Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 5
Light Lady


Notas iniciais do capítulo

DESCULPEM A DEMORA! A CULPA É TODA MINHA (Camihii)!



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Sexta-feira, meu único dia de folga do mês. Eu poderia estar tomando um sorvete, poderia estar vegetando em um algum lugar aleatório, ou simplesmente pensando em uma maneira criativa e sádica de matar certo idiota intrometido... Mas, não! Ao invés de estar fazendo todas essas coisas incrivelmente importantes, estou a caminho da casa da tal da Matsui para fazer um trabalho de biologia... Que maravilha!

Toquei o interfone da enorme mansão, falando o meu nome e depois de alguns minutos uma ruiva sorridente apareceu. Devia ser a mãe da Matsui... Ela era bonita, com longos cabelos lisos e grandes olhos mel. Mas alguma coisa nessa mulher me assusta...

- Olá! A senhorita deve ser a Kyoko-chan! – Outro que me chama dessa forma ridícula – Maki-chan e Ayaa-chan estão no quarto. Pode entrar! – Ela disse animadamente, sorrindo.

- Suminasen.

Entrei na “pequena” casa, me impressionando com a decoração interna, extremamente abundante em cores, parece uma casa de boneca! Adorável, não?! E a ruiva me levou até o andar de cima. Quando estávamos à frente de uma porta, que provavelmente é Matsui, ela se vira e diz docemente, antes de abrir a porta:

- Ah, meu nome é Hiromi. Por favor, se sinta a vontade. – Sorriu, certamente, tem algo nessa mulher que me dá medo.

Era um quarto enorme, assim como toda a casa, decorado em tons de verde, em que o verde-limão prevalecia. No meio do quarto havia uma mesa de vidro baixa, onde Matsui e Hirano estavam, juntas com mais uma pequenina ruiva desconhecida. As três olharam para a porta, a ruiva com um sorriso nervoso, a morena com um olhar divertido e a baixinha amedrontada.

- Bem, eu vou descer. Daqui a pouco trago um lanchinho para vocês, ok? – Avisou Hiromi antes de sair do quarto.

- Bom dia, Nakamura-san. – Cumprimentou Matsui. – Sente-se.

Me sentei na frente das duas e a ruiva continuou a falar, tentando quebrar a tensão, acho...

- Essa é a minha irmã. – Falou apontando a baixinha – Matsui Mai.

Olhei para a garota, com um sorriso confortador e... Agradável. Mai engoliu seco e começou a chorar irritantemente.

- Imouto-chan!? – Matsui gritou desesperada. – Por que está chorando!?

- GAROTA MÁ! BUÁÁ... ELA É MÁ, NEE-CHAN! – A ruivinha soluçou apontando para mim. Nunca disseram pra ela que apontar para as pessoas é feio? – ELA DÁ MEDO, NEE-CHAN! BUÁÁ... MUITO MEDO! – Certo, acho que o meu sorriso não foi confortador e... Agradável. Mas eu tentei, não tentei?

- Ela está com medo da Nakamura. – Hirano disse o óbvio.

- Ayame! – A ruiva a repreendeu.

- O que foi? Todos da escola têm medo dela, não é de se surpreender que uma garota de oito anos se assuste. E além do mais a Nakamura já deve estar acostumada com que as pessoas a temam. – Ela até tinha razão, eu estava acostumada... Mas o modo como ela falava como se eu nem ao menos estivesse aqui me irritava...

Matsui bufou e abraçou a irmã.

- Está tudo bem, Imouto. A Kyoko não vai fazer mal a você. Ela não é má.

- Mas o sorriso ela dá medo, Nee-chan. O sorriso dela... Parecia que ela estava se segurando para não atirar alguma coisa em mim... – Maldita hora que eu fui querer sorrir. Acho que eu devia parar de tentar fazer essas coisas – Era muito forçado, Nee-chan. Muito forçado! – Era óbvio que o sorriso era forçado! Eu não gosto de sorrir!

- Mai-chan. Está tudo bem. A Nakamura não quer te matar, é só que ela não está acostumada a sorrir. – Explicou Hirano entre risos leves.

Bufei e olhei para a pequena.

- Por que não vai ajudar a sua mãe? – Propus tentando ser doce.

- BUÁÁ... NEE-CHAN! A VOZ DELA É MAIS ASSUSTADORA! BUÁÁ... – Ela se levantou da mesa e saiu do quarto chorando.

