Se eu soubesse escrita por Feather


Capítulo 2
Capitulo 2 - O Olá


Notas iniciais do capítulo

Olá
Eu sei que ninguém deve de estar a ler isto, mas faz-me bem escrever esta historia. então, capitulo dois...



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Se eu soubesse – Cap. 2: O olá

Depois de muito trabalho, finalmente encontrei a primeira caixa que eu limpo sempre: A caixa da pré primária. Essa caixa contem tantas coisas que me fazem recordar do passado, e eu não gosto disso, mas tem que ser.
Então, lá abri a bendita caixa e comecei a tirar coisas de lá: Uma vela decorada com recortes e com uma base em forma de estrela e feita de massas, uma moldura dourada de massas coladas, um portfolio com poemas que nos ajudavam a fazer e que tinha lá dentro todos os trabalhos que fazia-mos em papel, uma tela que fizemos pelo dia do pai, o nosso processo da escola, um álbum e uma camisola. Conforme eu ia tirando as coisas, ia olhando para elas, virando-as, vendo-as como se de algo super frágil se tratasse, e tratava-se mesmo, afinal, era memórias frágeis. Depois de estar tudo no chão, voltei a pegar nas coisas e a por nas caixas, ou pelo menos tentei.

Peguei na camisola, e examinei-a com o meu olhar. Estava tal e qual como eu me lembrava: pequena, toda escrita com um desenho na frente e com o símbolo da sala das estrelas no lugar onde supostamente era o coração. No entanto, antes era branca, e agora por causa do tempo está amarela. Então, comecei a ler os nomes dos meus colegas: ‘Pedro’, pelo que eu sei, ele deve estar a trabalhar fora. ‘Matilde’ é agora diretora da nossa antiga escola, tal como a sua mãe. ‘João’, que decidiu seguir o seu sonho de ser presidente. ‘Ruben’ e ‘Bianca’… Deles não ouço falar desde que sai da pré com os meus 6 anos, como será que eles estão… ‘Raquel’, essa que é uma das gestoras de marketing na Vodafone. Pois é. Todos eles são bem-sucedidos, menos eu, que me tornei numa psicóloga que precisa de ajuda para mim mesma, já que ainda tenho problemas com os fantasmas do passado. Então fiz aquilo que não queria: olhei para as três assinaturas que estavam no lugar em que naquela época pensávamos que era o coração. Eles os três. Devem estar a pensar quem são esses três. Pois bem, esses três foram os melhores amigos e irmãos que eu tive, pelo menos até ao 9º ano… Que saudades deles… Nós éramos completamente diferentes, mas no entanto, éramos iguais. Começo a sentir uma lágrima a querer formar-se, e apresso-me a limpa-la. Eu tenho que ser forte. Já se passaram 15 anos desde que eu os vi pela última vez, na gala de finalistas, e eu devo de ser a única deles que ainda não superou isso.

Arrumei a camisola e fui buscar o álbum. Que medo que eu tenho de o abrir, meu deus… Mas lá tem de ser. Com as minhas mãos a tremer, peguei no pequeno álbum azul todo colorido e abri-o. A primeira imagem é do primeiro dia. Eu lembro-me bem desse dia, afinal, como é que eu me podia esquecer?

#Flashback

É uma manhã fria de Setembro, e eu estou a caminho da escola, e eu até estou muito entusiasmada, porque eu vou começar a aprender e eu vou estar com pessoas da minha idade, pela primeira vez! Enquanto eu vou no carro, vou a pensar sobre o que acontecerá lá: Será que nós vamos ter muitas brincadeiras? Será que vou fazer muitos amigos? Será que eles vão ser maus para mim? Com este último pensamento tremi, eu nunca gostei de quando os outros meninos eram maus para mim! Nunca gostei disso mesmo. Quando sai dos meus pensamentos, já tinha chegado. Era uma casinha baixa, de um andar, com um enorme jardim com brinquedos grandes para nós, escorregas e coisas assim. A minha mãe disse para sair do carro que ia ficar tudo bem, e eu confiei nela. Sai do carro, e fui até á porta com ela, e toquei na campainha. Logo, uma senhora alta, um pouquinho gorda e com uma cara simpática e sorridente abriu e perguntou-me:

– Olá, quem és tu?

Admito que fiquei bastante envergonhada, e olhei para a minha mãe, que me fez um sinal que era para eu dizer o meu nome. Eu murmurei baixinho o meu nome, e a senhora respondeu:

–Ainda bem, estávamos há tua espera!

Então, despedi-me da minha mãe e a senhora pegou na minha mãozinha e levou-me a mim para dentro, e lá haviam três salas: Uma vermelha com estrelas, Uma azul com luas e Uma amarela com sóis. Paramos em frente da vermelha.

–Agora fofinha, vamos tirar-te uma fotografia bonita contigo a sorrir para pormos no teu nome para os teus colegas saberem quem és? – Pediu-me com um grande sorriso a senhora, cujo nome era Ju. Eu fiz exatamente aquilo que ela mandou, e fiz um grande sorriso. Ela apertou num botão e tirou-me a foto, e depois amostrou-me – Gostas?

