Kowai no Ai Suru escrita por Camihii, Luh Black


Capítulo 2
Como Sempre


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o segundo cap. Este narrado pelo Kaoru.



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“” Uma criança pequena, com cerca de 5 ou 6 anos, esperava os pais no campo de uma grande e luxuosa fazenda. A criança fora atrás de um pequeno inseto voador, enquanto esperava os pais chegarem ao campo que ele estava. Assim que consegue pegar o inseto, sorri para a Babá, que o vigiava a metros de distancia, fazendo a mesma também sorrir pela pequena vitória de seu protegido.

 

- “Kaoru! Kaoru querido, venha aqui!” – gritava uma bela e bem vestida mulher, que acabara de adentrar o campo ao lado de um homem igualmente bem vestido e belo, com uma menininha loira fofa atrás de si. A criança, ao ver os pais chegando, tenta correr rapidamente com suas pequenas perninhas, mas antes que pudesse alcançá-los, um apito agudo e nada convidativo toca do bolso de seu pai, que rapidamente se vira e atende, murmurando algo para mulher, que também se vira rapidamente. Quando o garoto chega aos pais, sorrindo contente, abraça a perna do pai tentando lhe chamar atenção, mas sem sucesso. O homem desliga o telefone e fala algo para a mulher, que se ajoelha em frente à criança. – “Querido, ocorreu um imprevisto, papai e eu temos que ir, mas prometemos ficar com você essa noite, está bem? Olhe, Hana-chan está aqui, você pode brincar com ela!”

 

- “Mas eu quero ficar com você, mamãe! Não quero ficar com a Hana-chan e nem com a Momiji, quero ficar com você e o papai!”

 

- “Sinto muito querido, hoje não vai dar por que a mamãe e o papai têm um compromisso urgent...”

 

- “Vocês sempre tem um compromisso, e sempre prometem ficar comigo, mas nunca ficam! É sempre assim!” – o garoto se vira e começa a correr, sem direção ou rumo. Quem sabe aquele ato fizesse com que seus pais lhe dessem atenção, vira na TV que crianças birrentas sempre chamam atenção dos pais, talvez funcionasse, enfim! Duas vozes gritavam por ele, que não prestava atenção no caminho que pegava, nem ao menos sentiu dor ao cair, pois percebera que as vozes não eram de seus pais...””

 

- Kaoru-sama! Kaoru-sama! Acorde, seu despertador tocou há cinco minutos!

 

- Hai, hai, já acordei Momiji. Pode colocar o café na mesa.

 

- Hai, Kaoru-sama. – ela se retira do quarto silenciosamente, afinal, é paga para cumprir minhas ordens. Olho para a cama e vejo os lençóis de linha indiana, extremamente confortáveis. O quarto ao meu redor é grande, com uma TV grande, uma mesa de estudos grande, um sofá grande e até mesmo uma grande estante. Enfim, era tudo bem grande, sempre foi, mas nada disso me deixa contente. Principalmente depois de ter esse maldito sonho outra vez! Dessa vez foi mais fundo, eu só sonhava até a parte da despedida... Bem, tanto faz!

 

Hoje é o primeiro dia de escola do meu 2º ano do Colegial, em uma escola nova, na Gakuen Campbell, uma das mais renomadas e caras da cidade! Provavelmente vai ter muitas garotas extremamente bonitas, ricas e fúteis! Mas tudo bem, melhor pra mim!

 

               Me visto com o novo uniforme escolar e desço para o Café da manha, onde a bela mesa já esta posta, com as mais caras e requintadas comidas da cidade... Pelo menos é o que eu acho! Me sento e uma das empregadas serve meu café da manha, educadamente, e só então reparo que não há nenhum outro prato a ser servido, apenas o meu.

 

- Er... Momiji, meu pai e minha mãe ainda não acordaram?

 

- Ah! Eles pediram que lhe passasse um recado. Disseram que ocorreu um imprevisto urgente com um dos revendedores mais importantes no mercado, e tiveram de viajar nesta madrugada. Eles disseram que sentem muito por não poderem tomar café com o senhor, como prometeram.

