A Herdeira (Livro 1 - Saga A Herdeira) escrita por Katerine Grinaldi


Capítulo 5
Capítulo 4




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Capítulo 4

Desde o último pesadelo com a vovó, não tinha tido tempo para ficar sozinha em casa até agora, de tarde depois da aula de medicina legal. Jane tinha ido para o trabalho e, de qualquer maneira, não dormiria na minha casa porque era sexta-feira, ou seja, o dia que ela voltava para sua família.

E ficar sozinha em casa significava que podia espionar o depósito embaixo da escada. Mamãe guardava as coisas da vovó ali e nunca me deixava entrar sem reclamar. Não era bem o setor proibido da casa. Podia ir lá se quisesse, mas antes tinha que responder trezentas perguntas e aceitar a ajuda dela para procurar o que desejava.

Andei pensando sobre o sonho. Não suspeitava de que mamãe estivesse mentindo sobre a discussão e tudo mais, então, a minha melhor dedução tinha sido de que a vovó estava tentando enviar uma mensagem e para isso teria que interpretar o pesadelo. E sabia que a minha avó anotava os seus sonhos em um diário que ela chamava de livro espelho. Talvez a resposta estivesse lá.

Peguei um grampo de cabelo no banheiro e facilmente abri a porta do depósito. Não era a primeira vez que eu fazia isso apesar de mamãe nunca ter me descoberto. Não me pergunte como, só sei que se ela descobriu, não reclamou.

O lugar era repleto de caixas de papelão e, consequentemente, de muita poeira. Sempre me perguntei por que tínhamos ficado com tantas coisas da vovó e se tia Lara tinha tantas coisas assim em sua casa também. E algumas vezes me perguntei se vovó tinha deixado uma daquelas coisas para mim e mamãe não tinha me entregue. Só que não via qualquer motivo para que isso acontecesse e então deixava para lá.

Comecei a revirar tudo na busca do livro que me lembrava de como era exatamente. Uma capa cinza e aveludada com uma estrela prateada. Antes de encontra-lo, achei o herbário da vovó, que era o lugar onde ela anotava sobre as propriedades mágicas das ervas que cultivava no jardim. Toda tarde, depois de passarmos um tempo cuidando das plantas, íamos para a salinha particular dela e comentávamos o que tínhamos percebido.

Conforme fui crescendo comecei a pensar na possibilidade dela já saber que morreria porque teve o cuidado de me transmitir sentimentos tão bonitos e de dividir acontecimentos da sua adolescência a cada oportunidade que tinha comigo.

A coisa mais importante que aprendi com ela foi amor. Vovó me fez ver que tudo na vida só dá certo se for feito com esse ingrediente mágico. Tudo que ela fazia era assim. Com as suas plantas, com os animais, com seus desenhos e, principalmente, com as pessoas.

Na mesma caixa estava o livro espelho e sentei-me no chão para procurar o que me interessava. Ele era organizado em ordem alfabética e com abas com as iniciais, como numa agenda e isso facilitava muito a pesquisa. Por onde devia começar? “Fogo?”

Quando abri o livro na letra F, encontrei algo inesperado. O envelope amarelo, lacrado com o “J” personalizado da vovó. Bom. Confesso que estava com medo de pegá-lo porque não sabia se aconteceria como no pesadelo, mas tinha que descobrir o que aquilo significava, não tinha? Respirei fundo. 1...2...3... Já! Deslacrei e puxei um papel pardo.

Sua herança

Vai chegar.

Aceite a mudança

Quando 21 primaveras completar.

S.D.

A estrela era a mesma que estava na capa do livro. Será que estava dormindo de novo e aquilo tudo não passava de mais um pesadelo? Larguei tudo no chão e andei de um lado para o outro até que decidi me beliscar para ter certeza. É. Estava acordada.

Então vovó não queria que eu interpretasse o sonho, mas sabia que pensaria nisso e que encontraria o envelope. Olhei para o chão para ter certeza de que ele não havia desaparecido. Sei lá. Ainda não estava acreditando que tinha sonhado com aquilo e o aquilo estava acontecendo.

Certo! Devia respirar fundo mais uma vez e não ficar tão surpresa assim porque, afinal, tinha visões de fatos que aconteceriam com pessoas desconhecidas. É, isso aí! Via o futuro delas e, muitas vezes, ligava para a polícia e as salvava. Mas nunca tinha sido comigo. Nunca tinha visto nada que aconteceria comigo. Pelo menos, até aqueles dias.

Coloquei as coisas de volta ao lugar de origem e carreguei o meu envelope. Tinha que interpretar o que aquela mensagem significava. E talvez conseguisse entender o que a vovó estava tentando me falar.

Aquela noite eu fui dormir na casa da Lola. Era véspera de final de semana e nós tínhamos o costume de assistir um filme de terror ou de brincar de oráculos. Entretanto meus planos foram bem diferentes. Contei sobre Téo e sua capacidade de se comunicar comigo e o mais importante: tentamos solucionar o recado da vovó.

Desde que era criança, já tinha lido “21 primaveras” em meus livros de romance e sabia que significava vinte e um anos. Por coincidência a idade que tinha há cinco meses. Os mesmos cinco meses desde que começara a ter os pesadelos e que as minhas visões estavam piores e acabavam me causando desmaios.

— Talvez seja essa a mudança que você tenha que aceitar. – Lola sugeriu. Ela não se assustava mais com as coisas que eu mostrava, afinal, ter uma amiga que lê pensamentos e vê acontecimentos do futuro faz com que outros fatos sejam menos impossíveis. — As visões e os pesadelos.

— Não acho que seja isso. Elas começaram a acontecer sem eu ter que aceitar nada. Quem dera eu pudesse escolher, não é? – essa última frase tinha sido mais um desabafo. —Acho que ainda vou receber algo. Algo que vai mudar a minha vida.

A essa altura, a única coisa que tínhamos entendido mesmo era que a mensagem era para mim. Alguma mudança ia acontecer e tinha que aceitar. Só que, mesmo com essa dedução, ainda estava de mãos atadas. Qual era o próximo passo?!


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