Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 7
Evoluir


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo 7! Demoramos um pouco, quero dizer, eu demorei... Mas aqui está! Boa leitura!



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Mais um dia estúpido nesse mundo escroto. Mais um dia aguentando retardados imbecis. E mais um dia com uma vontade máxima de viver.

- E aê, Nakamura? – Hirano cumprimentou sentando ao meu lado no refeitório – Como vai a vidinha feliz?

- Olá, Kyoko! – Disse Matsui.

- O que vocês querem? – Perguntei seca. Não estou com a mínima vontade de conversar, esses dias os pesadelos têm sido mais intensos, ou seja, apenas duas horas de sono e olhe lá.

- Não seja grossa, Nakamura. Onde está a sua boa educação? – Repreendeu a morena.

- Morreu, junto com a vontade de te aturar. Então conte logo o que você quer, porque eu não estou com paciência.

- Como é rude... Tenho até vergonha. Que horror! Como...

- É sobre o trabalho. – Falou Matsui finalmente – Estávamos pensando em ir ver os Macaca Fuscata no domingo. O que acha?

- Para mim está bom, mas vocês têm certeza que querem fazer tudo junto? A gente pode muito bem dividir as tarefas, seria muito...

- Psiu, Nakamura. Deixa de ser teimosa! É um trabalho em GRUPO!

- Ok, ok. Mas seria mais fácil...

- Como você é teimosa...

- Kyoko, gostaria de ir conosco no festival do Hamarikyu? – perguntou a ruiva.

- Vai ter um festival do Hamarikyu? Quando?

- Hoje, sua lesa! Em que mundo você vive, hein?

- Em um mundo onde você não existe, Hirano. Ah não, espera isso é só um sonho. – Falei fingindo decepção.

- Isso mesmo, Nakamura. Não confunda sonhos com a realidade, isso pode ser péssimo no futuro!

- Fica quieta, Ayame. E você também, Kyoko. – Completou quando eu abri a boca – Vocês parecem duas crianças bobas! Que coisa!

- Como você é má, Maki! Nós apenas estamos expressando o nosso amor por meio de brincadeiras inocentes! Como você pode nos chamar de crianças bobas por isso?! Que tipo de mente maligna e cruel você tem? – Disse Hirano fingindo estar magoada.

- Ai, como você tonta. Eu não mereço isso! Bem, Kyoko... O festival vai ser bem tradicional, ou seja, aqueles com quimonos e essas coisas. Vamos nos encontrar na minha casa as 18h, quer ir?

- Eu...

- Olha, olha. Fez amigas, Nakamura? – Debochou Saito Hikari, a idiota do primeiro dia de aula – Que surpresa! Uma anti-social como você fazendo amizades? Ayame, Maki, vocês não têm medo? Poderiam pegar alguma doença. Eu morreria de medo de pegar alguma coisa dessa aí.

- Pode ficar tranquila, Saito. – Começou Hirano – Você não fica mais doente do que já é. O que você tem mesmo? Estupidez crônica ou imbecilidade mórbida?

- Olha como fala comigo, sua insolente estúpida. – Gritou Saito.

- Com certeza estupidez crônica. Só pode ser isso. – Afirmou a morena, balançando a cabeça.

- Está tudo bem, Hikari? – Perguntou uma loira tingida que acabara de chegar. Por que as pessoas não podem simplesmente morrerem e me deixarem em paz?

- Apenas a Ayame arrumando problemas.

- Conheço muito bem essa daí. Não passa de uma cadelinha assustada. – Disse, cínica.

- Olá Naomi, vejo que aprendeu a falar.

- Claro que sim, tenho uma capacidade incrível, não sabia? – respondeu a tal Naomi – Mas me diga, Ayame, como está o papai?

- Ótimo, você sabe. – Pela primeira vez vi um flash de ódio no rosto da Hirano, que felizmente, acho, deu lugar ao costumeiro sorriso – Bem melhor que o Nao, com certeza. Se bem que ele nem deve mais querer olhar para a tua cara, não?

E antes que eu percebesse já estava no meio das duas impedindo Naomi de dar um tapa na cara da Hirano. Olhei atravessado para a loira de farmácia e senti uma mão em meu ombro.

