O Segundo Reino escrita por Jay


Capítulo 16
XVI - Será o fim?


Notas iniciais do capítulo

Gente, perdoem a demora, mas estava adiantando os próximos capítulos e tal. :3 Bom, espero que aceitem essa mudança na história. Digamos que estamos chegando na reta final e muita coisa está por vir...
Comentem, reclamem, etc. Conversem comigo. *-* Algumas pessoas responderam o que eu perguntei e achei ótimo as idades. Tenho dezesseis, só para constar. ^_^
Enfim, divirtam-se!



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Mal podia imaginar o que viria a seguir...

Me arrepender de ter matado a Allie? Nunca. Mas não foi a coisa mais inteligente a fazer naquele momento pré guerra. Acabei descobrindo do jeito mais doloroso possível.

Após o ocorrido, Johnny ficou em um transe profundo. Seus olhos não piscavam, seu rosto estava pálido e sério, uma ruga estampava a sua testa. Cheguei a chamá-lo e sacudi-lo, no entanto, ele mal se mexia na cadeira, me ignorava friamente. Aguardei a sua volta com paciência.

Uma névoa começou a surgir lá fora, estava ao lado da janela e via a aproximação aumentar. Sentia calafrios e não era por causa do frio intenso do reino, algo estava me incomodando, só ainda não sabia o quê ou quem...

A couraça escura que eu chamava de céu estava mudando de cor, um tom de vermelho como brasas começava a aparecer. Estava agitada, sentia um peso enorme nas costas, não era o peso das asas, algo maior, invisível...

Decidi ir a floresta tentar descobrir o que acontecia, abri as asas e a janela, quando me preparava para pular, Johnny me agarrou ofegando. Apertava meus braços fortemente e eu tentava sacudir as asas; não aguentando mais, falei:

— Solte-me! Preciso descobrir o que houve. — consegui virar e fitar suas pálpebras fechadas. — Por favor.

— Cala essa boca, sua inútil!

Eu estava totalmente vulnerável, qualquer movimento dele poderia me atirar pela janela sem tempo para levantar voo. Antes de analisar a situação, paralisei. O modo como ele gritou comigo... Despejando as palavras rasgadas pela sua voz grave. Fios invisíveis me cortaram. Havia salvo sua vida! Como podia ser tão cruel comigo?

— Eles estão vindo...

A melancolia nos seus olhos marejados me afetou. Senti minhas forças esvanecerem, os objetos girarem, o odor da carne podre de Allie invadia minhas entranhas com vigor. Com muito esforço, proferi as palavras que me perturbavam.

— Quem está vindo? — minha voz saiu como um sussurro seco no vácuo.

— Meus irmãos. Lúcifer mandou eles buscarem a sua cabeça, Haven. — recuei bruscamente ao ouvir a notícia. Antes de cair, vi uma lágrima brilhar rolando pela face de Johnny.

Não senti dor ao chegar ao chão, mas ouvi o típico baque de algo cair. Não pude abrir os olhos. Senti uma brisa mexer nos meus cabelos, meu vestido também dançava a batida da corrente fraca de vento. Ouvi um chocalhar de asas familiar, uma mão segurou minha cabeça, gotas finas, como uma garoa, caiam sobre meu rosto.

— Você precisa fugir... — a voz dos sonhos. Ergui a mão tentando alcançar seu rosto, tombei-a no queixo livre de pelos, suspirei ao sentir a saudosa maciez ao movê-la para as maçãs. Esforcei-me para chegar até seus lábios, os lábios que tanto conhecia...

— Beije-me. — falei sorrindo.

Podia sentir a energia do seu corpo chegando mais perto, como em câmera lenta. O aroma de rosas pairava no ar, me trazendo lembranças falhas. Uma garota de cabelos negros com pontas tingidas de vermelho beijava um garoto esbelto, branco, olhos pequenos que mudavam de cor com a iluminação. A luz era fraca e os corpos dos dois roçavam como sombras, o aroma aumentava, eles sussurravam, mas eu não conseguia compreender o que diziam. De repente, a garota olhou para o lado, diretamente para mim, observei suas feições e ela era eu...

Arqueei o corpo deitado no chão. Meus olhos ardiam, pareciam queimar. O rapaz dos sonhos não estava mais comigo, estava só. Olhei em volta, era um casebre de madeira, as paredes e o piso tinham um aspecto molhado e sujo, nada de móveis, nada de pessoas...

