Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 4
Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o 4º capítulo! Boa leitura.



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Eu também devo admitir que estou me dando bem na escola. No meu segundo dia de aula, fizeram um Clube em minha homenagem, recebi uma coluna na primeira página do Jornal da escola e também percebi que andam tirando fotos minhas escondidos. Como é duro ser bonito!

            E foi nesse dia também que levei o maior susto da minha vida, chegando a não me sentir muito bem, mas preferi não ir a enfermaria. Lá não era mais seguro... Na primeira aula, aula da Suzuki-sensei, a nova enfermeira foi apresentada a escola, Akino Yamada. Justamente a bendita professora que eu fiquei no Ginásio... Se eles descobrissem, minha reputação iria pro brejo... Ou não. Quando ela entrou na sala, antes de avisar que um aluno não estava se sentindo bem, ela olhou fixamente para mim, com um olhar de surpresa. Rezo para que ninguém tenha percebido. Depois daquela aula, fiquei tenso e mais na minha. Acho bom começar a tomar cuidado com os boatos da escola.

            Mas pude relaxar um pouco na aula de EF, em que o palhaço do Taro-sensei passou um “Exercício de confiança”, onde nós caímos de costas e nosso parceiro tem que nos segurar, ou algo desse tipo... Ridículo. Antes de decidir quem seria meu par, ouve um “pequeno” desentendimento entre duas garotas da minha sala. Estavam brigando para ver quem faria par comigo, que fofo! Será que ainda não perceberam que tem “Kaa-chan” pra todas?!

          As duas quase se agarraram por mim, mas Taro-sensei decidiu que eu faria par com a Kyoko-chan. Ótimo! Assim seria mais fácil atingir meu objetivo de descobrir mais sobre ela!

- Então, Kyoko-chan. Vamos começar? – Comecei, me aproximando com um sorriso gentil no rosto. Ela apenas me encarou com seu olhar frio.

- Primeiro: não me chame de “Kyoko-chan”. A não ser, é claro, que queria ser asfixiado enquanto dorme. – Me falou, em tom de ameaça. Tentei levar na brincadeira, mas algo me dizia que ela estava falando serio. – E segundo: você me segura.

        Ela se virou de costas para mim e se jogou em cima de mim... Bem que a frase “se jogou em cima de mim” poderia estar no outro sentido.

- Como você é leve, Kyoko-chan. – Comecei, tentando ser gentil, mas ela agiu como se não me ouvisse. – Mas então, por que todos têm tanto medo de você?

- Quem sabe você não descobre. E já disse para não me chamar com esse apelido ridículo. – Respondeu, sem se virar para mim ou alterar o tom de voz. Talvez eu estivesse mesmo começando a entender, mas não me deixaria mostrar isso a ela, pelo menos não ainda!

- Mas fica tão fofo. As outras garotas gostam quando eu as chamo no diminutivo. – Retruquei.

- Acontece, “Kaa-chan”, que eu não sou como as outras garotas. – Ela se jogou novamente em cima de mim.

- Com certeza, não é. – Murmurei, mais para mim que para ela. Ok, hora de mudar o rumo da conversa. – Bem... Você namora o tal do Yuki-senpai?

- E se namorar? O problema vai ser seu? – Retrucou, já mostrando um pouco de irritação na voz. – Agora é sua vez.

- Certo. – Fui para sua frente, e antes de cair sobre ela, perguntei. – E a sua família? Como é?

           Os braços que estava esperando sentir não vieram e eu caí direto no chão, e no mesmo instante, toda a parte feminina da sala estava ao meu redor perguntando se eu estava bem, ou dizendo como Kyoko-chan era má.

- Kyoko-chan, por que fez isso? – Perguntei, com voz de bebê chorão. Ninguém resiste a essa voz, pelo menos ninguém normal.

           Ela apenas me olhou com um olhar nada convidativo e se virou, dando uma desculpa qualquer ao professor e saindo da quadra. Eu estava certo, Nakamura Kyoko não é como as outras garotas. Mas também não posso dizer que a experiência foi inútil. Pude comprovar que vai ser bem difícil descobrir mais sobre ela.

