A substituta escrita por AnneHwang


Capítulo 22
Uma garota muito ingênua




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Fui o mais longe do estúdio que consegui, parei próximo a uma praça e deixei meu corpo cair me sentando em um banco de madeira observando a rua. Eu ainda me sentia entorpecida por aquela dor em meu peito.

Madre superiora... Meus sentimentos continuam a aflorar. Gostaria de ser invisível pra que ninguém percebesse o que sinto. Se eu desaparecesse... Ninguém me notaria, não é?

Fiquei nessa conversa interna como se a madre pudesse me ouvir, nunca desejei tanto os conselhos dela como agora. Comecei a fitar o nada.

—Tay... —Ouvi alguém me chamar, olhei automaticamente pra direção mesmo achando que aquela voz era fruto da minha imaginação.

Meus olhos estavam embaçados, alguns segundos depois, consegui focalizar quem me chamava. Era o Alexy, ele estava sentado na minha frente, mas do outro lado da rua. Ele me encarou com uma expressão de quem já estava ali há algum tempo.

—Alexy... Consegue me ver? —Disse ainda entorpecida. Ele sorriu.

—Claro. — Ele disse de uma forma calorosa. — Estava te procurando.

—Você estava me olhando... —Olhei pra baixo.

Ele se levantou e caminhou até mim, segurou o meu pulso e puxou delicadamente.

—Você não pode desaparecer —Eu olhei pro rosto dele. —Precisamos comemorar a sua primeira gravação. Venha. —Ele me puxou com mais força pra que eu me levantasse.

Fiquei de pé ainda surpresa, ele continuava segurando o meu braço fazendo com que eu o seguisse.

—Aonde vamos? —Perguntei voltando a mim.

—Vou fazer você se sentir melhor. —Paramos em frente a uma moto.Ele me estendeu um capacete e colocou outro em sua cabeça.

—Vamos dar uma volta nisso? —Era óbvio, mas ainda assim senti a necessidade de confirmar.

Ele sentou na moto ignorando a minha perguntou e esperou até que eu subisse e segurasse firme nele. Ele deu partida e manteve uma velocidade razoável.

—Olá! Olá! —Ele gritou pras pessoas da rua com a moto ainda em movimento.

Eu me perguntei qual era o segredo dele pra ele estar sempre tão feliz. Encostei meu queixo em seu ombro, deixando o peso da minha cabeça apoiado nele.

—Alexy, você gosta mesmo de festas. —Disse monotonamente.

—Festas são Legais. —Ele gritou. —Você não está feliz, não é?

—Me desculpe. —Murmurei.

—Então vou te fazer chorar bastante. —Ele ainda tinha o tom brincalhão na voz.

Ele acelerou a moto, virou de uma vez pra direita, o movimento inesperado fez meu estômago revirar e eu me segurei a ele com mais força.

Quando ele parou a moto, entramos em um restaurante. Ali eu entendi o porquê da frase: ‘’Então vou te fazer chorar bastante’’ que ele me disse. Ele pediu uma comida tão apimentada que meus olhos realmente lacrimejaram, parecíamos dois bobos chorando.

—Esse restaurante tem dez níveis de ardência. —Ele disse orgulhoso. —Esse é o oito, vamos até o fim?

Eu olhei pra ele surpresa, eu estava me entupindo de água apesar de saber que aquilo não aliviava a ardência. Mas olhei pra ele decidida.

—Aceito o desafio!

Era a chance de eu me superar e fazer algo bobo que eu nunca tinha feito, ou acabar indo para o hospital com algum problema no estômago, mas ainda assim conseguimos terminar. Senti que poderia ter ido até além do nível dez.

Saímos dali orgulhos e fomos direto para uma sorveteria, aquilo me deu um alivio instantâneo pra ardência na minha língua.

—Tay —Ele disse de boca cheia. —Como você chorou muito, agora irei fazer você sorrir. —Ele disse confiante passando o braço pelo meu ombro e me impulsionou pra frente pra continuarmos andando.

Fomos até um ponto de ônibus, Alexy não quis me dar muitos detalhes do porque estávamos esperando, mas ele disse que eu me sentiria melhor quando déssemos uma volta nele. Estar passando um tempo com ele realmente estava me animando, talvez esse fosse o dom dele, fazer as pessoas felizes.

