papel de mãe quando a nossa partira, nunca a vi como uma amiga e sim como alguém á ser obedecida mesmo quando estava errada.

– Quero que me conte o que você sabe a respeito do que está acontecendo. Desde o começo.

Podia perguntar a Dylan quando ele aparecesse, mas tinha algo de errado com ele e preferia ouvir a versão de Margarida. Senti-me aliviada quando notei que ela não estava sendo manipulada por magia, então me restava entender em que momento ela decidiu confiar em Dylan. Ela disse-me:

– O se... Dylan veio uma tarde á minha casa, quando o vi pensei que algo ruim tivesse acontecido á Narciso, mas ele apenas me pediu que o ouvisse até o fim antes de concluir qualquer coisa, então me contou sobre o que você fez no bosque para ajudar a irmã dele e as consequências disso, não acreditei no começo que você tivesse se arriscado tanto para proteger alguém, matado três pessoas e ainda por cima fugido de um hospital para bruxos com problemas emocionais, o chamei de mentiroso e ele falou-me então sobre o amuleto que você havia feito para Andreas e que meu bebê era um bruxo. Diante da acusação de que meu filho era um bruxo expulsei o senhor Walker da minha casa, mas antes de ir embora ele pediu que perguntasse á Narciso e Verbena a verdade sobre você. Temi perguntar a nossos irmãos a verdade, mas confesso que não resisti, seu amigo Leonel estava em casa quando fui interroga-los, até ele sabia sobre meu filho ser um bruxo...

A expressão horrorizada de Margarida era cômica, mas tentei me manter inexpressiva enquanto ela falava.

–... Depois de confirmarem toda aquela história terrível tive certeza que meu filho era um de vocês, fiquei apavorada e te culpei por isso sei que você não é responsável pelo fato de meu primogênito ter nascido bruxo, mas estava irritada, não falei com Verbena e Narciso durante uns dias depois disso, eles não tinham o direito de me esconder o que meu filho era, acho que também culpei Andreas, não conseguia olhar para ele, sem me lembrar de você cercada por sombras rindo e dizendo que estava tudo bem, temia que ele ficasse como você uma bruxa das trevas cheia de...

– Não repita isso – a interrompi – Não importa como nem por que nem quando, você prometeu que não diria a ninguém.

– Eu cumpro minhas promessas Morticia, nunca disse nada sobre o tipo de bruxaria que você fazia quando criança e nunca direi.

Confiar em Margarida? Nunca, entretanto não tinha muitas opções. Pedi que ela prosseguisse com a narração dos fatos.

–... Não sabia o que fazer e nem como, quando dei por mim estava aqui nesta casa procurando pelo senhor Walker, queria saber o que mais vocês, meus irmãos, escondiam de mim. Ele me falou sobre uma maldição antiga na família que impedia os homens de praticarem magia e o que seu amuleto fazia por Andreas, falou também sobre fadas rondando meu filho e sobre o conselho de magia sendo regido por um homem perigoso que estava querendo mal a nossa família. Perguntei á...

– Espere um minuto – pedi a interrompendo novamente – Como assim Dylan te disse que o conselheiro era perigoso.

– Foi o que ele disse-me, o conselheiro de magia de quem Verbena é amiga é um homem perigoso e que estava mantendo nossa família em observação esperando que você aparecesse, ele não sabia o porquê do conselheiro de magia estar te caçando, mas imaginava que se tratava de Andreas por ele estar sendo protegido por você uma vez que Verbena estava cada vez mais próxima do conselho após a morte do barão.

– Aquele mentiroso duas caras sabia sobre isso e não me contou nada.

– Te contar o que?

– Que era um impostor no lugar de George. Devia ter matado aquele ruivo.

– Espere Morticia, antes de concluir coisas erradas sobre Dylan me escute. Até você vir procura-lo ele achava que o conselheiro era apenas um homem cruel sedento de poder, somente quando você conversou com ele que surgiu a possibilidade de haver um impostor.

– Ele te contou isso também?

– Mais ou menos, tenho certeza que ele esconde coisas importantes á seu respeito coisas que prefiro não saber, mas ele apareceu na minha casa e perguntou sobre um pirata que possivelmente era seu amigo, levei um tempo para concluir que era sobre um impostor.

Isso não era muito reconfortante, Dylan e eu precisávamos conversar mais e brigar menos – ou não.

– O que nossos irmãos sabem sobre isso?

– Nada. Dylan pediu que guardasse segredo por enquanto, até que você mesma pudesse contar o que estava acontecendo.

– Já que aparentemente você e o Sr Cabeça de Cenoura são amigos, mande ele me deixar sair daqui. Sabia que a porta estava trancada?

– Sim, ele disse que você é um perigo ambulante e que não se preocupa com a própria segurança.

– Não sou nenhuma florzinha delicada, sei me virar sozinha.

– Algo me diz que ele sabe disso, mas até mesmo a mais venenosa das flores precisa de proteção de vez em quando.

Resmunguei cobrindo as orelhas, não preciso de proteção, preciso de liberdade.

– E Narciso, ele está feliz? Como está Verbena? E que história absurda é essa de Meg querer se casar agora? – perguntei antes que ela dissesse algo que eu não queria ouvir

– Narciso sabe disfarçar bem, mas sabemos que ele não está nada bem com o fato de sua irmã predileta ter desaparecido – uma pontada de veneno na voz dela me fez lembrar a Margo com quem estou acostumada – Mas ele está feliz com a noiva de quem admito ter gostado bastante. Verbena anda um pouco afastada da família, ela passa tempo demais no mundo mágico. E Magnólia finalmente criou juízo e decidiu se casar com Edwin.