- Ai. Ai... Não tenho jeito com crianças... – Resmunguei baixinho. – Outra razão para não ter um filho.

- Concordo. Você não tem jeito com crianças... E você não devia ter um filho mesmo. – Comentou Hirano. – Imagina, se cada vez que você falar ou sorrir o coitado chorar.

- Ayame!

- O que foi? Foi a Nakamura que falou que não quer ter um filho!

- Ayame!

- Olhe. – Interrompi estressada – Eu fiz algumas pesquisas sobre o Macaca Fuscata, e eu descobri que há uma grande colônia na reserva florestal no leste da cidade. Então estava pensando em irmos lá à noite.

- É uma ótima idéia! – Disse Matsui.

- Mas Nakamura, esse é um trabalho em grupo, e em um trabalho em grupo temos que agir como um grupo. – Hirano disse lentamente como se explicasse quanto é um mais um para um retardado mental – Ou seja, você não pode ficar fazendo tudo sozinha.

- Não gosto de trabalhos em grupo. – Falei irritada. Essa garota já estava acabando com a minha limitada paciência.

- Não? Sério? Mesmo? – A morena perguntou sarcasticamente.

- Qual é o seu problema? – Questionei pausada e raivosamente, me controlando.

- Olha, a Dama Negra está irritada! – Ela riu.

- Ayame! Pare de irritar a Kyoko! – Pediu a ruiva assustada.

- Fica calma, Maki. E Nakamura, eu não tenho nenhum problema. Eu só te acho estranha, assim como todos na escola. Aposto que está confusa por ter alguém além do Yuki-senpai que não a teme, não é?

- Está fazendo tudo isso para provar algo, Hirano? – Perguntei cinicamente.

- Na verda...

- Garotas! Eu fiz lanchinhos! – Gritou sorridente a ruiva mãe assim que entrou no quarto. – Tem suco de uva, espero que você goste Kyoko-chan! – Ah, descobri o que me assusta nessa mulher. É o sorriso dela. Muito bizarro, quem consegue sorrir por tanto tempo assim?

- Arigatou, Hiromi-san. – Agradeci cordialmente, percebendo logo depois uma risada debochada de Hirano. Se o objetivo dessa garota é me irritar, então ela está saindo muito bem... O que é péssimo. Para ela.

- Okaa-san! – Ouvi a voz temerosa e sussurrante da Mai. Ela estava se escondendo atrás da mãe, abraçando uma das pernas da mesma. – O Otoo-san está no telefone querendo falar com você.

- Mai-chan. Você serve as garotas para a Okaa-san, ok? Enquanto isso, vou atender o telefone. – Falou Hiromi deixando a bandeja de prata na mão da pequena e já saindo do quarto.

A ruivinha olhou assustada para mim e os seus olhos começaram a lacrimejar. Ah, Kami-sama! O que eu fiz para merecer isso?! Só por que ontem eu sonhei que estava matando certa pessoa?! Se for por isso está mais do que comprovado que aquele traste só trás desgraça para minha vida!

- Mai-chan, fica calma a Nakamura não vai fazer nada com você. Pode vim. – Encorajou Hirano, a chamando com uma das mãos, para logo depois sussurrar para mim. – Haja o que houver, não sorria ou fale, Nakamura.

Tive uma imensa vontade de jogar a minha bolsa na cara dela, mas eu tenho uma reputação a zelar. Não posso por tudo a perder por causa desse ser irritante.

- Mais algum conselho importante de sua parte, Hirano? – Perguntei no mesmo tom.

- Não, acho que não. – Respondeu sorrindo. – Venha Mai-chan. A Nakamura pode parecer, mas ela não é um monstro. – Ela está passando dos limites.

Mai começou a se aproximar lentamente, com os olhos assustados e marejados, e as pernas bambas. E quando ela estava atrás da Matsui e da Hirano... Ela tropeça. Resultado: Hirano ensopada dos pés a cabeça e Mai ajoelhada se desculpando milhares de vezes. Não pude deixar de rir da cena. A cara da Hirano foi impagável! Nunca ri tanto, meus olhos até lacrimejavam e minha barriga doía.

- Você está rindo. – Constatou Matsui para logo depois começar a rir baixinho, sendo acompanhada pela risada escandalosa de Hirano.