 

- Como sempre... – murmurei para mim mesmo. A última parte que Momiji falou é com certeza mentira. Ela desviou os olhos, sempre que ela desvia os olhos é porque está mentindo! Conheço Momiji melhor que ninguém, e ela o mesmo sobre mim. Em meus 16 anos de vida, passei apenas os 2 primeiros com minha mãe ao meu lado, meu pai, para mim, é quase um estranho. Momiji está comigo desde que nasci, sempre fora minha Babá, mesmo eu odiando ter uma aos meus 16 anos. Além disso, ela já passou desse estagio, já é quase uma mãe para mim. – Bem, Momiji, prepare o carro por favor, já vou sair. – Falei, pegando minha mochila e indo em direção a porta.

 

- Mas... Kaoru-sama, você nem tocou na comida! O senhor deve comer para passar bem o dia, Kaoru-sama! – Vou até ela e lhe deposito um beijo na bochecha.

 

- Estou sem fome, Momiji. Itekimasu!

 

          Ah! Enfim, liberdade! Amo Momiji, mas às vezes ela representa uma mãe tão bem que chega a ser chata! Entro no carro e vejo o monótono caminho para escola, com adolescentes ou até crianças, indo alegres com amigos para escola, mesmo que estejam a pé, continuam sorrindo. Às vezes, queria ser um desses adolescentes normais, que com certeza conversam e vêem seus pais todos os dias, têm amigos de verdade, que não estão interessados no fato de você ser filho de alguém importante, ou por ter dinheiro. Alguns olhares se viraram para meu carro, e comentavam aos rizinhos ou sorrisos desdenhosos como gostariam de estar no meu lugar.

 

        Finalmente, chego à escola e constato, feliz, que a mesma ainda está vazia, ou quase. Quando sai do carro vi uma garota, com um uniforme que parecia ser de outra escola. O carro saiu e me escondi atrás de uma árvore, para poder ver melhor. Ela estava com unhas pintadas, uma saia preta com renda em baixo, a jaqueta amarrada na cintura, camisa branca normal, a gravata frouxa, tinha cabelos curtos e pele um tanto branca. Se despediu do cara que estava com ela um tanto carinhosamente e se virou para escola. Só podia ter entrado na escola errada! A segui, sem deixar que ela percebesse, e também entrei na escola. Ela atravessa toda a escola, e chegando aos fundos da escola, se senta embaixo de uma árvore, pega algo na mochila, coloca fones de ouvido, e começa a escrever algo em um caderno, e, na distancia que estou, não dá pra ver o que esta fazendo. Fiquei ali, quase uma hora vendo ela, sentado, eu não tinha nada pra fazer mesmo!

 

        Um tempo depois, um garoto de cabelos castanhos claros se aproximou dela, ofegante, e, por alguma razão, ela se assustou com algo que ele disse, recolheu suas coisas e saíram juntos dali. Quando olhei o relógio, entendi, a Cerimônia de Abertura já estava para começar, faltavam alguns poucos minutos. Me apressei e corri ate o Salão de entrada, os representantes já estavam começando a falar. O discurso do 1º ano foi absolutamente tediante! Nunca tinha visto uma garota falar e gaguejar tanto ao mesmo tempo! Pobre coitada, acabou de pagar o mico da semana.

 

     A próxima era a representante do segundo ano, que por acaso, era a mesma garota que havia visto mais cedo. Logo que subiu o palanque, antes mesmo de começar a falar, os murmúrios começaram.

 

- Kami-sama, não acredito que ela é a representante este ano também! Onde já se viu uma delinqüente como ela ser a representante do segundo ano?

 

- Eu fiquei sabendo que as notas dela são altas por que ela ameaça os professores! E que ela faz isso há muito tempo!

 

- Não acredito! Minha irmã, que saiu da escola ano passado, me disse que ela foi expulsa do primário por destruir uma sala quando ela foi contrariada! Assustador! – Como assim destruiu uma sala no primário?

 

- Er... Com licença... – me intrometi, curioso – Sobre quem estão falando? – Elas olharam para mim, e por alguns segundo, ficaram caladas, só me encarando, e só voltaram à realidade depois de chamar a atenção delas. Ser bonito é algo difícil!