- Não faça isso, Nakamura. – Pediu Hirano, com um sorriso debochado no rosto – Não queremos sujar suas lindas mãos, não?

- Eu estou tentando te ajudar, se não percebe! –Falei cansada e, por que não, desconcertada – Poderia ao menos se sentir um pouco grata.

- E eu me sinto. Mas para o que eu vou fazer não preciso da ajuda de ninguém.

O som seco e estalado do tapa na cara da tal Naomi deve ter sido ouvido em todo o refeitório. Tanto que aqueles que já olhavam a briga deram gemidos de dor e os alheios a tudo gritaram de surpresa.

- E se você contar para alguém o que acabou de acontecer. Eu mesma vou na sua casa e te torturo até você implorar pela morte, entendeu? – Avisou Hirano com um sorriso cínico no rosto – E isso vale para todos – Gritou subindo na mesa – Qualquer um que falar sobre o que aconteceu aqui vai receber a fúria incontrolável da Nakamura, entendido?!

- Hirano, não use meu nome em ameaças idiotas.

~~~#~~~

- Ela subiu mesmo na mesa? – Perguntou Arata enquanto arrumávamos as estantes da livraria – Eu sempre quis fazer isso no meu colégio, mas lá as mesas são meio precárias, tenho medo de cair.

- Sim, ela subiu. – Respondi, ignorando a parte das mesas precárias – E depois começou a me usar nas ameaças estúpidas dela.

- Eu não sabia que você era ícone do medo na sua escola. – Riu levemente.

- Sou mesmo, tenho medo de mim. – Brinquei, o olhando atravessado.

- Por favor, não me machuque! – Ele gritou levantando os braços, rindo mais ainda.

- Mas, sabe, eu não sei por que protegi a Hirano. Quando percebi já estava no meio das duas impedindo a tal da Naomi. Estranho, não?

- Por que estranho?

- Sei lá, nunca me preocupei muito com alguém ao ponto de protegê-lo. Quero dizer, não com alguém que eu não tenho muita intimidade, como a Hirano. Apenas com o meu irmão.

- Eu acho que você protegeu a Hirano porque você está se tornando amiga dela.

- Uhn. – Eu realmente acho que não é isso, afinal que, além da Matsui, poderia ser amiga daquela tonta? E além do mais... Ah, é melhor não pensar nisso – Ah! Eu te disse? Esses dias, o meu irmão resolveu falar de sexo comigo.

- Sério?! Conta tu... Caham, fala aê o que aconteceu! – Desde que eu descobri que o Arata é bissexual ele tem sido mais... Feminino comigo, mas ele se culpa por isso, então ele tenta sempre se corrigir quando dá algum deslize. O que eu acho bobo, mesmo que muito engraçado.

- Ele começou com: Kyoko, os homens e as mulheres vêm o sexo de uma forma diferente, para as mulheres é algo sentimental, e para os homens é apenas sexo. Então não se sinta pressionada para ter uma relação sexual, certo? – Falei tentando imitar a voz do Akira.

- Fala sério. Não acredito que ele falou isso. – Riu Arata – Que fofo!

- Fofo nada, foi é vergonhoso. Mas até que ele ficou fofo corado.

- Ele corou?

- Sim, foi bizarro... – Suspirei.

- Ah, eu precisava te contar uma coisa. – Ele começou a falar depois de alguns minutos de silêncio.

- Uhn.

- Eu... Eu estou com uma dúvida.

- Uma dúvida?

- É...

- Arata, se você só falar isso eu não vou entender. – Informei o óbvio depois de algum tempo.

- É... Eu fui pro Paintball com ele no fim de semana. – Disse se referindo a paixão dele – Ele levou uns amigos, e bem... Tinha um garoto...

- Um garoto?

- A gente foi no banheiro. Daí quando eu tava lavando a mão ele meio que me abraçou, sabe?

- Te abraçou?

- Isso... E bem, quando nós saímos ele colocou um bilhete na minha mão....

- E?

- É...

- Fala, Arata! O que estava escrito no bilhete? – Suspirei cansada, realmente eu estou sono.

- “Cinema Shopping Himagari – Sexta.20h”?

- Nossa.

- Eu sei!

- Espera... Hoje é sexta, são 18h e estamos no Shopping Himagari. Você vai?

- Eu não sei! Essa é a minha dúvida! – Ele gritou desesperado. – O que você acha que eu devo fazer? Ele é legal, mas tem o meu amigo. Mas se eu for eu posso esquecer dele, então... Seria até bom. Mas se eu fizer isso eu vou estar usando ele... Ah! – Choramingou fazendo um adorável, porém bizarro, bico – Kyoko o que eu faço?!

- Olha, é uma decisão sua. Mas se fosse eu, eu iria. Não vale a pena investir em um amor que não vai dar certo.

- Mas e se ele quiser me beijar... – Sussurrou quase como se isso fosse algo proibido.

- E qual é o prob... Não me diga que você nunca beijou?

- Não! É só que eu não sou muito experiente, sabe? Só beijei umas duas garotas e só descobri que era bi quando me apaixonei pelo meu amigo. Então...

- Complicado...

- Eu sei! – Murmurou com a voz chorosa.

- Mas, Arata, se ele quiser te beijar qual é o problema? Vai ser uma experiência. Você não pode ficar a sua vida inteira com medo de beijar alguém.

- É verdade. Mas e se eu beijar mal? – Sussurrou olhando para os lados – E se ele não gostar? E falar: você é péssimo, Arata. Não sabe nem ao menos sabe beijar direito! Se isso acontecer minha auto-estima vai lá pra baixo, e olha que ela já não é grande coisa. – Balançou a cabeça em negação – Ser um bissexual quase enrustido que foi expulso de casa pelos próprios pais e é apaixonado pelo melhor amigo é meio difícil, sabia?

- Não, eu não sabia. – Falei calmamente, apesar de achar graça do desespero sem motivo dele – Mas olha, se realmente você beijar mal e ele falar tudo isso, é porque ele é um idiota que não te merece. Então você não pode sofrer por isso, certo?

- Acho que sim...

- Não vou dizer que você vai esquecer do seu amigo, mas vai ter uma hora que você não vai se importar tanto com o fato dele não gostar de você, que você vai começar a aceitar e sorrir quando lembrar da sua paixão. Aos pouco você vai amadurecer e começar a ser... Mais feliz... – Acho...

- Obrigada...

- De nada. – Sorri – Ah, eu e meu irmão estávamos pensando em viajar nas férias. Quer ir conosco?

- Claro que sim, Kyoko-chan! – Ele gritou me abraçando.

- Arata! Estamos em uma livraria, não grite como um louco! – Falei envergonhada.

