Do Outro Lado do Oceano escrita por Laura Machado


Capítulo 111
Capítulo 111: POV Carolyne Muñoz


Notas iniciais do capítulo

Escrevi ouvindo "Let Your Tears Fall" da Kelly Clarkson.



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Deslizei as mãos pela minha saia outra vez, a alisando como podia. Já a tinha passado à perfeição, mas meus dedos voltavam a encontrar o seu tecido toda vez que eu pensava em ver Will de novo.
Toda vez que eu pensava em quando seus olhos encontrariam os meus outra vez.
Antes, meu medo era ter que encará-lo depois de termos passado a noite dançando na frente de todo mundo. Até o tinha evitado quinta e sexta, o dia todo, esperando minha ansiedade passar.
Mas depois de ter trombado com ele aquela manhã, meu medo tinha virado não saber se ele estaria ainda bravo, se minha ideia seria boa o bastante ou se ele só ficaria ainda mais irritado. Só de me imaginar cruzando seu caminho de novo, já sentia meu estômago embrulhar.
Ainda mais tê-lo na minha frente, me mirando, esperando que eu fale alguma coisa. E minha vontade enorme de saber o que é que o tinha incomodado, o que tinha feito com que ficasse com tanta raiva. Mordia os cantos da boca só de pensar, só de imaginar como eu começaria o assunto. Se começaria. O que poderia perguntar e se realmente queria que me contasse.
Eu queria saber a resposta? As chances de ser sobre o amor da sua vida eram enormes. E não precisava incentivá-lo a falar dela, nem precisava perguntar muita coisa para ele me contar sobre ela, sobre como foi ruim perceber que estava se apaixonando enquanto seu primo planejava um casamento às pressas com ela. Eu precisava mesmo ouvi-lo me falar outra vez como era difícil ter que pensar nela com outro? Precisava mesmo ter que ver em seus olhos que ele daria qualquer coisa para estar olhando para ela?
Parei logo do lado de fora da porta do Salão dos Homens, que, para meu azar, estava levemente entreaberta. Podia ouvi-los conversando lá dentro, mas não estava prestando atenção o suficiente para distinguir palavras. Me apoiei na parede sem deixar que fosse vista para pensar um pouco mais.
Meus dedos quase desgastavam minha saia, apesar dos meus olhos mirarem o teto fixamente.
Eu não estava ali por mim. Não tinha trocado de horário de trabalho e de roupa por mim. Não tinha insistido para que me liberassem a sala de cinema para me animar. Não. Era por Will. Ele que precisava de uma amiga. E, por mais que fosse terrível para mim, se eu conseguisse ajudá-lo só de ficar ao seu lado o ouvindo, então era o que eu faria. Eu não estava ali por mim. Eu estava ali por ele.
Devagar, me virei de novo para a porta, agora arriscando espiar pela fresta e deixando meu ouvido aberto para o que poderia escutar.
A primeira coisa que me chamou atenção foi a voz da princesa. Por um segundo, quis dar um passo atrás, me esconder, sair dali. Mas logo me lembrei que ela não poderia estar lá, não naquele momento. E uma pequena desviada para a esquerda me mostrou que o salão que antes parecia vazio tinha todos seus ocupantes reunidos em um canto, assistindo a tela de onde a voz da princesa vinha.
"Esse evento não é sobre minha Seleção," ela dizia, seu sotaque parecendo intensificado pela transmissão. "Se fosse, pode ter certeza de que teria, sim, escolhido um selecionado para me acompanhar. Mas esse evento não é para isso. Não quero que todos os convidados foquem em quem eu estou para escolher ou quem foi eliminado. Quero que me vejam hoje somente como alguém que apoia essa causa incondicionalmente-"
"Pensei que estaria ao seu lado," a voz do Senhor Danio foi mais alta e mais direta, cobrindo de vez a da princesa, apesar de eu não ter ideia de a quem se direcionava.
Procurei por Will entre eles, temendo ter que empurrar mais a porta ou bater para que conseguisse fazer ele me perceber e sair. Não queria ter que chamar mais atenção do que o absolutamente necessário.
"Eu posso não estar, mas aquele anel que ela está usando," foi a vez de Senhor Alaric responder, me indicando que era com ele que Danio tinha falado, "fui eu que dei."