 

- Meu nome é Nakamura Kyoko, represento o 2º ano. Eu espero que este ano, todos possamos...

 

- Nakamura Kyoko, a delinqüente da escola! Ninguém ousa desafiá-la, e aquele que o faz, fica com o maior dos maus presságios! Os boatos sobre ela são simplesmente assustadores! – começou uma das garotas.

 

- Sim! Ser expulsa no primário ou ameaçar professores são só alguns! Ano passado, descobriram que ela havia matado os pais quando era pequena, mas ninguém sabe mais detalhes!

 

- Como vocês sabem que foi ela? – Cara... Matar os pais é coisa séria, não acredito que ela tenha feito isso!

 

- Ela nunca nega! Nunca nega nenhum rumor sobre ela! Ah! O que me lembra o “olhar” dela!

 

- Oh! É verdade! O olhar! – A garota tremeu a voz e a deixou mais baixa, olhando de lado para a tal Kyoko, que ainda falava o discurso. – Ano passado, quando ela entrou na escola, muitos não gostaram do jeito que ela era, arrogante, convencida e não respeitava nem os Senpais! Então, pegaram a maior valentona do 2º ano para dar um jeito nela, mostrar a ela quem manda, sabe? Foi uma luta pública, no telhado da escola, depois da aula. Totalmente assustadora!

 

- O que Nakamura fez? Bateu muito nela?

 

- Não! Não tocou nem um dedo nela! Ela recebeu o convite e foi até o telhado. Nem ao menos a mochila ela colocou no chão, a senpai a desafiou, e Nakamura apenas olhou para ela. Nesse momento, ganhou a luta!

 

- Apenas olhou?

 

- Sim, mas esse olhar não foi um olhar qualquer, foi um olhar demoníaco, terrorífico! Fez a Senpai cair de joelhos com as calças molhadas! – Uau... Não acredito que um olhar possa fazer isso tudo! – Depois desse episódio, os Senpais daquela turma apelidaram Nakamura de “Dama Negra”. Diziam que ela havia feito um pacto com o Diabo e tudo! Assustador!

 

- Obrigada, e desejo a todos um ótimo ano! – ela se curvou quando terminou o discurso e voltou a se sentar. Simplesmente, não dá pra acreditar que uma garota como ela, faça isso tudo!

 

    O discurso do 3º ano foi igualmente chato! Logo que acabou, todos foram até o quadro de avisos para ver qual seria nossa sala, e logo pude começar a comprovar o quão assustadora era a Nakamura. Todos os estudantes haviam dado espaço para que ela visse sua sala. Alguns até saíram correndo do lugar, com medo, os Senpais do 3º ano a olhavam com raiva, e murmuravam entre si, e os alunos novos olhavam envolta, confusos. Eu estava igual a eles.

 

       2º ano, sala 2A, essa será minha turma esse ano. Segundo minhas informações, apenas os mais inteligentes ficam nas salas A e B, ou seja, eu sou o cara! Assim que cheguei na sala, alguns garotos logo vieram conversar comigo, e algumas garotas ficavam cochichando e apontando para cá.

 

- Iiih! Olha o cara! Mal chegou e já ta chamando atenção!

 

- Cala boca!

 

- Peço perdão, é que me sinto honrado por estar conversando com senhor, esta beldade humana, Matsuda Kaoru-sama! – Os filhos da mãe começaram a rir, escandalosamente, mas param em um instante, exatamente como toda sala. Quando olhei para porta, entendi o porquê de tanto silencio. Nakamura havia acabado de entrar na sala. Ela andou até uma das cadeiras, no fundo da sala, jogou sua a mala na cadeira, e perguntou:

 

- Quem senta aqui? – A voz dela estava realmente assustadora, séria. Uma garota pequena, que não sabia o nome, foi até ela. Nakamura pega a mala e a entrega. – Saia.

 

       A garota saiu correndo até suas amigas, que a abraçaram, murmurando “Está tudo bem, já passou, já passou!”. Minutos depois, uma outra garota foi até ela, se apresentou e ficou sem uma resposta de Nakamura. Reclamou pela maneira com que ela tirou a amiga dali e como ela se veste, que a escola era muito boa para isso e Blá, blá, blá... A professora chegou assim que terminou de falar, e também estava em silêncio.