O resto daquela semana foi mais chato ainda, não consegui nenhum outro contato com a Kyoko-chan, que  pareceu nem perceber isso. Foi nos passado um trabalho em grupo de três pessoas, mas infelizmente eu não pude me aproveitar da oportunidade. Kyoko-chan ficou com outras duas garotas, e eu com Sakai-kun e Miyuki-chan. Foi um resto de semana sem mais nada interessante.

                                              ---//---//---

- Kaoru-sama! Kaoru-sama, acorde, você tem uma festa pra ir!

- Hummm. Momiji, que horas são?

- Kaoru-sama, já são 12:37, por favor, se levante! Hoje é a festa de aniversario da Hana-san. Por favor, Kaoru-sama, você já esta atrasado! – Insistia ela, tentando puxar minhas cobertas. Por que eu tinha que acordar assim, tão cedo?!

- Momiji, ainda está cedo, me deixa dormir até às 16h, por favoor!

- Ka-o-ru-sama! – Ótimo, agora ela ficou nervosa – Rápido, levante-se agora! Kaoru-sama, rápido! Você não entende? Seus pais vão estar lá!

- Meus... Pais? – Me sentei na cama e olhei sério para Momiji, que logo foi para meu Closet, pegar alguma roupa, enquanto falava algo sobre a festa. Pra que ir? Provavelmente eles não vão estar lá, como sempre acontece quando marcamos de nos encontrar... – Ótimo, agora é que não vou mesmo!

- ...Kaoru-sama! Não vai? Por quê? Dessa vez é certeza que seus pais estarão lá e... – Ela correu para mais perto de mim, me olhando receosa.

- Eles vão estar lá por causa dos pais da Hana-chan, que são seus sócios, e não para me ver!

- Mas, Kaoru-sama...

- Eles sempre têm uma desculpa qualquer para furar nossos encontros! Não os vejo há quase seis meses e estou muito bem assim. Se eles furam, por que eu também não poderia Momiji? 

- Mas, Kaoru-sama, e a Hana-san? Ela é sua noiva, certo?

- Não é minha noiva, Momiji, é minha namorada! – Comecei, me levantando da cama. – Eu vou nessa festa, mas só porque você esta insistindo muito e Hana-chan não me perdoaria se eu faltasse em seu aniversário, mas não pretendo ficar muito. Pode preparar minha roupa e o carro, não vou tomar café...

- Mas já é hora do almoço...

- Ótimo, então eu não almoço!

- Mas... Certo, Kaoru-sama, o presente de Hana-san estara dentro do carro. – Ela se curva  se retira do quarto para que eu possa me trocar. Ridículo, pra que eu iria a uma festa vê-los? Eles faltaram até mesmo no meu aniversario do ano passado! Não tenho nenhum compromisso com eles. Nenhum!

---//---//---

- KAO-CHAN! Aaaaaah! Que bom que você veio, você demorou tanto que pensei que não viria mais! – Reclamou Hana-chan, depois de pular em cima de mim e me roubar um beijo. Ela estava linda, um vestido justo no tronco e mais solto da cintura aos joelhos, os cabelos loiros estavam soltos e enrolados. Parecia uma linda boneca de porcelana, e o melhor, essa boneca é a minha namorada.

- Desculpe, Hana-chan. É que acabei acordando meio tarde, mas assim que acordei me lembrei do seu aniversário e corri para me arrumar! Nem comi, estou faminto! – Uma das “qualidades” da Hana-chan é que ela é facilmente enganada. Acredita em tudo o que eu digo, como se eu fosse um Deus. – Aliás, aqui está seu presente!

- Aaaah! Obrigada, Kao-chan! – Agradeceu, enquanto entregava pra ela o presente: um prendedor de cabelos folheado a ouro com pedras de diamantes. É, Momiji sabe mesmo escolher presentes! – É lindo! Foi o melhor presente que eu já ganhei. Vou ao banheiro colocá-lo agora mesmo. Ah, Kao-chan, se estiver com fome, pode comer a vontade, ok? Eu volto já!