#Fim Flashback

Sorri ao lembrar-me daquele dia, daquela senhora, da cara de orgulho da minha mãe. Deuses, mais uma lagrima? Limpei-a, impedindo-a assim de cair e de me lembrar que aqueles tempos nunca mais iriam voltar.
Virei mais algumas páginas, que eram apenas de trabalhos e cheguei ás duas ultimas páginas: Uma tinha uma foto de grupo. Também me lembro do dia em que a tirei.

#Flashback

–Meninos! Hoje é o dia da fotografia – disse a senhora Ju com um grande sorriso.

Eu passei a minha mãozinha pelo cabelo (eu odiava de o ter de usar com ganchinhos e elásticos, como a minha avó todos os dias me obrigava) e fui para o pé do grupo, e sentei-me ao pé de três amiguinhos meus, amigos que esperava que para o ano, quando fosse para a escolinha dos meninos maiores ficassem comigo.

–Agora, digam todos queijo! – Pediu uma senhora alta, que usava uns sapatos que eram enormes em altura e que vestia umas calças justinhas e uma túnica.

Todos dissemos queijo, e a senhora tirou a foto. Nessa foto estou eu, os meus três amigos, uma menina com quem nunca falei chamada Matilde, um menino que é simpático chamado Pedro, o meu namoradinho chamado Rúben, a irmã do meu namoradinho, a Bianca, uma menina que uma vez enchi as cuecas de areia chamada Raquel, uma menina grande chamada Sofia, uma menina de outro pais chamada Katrin e eu.

#Fim Flashback

Fechei os olhos e tentei com que a memória ficasse comigo mais tempo, mas não resultou. Então, voltei a abrir os olhos e olhei para uma foto onde estava eu e os meus três grandes amigos. Aquele dia, há como eu me lembro… foi o dia em que nos conhecemos.

#Flashback

Eu estou a brincar com a Lolitta, uma boneca que o meu bisavô me deu, há uns três anos, antes de morrer. Ela é tudo o que resta dele para mim: uma boneca de trapo, com a cabeça, as mãozinhas e os pezinhos em plástico e que se apertar diz Holá! Levantei a cabeça e vi três meninas maiores a virem ao pé de mim, e eu levantei-me.

–Olá! O que vo… - Não acabei o que ia a dizer, porque elas tiraram-me a Lolitta, e começaram a estraga-la. – DEM CÁ ISSO!

Elas empurraram-me e eu fiquei quieta e olhar simplesmente perdida! Tudo aquilo que eu tinha que me recordava do meu bisavô foi-me roubado. Eu queria desistir de estar ali, fugir ou correr, mas a única coisa que consegui fazer foi ir atrás delas. Tentei agarrar na bonequinha, mas ela estava demasiado algo. Pensei, e então fiz algo que eu uma vez vi num programa da Disney: empurrei o joelho da que tinha a boneca, e a menina grande caiu. Então, eu agarrei na boneca. E quando tentei fugir, uma das amiguinhas dela agarrou-me.

–Onde vais sua puta? A boneca, JÁ! – Gritou a menina que eu agora sei que se chamava Carina.

Fiquei a olhar para ela. O que significava puta? Eu presumo que deve de ser algo muito mau, já que ela disse aquilo de uma maneira má. Mas eu estou agora mais preocupada em sair dali. Então, apareceram eles os três, e o mais alto disse-lhes:

–Deixem-na, por favor. Ela não tem como se defender!

Elas olharam para ele e uma delas agarrou-o. Resumindo: estávamos os dois presos, e os outros dois soltos. Quando eu pensava que eles iam fugir, eles fizeram algo diferente: empurram os joelhos delas e elas largaram-nos a mim e a ele, e nós fugimos para o cantinho da leitura.

–O… brigado – disse eu a tentar recuperar o ar.

–De… denada! Elas irritam-me um bocado. – Disse o que tinha falado com elas. Agora que eu olhei para ele é que me dei conta de que ele é bonito: tem os olhos verdes, cabelo castanho e uma pele branca e é bastante alto.

Então, eu disse-lhes o meu nome e eles disseram-me o deles, e eu sorri.

–Então, que boneca é essa tão especial? – Perguntou um deles, que era alto, tinha os olhos castanhos, um cabelo que parecia o pelo de um ouriço e que tinha a pele numa cor bronzeada.

–Sim. É a única recordação do meu bisavô! Eu estava tão assustada quando elas ma tiraram… -disse, deixando cair uma lágrima.

–Então! Não fiques assim! – Disse-me o terceiro, que até aquele momento tinha ficado calado. Ele era baixo, com o cabelo preto e os olhos pretos.

Eu sorri. Eu tinha feito três amigos! Então ouvi um clique, e olhamos todos para o lugar de onde o clique viera. Estava lá a Ju, e tinha-nos tirado uma foto e estava a sorrir.

–Bom trabalho os quatro, conseguem safar-se sozinhos, em? – Disse.

#Fim Flashback

Foi demais para mim lembrar-me disto e comecei a chorar. Chorei pelos amigos que eu perdi, chorei por não ter aproveitado mais e chorei acima de tudo por ter sido eu quem não se abria para aquele rapaz de cabelo que parecia um ouriço. Peguei no resto dos trabalhos e guardei-os na caixa. Uma Já estava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, se alguem pra além de moscas lê isto, se ler, notas?