That's My Secret escrita por Clary Avelino


Capítulo 3
Grite


Notas iniciais do capítulo

Eu vi que a fic teve 36 visualizações no total mas nenhum comentário :/ Mesmo assim, favoritem ou acompanhem, qualquer coisa que faça parecer que tem uma opinião sobre a fic! Obrigada pras minhas duas leitoras não fantasmas e todos, bem-vindos!



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Fevereiro

Cheguei em casa e quis apenas me jogar na cama, meus pais foram me buscar no colégio e a diretora contou do incidente das pancadas, minha mãe fez um alvoroço e o que era para ser uma tempestade num copo d’água, se transformou num dilúvio em tampinha de refrigerante.

Para a sorte do infeliz, assim que ele saiu da enfermaria seus pais chegaram para leva-lo de volta para casa, resumindo, ele não foi a nenhuma aula – o que acho que todos já sabiam. Em outras palavras, a única coisa que ele fez naquela porcaria de colégio foi se bater em mim e tirar qualquer impressão boa que ele poderia causar em mim – nem tanto, mas abafemos esse lado da conversa.

A semana passou se arrastando, no mesmo passo de lesma que eu estava no primeiro dia de aula, a diferença era que nada havia a jogado no chão. Infelizmente.

O dia mais esperado da semana havia chegado, a famosa e querida sexta-feira, amada por todas e odiada pelos outros dias da semana que sentem inveja dela.

A primeira aula era de literatura, aula legal, professora legal, matéria legal, tudo se encaixava num perfeito pacote. Essa era a única matéria que eu conseguia passar com 10 fechado em todas as unidades, pois a única coisa que acrescentava um pouco de paciência á minha vida eram os livros. Talvez minha válvula de escape para todo esse drama.

A professora se apresentou e já foi puxando assunto sobre a vida e falando de várias coisas que incrivelmente, me entediaram.

Abaixei a cabeça e fechei os olhos, desejando intensamente que aquela aula ficasse tão legal quanto as outras.

– Clarissa, por que está com a cabeça abaixada? Ela está doendo? – Adriana perguntou, com uma mistura de preocupação e cuidado.

– Eu quero morrer. – disse baixinho, olhando em volta dos meus braços, o que não era muita coisa, pois meus cabelos cobriam todo meu campo de visão.

– Por que exatamente, você quer morrer, Clary? – ela perguntou mais uma vez, agora sentada ao meu lado, passando a mão no meu cabelo.

– Eu odeio esse ano, odeio essa classe, odeio a oitava série, odeio esse colégio, odeio estudar – choraminguei – e odeio minha vida.

– Então, você quer morrer porque perdeu de ano. Certo. Mas sua vida está só começando, há muitas coisas pelas quais valem a pena viver. Por que morrer por algo tão banal? – sua voz me acalmou e eu levantei a cabeça, enxugando meu rosto com a manga do meu suéter.

– Por que viver por algo tão banal? – abaixei a cabeça novamente, ninguém daquela sala precisava apreciar meus momentos de fraqueza.

– O que, exatamente, é banal? – sua voz tinha o dom de ir atrás da parte mais calma do meu corpo e puxá-la para fora.

– Esperar que um dia as coisas melhorem. Nunca melhoram, esse é o ciclo da vida. A tendência é piorar. – resmunguei alto, percebendo que todas aquelas pessoas estavam prestando atenção em mim. Vão estudar idiotas.

Uma voz irritante veio do fundo da sala.

– Você devia deixar essa negatividade em casa e trazer seu lado positivo para o colégio! – levantei os olhos e me deparei com Bárbara duas fileiras para a direita, gargalhando – Oh, que indelicadeza! Esqueci que ele não existe! – ela pôs a mão na boca que agora estava em forma de o.

Bárbara Bailey, garota chata, popular, metida e muito sem sal. Seria mais clichê se ela fosse loira.

Respirei profundamente e soltei as palavras.

– Você devia trazer seu cérebro para o colégio! Oh, que indelicadeza! Esqueci que ele não existe. – uma explosão de risadas surgiu em minha audição como ruídos irritantes, ele não poderiam rir mais baixo e menos parecidos com hienas? – MAS QUE DROGA! VÃO ESTUDAR! VOCÊS NÃO TEM COISA MELHOR PARA FAZER DO QUE RIR DA DESGRAÇA ALHEIA? – explodi, tirando de mim toda a raiva que estava acumulada pelos últimos minutos.

