I wish escrita por liice, Isa Poke Shugo


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, galera. Aqui é a liice. Desculpa pela demora. O que importa é que o capítulo 11 está aqui para alegrar vocês! Espero que gostem!



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Drew’s POV

O dia do último treinamento foi longo e conturbado. Bastante coisa aconteceu e elas tiveram grande impacto na vida de todos. Conversei bastante com a May e inclusive pedi para ela ir na festa comigo. O fato de ela ter aceitado me deixou muito feliz, considerando que eu esperava uma resposta negativa.

Uma das nossas conversas, especificadamente a que ocorreu no campo de golfe, foi interrompida por uma certa garota de cabelos loiros que passou correndo por nós, sem nos notar. Odiei ter deixado a May sozinha sem explicação, mas simplesmente me levantei do banco em que estava sentado e saí correndo atrás da minha prima. Ela estava chorando e o mínimo que eu podia fazer era tentar descobrir o que havia acontecido e a consolar.

Não precisei correr muito para alcançá-la, quase no final do campo de golfe. Segurei seu braço e ela se virou de frente para mim. Seus olhos marejados me fitavam com muita tristeza. Algo horrível devia ter acontecido e eu já imaginava o que era.

— Stella... o que houve? — perguntei, já tentando ser o mais direto possível.

— O Robert... — ela começou a chorar mais ainda. — John, é o Robert. Ele disse que não gosta de mim. Acho que não quer mais ficar comigo.

Abraçá-la foi a melhor coisa que eu poderia ter feito naquele momento. Eu sabia que isso iria acontecer. Sabia que o Robert dispensaria ela em algum momento. E é claro que Stella não estaria preparada quando esse momento chegasse. Ela me abraçava fortemente e tinha seu rosto enterrado no meu peito enquanto suas lágrimas caíam e molhavam minha camisa.

— Ele... ele foi grosso comigo. — ela conseguiu falar, entre soluços. — Falou na cara que não quer nada comigo e acha irritante o fato de eu querer... Ele disse que só quer ser meu amigo.

— Eu vou conversar com ele, Stella. — foi tudo que consegui falar.

Pensei em muitas coisas para dizer depois disso mas tudo consistia em “Esquece ele.”, “Deixa quieto e não insista mais nisso.”, “Ele já disse que não sente o mesmo por você então é inútil tentar fazer ele mudar de ideia.” e nenhuma dessas coisas iria ajudá-la nesse momento então decidi não falar mais nada. Não demorou muito para ela parar de chorar um pouco e voltar a me encarar nos olhos.

— Acho melhor eu ir. — ela disse, enxugando algumas lágrimas do rosto e exibindo um pequeno sorriso — É só tristeza momentânea, tenho certeza disso... Vou melhorar. Obrigada, John.

A abracei de novo e dei um beijo em sua testa antes de ela ir embora dali. Esperava mesmo que fosse momentâneo. E mal podia esperar para conversar com Robert. Ele devia ter deixado claro a ela as suas verdadeiras intenções desde o começo, mas não. Resolveu magoá-la falando de última hora.

Depois disso veio o treinamento. Enquanto eu estava indo com a May para a área de Unova, a última área que faltava para nós, decidi perguntar se ela queria ir na festa comigo e ela aceitou.

O treinamento correu bem e eu estava mais energético do que nunca e a resposta positiva dela foi uma das razões para isso. Treinamos em uma área de cidade; com muitos arranha-céus, lojas, ruas, e pokémons típicos da região de Unova que costumam ser encontrados em suas gigantescas cidades.

Nos saímos muito bem no treino. Fomos um dos primeiros a terminarem e como ainda estava bem cedo e não tinha nada para fazer, decidi convidá-la para tomar um sorvete comigo. Podia parecer um ato bem ousado naquele momento, mas acho que um sorvete faria bem para nós dois.

Tudo correu bem. Conversamos bastante e não me surpreendi quando ela terminou seu sorvete na metade do tempo que levei para terminar o meu e comprou mais um. Ainda conseguiu terminar o segundo antes de mim e depois fomos embora, para o hotel.

