Íroda: As Crônicas Dos Oito Reinos escrita por Dracul Lothbrok


Capítulo 8
Capitulo VII - Preparação




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– Senhor Dhagdan, aqui está o cesto. – disse um serviçal com o olhar baixo entregando um cesto de palha coberto com veludo vermelho.

Dhagdan estava parado em frente á uma grande fogueira. Estava acesa dentro de uma grande taça de mármore, com entalhos dos antigos reis de Ivernos, desde Ivernea até o pai de Chettan. Sem dizer uma palavra, pegou a cesta de palha e a encarou por um instante, seu olhar mostrava um pouco de pesar e hesitação. Apesar de sempre ser um homem imponente e severo, ele mostrava vez ou outra, seus sentimentos puramente humanos. Ter feito aquilo com Cian o deixara feliz e vantajoso, mas pensara muito sobre o que o jovem poderia ter sofrido dentro daquele calabouço, a dor e o sofrimento que na verdade não era para ele.

– Agradeço-lhe Aregor, por realizar este trabalho árduo para mim. Lembrar-me-ei de você, agora deixe-me sozinho.

O homem se retirou da sala, deixando o turiano sozinho. De fato, aquele fora um trabalho árduo até para um grande guerreiro ou um carrasco. Dhagdan estava completamente perdido em pensamentos, enquanto maquinava sua vingança e demonstração de perversidade se esquecera de pensar em sua amada cidade, em sua esposa com quem planejava ter filhos e na guerra que poderia estar iniciando. Isso poderia arruiná-lo, a sua família e a seus planos, desejava poder para que seu reinado fosse próspero e que deixasse um bom legado para os filhos, mas aquilo poderia ter ido longe demais.

De forma alguma pediria perdão aos thuathans, muito menos a Lugh. O elfo não perdoaria, nem se implorasse por anistia durante mil anos, matou seu irmão, o humilhou na frente de seu povo, na frente de toda Íroda. Agora que estava feito, ele só poderia se arrepender e continuar com punhos firmes sua jornada por glória.

– Perdoe-me Dannan, por fazer este ato nefasto. – rezava ele olhando as chamas dançarem na fogueira. – Não posso permitir que Cian entre em Annwn e seja bem recebido, não posso deixar que ele agrade Arawn, ele poderia influenciar nesta guerra do outro mundo, tenho que garantir que ele vagará pelo escuro, sem interferir em nosso mundo.

Dhagdan tirou o pequeno pano de veludo que encobria o cesto. Ali estava o coração do monstro, ainda pulsava, estava vivo, era assustador que aquilo permanecesse naquele estado. Talvez, de certa forma o que Dhagdan fizera e faria poderia ser benéfico para os homens. Tirar um ser que não pertencia á terra, que não se desfazia como todos os outros seres poderia ser uma forma de assegurar que monstros e seres ocultos não se proliferem e emundem Íroda.

Sem muita cerimônia, o rei atirou o cesto com o coração vivo dentro das chamas. Rapidamente ouviam-se os estalos da palha se incinerando, mas dentre o pequeno ruído sucederam gritos, estridentes e finos e o fogo assustadoramente. Dhagdan teve de se se afastar, aquilo era algo ominoso, não era bom sinal e muito menos normal.

***

Os thuathans já haviam saído de Ivernos e tomado à estrada para casa. Muitos haviam partido assim que Cian confessara o falso crime, revoltados, não poderiam ficar ali para presenciar o veredicto, para ver um lorde respeitável e admirado ser aniquilado injustamente. Lugh estava com o semblante sério, taciturno e obscuro. Quando algo lhe era perguntado respondia apenas com acenos, todos viam que ele estava extremamente angustiado. Ele não havia esquecido as palavras do pequeno vidente, ''Nunca seja fraco, prepare sua mente, prepare sua espada, prepare sua lança''. Aquele era claramente um aviso de guerra, Lugh e os Ellyllons teriam de lutar, vingar a morte de Cian, tomar Ivernos e mostrar novamente que nunca se deve desafiar um thuathan, não se devia desafiar os descendentes de Thuatan.

O capitão da cavalaria sabia exatamente o que deveria fazer. Arminan amava a guerra, o campo de batalha e era um estrategista preciso e confiante. Ele não precisava perguntar a Lugh o que deveria ser feito, se haveria uma guerra e se ele deveria se aprontar para eventuais batalhas, ele sabia que aconteceria e que seus homens deveriam estar mais preparados do que nunca. Isso era uma qualidade que o rei elfo estimava muito, o modo como ele agia com antecedência. Assim que chegasse a Thuathan, ele tomaria frente e organizaria toda a cavalaria, prepararia seus homens para cada cenário de guerra caso ela acontecesse em sua cidade, em Turim em Ivernos ou em qualquer outra cidade, ele saberia como fazer, assim como seus homens. Trataria de avisar os generais, os capitães dos arqueiros, lanceiros e escudeiros. A cidade também precisava ser preparada, o fosso do castelo deveria ser aumentado, as placas de bronze envelhecidas deveriam ser trocadas. Teriam de explorar a floresta para obter madeira e fazer grandes barricadas, dentre muitas outras coisas para manter uma guerra, catapultas e trabucos, forjar novas espadas e pontas de flechas, detalhes importantes.

