O sol brilhava alto, já era praticamente hora do almoço. Mugen e Tohma andavam juntos pela estrada, cada um segurando uma grande sacola. O jovem de amarelo cantarolava:

– Takoyaki, takoyaki, tako-tako yaki-yaki...!

– Olha, eu gosto de takoyaki tanto quanto qualquer pessoa, mas não sei como você pode estar tão animado – reclamou Mugen, suspirando de olhos fechados enquanto caminhava, passando ao lado de uma quadra de esportes. – Quer dizer, acho que te vejo comendo isso literalmente todos os dias e... Tohma?

Ele olhou para o lado, percebendo que estava falando sozinho. Tohma, por sua vez, tinha ficado pra trás, junto à grade da quadra. Nela, um grupo de crianças jogava bola de forma tão descoordenada quanto divertida. Tohma sorria, talvez tanto quanto os pequenos jogadores.

– Ah, futebol! – Mugen andou de volta até o amigo. – Você joga, Tohma?

– Eu... – o sorriso em seu rosto sumiu, e sua voz se tornou séria. – Vamos, já está ficando tarde. Não quero que esfriem.

Ele foi por seu caminho com passos firmes, e Mugen o seguiu sem entender bem se tinha falado algo errado.

***

A praça de alimentação à céu aberto estava lotada como sempre. Pessoas se amontoavam nas pequenas mesas e cadeiras de plástico para fazerem suas refeições em grandes grupos.

– Hey! Cuidado! – um homem de terno segurando um hambúrguer virou-se rapidamente para garota que sentava atrás dele. – Você me esbarrou bem forte agora!

– Do que está falando!? Você que me acertou! E...

Eles não tinham como saber, mas muitas pessoas estavam sentindo a mesma coisa naquele local: estranhos golpes vindos do nada... Que rapidamente extraíam a energia vital de todos os presentes, colocando-os pra dormir. Em meio aos corpos entorpecidos, o Sacerdote da Destruição Doham surgiu, sorrindo.

– Huhuhu... Excelente trabalho! Vamos para o próximo ponto.

Doham sumiu em um flash, decidindo buscar vítimas mais frescas no alvo seguinte.

***

O grito das crianças cortou o silêncio incômodo entre Mugen e Tohma, que rapidamente voltaram correndo para o campo de futebol. Demoraram pouco mais de um minuto, mas todas os jovens jogadores já se encontravam desmaiados.

– Hey, acorde, vamos! – Mugen balançava um dos meninos. – O que aconteceu aqui!?

– Acho... Acho que roubaram a energia vital deles – Tohma reconheceu as características. – Mas quem...?

– Huhuhu, continuam espertos como sempre, Gairangers! – Doham se equilibrava numa das traves, segurando sua capa elegantemente. – Não esperava encontra-los tão cedo hoje, mas muito bem. Tokage Genma, ataque!

– Doham, seu... AH! – um ataque forte contra o estômago de Mugen o silenciou. Em seguida, Tohma também veio ao chão, derrubando sua sacola. – De onde diabos isso está vindo!?

O sacerdote começou a rir, descendo de seu poleiro.

– Mostre-se, Tokage Genma! – com um estalar de dedos, a criatura esverdeada brilhante surgiu como ao lado de seu mestre. Ele tinha um gordo bulbo em cada ombro – Esse Genma-Monstro pode refletir a luz, tornando-se completamente invisível aos olhos humanos. Os patéticos habitantes desse planeta serão destruídos sem nem saberem o que está acontecendo!

– Não se pudermos evitar! – os dois ficaram em posição, erguendo seus Soul Changers. – Gaishin!

Os dois Gairangers saltaram contra a criatura, mas os bulbos se abriram (revelando olhos arroxeados) e com um fraco brilho ele havia desaparecido como se fosse feito de ar.

– Que parte de invisível vocês não entenderam? – a voz de Tokage-Genma se fazia ouvir, enquanto Red e Yellow atacavam futilmente seus arredores. – Sintam meu Stubborn Hit!!

O golpe acertou Mugen em cheio, derrubando-o. Em seguida, Tohma sentiu a mesma força, como se levasse o soco mais forte que já vira. Ambos estavam caídos, e a transformação fora cancelada.

– Huhuhu, são mesmo ridículos – Doham balançava sua cabeça negativamente, enquanto Tokage Genma voltava a ser visível. – Dê o golpe final!