 

   A garota continuou reclamando, mas agora para a professora, que continuou calada. Deu a entender que a garota também queria modificar o uniforme, mas continuou sem resposta, nem da sensei nem da Nakamura. O clima já estava bastante quente, e eu acho que só vai piorar.

 

     No segundo seguinte, Nakamura vira a cabeça para a garota e solta um “E daí?”, com um olhar assustador, que identifiquei ser aquele que as meninas da Cerimônia disseram. O tal olhar “Terrorifico”. A garota se assustou e saiu correndo para sua cadeira. Muito legal!

 

- Bem classe. A maioria já me conhece, devido ao ano passado. Mas, para os novatos, eu sou Nakajima Akane, professora de história. Por favor, quero que a Saito-san e o Matsuda-san venham para frente da classe se apresentar. – Aaah! Entendi! A garota que desafiou Nakamura também é novata, por isso não sabia sobre os rumores, e provavelmente achou que não era nada. Idiota! Deve-se conhecer o território antes de atacá-lo!

 

- Prazer, eu sou Matsuda Kaoru, tenho 16 anos. – assim que me levantei da cadeira, a sala já havia explodido suspiros, e mais ainda quando me apresentei. É duro mesmo ser bonito! - Estudava na Gakuen Itsumo, e é um prazer e uma honra vir estudar na Gakuen Campbell. Muito prazer a todos e espero que possamos ser bons amigos.

 

     Me curvo e dou espaço para a outra novata, que, de perto, ainda se podia ver que estava assustado, os pelos da sua nuca ainda estavam pra cima. Uma coisa que reparei, é que Nakamura não levantou a cabeça uma única vez para ver o que falávamos, estava concentrada em um caderno, que identifiquei ser o mesmo de hoje cedo, pela cor da capa, e também aparentava pensativa... É nessas horas que quero ser uma mosquinha pra descobrir o que ela tanto escreve!

 

- Muito obrigada, podem se sentar. – Disse Akane-sensei, enquanto eu e a tal Saito íamos para nossas cadeiras, e, enquanto passava, as garotas cochichavam e apontavam na minha direção, murmurando coisas como “Como ele é lindo!” ou “Ele era tão popular ano passado!”. Há! Eu sei que sou O cara, ninguém precisa dizer! – Bem vamos começar a aula!

   

      Acho que podia começar a acreditar nos rumores sobre a Nakamura, as fontes pareciam seguras! Os rumores sobre mim também eram verdadeiros, bem, ao menos partes. Como descobriram que tinha ficado com aquela professora!? É claro, vou negar! É como dizem, escola nova, vida nova, garotas novas! Ora, não sou só um rosto bonito... Bem, pelo menos ninguém nunca reclamou da minha pegada!

 

    Algumas aulas tediantes depois, pude, mais uma vez, comprovar o quão assustadora e Nakamura. Ela saiu calmamente da sala,com um pacote de Obento na mão. No refeitório, olhou diretamente para uma mesa que estava ocupada por Primeiroanistas.

 

- Novatos! Não têm mesmo noção do perigo!? – cochichou Sakamoto para mim, antes de se levantar e ir em direção aos novatos.

 

- Nee, Takumi-kun, como assim “Não tem noção do perigo”?

 

- He, você também é novo aqui, certo Matsuda-kun? O que acontece é que aquela mesa é da Dama Negra. Ninguém em sã consciência se senta lá! Ano passado, 2 semanas depois que chegou na escola, ela resolveu ficar naquela mesa nos horários livres, e o último que se sentou lá foi para o hospital.

 

- Hospital? Por quê?

 

- Sim. Uns dizem que foi por que a Dama Negra colocou uma maldição nele, outros dizem que é porque quando você toca nas propriedades da Dama Negra, passa por uma maré de azar capaz de te expulsar da escola!

 

- Wow! Então os novatos estão ferrados? – Nesse instante, depois que os novatos saíram correndo da mesa, e logo depois, um outro cara, o mesmo que vi com Nakamura antes da Cerimônia, se debruçou sobre a mesa dela. – E aquele cara ali?