        Me deu um selinho e saiu. A festa estava até que bem bonita. Decoração bem feminina mesmo, muito rosa, mas nada tão exagerado. Copos de cristal, talheres de prata para convidados e de ouro para familiares, vários empregados espalhados por todo lado servindo petiscos para os convidados, mesas separadas por nomes de famílias... Olha só, ela também convidou os Oosaki, do ramo de móveis importados! Mais a frente, em outro salão, tinha aqueles globos de luzes e uma banda famosa tocando... Mesmo com ninguém dançando na pista, deviam estar esperando a aniversariante. 

       Em outro salão as famílias importantes, ou simplesmente os mais importantes das famílias estavam conversando sobre negócios ou coisas assim, já que só sabem falar disso. E meus pais não estavam lá, como eu havia previsto... Nem sei por que criei essa centelha de esperança, se sabia que não estariam aqui!

- Kaoru-niichan! Você veio! – Gritou para mim um projeto de pessoa que pulava no meu colo, com pouco mais de um metro de altura, cabelos castanhos claros, bem lisos e longos e com uma pele inacreditavelmente clara.

- Momo-chan! – Takeda Momo é a irmã mais nova do Arata, mas é totalmente diferente do irmão. Ela é linda, muito fofa e super-dotada, mais madura do que muita gente e muito inocente, também é tão atrapalhada quanto o irmão e um tanto tímida, não fala com todo mundo que conhece tão facilmente, e tem belos olhos azuis. – Deve estar achando isso uma chatice, né? Eu tô achando isso um chatice!

- Só um pouco, Kaoru-niichan. Mas essa festa parece bem pra sua idade, por que tá achando chato?

- Hum... Momo-chan, prometa não contar pra Hana-chan, Ok? – Ela sorriu e fez que sim com a cabeça. Ela sempre gostou de segredos e sabe guardá-los bem. – A verdade, é que eu não tava nem um pouco afim de vir a essa festa! Estava tão gostoso em cima da minha caminha, debaixo das minhas cobertas e...

- KAO-CHAN! Finalmente te achei! Estava louca atrás de você, Kao-chan! – Era Hana-chan, tomara que não tenha ouvido nada. – Ah, olá Momo-chan, esta gostando da festa? De qualquer maneira, Kao-chan, quero te apresentar uma pessoa. Esse – Ela apontou para um garoto ao seu lado – é Nakayama Kakeru, ele é o filho do presidente da empresa principal do Papai, e estava ansioso pra te conhecer!

- Muito prazer. – Era um garoto bem estranho. Tinha cabelo castanho escuro e olhos iguais, e estatura média.

- Prazer, está é Takeda Momo, filha mais nova do presidente principal das empresas Matsuda. – A apresento, enquanto a coloco no chão e quando ele dá um aceno com a cabeça, Momo-chan se esconde atrás de mim, o que quer dizer que não gostou dele.

- E então Hana-san, nos encontramos depois para terminar de combinar aqueles assuntos, tudo bem?

- Ah, claro! Nos vemos outro dia, Kakeru-san! – Ela se despediu e ele foi embora.

- Que assuntos, Hana? – Perguntei... Se ela gaguejar  por que está me traindo!

- Ah, são assuntos chatos, Kao-chan! Papai pediu para ele me orientar, já que, provavelmente, eu herdarei a empresa! – Respondeu sorrindo, e não consegui identificar mentira ali – Kao-chan, você não esta com ciúmes, está? Aaah! Que fofinho, Kao-chan! Mas pode ficar tranqüilo, a sua Hana-chan é totalmente fiel a você!

- Que bom!

- E você, Kao-chan... É fiel a mim?

- Ah...

- E veja se não é Matsuda Kaoru! Que bom que veio! E ótimo revê-lo! Olá, Takeda-chan!

- Ah, é ótimo ver o senhor também Ichikawa-san! – Ichikawa Takumi é o pai da Hana-chan. Alto e com cabelos pretos e terno preto, mostra a superioridade que um grande empresário deve ter. Os olhos são verdes-esmeralda como os da filha. Sua esposa, ao seu lado, estava com um vestido longo vermelho, com os cabelos presos em um coque. Eles são sócios da empresa dos meus pais, são os principais sócios aliás. Segundo o que Momiji me falava, os Matsuda e os Ichikawa sempre foram bons companheiros. – Vejo que sua esposa está linda como sempre, Ichikawa-san!