– Com prazer! – a criatura esticou seu braço esquerdo, deixando uma espécie de chicote vermelho cair ao chão, parecido com uma língua. Ele preparou o ataque, quando... – AHHH! O QUE É ISSO!?

Uma substância viscosa queimava o ombro direito do Genma-Monstro, grudando as pálpebras de seu olho. Era cola quente.

– Se esqueceram que os Gairanger são três? – Gai Blue chegara, segurando uma pistola de cola. Mugen e Tohma cambalearam até ela, enquanto o monstro gemia de dor – Ainda bem que eu estava na papelaria com a minha irmã...

– Argh... Essa coisa! – ele tentava fazer o olho se abrir, sem sorte. – Assim não posso ficar invisível!

– Seu IDIOTA! – Doham acertou o subordinado na cabeça. – Nós voltaremos, Gairangers! – e ambos desapareceram.

***

Na G-Pro, Gall-A inseria uma série de dados sobre a criatura no computador, criando um holograma miniaturizado. Todos observavam com atenção, menos Tohma, que parecia perdido em seus próprios pensamentos.

– Esse Tokage Genma possui habilidades de diversos tipos de lagartos, em especial o camaleão que lhe concede o poder de ficar invisível – começou a robô. Depois continuou, dando close nos ombros do monstro. – A chave para isso são os olhos ligados aos ombros. Se os neutralizarem, ele ficará visível novamente!

– Você fala como se fosse fácil – Mugen colocava a mão sobre seu machucado. – Esse bicho é muito rápido, mesmo se pudéssemos vê-lo já seria difícil de atingir os olhos!

– E eu não acho que isso vá funcionar de novo – Harumi olhava para a pistola de cola. – Zalloss com certeza vai tomar alguma precaução. Sem falar que depois vou precisar ir comprar mais pra Hitomi...

– Vocês só precisam pará-lo por alguns segundos, depois vão poder usar isto! – Gall ativou um comando secreto, abrindo uma janela na parede. No interior dela, braços mecânicos mexiam num aparelho ligado à vários eletrodos. – Essa nova arma é capaz de armazenar o poder de vocês três, maximizá-lo e depois jogar contra o inimigo. Faz o Gai Laser parecer uma arma de chumbinho!

– Uau! – Mugen soltou um assovio de excitação. – Não achei que ia ficar pronta tão cedo! Mas será que vamos ter chance de usar? Enfrentar aquele monstro é como tentar acertar o vento...

Nessa hora, Tohma saltou de seu lugar, fazendo um barulho alto de “ah!”, como se tivesse tido uma epifania.

– Pessoal, eu tenho que ir pro campo de futebol! Se tudo der certo, vou conseguir derrotar o Genma-Monstro! Segurem ele até lá!

Ele saiu correndo pela porta, sem nem se despedir. Alguns segundos depois, voltou, colocando apenas a cabeça pra dentro da sala:

– E, Mugen: VOCÊ É UM GÊNIO!

Sem entender bem o que tinha acabado de acontecer, Mugen virou-se para a colega:

– O que ele vai fazer no campo, afinal?

– Hm, acho que você nunca soube disso, né? – começou ela. – Há algum tempo atrás o Tohma era o goleiro do time da escola dele, parece que também era incrível batendo faltas. Ele já tinha até promessa para se tornar profissional!

– O QUE!? E como diabos ele parou de jogar então?

– Não sei... Ele nunca respondeu das vezes que perguntei. Deve ser algo muito pessoal...

Antes que Mugen pudesse continuar a conversa, o alarme começou a soar. Gall voou até os controles começando a falar uma porção de dados, mas os dois já sabiam o que tinham que fazer.

***

A fortaleza Pregyre continuava em sua soturna órbita ao redor do planeta Terra. Em seu interior, Tokage Genma se ajoelhava perante a sacerdotisa Lamarg.

– Zasusu Razoora! – a mulher invocara um encantamento sombrio enquanto tocava os ombros do monstro, que brilharam. – Nada poderá sujar seus olhos agora. Já enviei uma tropa de Zazer para deixá-los cansados, agora vá em frente e acabe com os Gairangers!

– Muito obrigado, minha mestra! – agradeceu a criatura, desaparecendo.

Lamarg caminhou até seu irmão, sorrindo um sorriso sutil.