 

- Ah! Aquele é Miura Yuki, senpai do 3º ano, turma A. O único que conversa com a Dama Negra. As meninas, principalmente, não entendem o que ele viu nela, pra sempre passar os almoços com ela. É claro, com o tempo, rumores sobre ele também já foram inventados. Coisas como “Miura-senpai só almoça com a Dama por que ela o obriga”, ”Miura-senpai gosta da Dama, mas não admite”, mas no ano passado, a Dama desmentiu tudo, e disse  que se continuassem assim, ela não teria piedade. Agora as meninas dizem que a Dama é que gosta dele, e ele só conversa com ela por ser muito simpático e ingênuo! Mas ninguém sabe o porquê deles conversarem, ainda é um completo mistério!

 

- Uau... – Ele não tem uma cara inocente... Não ao meu ver, pelo menos! Mas seria legal saber por que ele se aproximou dela. E eles parecem ter uma relação até que legal... Imagina só verem a tão temida Dama Negra discutindo amigavelmente com um aluno normal... Sim, muito difícil imaginar, mas é exatamente isso que eu vejo! Isso é muito estranho!

 

       Aah, cara, ser lindo e popular me cansa! A porta da sala está cheia de alunas... Umas bonitinhas, outras nem tanto, mas dá pra me divertir! Vejamos... Ali tem Primeiroanistas e Segundoanistas das outras salas. Hahá, também, têm algumas Senpais ali, huh!? A safra esse ano vai ser ótima! Acho melhor marcar presença!

 

- Olá meninas! – cheguei, com o meu sorriso de “pescador”, com um belo cardume para pescar! – E então, foi um bom primeiro dia de aula até agora? Fora, claro, as aulas chatas!

 

- Olá, Matsuda-kun! Sim, o dia até agora estava tão chato! – começou uma delas, com carinha tristonha.

 

- Mas só o fato de podermos ter ouvido a sua voz, o dia já se tornou o mais lindo do ano, Matsuda-kun!

 

- Ora, se for para a felicidade das senhoritas, posso falar com vocês todos os dias! Que tal almoçarmos todos juntos amanha! Hã, o que acham? – Elas já começaram com o alvoroço, a pesca foi completada e com sucesso... Mas a sensei resolve chegar só pra atrapalhar!

 

- Muito legal da sua parte almoçar com as moças amanhã, Matsuda-kun, mas vocês poderiam combinar tudo mais tarde, não?

 

- H-hai, sensei... Nos vemos no almoço de amanhã, Matsuda-Kun! – confirmaram, acenando histericamente... Me virei e voltei a minha carteira, imaginando o quão delicioso seria o almoço de amanhã!

 

- Bom dia! Eu sou Suzuki Nana, a nova professora de matemática. E a responsável pelo 2º ano A. – só agora reparei, mas a professora não e de se jogar fora! Usava um vestido justo, por baixo do avental branco, que realçava as curvas... Não deve ter mais que 25 anos, na certa!

 

     Trigonometria, essa era a matéria que Suzuki-sensei estava explicando hoje. Uma matéria muuuito chata, por sinal! Aah, eu queria tanto estar jogando Video Game agora... É muito mais divertido! Ou pelo menos seria, se Suzuki-sensei não tivesse chamando atenção da Nakamura! Ótimo, uma diversão a mais no dia!

 

- Kyoko-san! Por favor preste atenção na aula!

 

- Estou prestando atenção sensei.

 

- Acho que desenhar chapéus não é prestar atenção nas aulas. – Ah... Então é desenho que ela fica fazendo! Uau, eu nunca imaginaria!

 

- É uma cartola. E depois, ao contrário de muitas pessoas, consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo. Por exemplo, a trigonometria é o ramo da matemática que estuda...  – Demais! Meu dia foi ganho! Um confronto com a famosa “Dama Negra” e a nova Sensei bonitona! Não dá pra pedir mais hoje! O pior foi que Nakamura deu um resumo completo da aula, falou coisas que eu nem sabia que a Sensei tinha falado! Ela é um monstro!

 

- Kyoko-san, se retire da sala agora! – Ordenou a Sensei, com as mãos apoiadas na mesa e mostrando impaciência.

 

- Não, obrigada.