~~~#~~~

- Akira. – Chamei meu irmão – Eu vou sair com umas colegas, você sabe onde está meu quimono?

- O seu preto? – Perguntou enquanto terminava de lavar a louça.

- Esse mesmo.

- Acho que tá no meu armário. Mas por que quer o quimono? – Informou, para depois me seguir até o quarto.

- Eu vou para um festival no Hamarikyu.

- Ah, aquele que vai começar às 17h? – Se apoiou no batente da porta, com um sorriso estranho no rosto.

- Acho que sim, vou encontrá-las às 18h... Achei! – Sorri um pouco.

- Que bom. Se divirta, ok? – Falou bagunçando o meu cabelo, ainda com o sorriso estranho.

- Hai, hai. – Disse indo me vestir, apesar de saber que não seria assim tão divertido.Na verdade, acho que vai ser bem problemático e cansativo.

Hirano já estava sentada no sofá da sala quando eu cheguei. Fui bem recebida pela ruiva mãe e novamente a ruiva anã correu de mim e começou a chorar, o que resultou em flechadas bem aplicadas da Hirano.

- Nossa, você faz uma criança chorar tanto, será que quando você era criança você chorava só de ver seu reflexo no espelho?

- Não, eu não chorava. Mas aposto que você sim, só de olhar para essa sua cara deformada sua auto-estima devia ir lá pra baixo. Coitadinha da Ayaa-chan. – Zombei.

- Estou pronta! Vamos? – Chamou Matsui descendo as escadas, antes que Hirano pudesse, ao menos, me responder – Estou super ansiosa! Vamos logo! – Ela nos puxou e já fora de casa gritou – Itekimasu!