Aos poucos as risadas foram cessando e eu percebi a idiotice que eu tinha feito. Eu tinha rido na frente de uma garota desconhecida, uma cínica irritante e uma garota chorona. Para muitos isso pode não ser nada. Mas para mim, é algo enorme! Eu, a Dama Negra, a garota má e cruel, dona do mais temível olhar, havia RIDO! Não é por nada, mas eu tenho uma reputação a zelar, sabe! E o pior de tudo, eu estava en-ver-go-nha-da por ter rido.

- Você está corada! – Riu Hirano me fazendo ficar mais corada ainda. – Que fof.... Auch! Por que jogou sua bolsa na minha cara?!

Sim, eu havia jogado a minha bolsa na cara dela. Mas quem poderia me julgar

- Vocês são tão bobas. – Comentou Matsui rindo.

- Bem – Começei a mudar de assunto. – Que tal nós dividirmos o trabalho. Cada uma fica com uma tarefa e... Onde está a Mai?

- Ela foi embora enquanto ríamos. – Respondeu Matsui, percebi que estava menos tensa agora.

- Ela ficou com medo da sua risada também. Ela é meio histérica sabia? – Debochou Hirano.

- Me perdoe, minha histérica risada perturbou a senhorita escândalo em pessoa?

- Não, perturbou a Mai. Não tá acompanhando a conversa, não?

- Estava mais ocupada olhando para a sua cara roxa. Você sabia que suco de uva mancha, não?

- É claro que eu sabia, mas essa roupa é velha e posso muito bem...

- Parem vocês duas! Ficam o tempo todo brigando! – Repreendeu Matsui. Realmente ela estava menos tensa, se não nunca teria a coragem de reclamar de algo que eu fiz.

- Bem, pode tirar o cavalinho da chuva Nakamura. Não vamos dividir as tarefas, isso é um trabalho em grupo e você vai ter que me aturar por um boooom tempo. – Desafiou a morena.