 

- Kyoko-san, se retire da sala agora! – Ela repetiu.

 

- Não, obrigada. – Raios. Era isso que eu podia ver saindo dos olhos daquelas duas! Nakamura é louca! Desafiar uma Sensei no primeiro dia de aula! A sala inteira estava calada, sem se mexer, imaginando talvez, se a Sensei não havia ouvido falar dela. Mal se ouvia as respirações, a tensão estava à flor da pele na sala toda... Ninguém nem imaginava o que aconteceria, ninguém sabia que falaria primeiro... Saito, a novata de mais cedo, estava até suando, de tanta pressão. Isso era um show e tanto!

 

- Você está de castigo! Vai me encontrar no fim da aula na minha sala! – A Sensei fala com um leve sorriso nos lábios, um sorriso de vitória, e Nakamura a encara como se falasse “A guerra só começou! Me espere sua vaca!”... No segundo em que a Sensei se vira, toda a sala relaxa, mas ainda era possível ver auras negras em volta das duas... Era uma nova e excitante guerra que se iniciava ali! Muito legal!

 

     As aulas acabaram e as fofoqueiras da turma se prontificaram para descobrir qual seria o castigo da Nakamura, mas nem me importei, estava doido para ir pra casa, não agüentava mais essas aulas chatas!

 

    Fui direto para o carro, ou melhor, para a Limusine que estava me esperando na entrada da escola, e no caminho fui capaz de ver Nakamura fugindo da escola, com um sorriso vitorioso no rosto. Garota um tanto estranha essa. Desafia todo mundo, é a rainha do terror na escola, mas parece ser carinhosa com seu suposto “namorado”, e gosta de desenhar roupas! Essa garota me deixou curioso! Vou tirar essa história a limpo! Nakamura Kyoko que me espere!

 

    O caminho para casa foi como sempre, chato e sem nada interessante... Pelo menos até ver um louco conhecido correndo na rua.

 

- Motorista, pare ali na esquina. – Assim que ele parou, peguei o suco mais gelado que tinha lá dentro e abri a janela. – Olha só que suco maravilhosamente gelado e delicioso que tenho para mim nesse dia quente, juntamente com uma Limusine com ar-condicionado e banco de couro! Aaah! Que maravilha!

 

 - Oi pra você também, Kaoru. E obrigado pelo suco e por me oferecer carona! – falou ele, já entrando no carro e pegando o suco que eu segurava. Arata é mesmo um preguiçoso! – Tô indo pro Shopping, Ishida-san!

 

- Entra no meu carro sem autorização, pega o meu suco e ainda manda o meu motorista ir pro shopping... É mesmo um preguiçoso! Só falta me pedir pra esperar você fazer suas compras e te levar pra casa! – Takada Arata é meu amigo de infância, quase um irmão pra mim. Nossos pais são sócios, e freqüentávamos a mesma escola até o final do ano passado, quando por alguma razão, que o idiota ainda não me disse qual, ele foi expulso de casa, e agora tá morando em um apartamento do tamanho do meu quarto, incluindo a varanda, e estudando em uma escola pública... Ainda me pergunto como isso aconteceu!

 

- Cala boca, Kaoru! Tô indo atrás de um emprego!

 

- De um o quê? Emprego? O que isso significa!? – brinquei, rindo da cara que ele fez.

 

- Ah, me poupe Kaoru! Posso muito bem estar morando em um lugar pequeno...

 

- Muito pequeno, você quer dizer!

 

- ... Mas você nunca experimentou a liberdade de poder ir e vir quando quiser, dormir a hora que quiser e comer o que quiser!

 

- Ah, já experimentei sim! Eu vivo assim, por sinal! Mas eu vou e volto com um motorista, durmo em um quarto grande de cama macia e como o que quiser de boa, ou melhor, ótima qualidade!

 

- Não, não come! Sua babá te controla! – Ok, agora ele pegou fundo!

 

- Ah! Cala a boca, Arata! Prefiro ter Babá e continuar na boa vida que estou a morar em uma caixa-tamanho-família! Mas... Falaê, é emprego de quê?

