Meu amor é um ingrato

Dei-lhe tudo

E ele?
Ele, ah
Nem um obrigado!
Meu amor fez paixão de fado
E estilhaçou o meu passado
Em bilhões de pedaços de ouro
Que busco, à nado
No fundo de uma piscina de profundidade maior
Que os metros de minha idade!

Estilhaçou o meu passado como bilhões de pétalas de margaridas
Que voaram ao vento, sofridas
E se encontram a milhas de onde estou!
E muitas se encontram bem lá na frente
Exatamente onde nem sei
Se vou (vou?)

Veja bem
Há moedas no fundo de um chafariz
Como os meus amores se dissolvem no chamariz
É uma peça
Agora caia
E peça um por favor
Que essa garota de saia
Não te encha de pavor (tu não mereces que ela te encha de amor)
Porque, meu bem
Eu sei o ritmo do blues
E sei os segredos do que em você me seduz!
Sei seus pontos fracos
E o que em você
Capta minha luz
Que acaba por se partir em cacos
Assim que você se aproxima

Destruição
Não!
Querido
Peça que tua negritude não se junte a mim
Porque se fizer assim
Não deixarei sair impune!
Sou garota de cacife o suficiente
Que usa batom vermelho
E pode muito bem fazer um patife como sabe que tu és
Pagar pelos apesares (e pelos viés que me conduzem a você)

E eu digo: não!
Não meu bem, não é paixão!
Peça que essa garota de saia não junte teu pavor ao rancor dela
Porque se ela assim o fizer
Oh, meu bem, não tem pra ninguém!
Quem é bom amigo avisa:
Cuidado que essa daí pisa!
E sem dó
Sem piedade
Já que o pó dos seus ossos é verdade
Que alimente a vaidade dela!

Da garota de saia
Que apesar dos apesares
Sai por aí, de rua em rua
Visitando uns bares
Porque a liberdade às vezes é o utopia
Mas quem diria, querido
Essa garota também é magia!
E já não vive de falsas realidades
Que uns fatos já passados
A fizeram acreditar (resultados em dados nunca serviram, tudo golpe do destino!)

Amores dados também
Porque esses nunca foram de alimentar voracidade
Da nossa garota da cidade, de saia plissada
Salto alto
E gente pisada nos pés!
Porque até o chão por onde passa lhe beija a sola
Já que, querido
Ela não se contenta com esmola
E tu foras o resto que ela deixara para trás
Pouco demais, meu bem, pouco demais!
Uns centavos por aí não fazem o interior dela florir (tu matavas os cravos dela, e eles eram muito queridos nela!)
A garota de saia passou por aí e deixou rastros
Porque no dia seguinte ela também usa jeans cheio de rasgos

Maleável, não
Líquida!
Que escorre das mãos de quem tenta em vão segurá-la
Mas a roupa liquida, e por fim... Todo mundo leva!
E aí fica só ela
Com um sorriso que só os deuses sabem quanto trabalho daria pra pintar (dá trabalho demais segurá-la nas mãos, ela escorre! Meu bem, ela foge de você e de tudo que a enjaule!)
Sua espinha sobe como o caule de uma flor,
Até encontrar seus cabelos
Estes cheios de cor!
Mergulhados em vermelho
Azul
E amarelo
Rosa
E carmesim
Verde
E nanquim!
Este último fica
É ela, é ela!
É a junção de tudo! Todas as cores (todos os estilos e poderes!)
E apesar de todos os pudores (esses ela deixa em casa, todos dissabores dela!)
É capaz de extinguir todas as dores
Porque as flores, meu bem, essas que ela carrega com tanto esmero dentro dela
São capazes, sim, de milagres e extinguir todos os ares do planeta (ela é uma garota de exceções)
E de todas as excentricidades que as nações puderem dizer (a uma só voz, ela cria monções!)

Colha margaridas

E lírios

Violetas

E rosas

Porque ela gosta muito de flores, canções e poemas

Mas acha você o menor de seus problemas