"Foi nada," o mais novo, Thor, comentou, logo se ajeitando em seu lugar como um jeito de fingir que nada tinha acontecido.
Eles estavam todos jogados por sofás que tinham sido intencionalmente amontoados na frente da televisão e a maioria eu só conseguia ver pelo topo da cabeça.
Mas eu reconheceria a cabeça de Will. E ainda não a tinha visto.
Empurrei um pouco mais a porta, enquanto Alaric insistia que o tal anel tinha sido presente dele e outro selecionado o pedia para fazer silêncio.
Por toda a sorte que eu não tinha, a porta rangeu de leve, trazendo alguns olhares na minha direção. Olhares confusos, mas, na sua maioria, distraídos que voltaram a focar na televisão assim que possível.
Mas um deles se mexeu. E eu só percebi quando ele passou na frente da tela e os outros se inclinaram para não perder um só segundo do evento da princesa. Will não fez questão de andar rápido e demorou até demais para atravessar o salão e parar na minha frente. Seus olhos mal estavam abertos quando ele passou pela porta e me encontrou no corredor.
"Tudo bem?" Perguntei, praticamente contando os segundos para que olhasse para mim.
Mas ele insistiu em mirar o chão e dar de ombros. "Onde vamos?"
"Pensei em vermos um filme, o que acha?" Falei, tentando deixar meu tom animado o suficiente para passar para ele como mágica.
Mas ele não estava bem, não estava normal. Sabia que aquele não era ele, que estava na pior fase da sua vida, como ele mesmo tinha dito. Mas Will estava diferente do que eu conhecia. Parecia quase mole, quase exausto demais para ter forças de se mexer sozinho, usando o resto de energia em seu corpo para se manter de pé.
"Depende do filme," ele respondeu, apontando para um lado do corredor.
Eu concordei com a cabeça e nós dois começamos nosso caminho, uma boa distância entre minhas mãos alisando a saia e as que ele mantinha às suas costas.
"Algo de ação, violento. Ou até mesmo terror," sugeri.
"Terror," a palavra soou bem mais viva do que qualquer outra que já tinha saído de sua boca. "Acho que medo vai ser algo interessante de sentir."
Ao invés do quê?, perguntei na minha cabeça, sem coragem o suficiente de falar em voz alta.
Não queria ouvir o nome dela. Se pudesse animá-lo, distraí-lo, deixá-lo mais feliz sem ter que ouvir o nome dela, quem sabe eu ganhasse um pouco também. Quem sabe não voltasse pro meu quarto me sentindo sempre a amiga, aquela que ouvia e apoiava todos mas que nunca era vista, nunca a escolhida.
Observei cada um dos meus passos no nosso caminho até o cinema, enquanto ia contando sobre como ele tinha sido inaugurado, como quase só era usado durante Seleções. Tinha quase certeza absoluta de que Will não queria ouvir nada daquilo, pois não falava nada, preso dentro da própria cabeça. Mas não deixaria que ficássemos em silêncio. Faria a minha parte de pelo menos tentar distraí-lo com outros assuntos, mesmo banais como a construção de um cinema no castelo.
Assim que as portas se abriram, fiz questão de tentar observar sua expressão. Esperava que seus olhos percorressem cada centímetro daquele salão, cada poltrona, as luzes no chão, a imensa tela onde veríamos o filme ou até mesmo a pequena cozinha escondida no fundo. Mas Will só fez questão de entrar e esperar que eu fizesse o mesmo.
Todo o assunto que tinha enchido do tempo que nos levou para chegar até ali não tinha sido só para distraí-lo, mas para me fazer pensar em outra coisa também. Me dava um aperto no coração toda vez que me virava pra ele e via seu olhar perdido pelo chão, nem a menor das vontades de viver parecendo passar por suas veias. Cada movimento que ele fazia era fraco, desintencionado, quase ausente. Ele estava ausente. Não me olhava nos olhos, mas tampouco olhava para qualquer coisa com mais de foco. Suas respostas vinham em sílabas pequenas, descontraídas, desinteressadas.
Mas o pior de tudo era o jeito que ele respirava. Enquanto eu me encarregava da pipoca, nós tivemos alguns minutos de silêncio e pude ouvir sua respiração. Cansada e profunda, mas tão lenta que às vezes me dava a impressão de que tinha acabado de presenciar seu último suspiro.
