O Segundo Reino escrita por Jay


Capítulo 17
XVII - Ethan


Notas iniciais do capítulo

Meus amados, perdoem a tia! Tô com vários projetos na cabeça e várias leituras e a indução da Liga e o vestibular chegando, fim de ano letivo, problemas, etc...
Venho lhes anunciar o fim da nossa jornada no segundo reino! Tô pensando em uma continuação, mas ainda não sei se vocês vão querer ~lálálá~
Esse é o nosso penúltimo capítulo, ou seja, o próximo é o capítulo final.
Enfim, comentem e boa leitura!



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Sobreviver. Muitos dizem que o fazem, mas será que, realmente, fazem? No momento, era tudo que eu podia tentar.

Obstruía-me com toda a expectativa de voltar a sentir a presença de Johnny, no entanto, parecia algo impossível de voltar a acontecer. Cheguei a pensar em voltar ao Inferno Florestal escondida, só para sentir que ele está bem, só para ter certeza... Mas sabia que os outros sentiriam o meu cheiro e me caçariam as cegas até terem a minha cabeça como troféu.

Ah, como sentia falta de falar! Mal lembrava o som da minha própria voz... Não tinha noção de tempo, não sabia se estava ali há dias ou há meses. Fiquei no galpão tempo suficiente para ver o corpo de June começar a apodrecer. Compadeci-me com a cena e enterrei-o. Ela não saberia como viver pode ser bom, só conheceu o lado ruim, mas existia esperança nela... E isso me torturava. Como os humanos podiam nutrir tanta esperança? Por que eu não conseguia? Queria acreditar que tudo acabaria bem, mas as coisas só pioravam.

Certo dia, soube que o meu fim estava muito próximo. Lamentei por um longo período, sabia que era loucura. Senti uma vibração dentro de mim, especificamente, no meu ventre. Sim, teria um herdeiro. Desejei todas as maravilhas para aquele pequeno ser tão jovem e tão condenado! Ah, ele mal sabia que teria um destino terrível...

Cheguei a clamar a Elohim que tivesse piedade e o levasse, mas só tive como resposta um raio partindo o galpão ao meio. Era, com certeza, um não. Agora ele sabia do meu paradeiro, mas não me entregou de bandeja à Lúcifer, afinal, eu já havia sido sua filha. Deixou que o destino me desse uma saída.

Já acreditava, com convicção, que Johnny estava morto. Percebia o tempo passando conforme a minha barriga crescia e o espartilho não mais me servia. Mandava mensagens para o bebê e ele me respondia. Ele foi a minha maior fonte de esperança e estava decidida a negociar, com quem fosse, pelo bem de Ethan.

Ah, meu pobre filho! O que fez para merecer nascer de nós? Demônios odiáveis e pouco humanos... Deprimia-me mais e mais com esse pensamento. Mas estava decidido, voltaria aos reinos inferiores para falar diretamente com Lúcifer. Não pensava mais em matá-lo, de que adiantaria? Agora, tinha alguém que dependia de mim...

Às vezes, achava que o rei não aceitaria minha proposta e logo me mataria junto a Ethan. Mas e se Johnny estivesse vivo? Não fazia a mínima ideia de como seria encará-lo após o abandono. Nem todos os melhores motivos justificariam a sua ausência, ainda mais comigo nessas condições.

Ficar escondida naquele lugar deserto da Flórida foi sufocante, mas não posso negar que Johnny escolheu bem o esconderijo. Ao longo dos meses que passei ali, nenhuma sombra ou celeste foi ao meu encontro, não avistara nem um humano fora June. Fiquei totalmente isolada. Ouvia o som de tiros ao longe, mas nunca ninguém aproximou-se da região.

Voltei a ficar no casebre. Estava mais imundo que antes, mas deu para sobreviver até o parto. Só sobraram escombros no local onde ficava o galpão. A cova de June foi soterrada, porém, sabia que ela não estava dentro da terra, sua alma subiu aos reinos de Elohim, podia sentir.

Ethan me contou a história daquela garotinha.

June Moore, doze anos, órfã após o início da guerra. Seus pais eram originários da Jamaica, mas mudaram as pressas por conflitos no país. Conseguiram abrigo nesta cidade interiorana no norte da Flórida. June era amada por eles. Eram dignos de honra, ficavam frequentemente sem comer para dar o pouco de alimento que tinham para a pequena June, que precisava crescer forte. Por razões que eles desconheciam, deu-se início uma grande guerra, que logo chegou até eles. Soldados fuzilaram os pais de June e ela observou a cena escondida, vendo as balas atravessarem violentamente a carne dos progenitores. Soltaram os últimos suspiros nos bracinhos frágeis da garota. Soluçava questionando o porquê de ela ter sido polpada. Os pais a fizeram prometer que ela se esconderia até encontrar ajuda e seria forte, honrando o seu povo e sendo feliz...

Foi isso que me chamou atenção nela: ela era feliz e amada. E por um simples pedido dos pais decidiu ser forte e ter esperança de honrar os pedidos deles... O brilho no seu olhar me dizia que ela acreditava que eu era a ajuda que esperava. Mas cheguei tarde e ela se foi.

Ethan dizia que eu não poderia fazer nada por ela e eu sabia disso, mas, mesmo assim, não deixava de ser doloroso. Doía saber que alguém já esperou algo bom de mim e eu não fui capaz...

Conforme Ethan ia crescendo ia sentindo que a hora de partir para os reinos inferiores se aproximava. Logo que, não aguentaria viver escondida e sozinha novamente. A capacidade dele se comunicar comigo ficava cada vez mais fraca, mas ele dizia ser normal, afinal, também era humano e bebês são incapazes e dependentes e ele não seria diferente. Mas me disse que continuaria a falar por pensamento, não com tanta frequência e raciocínio lógico, mas sim, como um bebê.

Quando o dia do parto chegou, me enchi de medo. Sentia-me emocionada e desabilitada a passar por aquele processo sozinha, quase cai em lágrimas, mas, meu filho era mais sensato e dizia que era a hora e não dava para esperar. Eu me recusava a perdê-lo, sabia que teria algum tempo com ele, mas não queria a solidão me assombrando novamente. Ethan começou a chutar o interior do meu útero, o repreendia, mas ele precisava sair. Finalmente, concordei e deitei no chão sujo, ele disse que amava a mim e a Johnny e sempre seria grato pelo sacrifício. Não aguentei e chorei, o limite havia rompido, precisava do apoio do meu Johnny... Soltei um urro sentindo a dor invadir meu corpo e cessar poucos segundos depois, ouvi o choro de Ethan e chorei mais ainda.

Seu rostinho contorcido pelo impulso das lágrimas cortantes, seu corpo sujo. Peguei um cobertor e o limpei cuidadosamente, como era frágil aquela criaturinha... Coloquei-o no meu seio e o observei sugar o alimento como se já soubesse que deveria fazê-lo. Seus olhos pequenos eram negros e idênticos aos de Johnny, sorri para ele e o acariciei. Ethan foi o melhor presente que eu pudera receber do meu Johnny...


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comeeeeeeeeeeeeeentem, seus lindos! *--*
Até mais.



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