- Ora, Matsuda-kun, não é a ela que deve bajular, e sim a Hana! – Super-protetor e está sempre comprando o que a filha pede... Me pergunto se a empresa não tem prejuízos com as “comprinhas” da Hana-chan. 

- Mas Hana-chan é naturalmente linda, e posso ver a quem puxou agora!

- Ahaha! Você sabe usar as palavras, Matsuda-kun... Mas trate de sempre deixar Hana feliz, ou vai sofrer as conseqüências! – Disse ele, sorrindo cinicamente... Não falei que ele era super-protetor? – Mas, se me dá licença, tenho que falar com alguns fornecedores que acabei de avistar. Com licença!

- Claro Ichikawa-san! Tenha um bom dia! – Assim que termino de falar, o pai de Hana se vira e sai e meu celular toca. Uma mensagem.

        “Kaoru, querido, é sua mãe.

       Perdoe-nos por não termos aparecido na festa da Hana-chan, e mande um grande abraço para ela, mas ocorreu um imprevisto e não conseguimos chegar a tempo. Escute, eu e seu pai teremos a noite livre, que tal um jantar? Só nós três?Estaremos no seu restaurante preferido às 7h, esteja lá!”

               “Com carinho, Mamãe.”

- O que foi Kaoru-niichan? – perguntou Momo-chan, puxando de leve minha calça, após perceber meu repentino silêncio. Hana-chan também me olhava com a mesma dúvida.

- Não foi nada, Momo-chan. É os um recado dos meus pais. Hana-chan, preciso ir, tenho um compromisso agora.

- Mas já Kao-chan? Você ficou tão pouco!

- Sinto muito, Hana-chan, mas é inadiável, na verdade, já estou até atrasado!

- Aah, tudo bem então, né? Mas prometa que me ligará de noite! – Hana-chan me ama mesmo! Isso não foi nem um pedido, foi quase uma ordem. Ela se inclinou me deu um selinho, para depois sair saltitante atrás das amigas.

- Ah... Tudo bem... – Olho para baixo e vejo os olhos chorosos da Momo-chan. – Fique calma, Momo-chan. Prometo ir te visitar qualquer dia desses!

- Promete? Você vai lá em casa pra brincar comigo? Sério? – Momo-chan, por ser super-dotada é muito solitária, não se dá muito bem com as outras crianças, mas também não gosta muito dos adultos. Faço questão de ir brincar com ela só para ver o brilho de felicidade que fica nos olhinhos dela... Mesmo que seja um tédio pra mim!

- Sim, eu prometo! Vou te ligar essa semana pra marcar um dia e uma hora, ok?

- Certo!

- Aliás... Não, deixa pra lá! Eu te ligo, Tchau! – Me agacho e dou um beijo em sua bochecha e vou embora. Quase perguntei por Arata, foi bom ter me impedido. Momo-chan é muito sensível, e desde que Arata saiu de casa, sempre que ouve seu nome fica triste e chora.

                                            ---//---//---

 - Momiji, cheguei! Vou estar no meu quarto! – Aah, nada como sua própria casa, não é verdade? Meu Vídeo Game vai estar me esperando para virar mais um jogo, em quanto eu como doces e tomo refrigerante! Entro no meu quarto e começo a tirar a roupa, pra tomar um banho e tentar aliviar o calor, e já estava de cueca quando o outro ser abominável se apresentou.

- Er... Kaoru, eu não gosto de ver homem pelado! – Brincou Arata, rindo da minha cara enquanto tomava o meu sorvete de chocolate com flocos em cima da minha cama... Às vezes folga tem limite!

- Se não gosta por que esperou eu ficar de cueca pra aparecer? – Há! Dessa vez eu peguei ele! – Aliás... Por que não foi à festa?

- Prefiro não comentar quanto a você estar de cueca... E quanto à festa, não fiquei afim, sabe como é, essas festas de gala são muito chatas!