Também conversamos bastante no caminho para lá. Estávamos quase chegando quando senti algo saindo do meu bolso. Parei de repente e me virei, dando de cara com Flareon que pelo jeito havia conseguido sair de sua pokébola.

— Como que ele conseguiu sair? — perguntei enquanto encarava o pequeno raposinho.

Mal tive tempo de pegar a pokébola no bolso para botá-lo de volta quando percebi ele correndo em direção à May. Pulou, passando direto por ela e saiu correndo dali, para longe.

— Ei! — gritei. — Pra onde você pensa que vai? — me virei para May. — Ele não te machucou, né?

— Não... — ela disse, distraída, com as mãos no bolso como se procurasse algo. — Mas parece que ele pegou uma das minhas pokébolas.

— Acho melhor irmos atrás dele então... Parece que ele foi por ali. — apontei em uma direção.

Fomos correndo até a direção apontada, com esperança de não ter muita dificuldade em encontrá-lo. Felizmente não demorou muito para avistar o raposinho. Ele havia nos levado a uma parte deserta da cidade. Podíamos ver algumas arvores e ele estava quase desaparecendo entre elas. Tínhamos que prestar bastante atenção em seus movimentos para não perdê-lo de vista.

No final, ele nos levou para um lugar com uma enorme cerca viva. Entrou por uma abertura nela e desapareceu. Podia ver uma relva verdinha do outro lado.

— E agora? — May perguntou.

— Bom, acho que vamos ter que ir atrás deles, não?

Ela foi a primeira a se mexer. Se agachou e passou pela abertura, que era grande o suficiente para uma pessoa adulta passar com tranquilidade. Esperei ela chegar ao outro lado para fazer o mesmo. Assim que cheguei do outro lado, me deparei com o mais lindo cenário que já havia visto em minha vida até aquele momento.

Tudo que eu tinha visto quando ainda estava do outro lado fora apenas a relva verde, mas não podia imaginar que um campo gigantesco se estendia até onde os olhos podiam alcançar. Em meio à grama, algumas flores silvestres cresciam, dando cor e beleza àquele cenário que já seria bonito sem elas.

Um declive à esquerda terminava em um rio que corria sinuosamente e emitia um calmo som de água correndo. Alguns Taillows cantavam e voavam por toda a extensão do campo. Alguns bebiam água no rio, outros apenas pulavam pela grama e assobiavam alegremente. Estava tão absorto com aquela linda vista que até me esqueci o motivo pelo qual estava ali.

Olhei para o lado e percebi que May também estava maravilhada com aquilo tudo. Seus olhos brilhavam e exploravam cada centímetro daquele lugar. De algum jeito, a presença dela ali só tornava a paisagem ainda mais linda.

Mal percebemos quando não só um, mas dois raposinhos vinham correndo em nossa direção. Flareon e Glaceon. A última com uma pokébola na boca, que depositou na grama, do lado de May. Depois os dois voltaram a correr juntos para longe de nós. Pareciam estar brincando e se divertindo juntos.

May se agachou para pegar a pokébola e se sentou na relva. Ficou observando a vista e os dois pequenos pokémons correndo pelo campo. Me sentei ao seu lado, sem desviar meu olhar de seu rosto. Depois passei a observar os pokémons com ela. Haviam parado a muitos metros de distância de nós e decidiram ficar deitados, um do lado do outro naquele lugar lindo.

— Me pergunto como que o Flareon descobriu isso. — May quebrou o silêncio.

— Eu também... É inacreditável. — respondi, maravilhado. — Nunca poderia imaginar que algo assim existia em algum canto escondido dessa cidade. Acho que não seria ruim se ficássemos aqui por um tempo né? Está cedo ainda.

— Eu não me importaria. — ela sorriu. — Poderia ficar aqui para sempre.

Cheguei um pouco mais perto dela, quase que involuntariamente. Ela quase não percebeu. Não pude deixar de olhar para os dois raposinhos e pensar que tinha alguma coisa ali que eu não havia percebido antes. Flareon estava com o costume de sair de sua pokébola desde quando cheguei na cidade. Às vezes eu ouvia barulhos no meio da noite e encontrava uma das pokébolas vazia. Contei esse caso e perguntei à May se isso acontecia com ela, em relação à Glaceon.