E aquilo foi me dando um aperto no coração. Preferia não ter que ouvir de Tessa. Mas ver Will naquele estado, tão acabado que lhe parecia doer ter que continuar inspirando, era bem pior. Era insuportável.
Depois de alguns minutos assistindo milhos estourarem dentro da máquina e juntando coragem, me virei para ele, as palavras já escolhidas na minha cabeça. "Sua maré de azar continua?"
Ele nem reagiu. Não deu de ombros, não bufou uma risada, não me olhou. Continuou apoiado na pia brilhando e, por alguns segundos, achei que nem fosse responder.
"Seria bom se só tivesse continuado," falou depois de um tempo, sua voz tão arrastada quanto ele aparentava. "Às vezes, acho que estou dentro de um livro onde a escritora só quer me ferrar."
Suas palavras me acertaram como um tapa. Mas não quis focar no problema.
"Porque escritora?" Perguntei. "Acha que um homem não teria motivo para te ferrar?" Falei a última parte quase com medo de ele me entender errado.
Will levantou o rosto na minha direção, fazendo eu ter que me segurar na pia à minha frente, me dando a maior esperança do mundo de que estava no caminho certo.
Mas ele acabou dando de ombros e voltando os olhos para o chão."Vai saber porque pensei em escritora," acabou falando.
Ainda parecia terrivelmente desanimado, mas pelo menos seu olhar não estava perdido.
"Algo novo?" Eu insisti. "Que aconteceu?"
Seu rosto voltou a me mirar, seus olhos me observando por um tempo até eu mesma me virar para olhá-lo.
Ele engoliu a seco sem desviar o olhar. "Não," falou, a palavra mais fraca ainda em seus lábios.
Eu só concordei com a cabeça e voltei a focar a máquina de pipocas que terminava seu trabalho.
Nós entramos tão fácil no silêncio outra vez, que juraria que ele já mirava de novo o chão. Mas estava de costas e não podia imaginar que ele mesmo começaria um assunto.
"Carol, posso te perguntar uma coisa?" Pediu, seus passos acompanhando sua voz até ele se colocar ao meu lado e me ajudar a salgar a pipoca e tirar alguns copos do armário.
"Claro," falei, apesar de querer medir o que teria que responder.
Algo me dizia que ele perguntaria de Loric. Eu andava praticamente o usando como um escudo contra qualquer sentimento que tivesse por Will. E mesmo que não funcionasse, era meu jeito de convencer Will de que só existia amizade entre nós. Já podia imaginar o jeito que ele me olharia se descobrisse como eu já tinha pensado nele, como já tinha até cogitado a possibilidade de talvez a letra daquele correio elegante que tinha recebido ser pelo menos parecida com a sua. Se ele soubesse como eu segurava minha respiração quando ele me olhava, como passava meus dias torcendo para vê-lo perambulando de longe pelo castelo, não me veria mais do mesmo jeito. E tinha certeza de que não se abriria tanto comigo.
Ele respirou fundo, pensando nas palavras, as ajeitando para encaixar na pergunta, enquanto eu torcia para ser algo simples, algo que não me fizesse sentir todo o meu ser se despedaçar dentro de mim.
"O que você considera traição?"
Uma pergunta geral então.
Soltei do copo que segurava, como se pausasse a ação, e me virei para ele.
"Que tipo de traição?" Quis saber.
"Isso que quero saber. O que é traição para você? O que consideraria traição?" O jeito que seus olhos percorriam o salão atrás de mim me dava a impressão de não ser exatamente aquilo que ele quisesse saber. Poderia apostar que estava me amortecendo para o que realmente quisesse falar.
E eu podia imaginar já o que seria.
"Traição é você prometer que não fará uma coisa e acabar fazendo," comecei devagar. "Talvez não só uma promessa com palavras, mas algo implícito na relação que você tenha com uma pessoa." Era impossível não pensar que ele provavelmente esperasse que eu o convencesse a trair seu primo. Se estava chegando ao ponto em que ele parecia não ter mais vontade de viver, estava chegando ao limite. E eu odiaria ver ele se deixar levar sem príncipios por coisas das quais se arrependeria mais tarde só pelo desespero. Eu não estava mentindo, mas torcia para que minha resposta o persuadisse do contrário. "Acho também que traição é fazer algo para alguém de quem você goste que o prejudique."