- Mal posso esperar. – Respondi no mesmo tom.


~~~#~~~

E eu finalmente saí daquela casa! Não que foi muito ruim, a ruiva mãe é bem... Doce, apesar de me assustar e a Matsui até que é legal, mas eu não sei como consegui aguentar ficar tanto tempo com a Hirano e a Mai! Eu até entendo o fato da ruivinha chorar tanto, mas a Hirano é insuportável! Apesar que... Ok, eu admito, eu me diverti um pouco.

Mas papo furado a parte, agora eu estava aonde eu realmente queria estar. Na estréia do mais novo livro de Amui Katara, Akira. Amui Katara é um dos meus escritores nacionais favoritos! O cara é esplêndido! Eu já havia comprado o livro e enfrentado uma fila imensa para pegar o autógrafo do cara. Agora tomaria um sorvete no shopping e iri... Espera, acho que estou vendo uma cabeça conhecida. Me esquivei pela multidão da livraria do shopping e encontrei a cabeçinha.

- Arata.

Ele se virou sorrindo e me cumprimentou.

- Kyoko! – Sim, nós já havíamos passado da fase do prefixo -san. – Como está?

- Bem. E você?

- Ótimo! Gosta do Amui também?

- Aham. Você quer sair daqui? Tem muita gente. Muito abafado para mim.

- Claro.

Fomos para a praça de alimentação, o que não foi digamos, uma grande mudança, afinal passamos de um lugar apertado e abafado, cheio de gente, para um lugar com cheiro de comida e cheio de gente, mas um pouco mais espalhadas. Se bem que hoje estava até um pouco vazio, mas do mesmo jeito... Certo, parece que eu reclamo demais, mas o fato é que eu não gosto de gente. O que não é uma surpresa, não?

- Vamos tomar um sorvete? – Propus.

- Cla... PÁRA TUDO! – Ele gritou chamando atenção de metade da praça de alimentação – Você toma sorvete?!

- Por que não tomaria? – Perguntei rindo. Apesar de extremamente indiscreto ele não deixa de ser fofo.

- Sei lá, nunca imaginaria você tomando sorvete. – Respondeu enquanto íamos à um pequeno quiosque de sorvete de massa. – Só falta me dizer que acredita em Bicho Papão!

- Em Bicho Papão não acredito, mas em compensação eu tenho certeza que duendes existem. – Debochei.

- Duendes? Eles existem? Revelação do século! – Brincou.

- Vão querer o que? – Perguntou a atendente sorrindo.

- Duas bolas de chocolate. – Arata pediu.

- Ah, vou querer uma bola do sorvete de chiclete. – Falei.

- Chiclete? – Estranhou o moreno.

- Isso, meu favorito!

- Você apenas me surpreende. Primeiro o sorvete, depois duendes e agora, sorvete de chiclete! – Brincou estreitando os olhos.

Pedidos feitos e pagos, fomos procurar um lugar para sentar, o que não foi muito difícil, afinal já eram cinco horas e, como eu disse, a praça estava praticamente vazia. Sentamos em uma área mais afastada, com poucas mesas, os únicos perto eram dois garotos à nossa frente. Conversávamos calmamente quando Arata pegou um pouco do meu sorvete e comeu.

- Nem para pedir? – Perguntei fingindo aborrecimento, apesar de pouco tempo com ele já sabia que ele era um pouco folgado, e já tinha me acostumado com isso.

- Eu não gostei muito do sabor, é meio artificial demais para mim. – Comentou – Quer um pouco do meu? – Disse levando a colher dele a minha boca.

- É bom, mas eu gosto mais do de chiclete.

- Você é estranha. – Constatou enquanto olhava para a mesa da frente... Novamente...

- Obrigada. Mas mudando de assunto. – Me inclinei um pouco e sussurrei em seu ouvido. – Me diga, você está secando o moreno ou o loiro?

Ele ficou branco, azul e depois vermelho. Começou a tossir desesperadamente e olhou para baixo.

- Eu não sei do que você está falando. – Murmurou envergonhado.

- Eu acho que sabe. – Cantarolei.

Ele olhou para mim, estava vermelho, mordendo os lábios. MUITO FOFO!  Controle-se, Kyoko! Se você morder o coitado agora, ele vai ficar muito assustado! Controle-se!

- Eu sou bissexual. – Sussurrou.

Fiquei um pouco desconcertada e meio decepcionada, mas não estava chocada. Era óbvio que ele é gay, quero dizer, ele é muito fofo, muito... Bem, mordível, posso dizer. E essa não é a primeira vez que eu o vejo secando outros caras, então...

- Já ficou com alguém? – Perguntei.

- Não... Eu gosto um cara, mas...

- Por que não se declara então?

- Ele é hétero... E tem namorada, apesar de traí-la frequentemente. E além do mais, ele é meu melhor amigo, nunca colocaria a amizade dele em risco por causa de uma luxúria estúpida minha.

- Você chama o seu amor por ele de luxúria estúpida?

- E-eu não disse que o amava.

- E não ama?

- E-eu não sei... Talvez... Pode ser que sim...

- Se você não sabe responder é porque não ama. – Disse resoluta – Então por que não tenta esquecê-lo?

- Você acha que eu não tento? Todos os dias eu penso em esquecê-lo. Mas simplesmente não dá! Talvez se eu achasse alguém... Mas agora não dá

- Isso é muito complicado para mim. – Constatei fazendo ele rir.

- Sabe? Eu fui expulso de casa...

- Você não disse q...

- Sei que eu disse que sai por livre e espontânea vontade de casa, mas não. Meu pais me expulsaram. Bem, eu saí de casa. Escolhi um apartamento pequeno, que meus próprios pais pagaram até eu arrumar um emprego, não queria e nem quero mais depender deles.

“No começo foi difícil. Era muito diferente com que eu estava acostumado, mas logo me acostumei. E logo começei a... Gostar de morar sozinho, de ser independente, sabe? É bom saber que eu sou dono de minhas próprias decisões.

“Quando ele descobriu que eu estava morando sozinho, ele tratou de ir logo para o meu apartamento e quase me arrastou para sua casa, falando que eu moraria lá. Eu não aceitei, mas fiquei agradecido... Ele é um grande amigo. Me conta tudo, fala sobre tudo comigo. Garotas, filmes, sonhos, tudo, do mais fútil até o mais importante. E tudo fica interessante quando sai da boca dele.

“Eu não posso falar nada, não posso esquecer ele, porque para isso, eu precisaria me afastar e assim eu o perderia. E eu não posso perdê-lo.”

- Como você se apaixonou por ele? – Perguntei, me interessando pela conversa.

- Foi bem bobo. Eu tenho uma irmã mais nova, sabe? Eu a amo muito. Ela se chama Momo, é linda, fofa, e extremamente inteligente! Na verdade ela é superdotada, o que de certa forma é ótimo! Mas por isso ela não tem muitos amigos, as crianças da idade dela não a entendem e se sentem diminuídas perto da Momo, tanto que não gostam muito dela.

“Um dia aconteceu uma briga, as garotas da sala dela bateram nela. Ela chegou em casa machucada, chorando copiosamente. Eu e ele estávamos lá, tínhamos chegado mais cedo do colégio e estávamos jogando vídeo game... Ele foi tão carinhoso e atencioso com ela. Cuidou dela, a ajudou... E foi nesse momento que eu me apaixonei...

“Eu sei, muito tosco!”

- Tosco, mas fofo.

- Obrigada por me ouvir.

- De nada... Mas você ainda não me respondeu.

- O quê?

- O moreno ou o loiro?

- O loiro. – Disse corado fazendo biquinho. Mordível demais!