- Eu sei que são... Mas Hana-chan é minha namorada, e se eu não fosse por bem, ela iria vir me buscar por mal... Fora que você não ouviu a ameaça do pai dela “Trate de sempre deixá-la feliz, ou vai sofrer as conseqüências!” – Disse, tentando imitar a voz de Ichikawa-san – Aliás... Momo-chan está com saudades... Ela não falou nada mas deu pra ver no olhar dela. Por que não vai visitá-la algum dia?

- Ah... Bem... Não quero entrar na casa dos meus pais, mas por que não a trás aqui um dia? Assim posso vê-la também! – Idiota... Qual é o problema de ir na casa dos pais pra visitar a irmã? – De qualquer jeito, estou de folga do trabalho hoje, quer perder uma partida de Vídeo Game? Eu andei praticando aquele jogo de luta e tenho certeza que ganho de você agora!

- Ora, isso está me cheirando a desafio! E um desafio eu aceito!

- Certo... Só se vista então, meus olhos vão queimar se continuarem a ver essa visão dos infernos!

              A verdade é que Arata anda muito estranho ultimamente. Sempre evitando ir à casa dos pais e também nunca me fala o porquê dele ter saído de casa. Tenho certeza que não foi por falta de liberdade ou porque queria seguir seus sonhos, quando Momo-chan tinha 5 anos decidiram que ela seria a herdeira da empresa Takada... E com certeza não foi por isso também, Arata nem estava muito interessado na empresa... Ainda tem muita peça faltando nesse quebra cabeça!

---//---//---

             Em frente a um dos restaurantes mais caros da cidade, e o meu preferido também, já podia ver meus pais. Meu pai, Matsuda Ishida, estava com seu tradicional terno preto e gravata vermelha, com o cabelo curto e castanho penteado para trás, indiferente como sempre. Minha mãe, Matsuda Imouto, vestia um vestido longo e preto, com alguns colares e brincos espalhafatosos e os cabelos negros presos em um coque... Para estarem vestidos assim, devem ter saído de uma reunião ou almoço de negócios!

- Olá mamãe, pai. – Me apresentei, me sentando na mesa. Meu pai apenas acenou e minha mãe sorriu e me deu um beijo na bochecha.

- Olá, querido! Sente-se e faça seu pedido, sim? E então? Como anda na escola? E em casa está obedecendo Momiji direitinho? E ela está te tratando direitinho, certo?

- Está tudo bem sim, mãe. E Momiji esta cuidando bem de mim, sim. – Quando minha mãe me encontrava, perguntava sobre tudo, e principalmente se Momiji me tratava bem, porque não gostava muito dela, mas nem imagino o porquê. – Quanto à escola, vão começar um estudo intensivo para a faculdade em algumas semanas, antes vamos fazer um teste vocacional.

- Ora mas que bom! E o que pretende para a faculdade, querido?

- Bem, eu....

- Não irá fazer faculdade. Kaoru tem que se preparar para começar a administrar nossa empresa, já que no futuro a herdará de mim. – Quando meu pai fala algo pela primeira vez, já sai algo altamente aborrecedor. Já havíamos brigado sobre isso antes, já havia dito que não queria suceder a empresa, mas meu pai nunca me ouvia.

- Pai, já conversamos sobre isso. Não quero suceder a sua empresa, pretendo fazer Design de Jogos.

- E já lhe disse que como herdeiro único você deve suceder a empresa, Kaoru! – Ele bate a mão na mesa, mostrando que já esta impaciente, mas se contém para não chamar atenção, como sempre.

- Escuta aqui, pai....

- Matsuda-san? Matsuda Ishida-san? Dono das empresas Matsuda? – Era um outro homem jovem de terno que interrompeu bem a tempo de me impedir de explodir aqui dentro.

- Ora, Tokyiama-san, mas que grande coincidência! Ele é o herdeiro daquela grande empresa de perfumes, a Koosui Tokyiama ! É muito bom vê-lo aqui!

- Eu concordo plenamente Matsuda-san! É realmente uma honra encontrá-lo! O senhor me parece muito bem, e sua mulher está linda como sempre! – Bajulador de araque, esse cara! Meu pai era um três dos grandes empresários do Japão que controlava a economia do país, ou seja, quem ele fosse com a cara, se dava bem para pegar empréstimos ou não quebrar, e quem fosse seu inimigo quebrava na hora! Simples.

