Íroda: As Crônicas Dos Oito Reinos escrita por Dracul Lothbrok


Capítulo 4
Capitulo III - O Injusto




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Um grande tablado de carvalho foi montado no centro do acampamento turiano, dois cavalos estavam amarrados a toras de madeira com polias e cordas, estas, que seriam amarradas nos braços do druida e que faria a malevolência de Dhagdan tomar forma. O Rei não se encontrava nada satisfeito com a previsão errada do velho sábio, Lugh chegara muito antes dele a Ivernos, tão cedo que dera tempo de levantar acampamento e fazer uma grande festa, do tamanho das que eram feitas em épocas de Samain.

Os homens esperavam o amanhecer para dar fim ao druida, o rei queria assistir cada momento da punição, era uma forma de externar sua frustração e raiva. Enquanto esperavam, a festa dos thuathans estava mais agitada que nos primeiros dias, muito mais barris de cerveja e hidromel haviam sido trazidos e agora, em baixo da tenda de couro vermelho de Lugh estava o tão famigerado Dagda, deus da sabedoria tocando sua harpa mágica. O rei elfo sabia se enaltecer com demonstrações de seu poder e de sua riqueza, todos que o conheciam logo se agradavam e o considerava um amigo, não era a toa que a grande maioria de Ivernos o queria como rei, só o trocaria por um rei deus, mas isso estava longe de acontecer.

– Não creio que arrastou Dagda para esta pequena celebração. – zombou Cian – Algo me leva a acreditar que metade disso é para enraivecer o nosso ancião turiano.

– Não o chame assim Cian, ele não é tão mais velho que eu, a diferença é que elfos não envelhecem tão rápido assim como os humanos.

– Diga-me, o que pretende fazer? Como pretende reinar em dois lugares ao mesmo tempo?

– Bem, ficarem em Thuathan, em meu trono de nascimento e nomearei um representante.

– Entendo, mas veja bem, cuidado com quem escolhe. Deve optar por alguém que conhece. – dizia Cian com um sorriso sugestivo – Alguém como... como um amigo.

– Alguém como um amigo? – indagou Lugh – Alguém como você?!

– Não meu senhor, jamais me atrevo a pedir que me escolha. – Cian falava ironicamente enquanto ria.

– E poderia ser outra pessoa? Será você, irmão, você ficará aqui por mim enquanto precisar e me ajudará em tudo.

– Como se eu já não fizesse isso.

O clima da celebração só esquentava mais enquanto Dagda desafiava homens, quem conseguisse beber e comer mais que o deus vivo, ganharia um belo touro castanho, meio parrudo com chifres de prata. Lugh conseguira fazer o que planejou chamar e prender a atenção de todo o reino somente nele.

Lugh era chamado de jovem elfo, porém tinha mais de cem anos, mas para um elfo essa ainda era a juventude, era descendente direto de Tuathan o primeiro rei elfo, mas não tinha a aparência tão pura, pois seu pai Éothain casou-se com uma humana. Sua inteligência era reconhecida por todos assim como sua capacidade de persuadir, gostava de provocar aqueles que se opusessem a ele e de sempre mostrar força e coragem, era calmo e paciente mas por vezes se mostrava firme e cruel. Sua maior arma era sua cabeça, podia não ser terrivelmente forte como Dagda e nem tão eloquente com a espada como Cian, mas era um exímio estrategista e pensava com a rapidez de um raio quando corta o céu.

Cian, após conversar com Lugh se retirou da tenta, não gostava de ficar sem contemplar o céu por muito tempo. Sua mãe quando o carregava no ventre viajava com seu pai, a cavalo, era um inverno frio e estéril, as estrelas brilhavam intensamente e as auroras boreais dançavam em sua cor esmeralda. Um grupo de mercenários, interessado nos cavalos e em ouro parou-os e em uma covardia estrema mataram a mãe e o pai levando tudo que traziam com eles, o bebê ficara dentro do ventre, adormecido, nem morto nem vivo, até que quando a lua cheia subiu aos céus ele resgou o ventre se sua mãe para ser banhado pela luz, desde então, não se sabe se Cian é um ser do Outro Mundo que viera para a terra, se era a encarnação ou o filho de um deus lunar ou se é apenas um homem de sorte por ter sobrevivido, o que realmente é sabido é que ele constantemente busca forças nas luzes do céu. Ele era incomum, a maioria dos Ellyllons tinha cabelos cor de prata, brancos ou amarelos, mas, Cian tinha os cabelos negros como as asas de Morrigan-corvo, seu rosto era praticamente perfeito, sempre era contemplado pelas donzelas. Apesar de ser um guerreiro extremamente habilidoso, não possuía sequer uma cicatriz, assim que era ferido o sangue retornava para seu corpo e a ferida se fechava como mágica. Isso só reforçava os boatos de que ele não era humano muito menos um elfo, e sim um deus ou outro ser.