 

- Vou tentar em uma livraria que tem no shopping. Eles estão precisando de alguém que tenha experiência com livros, e bem... Meus livros estão ocupando a maioria da minha casa!

 

- Sei... E ainda tá nesse livro... ”Ondas”? – perguntei, reparando que ele estava carregando um livro.

 

- Claro! Virgínia Woolf é simplesmente uma gênia! Já te falei sobre o conteúdo do livro? E simplesmente demais! Nem acredito que tinha deixado esse livro de lado quando o ganhei, você nem imagina a história e a profundidade de sentimentos que o livro transmite! Devia ler, Kaoru, devia sim!

 

- Tá, tá, quem sabe um dia, em um futuro beeem distante eu leia, sim, Arata? – Argh! Odeio quando ele começa a falar de livros... Ele sabe que eu odeio ler! Só deve fazer isso pra me irritar! Não é possível! – De qualquer jeito, passe lá em casa! Se estiver precisando de alguma coisa, é só me falar! Minha mesada é grande, posso dá-la a você se quiser!

 

- Valeu Kaoru, mas relaxa! Eu tô bem, consigo sobreviver bastante ainda! Eu garanto!

 

- Tem certeza? Não gastou sua antiga mesada toda em livros?

 

- Não, quem dera tivesse feito isso! Seria uma grana muito bem gasta!

 

- Ah, tá bem! Acredito! Bem... Chegamos! Boa sorte com o emprego, Arata... E se lembre, se precisar de alguma coisa, venha falar comigo! E ainda quero saber o porquê de você ter sido expulso de casa!

 

- Pode deixar, quem sabe um dia eu te conte! Até e obrigado pela carona! Tchau!

 

- Tchau... Se cuida... Pode ir, pra casa, Ishida-san! – Arata sempre está escondendo alguma coisa, e agora não é diferente! Sempre se importando em não preocupar os outros, mesmo se fosse morar debaixo da ponte, não me pediria ajuda, para “Não me preocupar”. É mesmo um idiota!

 

- KAO-CHAN! KAO-CHAN! OLHE PARA CÁ! – Oh, droga... Só uma pessoa gritaria esse maldito apelido que eu tanto odeio, por que o sinal ficou vermelho logo agora?! – KAO-CHAN! Sou eu! Hana! – se apresentou, mesmo eu já sabendo que seria, e abriu a porta com cerca de 10 sacolas de compras lotadas... Ainda me pergunto se algum dia o cartão de crédito dela não atingiu seu limite! O pai dela deve gastar milhões por mês só com ela, pobre coitado!

 

- Olá, Hana-chan! Pode entrar, tá? E por favor, não me chame de “Kao-chan”!

 

- Ah, Kao-chan! Que alívio, pensei que não tinha me ouvido! Eu chamei um táxi mas ele estava demorando tanto, e quando te vi fiquei tão feliz, estava com saudades! O que está fazendo aqui? – perguntou, me dando um selinho. Ichikawa Hana é minha amiga de infância e namorada. Uma garota um tanto bonita. Loira dos olhos cor-de-mel e pele bastante clara, é minha namorada há quase um ano... Mas eu não falo isso pra ninguém na escola, lógico. A verdade, é que comecei a namorar a Hana porque meus pais estavam insistindo muito, e também por que ela é muito bonita... Acho que não gosto dela exatamente como namorada, mas podemos ficar assim por mais algum tempo!

 

- Trouxe um amigo aqui... Acho que você o conhece, o Arata.

 

- Arata-san? Ah, claro! Eu fiquei sabendo sobre a situação dele em casa, que ele foi expulso e tudo! É verdade? – Hana-chan também é um tanto infantil, e a aparência dela só ajuda! Nós temos a mesma idade, mas ela estuda na Escola para Moças St. Maria. Os pais dela disseram que ela devia aprender a se comportar como uma verdadeira dama, e deixar esse lado muito infantil de lado, mas eu gosto dela assim, bem bobinha, fácil de enganar!

 

- Sim, ele foi mesmo expulso de casa... Mas veio tentar um emprego aqui no shopping, na livraria. – Mas aí me perguntam : “Você não tem medo que esse rostinho bonito e mimado te largue?”, eu simplesmente respondo “Não”. Hana é inocente, infantil e pura demais pra me trair... Ou pra perceber que está sendo traída!