- Ora, muito obrigado, é muita gentileza sua! – Meu pai, por sua vez, apenas tinha que ser gentil, porque quanto mais aliados, maior é seu domínio! – Por que não se senta e janta conosco? Seria ótimo! – Como assim “Janta conosco”? Esse não era um jantar entre pais e filho? Eu ainda nem fiz meu pedido! Olhei para minha mãe que apenas sorria para o cara, insistindo que ele se sentasse ali e jantasse.

- Ora, seria uma grande honra, Matsuda-san!

Depois disso, o cara simplesmente se sentou. Meu pai falou um pouco de mim, disse que sucederia a empresa e tudo mais, resolvi ficar calado, apenas observando. Deixaria que ele continuasse pensando nisso, que ele fique iludido com essa incrível besteira. Na meia hora de conversa, descobri que o cara era dois anos mais velho que eu, tinha acabado de terminar seu ensino sobre a administração da empresa e está em um curso de línguas para que possa expandir os negócios para outros países e blá, blá, blá, Deus me livre ficar como ele quando terminar a escola! Olhei em volta da mesa para constatar a situação: minha mãe apenas assentia e sorria, nunca vi um sorriso durar tanto tempo na cara de alguém, o cara apenas falava sobre seus planos e bajulava meu pai. Já meu pai, conversava com ele de um jeito que nunca conversamos, já que normalmente só brigamos. Algo me diz que estar aqui, para mim, é absolutamente inútil, ver meus pais fazendo um teatrinho porque o cara é o herdeiro de uma maldita empresa de perfumes vai fazer meu jantar voltar pra mesa.

- Onde pensa que vai Kaoru? – Perguntou meu pai, com autoridade enquanto me levantava da mesa para ir embora.

- Estou indo embora.

- Não, não vai, sente-se aí agora! – Ele me olhava e mandava em mim como quem estava mandando em um vira-lata vagabundo. Não vou segurar mais.

- Sim, eu vou embora sim! Eu vim aqui para jantar com meus pais, e não ouvir uma conversa sobre o modo que o cara careta aqui está planejando expandir os negócios, ou muito menos pra ver minha mãe sorrir feito uma idiota a cada palavra que ele diz! – Não me segurei e saiu tudo que estava segurando por toda noite... Por apenas aquela noite. – Eu não vou suceder a sua empresa idiota, pai, ponha isso na sua cabeça de uma vez! Não tô afim de virar um careta feito você e esse cara, então desista! A propósito mãe, não precisa mais arrumar um “tempinho” na sua agenda pra gente se ver, já que sempre “acontece um imprevisto”.

Me virei e fui em direção a saída do restaurante. Não precisei ver a cara dos meus pais para saber como estavam perplexos pelo fato do filho único se revoltar contra eles mesmos, ou pra saber a vergonha que passaram na frente do carinha dos perfumes, mas foda-se! Não me importo mais. Com certeza meu pai já mandou uma mensagem pro Motorista me levar direto até o Aeroporto para me encontrar com eles e ele me dar uma bronca em uma daquelas salas particulares, estou com pouco dinheiro então vou de ônibus, a pé demoraria muito.

Fui direto pra casa, cabisbaixo e com uma imensa vontade de virar a noite jogando Vídeo Game. O ônibus havia me deixado próximo a escola, que por sua vez era próxima a minha casa. Qual é o problema em não querer suceder uma maldita empresa? Qual é o maldito problema em querer fazer Design de jogos? E qual é a da minha mãe ficar sorrindo feito uma idiota? Ela sorriu torto até quando eu tava dando um de revoltado! Esses velhos me cansam, e me cansam muito!

Estava em frente da escola agora, olhando para ela e me lembrando do quanto eu relutei para entrar aqui, meio que fui obrigado pelo meu pai, justamente por que a maioria dos filhos de grandes empresários também estudavam ali, e também pela escola ser conhecida pelo curso de administração de empresas, deve ser um tipo de Pré-vestibular para administração... Mas nem me interessei nesse maldito curso.