– Juízo? Ela me amaldiçoou para não se casar com o médico e me diz que ela tem juízo?

– Ah! Essa maldição. Narciso falou sobre isso e fiquei curiosa para te ver como um ser inofensivo, uma pena que Dylan esteja te mantendo sobre forma humana.

– O que disse?

– Queria ver você na forma de gata.

– Não sua tonta, sobre Dylan.

– Não me chame de tonta, disse que ele esta te mantendo em forma humana.

Agora entendia o porquê de Dylan parecer exausto o tempo todo desde voltamos do mundo mágico, ia perguntar á Margarida se ela sabia o que ele tinha feito exatamente, mas nesse momento ele bateu na porta dizendo a ela que já tinha terminado o tempo e ela precisava voltar para casa logo. Sem me explicar o que estava acontecendo, Margarida se despediu e seguiu Dylan que mais uma vez me trancou no quarto.

...

Aguentei o máximo possível aceitar o fato de que Dylan havia mentido para mim – tecnicamente ele não mentiu uma vez que nunca me disse nada á respeito do impostor, mas escondeu isso – sei que não tinha confiado nele, logo, não podia querer confiança da parte dele e ainda assim me sentia traída. Ouvi passos no corredor e a porta do quarto de Dylan se fechando com um ruído peculiar, levantei-me, não confiar um no outro não significa que devo continuar ignorando fatos que me dizem respeito. Coloquei as mãos na porta, não devia usar magia tanto quanto ele não devia ter me trancado:

Grigio – a porta de madeira entalhada foi reduzido á cinzas

Segui para o quarto dele, duas portas depois do quarto onde havia me trancado. Ele abriu a porta que rangeu de modo irritante, tinha o mesmo ar de exaustão dos outros dias, me olhou surpreso.

– O que faz aqui? Como saiu do quarto?

– Sou uma bruxa, por quanto tempo pensou que eu ia me deixar ser trancada? Posso entrar?

– Não é adequado entrar em meu quarto, senhorita...

Passei por ele que não fez esforço nenhum para me impedir de entrar no seu quarto.

– Você me enganou – informei controlando a voz para não soar acusadora – Sabia o quão perigoso o conselheiro-mor é e não disse nada. Minha irmã que nada devia ter com esse assunto sabe mais sobre o Impostor que eu.

– Não te enganei, só não quis te preocupar mais do que já estava preocupada.

– Agora está mentindo, não pense que sou tola Dylan, sei que me acha irresponsável e imprudente, coisas que não nego ser, mas o que pensou que eu ia fazer? Gritar para o mundo bruxo todas as verdades e mentiras que conheço?

– Não, você é irresponsável sim, mas não é burra.

– Então por que não me disse o que sabia? Por que não me diz o que sabe?

Dylan ficou em silêncio me olhando longamente me deixando mais impaciente que antes, comecei a andar em círculos tentando me concentrar em algo que não fosse a possibilidade de machuca-lo gravemente, Dylan por sua vez sentou-se em sua cama me olhando ir de um lado para o outro. Então disse:

– Não há outro George Linnett III, existe apenas um.

Parei de andar, ele parecia falar sério.

– Impossível, está errado eu conheci o verdadeiro.

– Você conheceu esse homem há mais de cinco anos, lamento informar que o bondoso capitão pirata que você conheceu se tornou um homem cruel, ambicioso e perigoso. Há três anos ele abandonou a pirataria deixando um rastro sangrento. Há dois anos ele assumiu o lugar do pai que morreu de modo trágico causado por fadas, desde então vem governando Risveglio com mãos de ferro. George capitão ou conselheiro não é mais seu amigo.

– Está mentindo ou mentiram pra você, George não era nenhum monstro... ele é gentil e...

– Não estou enganado, eu já tinha ouvido rumores quando sobre isso e quando me contou sobre conhecê-lo mandei que averiguassem. Você passou muito tempo longe do mundo mágico, verdades se transformaram em rumores e os rumores foram abafados.

Minha cabeça agora doía, queria chorar, mas não sabia o porquê, voltei a andar em círculos. Eu não podia ter me enganado.

– Mentiu para mim

– Não menti, só não tinha certeza.

– E á quanto tempo tem certeza?

Ele não respondeu em vez disso se levantou e veio até mim.

– Precisa compreender...

– Não quero entender nada! – gritei – Todo esse tempo podia ter me dito o que sabia, mas preferiu me tratar como uma criança que deve ser protegida. Pensei que pudesse confiar em você, mas estava errada.

– Pode confiar em mim

– Mentira!

Dylan me segurou pelo braço prendendo-me entre a parede e ele, mesmo parecendo exausto ele era mais forte fisicamente, tentei me soltar, mas foi inútil. Seus olhos alaranjado-brilhantes me atraiam feito imãs, ele me mandou ficar calma e de repente eu não sabia nem mesmo o motivo por qual estava tão zangada com ele.

Sonno – sussurrei, ele cambaleou e caiu adormecido – Não gosto de ser enfeitiçada e não me mande ficar calma.

Me sentei na cama dele aguardando até que se recuperasse, aquela conversa ainda estava longe de terminar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uma pequena recomendação á quem gosta de histórias emocionantes do tipo que não se quer parar de ler nem mesmo quando termina:

https://fanfiction.com.br/historia/662451/AnjodasTrevas/

Anjo das trevas, escrito por Elvish Song é uma fic sobre o fantasma da ópera. Para quem assim como eu tem um fascínio anormal por Erik Destler ou apenas para quem procura um bom romance para ler.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Outro Lado da Meia-Noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.