– E não precisa me agradecer, Doham. Kyahaha! – ela seguiu seu caminho, deixando sua risada sarcástica ecoar.

Enfurecido, Doham socou a parede ao seu lado, enfiando completamente seu punho.

***

– Pega essa então! – o jovem chutou a bola com força para seu colega, gritando mesmo sendo os dois únicos na quadra aberta da escola.

– ISSO! – seu interlocutor da mesma idade saltou e cabeceou para longe. Ambos usavam camisas com o mesmo logotipo: um H dourado dentro de um furacão. Sob o símbolo, lia-se “Hannya Hurricanes”.

Os dois sentaram no chão, suando muito depois de uma tarde pesada de treino. O resto do time já tinha ido pra casa faz tempo, mas esses dois eram cabeça dura e sempre davam 120%. Mesmo assim, estavam certos de que o treino chegara ao fim, até que ouviram alguém chegando.

– Já vão parar assim tão cedo, Josuke, Jotaro!? – Tohma carregava a bola que havia sido lançada previamente. Ele sorria.

– TOHMA!? – gritaram os dois, enquanto corriam para o amigo. – Não me diga que você vai voltar!? O garoto que ficou no seu lugar é terrível, isso é ótimo e...

– Pessoal... Não vou voltar – a voz dele era extremamente séria. – Prometi nunca mais jogar, mas agora eu preciso da ajuda de vocês. Temos que fazer o Treino Fantasma mais uma vez! E, hã... Acho que eu só tenho uma meia hora.

Josuke e Jotaro estremeceram. O chamado Treino Fantasma era bem puxado, fazia o goleiro ficar de olhos fechados enquanto dois atacantes trocavam passes até que um deles chutasse. A idéia era fazer o goleiro aprender os movimentos do vento até que pudesse saber pra onde a bola iria. Podia levar o dia inteiro.

– Você aparece aqui depois de todo esse tempo, não mudando de ideia e ainda quer que treinemos com você? – Jotaro tinha um timbre sério.

– Devemos ser ainda mais idiotas que você então – terminou Josuke, e ambos já começaram a sorrir. – Vamos começar!

***

– Gai Laser! – as pistolas de Red e Blue disparavam rajadas contra os Zazer, que vinham em multidão. – Esses peixes pequenos enchem o saco, cadê o chefão?

– Aqui! – como que de propósito, Tokage Genma surgiu no campo de batalha. – Graças à minha mestra, não conseguirão mais fechar meus olhos! Preparem-se!

O Stubborn Hit do monstro invisível foi veloz contra os dois, derrubando-os. Na cabeça de Mugen, seu pensamento era um só...

“Tohma, volte logo!”

***

Já era a décima segunda vez que tentavam, sem sucesso. Tohma Tatsumaki respirou fundo e olhou para seu Soul Changer, que começava a apitar. Tentando esconder dos ex-companheiros, ele atendeu:

– Darling, você precisa correr! As G-Suits são tomaram danos demais, não sei se vão aguentar!!

– Então... Acho que essa é minha última chance!

Ele rasgou uma parte de sua camiseta, vendando então seus olhos. Em seguida, bateu com as luvas de goleiro e gritou para os amigos começarem.

Enquanto os dois começavam a troca de passes do meio-de-campo, Tohma fechou-se em si. Se esforçando ao máximo conseguiu bloquear todos os ruídos, ao ponto de ouvir seu próprio coração. Além disso, apenas o vento.

Foi quando sentiu. O zumbido era rápido, vindo numa curva. Vendado e de olhos fechados, ele finalmente pôde ver – e segurou com uma só mão a bola que vinha à sua direita!

– Josuke, Jotaro... OBRIGADO! – ele retirou a venda, e já se pôs a correr. – Mugen, Harumi. Esperem por mim!

– Patéticos! Vocês humanos são ridículos! – Tokage Genma estava junto de Gai Red e Gai Blue, ambos caídos e com faíscas saindo de seus corpos. – Aposto que seu outro amiguinho saiu correndo de medo e... O que foi isso!?

– ZA!

– ZAAA!

– ZAAAA!

Sucessivamente, os Zazer que sobravam foram derrubados por boladas poderosas, que voltavam para seu lançador e eram chutadas novamente.

– Eu saí correndo para chegar até você, Tokage Genma! – Tohma largou a bola no chão, e fez um sinal de positivo para os amigos, como se dissesse obrigado. – Pode vir!