- Matsuda...-kun? – Tudo o que aconteceu aquela noite foi instantaneamente esquecido ao ouvir a voz que chamava meu nome... Não, não era uma garota que marcou a minha vida ou o meu primeiro amor que eu nem cheguei a ter, era Yamada-sensei, a nova enfermeira da escola e a primeira professora que beijei...

- Yamada-sensei?

- Matsuda-kun, o que raios esta fazendo nessa escola? Quer que eu seja demitida outra vez?

- Eu que pergunto o que você esta fazendo aqui! Não foi demitida daquela escola ano passado! – O fato de termos ficado foi rapidamente espalhado pela escola ano passado, e isso colocou o emprego dela em risco e me deu uma suspensão.

- Não fui demitida ano passado por que tinha um contrato a cumprir, mas assim que o contrato expirou fui chutada de lá!

- Tanto faz. Sinto muito por ano passado, tenha uma boa noite e até amanha! – Tudo bem, fui sim um pouco frio, mas não tô afim de papo agora.

- Matsuda-kun? Está tudo bem, aconteceu alguma coisa? – Ela foi até mim e tocou um ombro. Eu parei. Sim, havia acontecido algo, mas eu definitivamente não queria falar sobre isso, não com ela... Ela não precisava saber dos meus problemas pessoais.

- Não, não aconteceu nada. Só estou um pouco preocupado em como passar uma fase do Vídeo Game... Nunca vi uma fase tão difícil. – Sorri torto, obviamente mentindo... Eu não era muito bom nisso, afinal.

- Matsuda-kun, você é péssimo em mentir! – Ela tinha razão... Mas o que eu poderia falar mais? Que meus pais continuavam a me desprezar, tentar agradar mais a um riquinho maldito do que a seu próprio filho? Não queria falar sobre isso, odeio falar sobre isso, mas acho que ninguém entende. É sempre assim, pela família ser rica, estão sempre felizes e unidos, o que não passa de uma grande mentira. – Matsuda-kun, você está com cara de quem acabou de ser atropelado por um caminhão, mas saiu sem nenhum ferimento externo. – Ela andou ate minha frente e sorriu – Se você não quiser falar sobre o que aconteceu, tudo bem... Mas não faz bem guardar algo ruim apenas para você. Tudo bem se não quiser conversar comigo sobre isso, mas se quiser um conselho, tente se abrir com alguém, ok?

- Sim, obrigado. – Só pude responder depois de algum tempo surpreso pelo que ela havia acabado de dizer. Como ela poderia ao menos imaginar que eu não queria falar sobre isso? Ela ainda estava sorrindo para mim antes de se virar e começar a caminhar. Apenas mais a frente foi se virar e falar algo novamente.

- Ja nee, Matsuda-kun! E siga meu conselho! – Ela acenou e sorriu, já bem longe, e só então voltei a mim novamente. Sim, acho que ela tinha razão, talvez eu devesse me abrir com alguém sobre isso... Quem sabe assim eu não sinto um pouco de alívio?

                                                  ---//---//---

- YO, KAORU! – Droga, a paz que eu pensei que teria ao chegar em casa desapareceu no mesmo instante em que atravessei a porta principal.

- Ah! Mori, o que faz por aqui? – Yasuhiro Mori era meu sensei de Esgrima desde meus 10 anos... Nos conhecemos há seis anos. Na verdade, ele é mais que um sensei, ele é como um pai pra mim. Era ele que estava na minha formatura de encerramento do Fundamental e era ele também que estava nas minhas últimas formaturas desses últimos 6 anos. Quando pergunto por que faz isso tudo por mim, ele apenas diz que quer acompanhar a vida do seu “melhor aluno de esgrima”, mas acho que faz isso para que eu não vire um revoltado e me mate por me sentir excluído pelos meus pais... E também deve ter medo que eu vire algum emo da vida! Ele não faz jus a sua carreira. Tem a pele meio morena e o corpo um pouco musculoso. Tanto o cabelo quanto os olhos são negros.

- Vim te perguntar se ia ter que mudar seus horários, agora que entrou no Colegial. – Ele realmente não sabe inventar um desculpa pra vir me ver.