— Bom, — ela começou. — ela anda bem agitada desde quando chegamos aqui e percebi que algumas vezes a pokébola dela estava vazia. No começo eu procurava por ela desesperadamente mas depois me acostumei. Glaceon sempre volta como se nada tivesse acontecido.

— Não acha que os dois estejam saindo juntos, acha?

— Eu não duvidaria. — ela sorria enquanto mantinha seu olhar nos dois pokémons. — Eles parecem gostar bastante um do outro.

Eu sorri involuntariamente. O mistério estava solucionado. Flareon saía no meio da noite para se encontrar com ela. Será que eles sempre vinham aqui? E como o meu pequeno pokémon encontrou esse lugar? Ele era bem esperto.

May ainda observava os raposinhos, que brincavam e trocavam carinhos entre si. Eu estava bem perto dela e algo me atraía para mais perto ainda. Comecei a ficar inquieto. Senti meu coração saltar e começar a palpitar intensamente. Tudo que eu queria era abraçá-la sem motivo nenhum aparente. Aquele era o momento perfeito e eu estava nervoso como nunca achei que um dia ficaria. Nunca tive problemas com garotas... Nunca.

Cheguei mais perto dela e passei meu braço por trás de suas costas. Ela percebeu minha aproximação, sem dúvida. Era impossível ser discreto quando só havia nós dois naquele lugar. Segurei sua cintura e senti ela estremecendo e abaixando o olhar. Estava tão corada quanto eu. Cheguei mais perto de modo que já podia sentir seu corpo encostado no meu. Ela pareceu ceder completamente à minha tentativa de afeto deitando sua cabeça em meu ombro. Naquele ponto, já podia ouvir sua forte respiração e sua pulsação.

Cheguei ainda mais perto e senti ela fazendo o mesmo. Meu coração palpitava tão rapidamente que não iria me surpreender se tivesse um ataque cardíaco ali mesmo, do nada. Tentei me acalmar. Decidi ficar daquele jeito por mais alguns minutos, até minha pulsação desacelerar um pouco. Acariciava seus cabelos em movimentos suaves enquanto isso.

Alguns minutos se passaram e eu sentia uma paz interior que nunca achei que sentiria antes. Aquele cenário lindo em nossa frente e o clima que sem dúvida estava rolando ali. Começou a ficar perfeito quando lhe dei um beijo na testa; longo e intenso. Encostei minha testa na dela depois, com meus olhos fechados apenas curtindo o momento. Eu podia ouvir claramente sua respiração e sentir o calor de seu corpo. Queria poder sentir aquilo para sempre.

Quando menos percebi, minha mão direita foi deslizando por seus cabelos até tocar seu rosto. Ainda de olhos fechados, inclinei levemente e cabeça enquanto segurava seu queixo e trazia seus lábios até mim, devagar e suavemente. Uma eternidade pareceu ter se passado quando finalmente os senti; suaves e macios, levemente pressionados contra os meus. Senti suas mãos entrelaçarem meu pescoço logo depois e ela pressionou seus lábios mais fortemente. Foi a minha vez de estremecer. Não esperava que ela fosse retribuir tão rápido e com tanta convicção.

Segurei-a com mais força e comecei a beijá-la de verdade, calorosa e freneticamente. Ela retribuiu da mesma maneira. Podia sentir seu calor a cada movimento, a cada toque seu em mim, a cada respiração ofegante e quando menos percebi, já estava totalmente perdido em seus lábios. Não me lembro de ter me sentido desse jeito ao beijar alguém antes e o fato de ser ela quem estava compartilhando esse momento comigo era a explicação para isso.

Infelizmente, sempre temos que parar para respirar. Separei meus lábios dos dela com enorme dificuldade e fui abrindo meus olhos lentamente. Me deparei com seus olhos azuis me encarando. Seu rosto estava completamente corado e me pareceu que ela estava lutando para não desviar o olhar. Não queria pressioná-la de maneira alguma, então a abracei; assim não teríamos que nos encarar e sentiríamos a euforia de estarmos perto um do outro, sentindo um ao outro. Poucos segundos se passaram antes que dois certos raposinhos interrompessem aquilo tudo.