– Imbecil, assinou sua própria sentença de morte! – enquanto falava, ele ativou seus olhos e ficou novamente invisível. Para confundir o inimigo ainda mais, começou a movimentar-se rapidamente e então... – STUBBORN HIT!!

Tohma fechou seus olhos, repetindo o que havia reaprendido com seus colegas. Ele podia sentir todo o vento à sua volta, e com seus ouvidos era finalmente capaz de enxergar.

Num movimento extremamente precioso, ele ergueu sua mão esquerda e segurou a língua da criatura, torcendo-a para fazê-lo gritar de dor.

– Estou vendo, Zalloss! – ao som de “SOUL CHANGE”, Gai Yellow se transformou, empunhando seu Gai Laser. – É a deusa da vitória! GAI LASER!

Seguindo a trajetória da língua, ele atirou duas vezes, explodindo certeiramente os olhos nos ombros. Com um gemido, Tokage Genma voltou a ficar visível, dessa vez permanentemente.

– Sabia que voltaria à tempo! – Blue correu até Yellow, batendo de leve em seu ombro.

– É, mas da próxima vez tenta chegar um pouquinho antes? – completou Red, rindo.

– Não prometo nada! Aliás... – Yellow, ligou o comunicador. – Gall, a arma já está pronta?

– Está completa, podem chamar! Mas não se esqueçam que só tem um tiro!

– Acho que já roubei a cena demais por aqui, quer ter as honras?

– Estava esperando por isso! – Mugen levou o comunicador próximo à boca, dando o chamado. – Gai Arm! Anima Buster!!

Um brilho esverdeado surgiu frente aos três, e logo um canhão de mão estava pronto para ser usado.

– Soul Changer, Set! – enquanto Red acoplava o aparelho ao canhão, Yellow e Blue ficavam um de cada lado, preparando-se para o recuo e passando suas energias para um único ponto. O som de RED SOUL CHARGE fez-se ouvir. – ANIMA BUSTER!!!

Uma imensa carga de pura Soul Energia concentrada voou em linha reta no formato de uma cabeça de touro, acertando em cheio o ainda cambaleante Genma-Monstro. A explosão gerada foi o suficiente para destruí-lo completamente, deixando apenas um rastro de fumaça.

– Soul End!

***

– TOLOS! – a face amedrontadora de Grandoria disparava raios contra seus sacerdotes, fazendo ambos urrar em dor. – SEUS PLANOS ESTÚPIDOS CONTINUAM A SER ARRUINADOS POR SIMPLES HUMANOS!

– Gloriosa mãe, não se preocupe! – Doham falava seriamente, olhando para baixo. – Prometo que conseguiremos muito mais força vital para saciar sua fome! Dou-lhe minha palavra!

– CONTO COM ISSO, DOHAM. LEMBRE-SE DO DESTINO DE SEU OUTRO IRMÃO...

Com isso, ela desaparecera. A lembrança que despertara em Doham e Lamarg era realmente terrível.

– Dokuross... Eu não vou acabar como você!

***

Depois de um longo dia, Mugen, Harumi e Tohma estavam finalmente comendo os takoyaki que queriam desde o almoço – almoço esse que não havia acontecido até agora.

– Hey, Tohma... Posso te fazer uma pergunta? – Mugen esperou o amigo afirmar com a cabeça, ainda com a boca bem cheia. – Porque parou de jogar futebol?

Tohma engoliu pesadamente sua comida, tomando em seguida um gole longo de chá. Ele olhou para Mugen com a expressão mais séria que ele já havia visto.

– Mugen, esse takoyaki é delicioso porque tem uma receita secreta. É um molho que por mais que você pergunte ao chefe, jamais saberá do que é feito. O que eu quero dizer é que...

– Tem certas coisas que a gente não vai saber, certo? – completou Harumi, e Tohma assentiu com um sorriso, pegando mais uma porção

– Você que sabe né... – depois de pensar um pouco mais, Mugen voltou a olhar pro amigo, roubando seu takoyaki. – Mas que tipo de idiota faz metáforas usando takoyaki hein?

Tohma xingou Mugen, enquanto corria atrás dele. Harumi e Gall apenas riam dos dois agindo como crianças. E na cabeça de Tohma, ele continuava a agradecer pelos companheiros incríveis que tem, dentro e fora do campo.