- Pra que tanta animação, Maki? – Perguntou Hirano suspirando – É só um festival.

- Pode até ser, mas eu tô com uma vontade enorme de comer maçã-do-amor. E essa é a primeira vez que a Kyoko tá saindo com a gente. – Sorriu para mim.

- Só não se acostumem muito. – Falei constrangida.

- Por que não? A Kyoko-chan ama a gente, não é? – Zombou a morena.

- Claro, Hirano. Continue acreditando nisso...

Fomos caminhando até o parque. Ele estava maravilhoso, todas as árvores enfeitadas com luzes e lanternas. A barracas montadas uma do lado da outra e... Ah! Takoyaki! Barracas de takoyaki e mais barracas de takoyaki ! Ah... Eu amo takoyaki.

- Vou pegar takoyaki. – Avisei para as garotas.

- Você gosta de takoyaki? – Matsui perguntou me seguindo.

- Um pouco... – Menti, eu adoro takoyaki, é a coisa mais divina que os humanos já inventaram.

- Olha tem maçã-do-amor, Maki. – Falou Hirano apontando para uma das barracas mais a frente.

- Ah... Que bom! – Sorriu dando leves pulinhos de felicidade... Depois falam para mim que são seres totalmente normais...

- Você gosta? – Perguntei, apesar de já saber a resposta.

- Muito! E você?

- Nunca experimentei, na verdade...

- O quê?! – Ela gritou chamando a atenção de toda a fila da barraca.

- Você é muito escandalosa, Maki. – Constatou Hirano revirando os olhos.

- Mas ela nunca sequer experimentou! – Bradou novamente, claramente decepcionada.

- Pois eu aconselho a nunca experimentar, Nakamura. – Disse a morena olhando para nenhum lugar em especial, na verdade ela parece estar pensando em qualquer coisa menos na maçã-do-amor.

- O quê?!

- É muito doce, e mela toda a sua boca e a sua mão. E além do mais, é apenas uma maçã caramelizada, qual é a graça?

- Toda! Pelo menos é bem melhor do que tempurá!

- Certo...

- Maçã-d... Como assim “certo”? Você está bem?

- Claro, por que não estaria? – Perguntou revirando os olhos.

- Você nem retrucou... Você adora tempurá, ontem você estaria brigando comigo. Você está tão distante.

- Como assim, Maki?

- Distante, avoada, em outro planeta, boiando na maionese do arco-íris estrelado. – Maionese do arco-íris estrelado? Eu realmente ouvi isso?

- Eu estou normal.

- Não, não está. – Falei – Até eu percebi, o que tá acontecendo?

- Nada... Kyoko, sua vez.

- O quê? Ah sim, eu quero uma porção de takoyaki, por favor. – Pedi para a atendente – Mas então, o que aconteceu?

- Nada! Que coisa!

- O que foi, Ayaa-chan? Aconteceu alguma coisa, não? – Falou Matsui em uma voz exageradamente manhosa, com algumas lágrimas no rosto – Foi culpa minha, não foi? Eu sei que foi culpa minha. Me desculpa! Eu sinto muito, eu sei que sou uma idiota que só atrapalha a sua vida. E...

- Não foi sua culpa, Maki! – Interrompeu Hirano, abraçando a ruiva, aparentemente meio... Desconfortável – Você não atrapalha a minha vida, você é uma ótima pessoa. Uma ótima amiga! Eu gosto muito de você, você não atrapalha a minha vida mesmo! Você é muito fofa. Obrigada por se preocupar comigo, não precisa chorar, eu conto pra você. – Olhei para a cara da Matsui, ela estava com um sorriso vitorioso, ou seja, fora apenas uma chantagem emocional. Meu conceito subiu com essa garota.

- Vai mesmo me contar, Ayaa-chan? – Ela fingiu uma voz alegre e chorosa.

- Sim, vou sim!

- Tem certeza? Se não quiser tudo bem, eu vou entender...

- Não, eu vou te contar, Maki!

Uau! Manipulação a mil! Realmente... Quem é essa garota?

- Obrigada, Ayaa-chan. – Fala sério...