~~~#~~~

Depois de Arata e eu nos separarmos, resolvi ir para casa, mas antes dar uma parada no parque em que o Akira passava quando voltava da faculdade, para encontrá-lo. Era noite, devia ser mais ou menos umas sete horas, quase oito. Estava escuro para o meu desespero, mas o que eu mais gosto nesse parque é que ele é super iluminado. Sentei em um dos bancos e começei a ler o livre que acabara de comprar.

- Oi. – Yuki disse assim que sentou ao meu lado.

- O que está fazendo aqui? – Perguntei, guardando meu livro.

- Eu estou bem, obrigada por perguntar. E você como está? – Falou cínico.

- Ótima. Principalmente agora, em sua companhia. – Respondi no mesmo tom.

- Que bom! – Sorriu divertido.

- Claro... – Murmurei.

- Sabe, não foi aqui que nos conhecemos?

- Foi sim, não?

- Foi engraçado.

- Com certeza, afinal não é sempre que um cara senta ao seu lado enquanto você está lendo, e começa a falar sobre o tempo.

- E não é sempre que uma garota joga suco de morango na sua cabeça depois de você perguntar sobre a família dela.

- E desde quando alguém em sã consciência pergunta sobre a família de uma total desconhecida?

- Sinto muito, mas você não era uma total desconhecida. Eu já a tinha visto no colégio, e aposto que você me viu também!

- Sim, eu vi, infelizmente. E agora, para a minha total desgraça, tenho que te aguentar. – Suspirei.

- Claro, porque, ao contrário de você, eu sou uma peste, não? Aposto que a primeira coisa que pensou quando me viu foi: um mauricinho ignorante, nunca quero conhecê-lo.

- Na verdade eu pensei: mais um mauricinho ignorante de quem eu tenho pena, coitadinho, deve ser assediado por todas as garotas quando sai de casa.

- Até porque eu sou lindo, não? – Riu.

- Maravilhoso! – Falei pausadamente.

- Gostoso, inteligente e gente fina. Tem partido melhor?

- Não, com toda a certeza não. – Declarei um pouco triste.

- Ficou triste de repente? O que foi?

- Nada não. – Disfarcei – Mas e aí? Já escolheu que faculdade vai entrar?

- Quero fazer letras na Universidade de Tokyo.

- Letras... Que novidade!

- Ah, eu gosto. Tava pensando em fazer direito, mas não combina comigo.

- Verdade, não consigo imaginar você cursando direito. Mas você ficaria lindo de terno. – Debochei.

- Eu fico lindo de qualquer jeito.

- Eu vou sentir sua falta... – Murmurei, revelando o que me deixara triste antes. A idéia de que eu não o veria mais no almoço ano que vem.

- Eu também, minha pequena. – Sorriu também um pouco triste.

- Kyoko? O que está fazendo aqui? – Perguntou Akira vindo em nossa direção.

- Vim te esperar, o que mais seria?

- E você? Seria? – Disse olhando para Yuki.

- Miura Yuki. – Ele respondeu.

- Ah, a Kyoko fala de você... Bem, quais são suas intenções com a Kyoko?

Puta que pariu. Ele não tem noção, mesmo. Perguntar isso tão... Abertamente e... De repente!

- Nós somos apenas amigos, Akira. – Informei revirando os olhos.

- Sei... – Falou desconfiado.

- Bem. – começou Yuki, depois do momentâneo silêncio desconfortável – Eu vou indo, até amanhã, Kyoko, Nakamura-san.