Ao meu lado, um papel meio amassado reluzia. O peguei e senti o aroma das mesmas rosas com que tivera aquelas lembranças. Conhecia aquela letra. Apertei os olhos para ler.

"Haven,

Lamento te deixar só, mas precisa ficar escondida. Eles não podem te encontrar.

Cometeu o pior dos erros ao matar o oráculo dos sete reinos. Afinal, nada poderia destruir um oráculo... Consegue perceber a gravidade? Você é muito forte.

Temo pelo nosso bem. Não sabia que uma mortal poderia tornar-se assim. Mas ficará em segurança aí. Mate todos que ver. Não pense, não tenha pena, não fraqueje.

Logo estarei ao seu lado. Aguente firme.

Do seu Johnny."

Deixei o papel cair. A dor invadiu meu cérebro o turbinando com todas as memórias esquecidas. Recordei quem eu era, quem era o Johnny e o que eu havia feito.

Eles queriam me matar... Eu era a rainha e agora uma fugitiva. Escondida em algum lugar no plano terreno. Senti a atmosfera da Terra, mas não me senti humana outra vez. Não havia antídoto, era um demônio; segundo Johnny: a mais forte que todos já viram. Não me orgulhava, tinha medo, muito medo. Apesar de farejar sangue humano e querer tomá-lo...

Minhas duas faces travavam batalhas dentro de mim. Uma queria procurar ajuda; a outra berrava que mataria a ajuda para beber o seu sangue. O odor ficava mais intenso a medida que o meu corpo reagia aos impulsos de vasculhar o casebre. Não tinha ninguém.

A pintura amarelada da porta descascava, também havia buracos de balas e a fechadura estava quebrada. Causada, provavelmente, por um arrombamento. Uma mesa virada com apenas três pernas repousava no que parecia ser a sala. Apesar de todo o lixo, não avistei ratos, só garrafas quebradas, porta-retratos sem fotos... Quem morava ali devia ter sido arrancado a força.

Parei de procurar coisas no interior do lugar e me foquei em abrir a porta. Ela caiu a minha frente quando a toquei. Revelou um mundo novo, que eu nunca tivera visto antes. Silêncio absoluto, sem casas perto, sem árvores, só um galpão de aspecto vazio. Era como se uma bomba houvesse caído, mas não afetara nem a casa, nem o galpão.

O cheiro de sangue pulsante vinha do tal galpão. Cerrei os olhos, não conseguia saber se era um homem ou uma mulher, só parecia um ser fraco. A força vital estava o abandonando, a pulsação diminuía. Precisava ir até lá.

O barulho dos meus pés tocando a superfície da terra me deixava agitada, tremia de ansiedade. Um cadeado quebrado pendia no trinco feito de pau, o deixei cair e entrei. O lugar parecia tão vazio, mas meus instintos me diziam o contrário. Uma escuridão da qual estava acostumada, fácil de enxergar. Ouvia sua respiração, aproximei-me cautelosa, afinal, quem me garantia que não era uma armadilha de Lúcifer?

Vi seu tornozelo magro se mexer, olhei melhor e era uma jovem. Tive um ímpeto de pena na hora que observei o seu estado. Roupas rasgadas, pele suja de fuligem e poeira, lábios finos, ressecados. Abaixei e falei em inglês:

— Como você se chama?

Ela recuou um pouco, tossiu e falou no mesmo inglês.

— June. — sorri. Sua voz era doce, lembrava a de uma amiga de infância.

— Onde estamos?

— Flórida.

Aquele lugar não era nem de longe o que eu esperava que fosse uma cidade do estado da Flórida. Mas não quis questioná-la mais, ela estava muito fraca. Sentei ao lado de June e assisti sua morte chegar. Ela morreu me olhando, uma esperança brotava em seus olhos castanhos quando paralisaram. Vi sua vida se esvaindo do corpo e passei a mão fechando seus olhos.

Passei a noite ali com o cadáver ao lado. Olhava pelos buracos do telhado e via estrelas, sentia falta de vê-las. Sentia falta de Johnny, torcia para que estivesse bem e pudesse me encontrar antes dos outros... Meu destino estava à deriva.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :D
Até o próximo!



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