- Hoje meu pai começou a perguntar sobre a faculdade... Eu não sei o que quero fazer... Eu... Me dá medo, sabe? Essa coisa de escolher, de amadurecer. Me assusta muito... Eu sempre soube que durante toda a minha vida eu teria que fazer escolhas, mas... Sei lá... Como eu vou saber se aquilo é melhor que isso? Que com aquilo o meu futuro estará mais garantido do que com isso? Isso tá me surtando!

- Não tem como saber, Ayaa-chan. Se houvesse um modo de saber o caminho do sucesso e da felicidade, não haveria tantos problemas no mundo como hoje. O futuro é algo assustador... Eu sei disso... E escolher o que você quer para o futuro é pior ainda, pelo menos para nós...

- Mas... Eu não vou conseguir. E se eu escolher algo e falhar... Eu não sou boa em nada, eu não gosto exageradamente de nada...

- Ayaa-chan, eu não posso te ajudar com isso de escolher. Porque antes de tudo, você tem que estar feliz com a sua profissão, você tem que estar segura com a sua escolha. Mas isso de falhar, esses pensamentos negativos que você tem... Talvez eu possa fazer algo... Porém não vai ser nada além de palavras...

“Quanto mais crescemos, quanto mais vamos nos tornando jovens prontos para serem adultos, mais coisas caem em nossos ombros. A nossa mentalidade, nossa forma de ver o mundo começa a se formar, nós começamos a nos rebelar e gostar de coisas diferentes, mas principalmente, adquirimos independência. A independência de pensar, e de fazer escolhas sem a opinião de terceiros... Mas com isso também vem o medo.

“O medo de falhar, de errar, de nada dar certo por nossa causa. Tudo isso é assustador. Mas o que mais nos empurra para baixo é a pressão, a pressão dos amigos, da família, e antes de tudo a pressão interna, a que vem de nós mesmos. Aquela vozinha chata que fica nos deprimindo, que fica nos preocupando. Mas essa vozinha é importante, porque da mesma forma que ela nos puxa pra baixo, ela também pode te ajudar quando você falhar. E você vai falhar, porque todos falhamos pelo menos uma vez.

“Não há jeito de saber o que é melhor. Não há jeito de acabar com o medo. Não há jeito de saber o que vai acontecer. Não há jeito de não errar. Não tem caminho fácil ou simples, a única coisa que podemos fazer é escolher um caminho e sempre fazer de tudo para que no futuro, você possa olhar para trás e ter orgulho de si mesma.”

Depois do monólogo da Matsui, Ayame a abraçou e eu resolvi dar uma volta. Parecia um momento de amigas, não queria interromper ou dar uma de intrometida. Acho que vou experimentar uma maçã-de-amor, ela me fez ficar interessada.

- Me desculpe. – Pedi desculpa para o garoto, depois de cruelmente ter esbarrado com ele, e me virei, na verdade nem olhei para a cara do ser.

- Não t... Kyoko?

Ótimo! Meu dia não podia ficar melhor?

- Olá, Matsuda. O que quer? – Perguntei seca.

- Kyoko-chan! É assim que fala com quem acabou de esbarrar? – Revirei os olhos.

- Já disse para não me chamar assim.

- Mas...

- Tchau, Matsuda.

- Espera. A gente acabou de se encontrar! Também se perdeu dos seus amigos?

- Faz diferença?

- Acho que você podia ser um pouco mais comunicativa não? Pelo menos por cinco segundos.

- Certo. Eu não me importo com o que você pensa, eu não gosto de você. O seu tempo acabou, tchau.

- Espera! Vamos conversar como pessoas civilizadas.

- Quando eu te bater aí você pode falar em civilização.

- Você não ganha de um garoto.

- Acha mesmo? Então como todos do colégio têm medo de mim? – Perguntei irritada. Garoto insolente, nem ao menos chega na escola e já começa a encher o meu saco?

- O seu olhar que te protege. Ninguém consegue lutar contra ele, mas em uma briga mesmo, principalmente com um garoto, você perde.

- É?

- É você não tem físico o suficiente. Não venceria de mim.

- Com certeza. – Falei sarcástica – Afinal, você é in-ven-cí-vel, não?

- Em todos os sentidos.