Quando o ônibus chegou nós entramos e nos sentamos no fundo.

—Esse ônibus é um segredo só meu. —Ele disse de forma inocente. —Vou contar apenas para você. Nessa linha não há muitas pessoas, e demora uma hora pra fazer o percurso. Quando me sinto triste faço esse trajeto e meu coração se acalma. —Eu olhei pra ele e pensei por um instante.

—Então meu coração vai se acalmar também?

—Claro! —Ele disse levemente indignado. —Meu ônibus é mágico. —Ele abriu um grande sorriso. —Conversamos daqui uma hora. —Ele pulou pro banco de trás e me deixou sozinha naquele espaço.

Eu não tinha certeza se aquilo ia funcionar, mas não queria decepcionar o Alexy. Ele estava sendo tão legal comigo e realmente tentando me animar, mas aquela dor que eu sentia no peito parecia bem persistente.

Encostei minha cabeça na janela e coloquei a mão sobre o coração. Fechei os olhos tentando me desligar de tudo. Eu fui relaxando tanto que em certo ponto apaguei.

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Quando voltamos para casa, Boris me chamou pra conversar no jardim, ele estava com uma expressão preocupada.

—Fico feliz que tenha se divertido com o Alexy.

—Todos devem ter ficado assustados quando fugi daquela forma. Sinto muito.

—Tudo bem. Você cantou muito bem. —Ele me olhou de um jeito cauteloso. — Mas você precisa controlar seus sentimentos. —Eu olhei pra ele surpresa.

—Eu não consegui me controlar?

—Tive uma ideia. —Se fosse um desenho apareceria uma lâmpada em cima da cabeça dele. — Conhece pontos de pressão?

—Um pouco...

—Então... Quando estiver com fome, pressione as suas orelhas aqui. —Ele apertou o lóbulo da orelha dele, eu imitei o movimento. — E a vontade irá. Quando precisar fazer o numero dois aperte aqui. —Ele apertou o meio da palma da mão.

—Ah... Acho que já ouvi falar disso.

—Então, quando não conseguir controlar seus sentimentos... Nariz, toque seu nariz assim. —Ele pressionou a ponta do nariz pra cima o que o deixou parecido com um focinho de porco, mas eu fiz o mesmo. —Se o seu coração bater muito rápido faça isso.

—Mas não acharão estranho ao me verem fazer isso? —Eu hesitei.

—Mesmo que pareça estranho, funciona. —Ele disse confiante. Eu o olhei por um instante em silencio.

—Obrigada por sempre cuidar de mim. —Ele olhou pra baixo parecendo envergonhado — Me lembrarei disso.

Fiz novamente o movimento que deixava meu nariz parecido com um focinho.

Me levantei e fui em direção a casa, eu esperava que aquilo realmente funcionasse. Andei com passos confiantes até o quarto do Castiel, ou nosso quarto compartilhado. Entrei tentando fazer o mínimo de barulho possível. Quando passei pela porta o vi sentado escrevendo algo em sua mesa, andei de cabeça baixa.

—Lynn, venha aqui. — Ele disse sem se virar na minha direção, eu olhei surpresa pra ele.

Fui devagar até o lado dele, ele estava com uma folha nas mãos.

—Vou ajudar a organizar sua situação. —Ele olhava a folha. Por estar perto dele fiz o ponto de pressão no nariz, tentei enxergar o que ele escrevia, mas ele virou de repente pra me encarar. — Ahhh! —Ele levou um susto e foi pra trás com a cadeira.

Eu fiquei olhando confusa pra ele, e ele me olhava com uma expressão espantada.

—O que está fazendo? —Ele perguntou.

—Estou usando um ponto de pressão. —Olhei pro lado.

—Como? —Ele levantou uma sobrancelha.

—É algo que eu preciso fazer. —Eu disse como se aquilo fosse óbvio. —Não se preocupe com isso, continue falando. — Ele semicerrou os olhos.

—Você está me zoando? —Perguntou sério. — Ah, você está imitando o porco que me perseguiu. Já disse que você parece um coelho! Como ousa imitar um porco? —Ele disse quase bravo.

—Não é isso. Eu não faria isso —Eu disse baixo tirando o dedo do nariz.

