Ainda Bem ( Marisa Monte )

Porque ninguém
Dava nada por mim
Quem dava eu não tava a fim
Até desacreditei
De mim

Ter vinte e três anos, trabalhar em uma multinacional e ser bem sucedida não era tarefa fácil. Havia as noites em claro preparando projetos, os dias enfiados no escritórios e a total de vida social, mas ela não podia reclamar, aquela fora a vida que escolhera. Claro que todo sucesso era acompanhado dos olhares invejosos, e pensar que quando saíra de casa em busca daquele sonho- que para muitos era impossível- sentiu-se sozinha e por muitas vezes pensou em desistir.

Só que conseguiu reunir forças se forma em arquitetura e transformar seu estágio em um empego efetivo. E desde então sua vida tomara um rumo que se resumia em trabalhar comer e dormir. Era uma moça bonita, aos vinte e três anos possuía curvas nos lugares certos, a falta de busto (apenas para ela) era compensada por um belo par de pernas.

Em sua vida dois ou três casos apareceram. O mais marcante foi Kakashi, ele era mais velho que ela, e fez com que se sentisse uma verdadeira mulher. Não era a chegado a jogos infantis e não queria um relacionamento meloso. Passaram seis meses juntos, mas no fim ambos tinham caminhos diferentes a seguir, ele viajou para o exterior e ela continuou a sua vida.

Existia Lee. Um cara da parte jurídica da empresa. Vivia passando antadas e mandando bilhetinhos, Sakura apenas sorria , mas nunca respondia a nenhum dos presentes que recebia. Lee parecia um cara legal, mas não era o seu tipo de cara, e naquele momento ela não queria ninguém ocupando seu coração para depois fazer seus olhos ocuparem-se com lágrimas.

O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão quem diria
Que ao meu lado você iria ficar

A primeira vez que ouviu falar dele foi numa reunião sobre o novo projeto que o escritório recebera. Havia sido designada para desenhar toda a planta de um prédio que seria a sede de uma empresa de telecomunicações. O contratante nada mais, nada menos, que Sasuke Uchiha. Ela ouviu os cochichos de seus colegas de trabalho, parecia que ela era a única ser humano que ainda não tinha ouvido falar dele, pelo jeito a fama dele era grande. E naquele momento se sentiu curiosa.

O primeiro encontro aconteceu quatro dias depois. Era necessário que se conhecessem para que ela pudesse ter noção do que ele queria par ao projeto. Não se falaram muito, apenas o essencial. Ele deixou claro que era um homem prático e objetivo, e ela deixou claro que conseguiria captar a essência do trabalho dele e aplicar no projeto que desenvolveria. Naquele momento ele não parou para observar o jeito que ela mexia o nariz quando falava sobre o trabalho. E ela não observou que ele sempre mexia na caneta quando algo não o agradava.

A primeira vez que se encontraram fora do ambiente de trabalho foi em um restaurante movimentado no centro da cidade. Sakura adquirira o costume de jantar sozinha nas noites que não passava trabalhando, e como não tinha habilidade na cozinha e adorava uma boa comida, começou a frequentar diferentes restaurantes. Naquela noite ao entrar no salão viu que próximo a janela, bebendo o que aprecia ser vinho e apreciando a música Sasuke estava perdido em pensamentos. Ele virou o rosto e seus olhos se encontraram.

Naquela noite jantaram juntos. Não houve muita conversa. Ele não era o tipo de cara falante, e ela era a garota tímida que observava e aguardava para poder falar. No final ambos gostaram da noite, era bom ter companhia, não falaram de trabalho. Ele falou sobre vinhos e ela sobre livros. Entendiam-se bem na conversa.

O meu coração já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão
Tinha sido maltratado
Tudo se transformou

O segundo, terceiro e quarto encontros fora do ambiente de trabalho foram iniciativas dele. Foram a uma biblioteca antiga, a uma adega histórica e a um restaurante de comida italiana. O projeto continua de vento em poupa, mas naqueles encontros eles não falavam sobre plantas de prédio e o quanto aquilo estava dando trabalho para Sakura.

Ela começou a se acostumar com a presença dele, e admitiu que sentia falta nas semanas que não se viam e se perguntava se ele sentia o mesmo, já que a expressão de jogador de pôquer dele não deixava transparecer nenhum tipo de sentimento. Ele ria raramente, mas parecia confortável ao lado dela, e isso fazia o coração de Sakura sorrir. Já ele adorava ver o sorriso dela e se sentia a vontade , como nunca se sentira com nenhuma outra mulher.

O primeiro beijo aconteceu no sexto encontro. Ela não sabia explicar como, mas em dado momento estavam perto demais, a música do restaurante era romântica e tinha acabado de beber o vinho antes de jantarem. O beijo teve gosto de vinho branco e os lábios dele eram duros e macios ao mesmo tempo, um paradoxo que ela gostou de provar. Quando seus lábios se separaram o silêncio que reinou não foi incomodo, pelo contrário, estava agradável para que pudessem refletir o que acabava de acontecer.

Agora você chegou
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

O projeto chegou ao fim. Foram seis meses de trabalho duro e encontros com ele. E agora havia acabado. Não tinha como não pensar nas possibilidades que existiam. Talvez não se encontrassem mais agora que já não haveria vínculo. Quando ela se lembrava dos momentos que passaram juntos, nos passeios que fizeram a luz do lar, dos beijos que trocaram, sentia seu coração se apertar. Ela estava apaixonada, e o que ele pensaria sobre aquilo?

O último encontro aconteceu duas semanas depois que o projeto acabou. Ela estava com fome . O mesmo restaurante, a mesma mesa, e ele estava lá. Não é preciso imaginar muito para saber o que aconteceu. Jantaram juntos, ele escolheu o vinho e ela o prato. Conversaram. A mão dele tocava a dela em cada momento. Os olhos não se desviaram.

— Sakura —A voz dele era firme e profunda — quero mudar algumas coisas lá em casa, você se incomoda de ir comigo ver?

Ela entendeu. Era a forma dele de convidá-la a participar de sua vida. Aquela foi a primeira vez que entrou na casa dele e no coração, de onde nunca mais saiu.