Os elfos estavam preocupados, até dado momento somente coisas desfavoráveis estavam acontecendo para eles. Esperava-se que Lugh seria o rei de Ivernos, não imaginavam que um herói importante seria assassinado nem que teriam de se preparar as pressas para um ataque, que nem sabiam de onde poderia surgir. Gybbra Oddshark e Niall Eresil visivelmente detinham uma aliança, um contrato e isso os colocavam como inimigos de Lugh, juntamente com Turim. Era necessário criar alianças com os que ainda restavam no norte e com aqueles que se mantinham quietos ao sul e também procurar aliados nas ilhas polares onde viviam bárbaros lutadores que poderiam vencer a guerra para os elfos, mas alianças eram coisas extremamente delicadas e eles precisariam de muito para convencer alguém a ficar do lado dos Ellyllons.

– É importante que consigamos aliados, em minhas contas Turim pode se juntar com Carnos e Ivernos, necessitamos de mais forças. – dizia Finntan, um velho mensageiro que era responsável pelas águias.

– Temos que conseguir o apoio de Monaghan e a qualquer custo conseguir os navios da Cidade Portuária ao oeste. – Arminan parecia determinado em solucionar os problemas que lhe eram apresentados. – Resta saber se Eileen nos apoiará.

– Lugh é um homem jovem e importante e ainda não se casou. Acredito que seria esta, uma hora propícia para lhe arranjar uma esposa.

– A filha de Maddox está apta e disponível, mas acho que conseguiríamos conquistar a confiança dele através de pagamentos e acordos, a ideia de um casamento é perfeita e temos que usa-la bem, estrategicamente e com o reino certo.

– Então o que propõe capitão? – indagou o velho com curiosidade.

– Eileen! Alguém tem de ir falar com ela, propor o pedido, fazer o acordo. Posso mandar Dillen até Agnus...

– Eu irei! – disse Lugh interrompendo Arminan. Sua fala havia despertado a atenção dos homens a sua volta, já que permanecera silente toda a viagem. – Falarei com Eileen, ninguém melhor que eu mesmo para propor um casamento.

– Senhor? – Finntan parecia perturbado pela interrupção inesperada de Lugh.

– Eu irei ao porto de Agnus pessoalmente, mas não por terra pois terei de passar por Turim, não posso pisar naquele território. – ele ainda mantinha o semblante serio e o olhar distante apesar de estar falando com seus homens.

– Então irá de navio! – adiantou-se Arminan. – Finntan, mande uma águia até o porto oeste, avise nossos corsários para que preparem um navio para o rei. E envie uma á Agnus avisando a Eileen que partiremos assim que o rei estiver descansado.

– Adentraremos no oceano Myr, sem atravessar a baía de Priam, pois há navios turianos rondando-a. Assim chegaremos discretamente e sem chamar atenção. Se alguém perguntar onde estarei indo diga que fui visitar as ilhas do leste. – ordenou Lugh.

O cavalo branco do rei elfo saiu a galope na frente de todos, o que mais ele a precisava no momento era estar sozinho. Sabia que seu fiel capitão resolveria tudo que estivesse ao seu alcance e só em caso de extrema dúvida lhe procuraria. Sua cabeça estava desligada para as coisas fúteis, estava concentrado. Em sua mente um tabuleiro era montado, onde cada movimento dado resultava em consequências colossais. Ir a Angus era um desses movimentos. Eileen era a rainha da cidade portuária, era extremamente forte e rica apesar de seu território em terra ser um tanto diminuto, porém o que importava era seu domínio marítimo. Ela tinha uma enorme frota de navios de guerra, pesca, transporte e comércio. Isso seria uma grande vantagem, podendo atacar Dhagdan no litoral e fazer viagens longas para procurar aliados no mar.

Enquanto todos se perguntavam o que havia acontecido com a imponência do reino de Thuathan, o porquê de seu líder se encontrar tão obscuro e conformado, eles se preparavam silenciosamente, como uma cobra espreita a presa, sem afugentar e chamar a atenção antes de atacar. Talvez aquele fosse o inicio da história da ascensão dos elfos, ou talvez da ruína.


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