—Não tire o dedo daí! —Ele gritou, e eu voltei com o dedo. —Agora me ouça assim. Eu te mato se abaixar a mão. —Ele disse num tom autoritário. Eu revirei os olhos pro outro lado. —Preste atenção, porcoelho.

Ele se levantou com a folha na mão e andou pelo quarto.

—Direi o que deve fazer daqui pra frente. —Ele continuou. —Primeiro, conte ao Lysandre que você é uma garota.

—Hã? Por quê? —Eu o encarei confusa. Ele me olhou com uma expressão de superioridade.

—Soube que você gosta dele. —Certa indignação misturada com surpresa surgiu na minha expressão, ele pareceu ter notado. —Claro que achei um absurdo quando ouvi isso, mas analisando bem vi como isso pode ter acontecido. —Ele deu de ombros. E me estendeu o papel que estava em sua mão. —Lynn, eu te darei ao Lysandre.

Eu olhei pra ele perplexa, minha boca abriu pela surpresa e eu tirei o dedo do nariz.

—Não é isso. Você entendeu errado. —Tentei explicar, ele me olhou irritado.

—Mão! —Eu voltei a apertar o ponto de pressão no nariz. —Duas coisas podem acontecer ao contar a verdade ao Lysandre. Primeiro ele aceitará. —Eu encarei a folha e aquilo estava escrito lá. — Mesmo eu tendo pena do Lysandre, será bom você contar a ele o que sente e eu me livrarei de você. —Ele tinha um sorriso de desdém nos lábios. — Segunda possibilidade, ele não aceitará. Se algo assim acontecer implore a ele, se for persistente como é comigo ele aceitará.

Esse garoto era realmente pior do que eu pensava, era tão esperto e chegou a essa conclusão errada.

—Castiel, você está entendendo tudo errado, não é o que parece. —Meu nariz começava a doer.

—Eu te aconselho contar pra ele. Boa sorte. —Ele jogou a folha no chão e caminhou até o banheiro.

Eu peguei a folha e saí do quarto dele com ela nas mãos. Comecei a ler pra tentar entender melhor o propósito daquilo. Ele realmente havia entendido tudo errado, aquilo não era nada bom.

—O que é isso? —Disse o Lysandre, eu estava tão distraída que nem percebi sua chegada. Me atrapalhei com o papel mas consegui esconde-lo atrás de mim.

—É – é só um origami. Um avião. — Tentei disfarçar e comecei a dobrar o papel, mas não saiu direito, ele percebeu minha aparente falta de jeito e pegou o papel da minha mão.

—Você é inocente. —Ele pegou o papel da minha mão. Eu esperei ver um avião enquanto ele dobrava, mas ele apenas dobrou a folha no meio. — Devia ter dobrado assim se não queria que vissem. —Ele recomeçou a dobrar pra fazer o avião.

—Ah, sim. —Eu fiquei vermelha.

—Quer que eu conte sobre uma garota muito ingênua? Ela tinha um segredo e entrou pra uma banda. —Ele me encarou.

—Garota muito ingênua?

—Sim, veja se concorda comigo. Assim que ela entrou, um membro do grupo descobriu a verdade, mas ela não sabia e continuou com aquilo. —Ele olhava o longe. Eu pensei um pouco.

—Por que quem descobriu ficou quieto? —O que ele disse não fez muito sentido.

—Primeiro porque ele queria ver e se divertir. Ele estava entediado. —Ele deu uma piscadela pra mim. — Mas quanto mais ele observava, mais ele via que a tal garota era muito ingênua, era divertido, mas ele sentia pena dela.—Ele ficou com o olhar perdido de novo. —Ele continuou observando-a, era a primeira vez que ele cuidava assim de alguém, e começou a ajudá-la.

—Então a garota devia ser grata a ele. — Queria saber de onde ele tirava essas histórias.

—A garota não sabia, eu não disse que ela era ingênua? —Ele parecia achar essa história muito divertida. —Ele não contou a ninguém, por causa dos outros membros do grupo. Quando o momento chegar ele dirá o que sente, não é? —Ele me estendeu o avião perfeito que ele fez com o papel. —Pegue.

—O – Obrigado. —Eu disse timidamente.

—Está frio, vá se deitar. —Ele começou a passar a mão na minha cabeça. Sorriu pra mim e se virou.

Eu fiquei olhando ele se afastar, e considerei contar a ele que eu era uma garota.


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