Ao amanhecer, os homens estavam bêbados e exaustos, uns dormiam na grama e na lama e outros se empilhavam em cima das mesas e cadeiras da tenda, Lugh estava desmaiado junto de Dagda em seu trono improvisado. Mas no acampamento ao lado uma grande ocorria uma grande movimentação, finalmente para a alegria de Dhagdan, sangue seria derramado na terra e mais uma morte seria atribuída a seu nome. O druida já estava devidamente amarrado, entoando uma canção antiga enquanto lágrimas escorriam pelos olhos que mais pareciam cachoeiras, os homens seguravam os cavalos esperando a ordem de Dhagdan que observava o desespero do ancião. O rei projetava a imagem de Lugh, imaginava que era ele ali a ser despedaçado não um simples velho.

– Tudo bem, ancião. – falou alto Dhagdan para que prestassem atenção nele – Espero que seus amigos druidas entendam que não se deve enganar nem brincar com a inteligência de um rei.

– Não brinco com o senhor ou com qualquer outro que me procura, o elfo é mais inteligente e parece jogar com os deuses, se tu senhor, fosse mais piedoso e justo talvez eles também jogassem com você.

– Pois bem, deixem que joguem os deuses. Soltem os cavalos! – os olhos de Dhagdan brilhavam como faíscas de espadas se chocando.

E então soltaram os dois garanhões, eles se contorciam e relinchavam de dor, as cordas estavam sendo puxadas e pressionadas contra o pulso do druida, sua carne estava sendo esfolada e rasgada, ele segurava as cordas as puxando inutilmente, sua força era nula comparada a dos equinos robustos, sangue jorrava e encharcava as cordas deixando-as escorregadias. Os cavalos se mexiam num frenesi incessante e o velho gritava tão alto que os pássaros se afastaram dali.

Cian estava caminhando e ouvira os gritos, pensando que fosse algum ataque surpresa de algum inimigo correu em direção a ele. Mas o que vira era extremamente cruel, o druida suava como um porco e os homens impediam os cavalos de correrem para prolongar ainda mais seu sofrimento. Ele sabia que não tinha crime mais hediondo, tanto para os homens quanto para os deuses do que matar um sacerdote.

– Em nome de Dannan o que estás a fazer rei abusivo? – berrou.

Cian sacou sua longa espada, estava recém-polida e reluzia ao fraco sol da manhã, cortou como quem corta o ar a cabeça dos dois homens que chicoteavam os cavalos, fazendo Dhagdan sorrir friamente. Quando cortou as cordas que prendiam o ancião aos cavalos, ele se pôs a correr com gritos de horror sem rumo.

– Peguem o druida em nome de seu rei! – exclamou Dhagdan.

– Se algum de vocês se por a correr atrás daquele mísero, cortarei a cabeça e não terá caldeirão mágico que os reviva.

– Ora, quem diria que o homenzinho que vive a sombra de Lugh teria iniciativa. – dizia o rei em tom debochado, com um sorriso provocador – Aquele pequeno e magro jovem não se compara a você, duvido que saiba usar a espada com precisão, por que então meu caro que estás sempre a lamber suas botas?

– Não lambo botas nenhumas. Não estou a sombra de ninguém, não tenho rei, não tenho família, não tenho casa nem teto. – bradava Cian – Como não tenho nada a não ser a mim e minha espada, também não pertenço a ninguém!

– Então se não pertence a ninguém, monstro, posso fazer o que bem entendo com você. Não é propriedade de ninguém, então não há um ser que se importará se eu toma-lo como escravo.

– Nem se tentasse durante cem anos, ainda não seria se escravo.

– Não sou eu quem vai tentar, são meus homens. – Dhagdan se virou para sua guarda e berrou – Prendam este monstro agora, se ele escapar os matarei!


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