- Apenas perde para um garotinho de 7 anos, não? Nunca pensei que o tão aclamado Matsuda Kaoru pudesse ser um humano a ponto de se preocupar com um garotinho.

- Você não sabe sobre mim. – Ele disse corado, mas em desafio.

- Também não quero saber. O que você faz da sua vida não importa para mim.

- Kyoko! Aí está você! Oh.. Interrompi alguma coisa? – Gritou Matsui enquanto corria em minha direção.

- Não interrompeu nada importante.

- Você some de repente, Nakamura. Ficamos preocupadas... Ah, olá Matsuda.

- Maki-chan. Ayaa-chan. Kyoko-chan.

- Não me chame assim. – Falamos eu e Hirano juntas.

- Vocês combinam... Bem, eu tenho que ir, foi um prazer vê-las. – Ele disse indo.

- Ele é um idiota.

- Concordo, Nakamura. Mas eu tenho mas pena dele, isso sim.

- Jura?

- Ele deve sofrer tendo tantas idiotas se arrastando aos pés dele.

- Que nada, ele deve gostar.

- Pode ser, mas deve cansar também.

- Realmente...

~~~#~~~

- Terminei. Já estou indo, Suzuki. – Avisei para Nana.

- Certo. Pode ir. E da próxima vez não arrume tanta confusão.

- Eu não fiz nada.

- Claro. – Disse, sarcástica – E me chame de Nana-sensei.

- Tanto faz. – Murmurei saindo da sala.

- Tenho uma boa tarde. – A ouvi gritar.

Mais vez tinha pego castigo com Nana. Que ótimo, não? Só por que briguei com uma garota no meio da aula dela. E justo hoje que eu vou para a exposição de robótica com o Akira. Ele deve estar uma fera comigo porque vai chegar um pouco atrasado lá.

- KAO-CHAN! – Ouvi um projeto de gente gritar. Nunca vi uma voz tão irritantemente irritante.

- Hana-chan. Me desculpe por fazer você vir até aqui.

Espera, essa voz eu conheço. Ah... Sabia que conhecia essa voz, é do imbecil do Matsuda. Ele estava parado encostado no portão, enquanto uma garota corria até ele. Parecia até um cachorrinho, que mulher se rebaixa a isso? Espera mais uma vez! Eu também conheço essa daí! Mas onde eu já a vi? Ahh... Vamos Kyoko se lembre... Ah, claro! A garota do supermercado!

“Percebi que não era a única que olhara a cena da pequena. Um garoto bonito, com cabelos loiros claros e olhos escuros amendoados ainda olhava para a família. Ele percebeu que eu o observava  e me deu um breve e pequeno sorriso.

- Amoooooooor!

Uma garota loira de olhos cor mel havia chegado correndo no corredor e pulado nas costas do garoto.

- Achei o chocolate! – Ela disse, infantilmente, o beijando.

- Que bom, moranguinho.”

A garota loira beijou o Matsuda e o abraçou, para logo depois gritar.

- Vamos, Kao-chan! Estou com vontade de comer bolo!

Puta que pariu. “O senhor eu sou o máximo não me toque” está sendo traído pela loira do chocolate. Incrível. Isso não é algo que se vê todo dia. E ele nem deve saber da traição. Tsc tsc, deu até pena dele...

Droga! Eu não posso ter pena dele, não posso ter pena de ninguém!

Esse cretino idiota! Sim, assim está melhor.

- Vamos, Kyoko! – Gritou Akira, quando chegou ao colégio, logo após os dois projetos de gente terem saído.

- Espera! Você pegou a Emmeline, o Apollon e a Arlete?

- Sim, peguei! Vamos! Você é muito lenta! Um, dois! Vamos!

- Espera, Akira!

- Kyoko!

- Já tô aqui, já tô aqui. – Disse ao lado dele.

- Você é muito lenta. – Repetiu.

- Você já disse isso. E além do mais você que está apressado.

- Claro que estou!

Bufei. Como hoje iríamos a exposição, ambos estávamos incrivelmente entusiasmados. Um pouco mal humorados, mas entusiasmados. Ontem o sonho foi bem pior, foi impossível cair no sono de novo. E por causa disso, nem eu, nem o Akira conseguimos dormir direito.

- Vamos pegar o metrô. – Ele avisou – Coloque os robôs na bolsa.

- Hai.

Conversávamos enquanto estávamos no metrô. Eu sempre odiei o metrô. Não que eu seja fresca, é só que como eu já disse, não gosto de pessoas.

- E então, já decidiu para onde vamos viajar? – Perguntei.

- Ainda não.Tem alguma idéia?

- Tava pensando em Okinawa, nunca vi o mar. Ou talvez Kyoto para visitarmos a nossa cidade natal.

- São ótimas idéias. Se der quem sabe podemos visitar os dois?

- Seria bom, mas a gente tem que ver o dinheiro.

- Verdade. Já viu quem vai levar?

-Tava pensando no Arata e no Yuki, e você?

- Acho que o Aoi e o Kei.

- Só conheço o Aoi. – Era um colega de trabalho do Akira, às vezes eu ia para a lanchonete e falava com ele.

- O Kei é da faculdade.