Nakamura-san, que horror, nunca vi ninguém chamando o Akira assim.

- Você é muito sem noção mesmo, não? – Falei quando Akira e eu íamos para casa.

- Você vive falando dele. Pensei que tivessem algo!

- E se eu tivesse?

- Eu não gostaria, ele ficou muito quieto, que garoto sem iniciativa!

- Qualquer um ficaria quieto depois da besteira que você falou, Akira.

- Ok, ok. Mas vamos acabar com o assunto agora, certo?

- Hai, hai.

- Sabe, Kyoko. – Akira falou depois de alguns minutos de silêncio – Eu preciso falar uma coisa com você.

- Fale. – Não deve ser coisa boa...

- Bem... Sabe... Como eu posso dizer... O sexo... Hã... – Não acredito que ele vai falar sobre sexo comigo... Akira, não faça isso – Bem, os homens e as mulheres pensam de uma forma diferente sobre o sexo... As mulheres querem algo mais amoroso... Já para os homens, pelo menos para alguns, é apenas sexo... Então eu não quero que se sinta pressionada para ter uma relação sexual, ok? Porq...

- Akira, sinto muito te interromper, mas... Eu tenho 16 anos, eu sei sobre sexo. Entendo que só se deve fazer... Amor quando se gosta mesmo da pessoa. E aliás eu não tenho uma mentalidade tão pequena para ser influenciada pelo outros...

E então ele cora! Parece que hoje é o dia em que todos vão corar! Impressionante, não? Mas sabe hoje eu percebi que todo mundo fica fofo corado.

- Você é muito bobo. – Ri, sendo acompanhada por ele.

- Ok, ok, foi estúpido. – Ele disse rindo. – Mas eu mereço um prêmio por ter pagado tanto mico!

- Com certeza merece!

- Sabe, eu venho pensando nisso há algum tempo. Que tal se a gente viajasse, hein? Não agora, mas nas férias, eu tenho uma grana guardada... Tava economizando... Daí você chama uns amigos, ou sei lá.

- Perfeito! – Me animei. Fazia tanto tempo que não viajávamos. – É uma ótima idéia. Eu também tenho um dinheiro guardado por causa do meu trabalho, daí a gente podia escolher um lugar legal e... – E porque ele tá com uma cara tão estranha?

- Desde quando você trabalha? Eu disse para você não trabalhar, Kyoko. – Ah, a careta de angústia, desespero e surpresa foi por causa disso.

Falei merda eu sei. E agora ele está bravo. Maravilha, Kyoko! Parabéns! Palmas para a sua estupidez!

- Gomenasai. Não fica bravo, por favor. É que eu me sentiria mal se eu não fizesse algo, e eu adoro o trabalho. É na livraria do shopping, os donos são ótimos, o lugar é perfeito e eu fiz amigos lá... Quero dizer eu tenho uma relação melhor com as pessoas de lá do que as do colégio, e eu conheci uma pessoa muito legal, o Arata. Eu realmente adoro o emprego, Akira. Desculpa.

Ele não estava mais bravo, irritado talvez, mas totalmente bravo não. O que era ótimo...

- Eu não queria que você trabalhasse. EU e apenas eu tenho que cuidar de você. Você tem que se concentrar nos estudos. Ah! Eu sou um inútil! Nem ao menos consigo cuidar da minha própria irmã!

- Pára com isso, Akira! Você é um ótimo irmão, e não é inútil. Trabalhar foi uma escolha minha, não tem nada a ver com você.

Depois de uma pequena discussão ele aceitou o meu emprego e parou de se chamar de inútil. O que foi uma benção para mim! Eu não sei o porquê, mas me dá uma aflição quando uma pessoa boa se xinga. Me dá uma angústia. Principalmente com o Akira. Só eu sei o que ele fez para cuidar de mim!

Ele perdeu tantas oportunidades, desistiu de tantos sonhos só por mim. Ele é a única pessoa para qual eu faria tudo. Eu tenho tanto... Orgulho de ser irmã dele, de poder chamá-lo de Onii-san. E o único motivo de eu querer um emprego é apenas para poder retribuir um pouco de tudo o que ele fez e faz por mim.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que mereçamos reviews >
Elogios, críticas, pães de mel ou balas de leites! Mandem tudo que quiserem. o/
Obrigada por lerem!