– Melhor? – a professora que ainda estava na minha frente perguntou, querendo dar risada mas com a velha expressão de quem vai dar sermão – Não xingue na minha aula.

– Desculpe – respondi muxoxa.

– Tudo bem – sorriu serena e levantou, caminhando até sua mesa, ao chegar ao local, pegou um piloto preto e escreveu em letras de forma gigantes no quadro GRITE. Segundos depois virou para a classe com um sorriso um tanto travesso no rosto – Façam um circulo com as cadeiras. Agora.

Todos se entreolharam compartilhando aquela onda de confusão, levantei arrastando minha cadeira para o circulo que estava sendo formado. Quando finalmente o ruído das cadeiras parou, tentei me concentrar para não ouvir os murmúrios intermináveis que os alunos emitiam.

– Tudo bem classe. Sei que estão confusos sobre isso, mas vamos fazer uma atividade diferente. Uma coisa que nos faça liberar todos os sentimentos presos e que estão entalados na garganta, nos sufocando – pausou, respirando ainda com aquele sorriso de quem poderia abrigar o mundo debaixo do braço – Algo me diz para começarmos com Clarissa, mas acho que todos queremos ouvir essa por último. Então passamos para nossa amiga Bárbara, já que começou com as piadinhas, que tal termina-las?

Um olhar torto e muito mal encarado foi enviado a Adriana vindo de Bárbara, mas mesmo assim, ela sorriu plasticamente e pigarreou.

– Hoje eu acordei feliz! Mas depois que vi Clary nesse humor, meu coração foi despedaçado! Acho que nossa amiga é muito carente ou sofre de depressão!

– EM DEPRESSÃO SUA CARA VAI ESTAR AMANHÃ! – rosnei, sentindo um par de braços me segurarem quando levantei para quebrar a cara daquela garota. Sentei novamente, vendo a onda de cabelos loiros chicotearem em minha cara.

Nem me importei em ver quem tinha me segurado, era apenas um aluno qualquer querendo impedir uma briga qualquer. Não seria ninguém interessante. Até porque Bennet estava do outro lado da sala com os olhos levemente arregalados.

– Exatamente isso que eu estou falando! Impor os sentimentos assim! Não que seja necessário uma ameaça junto a ele, mas tem que colocar os sentimentos para fora! Falar o que se passa em sua cabeça nesse exato momento! Mas sem piadinhas por favor. – olhou diretamente para Bailey, que parecia tão assustada quanto Luigi.

Uma voz foi ouvida do meu lado, um garoto. O que me impediu de bater em Bárbara.

Agora, ele parecia magro demais, alto demais, branco demais e com cor de menos. Se não fosse toda aquela falta de vida que ele transparecia, seria muito bonito. Seus cabelos eram loiros, tinham um brilho que não estava presente em si, tinham cachos bagunçados, mas bonitos. Seus olhos eram tão castanhos que provavelmente, eram mais bonitos que muitos azuis por ai. Sua boca era fina, sem cor, mas sexy de um jeito único. Mesmo com toda aquela beleza escondida, me perguntei como ele conseguiu me segurar com tanta força, sendo tão magro.

– Posso falar o que eu estou sentindo no momento? – Adriana assentiu, sorrindo por alguém ter se prontificado á tarefa – Mas envolve uma pessoa, sem piadas, só o que eu estou sentindo lá no fundo. Ainda posso? – assentiu novamente, com um olhar curioso por trás do sorriso – Eu estou me perguntando por que diabos segurei Clarissa. Do jeito que a garota falou dela, merecia ter apanhado mesmo. Meu único arrependimento é esse. Mas sabem o que dizem, não se pode ir para enfermaria duas vezes na mesma semana. – gelei. Como ele sabia que eu fui para a enfermaria?

Arrastei os olhos com toda vontade do mundo até Bennet, que sorria prontamente e deu uma risadinha quando todos estavam confusos sobre o comentário do garoto que até um minuto atrás, ninguém sabia quem era.

– Sou Eduardo Drummond. Mas acho que a sala inteira sabia, menos você.

– Deve ser porque eu cuido de minha vida. Não fico dando opinião na vida dos outros.