- Ah.

- Ele é legal. Você vai gostar dele. Ah, por que você não leva as garotas do festival?

- A Hirano e a Matsui?

- Isso.

- Eu não sei. Acho que elas não vão querer ir.

- Por que não?

- Bem...

- Convida.

- Pode ser...

- E mais uma coisa. Eu quero conhecer esse tal de Arata.

- Certo. Mas posso saber o por quê?

- Oras, ele pode estar interessado em você.

- Fica calmo. Ele nunca se interessaria por mim. – Disse rindo – Ele já gosta de alguém.

- Ok então. – Falou desconfiado – Mas quero conhecê-lo do mesmo jeito.

- Certo.

- Chegamos. Vamos!

- Hai. Hai.

- Kami-sama! Kami-sama! – Ele gritou quando já estávamos no salão da exposição.

- Fica calmo. – Ri.

- Mas isso é lindo! Uma maravilha! Todos os experts em robóticas estão aqui. Um dia eu vou ocupar um desses lugares.

- Eu sei que vai.

- Ah! Kyoko! Olha aquilo!

- Vai se divertir vai. Eu vou no banheiro.

- Certo. Depois a gente se encontra.

E ele sai correndo. Esse era o momento “Eu amo robótica” do Akira. Ele sempre foi assim, e sempre é muito engra... E quem são aquelas duas que estão me seguindo. Bem vou emboscá-las no banheiro. Embosca-las, sempre quis dizer isto... Cara, como isso soou tosco. Você tem que passar menos tempo com a Hirano.

- Certo o que querem? – Perguntei logo que entrei, sendo acompanhada pelas duas.

- Parece que percebeu, Nakamura. – Disse Saito.

- Não é tão burra quanto pensamos. – Completou Naomi.

- Qualquer retardado percebe duas idiotas se escondendo atrás de um pilar. – Revirei os olhos.

- Bem, estamos aqui para impedi-la.

- Me impedir?

- Isso! O que você está fazendo aqui?

- Interessa?

- Nos responda logo!

- Me desculpe, mas desde quando eu me importo em responder algo para vocês. Principalmente perguntas ridículas como essa. “O que você está fazendo aqui?” – Debochei – É uma exposição de robótica, se não percebeu. E as pessoas vem para cá para verem coisas relacionadas à robótica.

- Sei... – Disse a loira sarcástica – Você só está aqui por causa do Kaoru.

- De quem?

- Do Kaoru! Não se finja de desentendida.

- O que o Matsuda tem a ver com robótica? – Perguntei já impaciente. Até porque o Matsuda nada combina com robótica, isto é para intelectuais e o Matsuda... Bem, o Matsuda é um imbecil.

- Eu não sei... Mas ele está aqui! E você só está aqui por causa dele.

- Eu não sou vocês. – Suspirei cansada.

- Claro que não. Nós somos muito melhores que você.

- Isso está começando a se tornar cansativo. Por que vocês não enxergam que estão se fazendo de bobas, correndo atrás de um cara que nem quer vocês.

- Você quer ele só pra você.

- E se quiser? – Disse me aproximando delas – Vão ser vocês que vão me impedir? Façam-me rir.

- Sua idiota! – Falou Naomi pronta para me bater, isso ia ser divertido.

- Hey! – Gritou Hirano abrindo a porta de um dos boxes com um chute – Vazem!

A próxima a sair do box foi a Matsui, que se posicionou ao meu lado sorrindo para mim. As duas garotas já não estavam mais a minha frente quando eu vi. Também, quem não se assustaria com uma lunática chutando a porta do banheiro?

- De onde vocês saíram?! – Perguntei.

- Do box não percebeu? – Respondeu Hirano.

- Isso eu sei.

- Então por que perguntou?

- Cale a boca. Eu vou no banheiro. – Falei irritada, abrindo uma das portas brancas.

- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei enquanto secava a mão.

- “É uma exposição de robótica, se não percebeu. E as pessoas vem para cá para verem coisas relacionadas à robótica.” – Repetiu Hirano.

- E vocês gostam de robótica?

- Nós te seguimos. – Explicou Matsui  – Te vimos na rua com aquele cara e resolvemos ver o que você faz fora da escola, e também descobrir quem era o cara. Quem é ele afinal?

- Meu irmão. – Disse saindo do banheiro – Então foi tudo uma questão de curiosidade?

- Acho que sim...

- Te seguimos o dia inteiro. Não percebeu? – Debochou a morena.

- E ouvimos você falar da viagem. – Murmurou Matsui – Por que você acha que nós não aceitaríamos?

- Ah.. – Merda – Bem, não vai ser nada muito glamuroso. Só vamos alugar um casa e passar uma parte das férias lá. Achei que não gostariam da idéia.

- Claro que gostaríamos! – Exclamou Hirano – Nós aceitamos o convite e vamos ajudar a pagar! Vai ser muito divertido! Vou te encher as férias inteiras!