Me separei do abraço assim que senti Flareon pulando em cima de mim, pois levei um susto. Glaceon, por sua vez, pulou no colo da dona logo depois e se aninhou nele. Flareon fez o mesmo em mim. Olhei para o céu e percebi que já estava escurecendo. Queria passar mais tempo com ela, é claro, mas já estava ficando tarde. Eu com certeza iria chamá-la para sair comigo depois, mas por enquanto achei melhor voltarmos para o hotel, só não sabia como comunicar aquilo para a May. Eu estava nervoso demais para sequer encará-la nos olhos. O que me salvou (ou não) naquele momento foi meu celular tocando.

Felizmente era só a múscia Summer do Calvin Harris. Fiquei aliviado quando a reconheci. Eu sempre trocava meu toque e as vezes colocava músicas muito... constrangedoras. Olhei para a tela e vi que era o Josh quem estava me ligando.

— Alô. — atendi o celular.

— Parabéns, Drew! — ele respondeu, quase gritando. — Não pude ligar mais cedo, foi mal.

— Ah, ok. Obrigado, Josh.

— Estou te atrapalhando em alguma coisa?

— Não, não. Claro que não.

— Ótimo então. Porque tem mais gente querendo falar com você.

Ele mal terminou de falar a frase direito e eu ouvi um baque, como se alguém tivesse tomado o telefone dele com violência.

— Haha! — ouvi uma voz masculina do outro lado que não reconheci. Devia ser algum amigo do Josh — Parabéns, cara!

“Me dá esse celular, idiota!” foi o que eu ouvi logo depois no fundo. Uma voz feminina que obviamente pertencia à Daisy.

— Dreeeew! Lindinho! Parabéns, meu cunhadinho lindo! Não se esqueça que você vai ser o padrinho do meu casamento!

— Ah, claro... Obrigado, Daisy. — olhei para May, constrangido. Ela com certeza estava ouvindo a conversa, do jeito que a Daisy fala alto... Felizmente ela fingiu que não estava prestando atenção.

— Parabéns, Drew! É a Violet aqui.— pelo jeito estavam revezando o celular do Josh... coitado. — Juízo ein!

Mal tive tempo de responder. A próxima voz veio poucos segundos depois.

— Parabéns. — uma voz feminina também, sem entonação e fria. Era a Lily, com certeza.

— Como você cresce rápido! — comentou a próxima voz. Misty. — Lembro quando você era um bebê e eu te pegava no colo. Não acredito que está com 18 anos agora. Parabéns!

— Cala a boca, Misty! — falei, em um tom brincalhão. — Você só é dois anos mais velha que eu.

— Tá bem então, bebezinho. Parabéns de novo! Acho melhor eu devolver o celular pro Josh agora. Deve ter mais gente querendo te ligar. Tchau.

— Tchau. — mal acabei de falar e ouvi um coro de vozes se despedindo de mim. Depois novamente um pequeno baque. Alguém havia pegado o celular.

— Consegui ele de volta. — Josh voltou a falar comigo. — Bom, é isso. Todo mundo deixou seu recado. Espero que o seu dia esteja sendo bom.

— Meu dia está ótimo, Josh. — falei aquilo olhando para a May, intencionalmente, sorrindo. — Não poderia ficar melhor.

Pude ver seu rosto ficar corado e um lindo e tímido sorriso surgiu em seu rosto enquanto ela abaixava o olhar, acanhada demais para me encarar.

— Suspeito demais esse seu comentário... — ele respondeu. — Mas tudo bem. Fico feliz que esteja tudo bem. O tio Ed já te ligou?

— Ainda não.

— Melhor ainda. Bom, vou deixar você curtindo ai. Até mais.

Nos despedimos e eu encerrei a chamada.

— Era o meu irmão. — falei para May, que olhava para mim timidamente. — E mais algumas pessoas me desejando feliz aniversário.

— É impressão minha ou aquela Misty com quem estava falando é a Misty Waterflower.