– Cuidado Eduardo, daqui a pouco ela voa em cima de você para te bater também. E você iria ter evitado uma briga por nada, porque ela iria para a enfermaria de qualquer jeito – mais uma vez, aquela voz irritante me fez querer ser totalmente surda. Ou ter um revolver na mão.

– Por favor, eu não bato em garotas.

– Mesmo que batesse, todo mundo sabe que eu iria para diretoria. Quem estaria na enfermaria era você. – seu sorriso era debochado, de um jeito que eu não gostei nadinha. Soltei minhas pernas e as deixei jogadas, apoiei minha nuca na cabeça da cadeira e joguei meus cabelos para trás, massageando minhas têmporas de olhos fechados.

– Você bateria em mim?

– Ao contrario de você, meu querido Eduardo, eu não vejo problema em bater em garotas. – finalmente eu estava tirando proveito de minha situação.

Por três segundos, pensei em limpar minhas lágrimas e provavelmente o rastro preto causado pelo lápis de olho exagerado. Clichê demais.

Então, ela tem senso de humor. – sorri vagamente, nem querendo mudar minha posição para olhar quem comentara, como se eu não conhecesse essa voz – Eu vou ter que aprender a lidar com essa bipolaridade que vive em você, Dawson?

– Não sei Bennet, você decide com o que vai lidar.

– Quem é você, Clarissa Dawson?

– Quem sou eu? Depende da pessoa que você quer que eu seja, Bennet. Se bem que ver você perdendo a paciência por mim, deve ser uma maravilha.

Clary, ver você perdendo a paciência por mim é uma maravilha, lembro bem do nosso primeiro encontro. Pena que apenas eu e você estávamos na enfermaria, as outras pessoas poderiam ver como você é interessante perdendo o juízo.

– Bennet – sentei ereta, o encarando profundamente e pensando nas coisas que iriam sair de minha boca – eu sou interessante de qualquer jeito e sei fazer coisas interessantes de qualquer jeito. Mas você nunca verá nada disso. E eu vou ficar quieta pois nessa sala existem algumas crianças que abrem a boca espantadas quando chegamos em assuntos que envolvem garotos e garotas.

– Garota, só porque você é uma puta não significa que todos nós tenhamos que ser especialistas em sexo ou não termos vergonhas do assunto.

Senti meus pés puxarem um impulso da cadeira e meu corpo ser jogado para frente, mas como sempre, algo me interrompeu antes que eu chegasse á puta mimada da Bárbara. Mas dessa vez não fora Eduardo quem me segurara.

– Me solta Bennet. – gritei, mais uma vez a sala estava espantada com minha reação. Qual é gente? Fiz isso duas vezes só hoje, se acostumem, temos pelo menos mais cento e noventa e cinco dias juntos para eu ter três surtos por dia.

– Gravou meu perfume? – estava na hora, de encontrar alguém com a mesma linha de pensamentos sarcásticos que eu. Ou ele estava acima de mim? Impossível.

Me solta Bennet. – repeti, expressando a fúria por trás de minha voz, eu provavelmente estava descabelada e com o rosto ainda manchado de preto. Será que me mandariam para um reformatório?

– Você não vai bater em Bárbara, me ouviu? Apenas ignore o que ela disser, respire fundo e finja que ela não está falando contigo.

– É porque não foi você quem chamaram de puta! BENNET ME LARGA AGORA!

Meu corpo foi puxado sem pudor, os braços que seguravam os meus segundos atrás estavam em meu pescoço agora, uma de suas mãos desceu para minhas costas e a outra parou em minha bochecha.

– Não fui eu, porque se me chamassem de puta eu iria rir. Agora você não. Já disse, finja que não foi com você. Você pode ser muitas coisas de ruim, mas puta eu sei que você não é.

Você não sabe de nada. – soltei pesadamente, suspirando e sentindo novas lagrimas escorrerem pelo caminho que já estava seco.

– Sei que você é inteligente o bastante para escolher com quem vai trocar saliva. – sem sarcasmo, sem intenções por trás das palavras. Ele parecia apenas um garoto tentando acalmar uma garota – Passei a semana te observando, Dawson. Talvez devesse sair desse mundo onde você vive e não deixa ninguém entrar.

Fui envolvida num abraço, que por alguns segundos pareceu ser a válvula de escape de aquilo. Me julguem, mas um abraço era tudo que eu precisava. Não especificamente de Bennet, de qualquer pessoa – exceto Bárbara –, naquele colégio. Ou na rua, ou em casa. Eu precisava ser abraçada.