 

- Hum, Arata-san gosta mesmo de livros, não é? Tomara que ele consiga o emprego, ele merece!

 

- Com certeza... Ele anda passando por dificuldades, mas nunca admite isso. É um cara muito legal... Mas um tanto idiota também!

 

- Haha, talvez você tenha razão, Kao-chan. Mas você já pensou na possibilidade de ele estar apenas tentando se encontrar? Dele estar tentando apenas tentando encontrar seu lugar no mundo?

 

- Se esta tentando fazer isso, por que não pede minha ajuda ao menos pra um lugar pra morar?

 

- Porque Arata-san acha que deve fazer tudo sozinho, que não será realmente uma vitória sua se ele tiver a ajuda de alguém! – Às vezes, Hana nem ao menos parece ser ela mesmo... Fala algumas coisas tão profundas que tocam o coração! – Ele quer e acha que deve fazer isso sozinho, quer ver até onde pode ir sem ajuda de ninguém! Acho que deve ter paciência com ele, Kao-chan. Deixar que ele se acostume totalmente com sua nova vida e que se realize com algo!

 

- Hee... Isso é mesmo bem a cara daquele bobão do Arata! Obrigado, Hana-chan, vou seguir seu conselho!

 

- Namorados também estão aqui para ajudar uns aos outros, afinal! – Disse, com um sorriso tranqüilizador. – Ah! Kao-chan, preciso descer aqui, tem uma lojinha ali com um vestido simplesmente lindo! Fofíssimo! Pode parar aqui por favor, Ishida-san! – Ela me dá um selinho e sai do carro, acenando com um grande sorriso. – Tchau, Kao-chan, durma bem!

 

- Tchau, Hana-chan... E não me chame de Kao-chan, por favor! – ela sorri de longe e se vira, entrando na tal loja. – Pode ir pra casa, agora é definitivo!

 

        O caminho para casa foi igualmente tediante. Nada mais interessante aconteceu depois de me despedir da Hana-chan. De qualquer maneira, antes de chegar em casa eu já sabia como seria o resto do meu dia ou noite. Chata. Solitária. Eu apenas chegaria em casa, tomaria um bom banho, faria o dever com Momiji atrás me incentivando e depois ficaria jogando Video Game até a hora que Momiji me ameaçasse suspender a internet, para então, ir dormir! Pronto! Mas assim que cheguei em casa, Momiji veio correndo e com um sorriso no rosto, em minha direção.

 

- Kaoru-sama, rápido! É uma ligação de seus pais, Kaoru-sama! – Bem, talvez eu estivesse errado... Acho que não se pode prever o futuro. Peguei o telefone e atendi.

 

- Alô? Kaoru, querido?

 

- Oi mãe...

 

- Ah! Querido, me desculpe por hoje mais cedo! Como você está? A nova escola e divertida? Fez amigos?

 

- Sim mãe, tudo bem, já me acostumei... – Isso sempre acontece mesmo.

 

- Olhe querido, eu e seu pai ainda vamos demorar um pouco assim, talvez não vamos conseguir voltar na quinta... – ela deu uma pausa e alguém lhe disse algo – querido, tenho que desligar, nós nos vemos semana que vem. Boa noite, querido.

 

- Ah, mãe, espera... – tarde de mais, ela já havia desligado. – Tchau pra você também. – Certo, eu realmente não posso prever o futuro... Porque ele acabou de ficar pior do que pensei que ficaria. – Momiji, estou indo por meu quarto tomar um banho, vou começar meu dever em 1 hora. Não deixe ninguém me incomodar até lá, ok?

 

- Ha-hai, Kaoru-sama. – Ela me olhou com aquele olhar, com o olhar de pena, de quem sabe o que aconteceu, outra vez... Um olhar que minha mãe deveria mostrar para mim, neste momento... Que eu não me lembro de ter visto há muito, muito tempo... Talvez, desde a época daquele sonho. Talvez não, tenho certeza!

 


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Notas finais do capítulo

Por favor, mandem reviews. Falando se gostaram ou não. Tudo é bem vindo!
Até o próximo cap o/