- Mori, você definitivamente não sabe inventar desculpas... Era só ter me ligado se fosse realmente apenas para isso! – Ele me olhou com um olhar de raiva, mas logo mudou para descontração. Eu apenas me virei e acenei. – De qualquer maneira, não, não vou precisar mudar meus horários. Tive um dia cheio e vou dormir, então boa noite!

- E-ei, Kaoru! Não me ignore quando eu finalmente consigo um tempo pra te ver! – Ele protestava, enquanto me seguia ate meu quarto – De qualquer jeito, por que está de terno e gravata? Estava em algum encontro importante ou seu pai te obrigou a ir se encontrar com alguns acionistas? Além de estar com cara de que alguma coisa ruim aconteceu.

- Nem um nem outro, mas chegou perto. – Não iria tentar esconder, sabia que nem ao menos conseguiria, nunca consegui mentir para ele... E eu também queria seguir o conselho da Yamada-sensei. – Meus pais faltaram à festa de aniversário da Hana-chan e minha mãe me mandou uma mensagem me pedindo para jantar com os dois hoje. Bem, eu fui, certo? Não os vejo há um tempo, você sabe como é. Ficamos cinco minutos nos falando como uma família de verdade, quando meu pai interrompeu falando que sucederia a empresa dele, e todo aquele blá, blá, blá de sempre. Quando estava a ponto de explodir em cima dele, um herdeiro de outra empresa apareceu, foi convidado a jantar e eu dei o fora do “Jantar em Família” brigando com minha mãe e meu pai. – Eu tirei a gravata, camisa e o sapato, liguei o Vídeo Game e passei um dos controles pra ele, que aceitou de bom grado. – O problema do meu pai é que ele quer me monopolizar, quer que eu herde a maldita empresa dele, quando o que eu quero é fazer Design de Jogos, mas ele ainda insiste, mesmo eu tendo repetido isso milhões de vezes. E minha mãe fica sorrindo feito uma boboca pra qualquer um que ela veja! Acho que se fossem matá-la, ela estaria sorrindo para o assassino. Ganhei.

- Droga! Eu acho que você devia tentar ver o lado deles. Eles só querem que você se de bem na vida e tudo mais.

- Me dar bem na vida? Melhor do que eu já estou é impossível! Mesmo que minha carreira no mundo dos jogos não dê certo, eu posso deixar herança para meus netos, e vivendo muito bem! – Dei uma pequena pausa, enquanto o jogo carregava. – Mas, às vezes eu penso como seria a nossa relação se eu obedecesse mais eles, se eu fizesse a vontade do meu pai e herdasse a empresa dele... Talvez as coisas melhorassem entre a gente.

- As coisas melhorariam entre vocês, Kaoru, isso é certeza, mas só seus pais ficariam felizes com isso. Eu tenho certeza que ficar atrás de uma mesa lotada de papeis o dia todo e viajando pra tudo que é canto sem tirar o terno ou alargar a gravata não combina nem um pouco com você. Escute, nós devemos sim ouvir nossos pais, já que na maioria das vezes eles apenas querem o melhor para nós... Mas antes de seguirmos os conselhos dele, temos que nos imaginar nesses conselhos e pensar se isso é realmente o que queremos. Talvez eu possa estar errado, mas eu acho mais importante seguir nossos sonhos do que os conselhos dos nossos velhos. Ganhei! De qualquer jeito, eu tenho que ir! Tenho que dar aula amanhã bem cedo! E trate de voltar logo às aulas, ou vai perder o ano!

- Hai hai, farei o possível para voltar. E obrigado pelo conselho.

Sim, eu sabia que podia confiar nele. Ele sempre me ajudou nas horas difíceis e tudo mais... Era o pai que eu nunca tive, o pai que eu queria ter tido e o pai que ainda sonho em... Cara, eu tô muito emo! Se alguém me ver assim vai estranhar, e estranhar muito, mas nada que uma bela noite jogando Final Fantasy XII não resolva!


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Notas finais do capítulo

Espero q tenham gostado e que mereçamos reviews Ou tortinhas de limão, vcs escolhem! u.u
Bjs. Obrigada por lerem!



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