Encostei a bochecha úmida no braço de Luigi, fazendo questão de molhar seu uniforme branco e de sujá-lo de preto. Puta merda Clary, ele está te ajudando, não seja uma cretina apenas uma vez.

Ele apertou o abraço e eu levantei o rosto, observando os detalhes dele. Alto demais, nada magro, era forte demais para a oitava série. Tinha algo em seus olhos que acalmou a fera que estava presa dentro de mim. E que olhos. Azuis, seriam mesmo azuis ou aquilo era uma miragem perfeita demais? Seu cabelo extremamente preto, caía abaixo de sua orelha, bagunçado e lindo. Me perguntei como era enfiar os dedos ali dentro e quem sabe os puxar. Sua pele era branca, corada nas bochechas por natureza. E seus lábios... Me perguntei mais uma vez se estava diante de uma miragem. Eram finos, não finos demais, mais do jeito certo, do jeito sexy e bonito. Tinham uma cor forte, do tipo que gritava que com dois minutos sendo usados em algo, ficariam muito vermelhos e mais sexys do que já eram.

14 anos Clarissa, pare de pensar como quem tem 16 ou 17.

Sei também que essa é uma máscara que esconde quem você realmente é. E acredite Clary, eu ainda vou desmascará-la.

Toda aquela admiração foi substituída por um ódio.

Levantei as mãos e empurrei seu corpo para longe do meu.

– VOCÊ É UM TREMENDO BABACA, BENNET! EU NÃO SEI COMO POR DOIS SEGUNDOS ACHEI VOCÊ UMA PESSOA LEGAL, PORQUE VOCÊ NÃO É! VOCÊ É UM IDIOTA! IGUAL A MAIORIA DAS PESSOAS DESSE COLÉGIO!

E mais uma vez, voltei para minha cadeira com raiva, fazendo cabelos voarem e todos pararem para olhar a maluca da sala, mais uma vez. Talvez eu devesse cobrar para eles assistirem ao show de horrores.

– Você devia ir para um motel com seu namoradinho, Clarissa. – mais uma vez, mais uma vez. Será que com tantas pessoas, ela tinha que infernizar logo á mim?

– Vamos lá Barbie, todos nós sabemos que quem quer sentar no colo do Bennet e gemer loucamente é você, não eu.

– Co...

– CHEGA! CHEGA! CHEGA! CHEGAAAAAAAAAAA! – num pulo, Adriana estava no meio da sala gritando e não espantando os alunos, que já estavam acostumados com gritos inesperados no meio da sala – Isso era o que vocês estavam sentindo? O que estava entalado na garganta de vocês? – assenti, ainda séria – Meu Deus, não quero nem saber o que passa no resto da sala. – ela olhou para três pessoas em especial, que eu nem precisarei citar nomes – Vamos fingir que essa aula nunca aconteceu e nós estávamos nos conhecendo como pessoas normais em sua primeira aula. Não sei porque diabos vou perguntar isso. Mas alguém aqui tem algo para dizer? – uma garota levantou a mão, ela parecia estar assustada de um jeito engraçado, como se apreciasse aquela briga como alguém aprecia um grande sorvete num dia de verão – Que não tenha o nome de nenhum dos três. – ela corou e abaixou a mão em seguida – Existe alguma ofensa? Algo por trás? – balançou a cabeça, sorrindo maliciosamente, claro que existia algo por trás – Vá em frente.

Ela suspirou profundamente e abriu a boca.

– Bem, eu devo admitir que durante toda essa briga maravilhosamente interessante, a única coisa que me chamou realmente atenção foi como a Clarissa fica sexy e atraente com esse cabelo bagunçado e com a maquiagem borrada. – soltei uma gargalhada e limpei a maquiagem por impulso, Adriana rolou os olhos como quem já havia desistido daquela turma.

A garota tinha cabelos coloridos e interessantes, seus olhos eram amigavelmente castanhos e ela era pequena, talvez oito centímetros menor que eu. Se não fosse pelos seus olhos, extremamente contornados pretos, ela pareceria uma boneca de porcelana.

Seu nome era Isabella.

E foi assim que eu arranjei minha primeira amiga.


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Notas finais do capítulo

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