— Não é impressão. — me surpreendi com o fato da May conhecê-la. — Não sabia que vocês se conheciam.

— Nós nos conhecemos um dia, quando eu ainda viajava com o Ash e o Brock.

— Ah, sim. Eles conhecem ela, né. — me lembrei daquele detalhe.

Olhei para o céu de novo e pude ver o sol se pondo no horizonte, quase sumindo. Já havia passado da hora de voltarmos para o hotel. As pessoas já deviam ter notado nossa ausência. Me levantei, com Flareon no colo, dormindo.

— Acho melhor a gente voltar. — eu disse e ela se levantou também com Glaceon no colo. A raposinha estava bem acordada, ao contrário do Flareon.

A caminhada até o hotel não foi muito longa. Aquele lugar não era tão longe e consegui encontrar o caminho pelas ruas estranhas pelas quais passamos com bastante facilidade. Havia pouca gente na rua principal, em frente ao hotel. Com certeza estavam todos lá dentro do saguão; esse era o horário do dia que o mesmo ficava mais lotado. Me preparei para dar de cara com todo mundo assim que entrasse lá e foi isso que aconteceu.

Nos deparamos com um salão bem cheio quando entramos no hotel. Os sofás estavam todos ocupados e tinha até algumas pessoas em pé, todas conversando audivelmente. O primeiro grupinho de pessoas que notei foi o da Solidad. Incrivelmente, ela estava sentada ao lado do Robert e da Melody, conversando alegremente. Eles não nos notaram então achei melhor tirar proveito daquela situação do que deixar eles me verem para ser bombardeado de perguntas constrangedoras.

Comecei a andar em direção do elevador, quase correndo na verdade e May vinha logo atrás de mim. Infelizmente quando estávamos quase lá, Melody (claro, sempre é ela) nos viu.

— Drew! — ela exclamou. — Onde você estava?— ela olhou para May de uma maneira suspeita.

— Treinando. — respondi, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Claro... — ela retrucou, como se não quisesse saber a resposta.

Senti alguém me cutucar. Olhei para trás e vi Solidad olhando para mim e se afastando um pouco do grupinho, que agora tinha suas atenções voltadas para May. Segui ela para o canto do saguão.

— Onde vocês estavam? — ela perguntou, bem baixinho.

— Só andando por aí.

Ela voltou seu olhar para Flareon e Glaceon, que trocavam carinhos do lado do sofá.

— Parece que temos um casalzinho apaixonado aqui... Ou quem sabe mais?

— Er... Acabamos de descobrir que o Flareon e a Glaceon andam saindo juntos desde quando chegamos aqui no hotel. — achei que aquilo iria fazer ela esquecer a parte do “Ou quem sabe mais?”.

— Interessante... Você sabe o que dizem, né? Quando dois pokémons estão apaixonados, seus respectivos donos também correm o risco de compartilhar esse sentimento um com o outro.

— Eu... eu tenho que subir. Tomar banho, sabe. E dormir um pouco. — saí de perto dela, a passos largos em direção aos outros. — Vou subir para tomar banho. — falei para eles. — Vejo vocês depois.

Toquei no braço de May, querendo chamar sua atenção. Ela se virou de frente para mim. Fiz um gesto sutil para que ela me seguisse. Para meu alívio, ninguém pareceu perceber. Continuaram conversando uns com os outros como se nada estivesse acontecendo.

Fomos para trás da parede, no corredor em frente ao elevador. Ninguém podia nos ver ali.

— May. — comecei. — Eu só queria saber se... sei lá se você gostaria de sair comigo hoje... — pensei em dizer mais alguma coisa, mas parei por ali. Achei que já era o bastante.

— Claro. — ela demorou um pouco para responder.

— Então te vejo daqui a uma hora aqui em baixo, combinado? Vou subir para tomar banho.

— Sim, combinado. Eu também vou.