"Por que acha que isso é traição, especificamente?" Só nessa pergunta já pude perceber que ele parecia estar um pouco mais animado, senão talvez menos infeliz.
Dei de ombros, apesar de levar o assunto muito a sério. "Quando você gosta de alguém, quando é amigo ou algo mais de alguém, está implícito que você quer o bem dessa pessoa e que ela pode confiar nisso. Tomar qualquer atitude consciente que você sabe que a vai machucar é trair a relação que vocês tem." Ele não tirou os olhos de mim, apesar de não parecer estar me observando. Devia estar pensando no que eu tinha dito. E não esperei para continuar. "Traição também é mentir. É omitir coisas de outra pessoa. Mesmo que muitos digam que é para proteger o outro, quando se confia em alguém, tem que confiar no julgamento dessa pessoa e no relacionamento que vocês tem. Tem que confiar que vai conseguir conversar, que eles vão entender. Traição é tirar a voz da pessoa, tirar a opinião dela para algo que a possa influenciar ou, de novo, machucar."
Ele mesmo pegou o pote da pipoca e começou o caminho até as poltronas. Tive a impressão de que o assunto tinha terminado, mas ele logo continuou.
"Então está falando que mentir é sempre errado?" Perguntou, enquanto eu equilibrava os dois copos, o refrigerante e o controle e tentava acompanhá-lo.
Para minha surpresa, ele escolheu uma fileira do fundo.
"Sim," respondi.
"Mas e se você tiver bons motivos?"
"Ah, motivos, temos sempre," me sentei logo ao seu lado, as luzes ainda bastante claras. "Se não tivéssemos motivos, não mentiríamos. Mas não tem nada mais bonito do que ouvir alguém te contar algo doloroso e perceber que essa pessoa fez o esforço que precisava para tomar o caminho mais difícil e ser honesta com você. É a prova mais pura de que a relação entre vocês, qualquer que seja, é forte e vale a pena. É a prova mais pura de que essa pessoa vale a pena e de que você está do lado de quem deve estar."
Assim que ele abriu um sorriso fraco, eu senti uma pontada no meu coração. Rapidamente, tudo que eu já tinha lhe dito de Loric repassou na minha cabeça. Eu tinha tido o cuidado de nunca mentir para ele, por essas e várias outras razões. Mas levá-lo a acreditar que eu ainda nutria algum sentimento pelo outro era praticamente mentir. E depois de todo esse discurso, não poderia ser hipócrita.
"Você realmente acredita nisso?" Ele perguntou antes que eu pudesse começar a me explicar.
Will se ajeitou na poltrona, se virando mais para me olhar, sua cabeça inclinada, os olhos me observando.
Por um segundo, me perguntei se ele já tinha percebido que eu o tinha levado a acreditar que sentia mais por Loric do que de verdade. Mas ele não parecia realmente desconfiado. Pelo contrário. Assim que seu olhos desviaram discretamente dos meus e ele pareceu considerar tudo o que eu tinha dito, um pequeno sorriso voltou a aparecer nos cantos de sua boca. Mas assim que tinha tomado seu rosto, Will balançou a cabeça.
"Então você está falando que nunca mentiria, por exemplo, para um namorado?" Ele insistiu.
"Ah, não! Definitivamente não!" Deixei de lado na minha cabeça tudo que ainda precisava explicar para respondê-lo. "No momento em que você decide mentir para seu namorado, está declarando que não se importa tanto com o que vocês tem quanto se importa consigo mesmo. E isso não é amor."
A palavra pareceu pairar no ar entre nós, e não importava quantas vezes eu engolisse a seco, ainda a sentia queimar na minha garganta.
Era tolice da minha parte. O contexto era ótimo e eu não tinha falado nada de errado. Mas de todos os pensamentos que já tinha tido sobre Will, aquela palavra era a única que tinha proíbido. E a que insistia em tentar me domar. Desde quando dançamos na festa dos jogos aquáticos e de todas as vezes em que ele tinha conseguido me fazer rir mesmo que fosse da minha falta de habilidade. Desde que ele tinha conseguido me fazer esquecer de toda a bagagem que ele trazia e todas as pessoas à nossa volta por algumas horas, aquela palavra me assombrava. Já era ruim o suficiente saber que todos os sonhos que eu pudesse ter com ele, acordados ou não, nunca se tornariam realidade. A última coisa que queria era pensar na possibilidade de eu pelo menos desejar algo como aquela palavra vindo dele.