~~~#~~~

“Escuro. Escuridão. Sombras.Preto. Está tudo escuro demais. Eu não vejo nada.

- Onii-chan! Para com isso! – Quem falou isso?

- Você é muito boba! Eu não tô fazendo nada. – O que...

- Parem crianças. – Essa voz... Eu lembro dessa voz... Quem era mesmo?

- Mas, Otoo-san, o Onii-chan tá me enchendo! – Quem está aí? Me responda!

- Não tô nada! – Parem de falar e apareçam!

- Fica quieta! Você é irritante demais! Pára de gritar! Sua voz me dá nos nervos. – Essa atitude... Me lembra alguém... Quem era? Eu não consigo lembrar... Eu não consigo...

- Eu não tô fazendo nada Okaa-san! – Eu tenho que lembrar... Isso é importante... Eu sei disso... Por que eu não consigo me lembrar de nada!

A garotinha... Ela está chorando... Por que ela está chorando? É por causa da mãe? Eu não lembro... Eu já vi isso uma vez... Eu não lembro... Por que eu não lembro? Eu...

- Pare de chorar! Se você não parar de chorar até chegarmos em casa você está frita! O que os vizinhos vão pensar se eu voltar com você chorando para casa a essa hora da noite? Fica quieta! – Não grite com ela! Ela tá chorando! Pare de gritar! Que tipo de mãe é você?

- Querida! O caminhão!

- O que...

Eles gritam... Um som agudo... Desesperador... Eu não posso fazer nada... Eles estão sofrendo... A garotinha? Como ela está? Vermelho... O preto... O preto está virando vermelho... Sangue... Muito sangue... Está escorrendo por todos os lados... Onde eu estou? Por que eu não lembro? A garotinha.... Ela está chorando de novo...”

O que foi isso? Um pesadelo? De novo? Eu já vi isso... Eu sei que já vi... Vi, não? Está tudo escuro... Tô sonhando de novo? Não... Esse é o meu quarto... Mas está escuro... Muito escuro... Estou suada... Está frio... E calor... Eu não sei... Não consigo pensar... Está me consumindo... O escuro... O negro... O vermelho... O que foi isso? Eu não consigo respirar... Estou com medo... Preciso de ajuda... Não consigo respirar... Não consigo gritar... Ajuda... Por favor... Por favor...

- Kyoko!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim!
E já estou esperando os reviews! Ou ovos de páscoa de chocolate branco! *¬*
Boa páscoa! E espero que comam muito chocolate no domingo! o/



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