Ele abriu a boca pra falar outra coisa, mas eu fui mais rápida. "Aliás," comecei, "não sei se entendeu direito, mas estava pensando que talvez não tenha entendido."
"Como assim?"
Respirei fundo. "Eu gosto do Loric. Gosto mesmo, o admiro de verdade. Mas não o amo como você -" Me cortei para pensar em uma palavra melhor. "Como você deve acreditar que amo."
"Por que diz isso?"
"O que você tinha falado nos jogos aquáticos. Não foi terrível participar por causa dele. Não me incomoda assim. E não tenho esperança de ficar com ele, porque nem gostaria de ficar. A verdade é só que eu o admiro de verdade, mas não de um jeito, digamos, romântico." Will franzia a sobrancelha e eu me sentia afundando em explicações sem pé nem cabeça. "É só que você pode achar que eu estou completamente apaixonada por ele, mas nunca estive. E, independente de onde essa amizade chegue, se vai continuar depois que a Seleção acabar, ou não sei," por que era tão difícil me explicar? "Eu só queria ser clara," terminei, antes que piorasse tudo.
Minha vontade era enfiar a cabeça na pipoca ou simplemente arranjar uma desculpa para ir arrumar o quarto de Keon ou coisa parecida.
Mas, ao contrário de mim, Will riu. E foi uma risada leve, descontraída, cheia de pensamentos que ele ainda não tinha dividido comigo. Devia ter chegado à conclusão de que eu era louca.
"Quê?" Minha vontade era empurrá-lo, mas só peguei o pote de pipocas dele.
"Nada," ele disse, sua risada sendo substituída por um sorriso que parecia tê-lo acordado de qualquer pesar que antes ele tinha carregado. "É só legal ver que você se importa tanto assim com honestidade que precisa esclarecer algo que nem é da minha conta."
"Mas é da sua conta," falei antes que pudesse me parar. "Você é meu amigo," corri pra explicar. "Eu sou quem eu sou. E quem eu amo é parte de quem sou. Quero que me conheça de verdade, não que tenha uma imagem errada de mim."
Pode parar de falar agora, Carolyne!, me ordenei na minha cabeça.
O sorriso de Will cresceu por um segundo, mas logo seus olhos encontraram os meus e seus lábios pareceram desistir de sorrir.
Eu estava ciente demais da distância entre nós, de onde suas mãos estavam, de todas as possibilidades de elas encontrarem as minhas. Sabia o ritmo de sua respiração e sentia o olhar dele queimar na minha pele. Mas desviei meu olhar para a tela e peguei o controle que tinha trazido comigo, me distraindo.
Nem parei de comer a pipoca, tentando ao máximo parecer desinteressada, tanto pra ele quanto para mim. Mas, quando me virei pronta pra perguntar o que ele queria ver, Will ainda me observava, agora mais fundo, mais sério, seus olhos percorrendo meu rosto, acelerando as batidas do meu coração a cada segundo.
Quis repassar todas as palavras que tinha dito até então. Tinha a certeza de que tinha falado besteira, de que já devia estar escrito em minha testa que eu sentia algo por ele. E o nó na minha garganta não me calava, só me dava ainda mais vontade de admitir aquilo, de ser honesta completamente, de não omitir nenhuma das lembranças que eu queria ter a sorte de criar com ele.
Mas não movi um centímetro.
"Carol," quando ele falou de novo, sua voz estava grave, baixa, mas direta. Era impossível não ficar feliz só de ele parecer mais vivo agora, mas estava preocupada com a minha própria sobrevivência naquele momento. "Posso te perguntar outra coisa?"
Concordei com a cabeça, tentando não pensar em todas as coisas que eu queria ouvir dele e não me atrevendo a abrir a boca.
Will se inclinou na poltrona, ainda virado para mim, na posição mais desconfortável do mundo, mas aparentemente o suficiente para ele. Ainda fez questão de dar um mínimo sorriso antes de continuar. "O que mais você acredita ser importante??"


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Notas finais do capítulo

Só para falar: uma das frases do Will foi a Ana Luiza que criou em uma brincadeira no grupo do Facebook!



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