Ela apertou o botão do elevador e não demorou muito para ele chegar e nós entrarmos. Foi uma longa viagem, do térreo até o quarto andar. Quando chegamos as portas se abriram e, antes de ela sair, disse “até logo” para mim. Fiquei em dúvida na hora, sobre o que eu iria fazer. Havia beijado ela uma vez naquela mesma situação. Deveria fazer isso de novo? Ou simplesmente dizer algo como “te vejo depois” e pronto? Felizmente, não tive muito tempo para pensar. Agi por impulso na hora e agradeci a mim mesmo várias vezes por isso.

Dei um passo em sua direção e a beijei. Não no rosto, como tinha feito da última vez no elevador. Nos lábios de novo. Me demorei o máximo que pude e me refreei em abraçá-la; se não o fizesse, me demoraria mais do que devia ali.

Pareceu o tempo mais curto do mundo quando nos separamos do beijo e ela deu um último aceno tímido com a mão antes de sair dali e as portas do elevador se fecharem de novo. Nem percebi direito quando cheguei no quinto andar. Saí do elevador mecanicamente, ainda com minha cabeça cheia de pensamentos.

Meu telefone tocou outra vez quando eu estava caminhando pelo corredor, em direção ao meu quarto. Olhei para a tela e vi que era o meu tio. Suspirei. A conversa não terminaria tão cedo.

— Alô? — atendi, enquanto abria a porta do quarto e entrava.

— Boa noite, Andrew. — ele começou a falar, com o mesmo tom de voz quase sem emoção. — Eu te liguei para te desejar os parabéns.

— Claro. Obrigado, tio.

— E vim falar mais algumas coisas importantes também.

Não me surpreendi.

— Em primeiro lugar, — ele continuou depois de um pequeno silêncio. — Lembre-se de que está fazendo 18 anos. Isso quer dizer que já tem idade para herdar toda a propriedade que seu pai deixou para o seu irmão, mas como você bem sabe, ele se recusou em aceitá-la.

Silêncio. A velha história que ele sempre contava. Meu irmão, é claro, iria herdar aquela parada toda por ser o mais velho e tal. Mas ele renunciou ao seu direito de herdeiro. Ele simplesmente disse que não queria e foi embora para Kanto, para onde viajava regularmente desde sempre. E meu tio ficou com raiva, naturalmente.

— Sim. — respondi. — Sei bem disso.

— Ótimo. Que dia você volta pra cá?

— Eu não sei. Estava pensando em ir para Sinnoh depois daqui.

— Bom, vai ter que adiar essa viagem. Por alguns dias, pelo menos. Tem muita coisa a resolver por aqui. — ele fez uma pequena pausa. — Bom, vou passar o celular para a sua tia e outras pessoas que querem falar com você.

Fiquei alguns minutinhos a mais no celular para conversar com as minhas tias, meu tio e o Elliot, que me deram parabéns. Depois daquilo tudo, finalmente pude ir tomar banho. Tive que demorar um pouco menos que o usual já que havia perdido um tempo considerável conversando com as pessoas no celular e havia combinado de me encontrar com a May em menos de uma hora. Por isso, infelizmente não poderei descrever para as lindas leitoras como foi o meu banho e o quão gostoso eu estava...

Depois de sair do banheiro, fui mudar minha roupa. Decidi não botar algo muito sério mas nem muito casual. Coloquei uma blusa social xadrez escura e uma calça jeans de grife (beijo pras inimigas). Um sapato da Mr. Officer, é claro e finalmente o meu perfume importado. Pronto.

Vi que estava 5 minutos adiantado. Consegui ser pontual. Saí do quarto e andei rapidamente até o elevador, fazendo todo o caminho até o saguão do hotel e quando cheguei lá, me dei de cara com Stella.

— Drew? — ela me olhou de cima à baixo. — Vai sair pra comemorar seu aniversário? Ah! — ela gritou, me dando um susto. — Me desculpe, eu esqueci de te desejar os parabéns! Me desculpe mesmo, Drew. Eu estava triste hoje, você tentou me animar e eu nem sequer me lembrei do seu aniversário...

— Tudo bem, Stella. — acalmei-a. — Você estava passando por uma situação difícil hoje-

— Parabéns! — ela nem deixou eu terminar de falar. Foi logo me abrçando. — Parabéns! E obrigada por tudo!

— Espero que esteja melhor. — abracei-a de volta. — Não quero ver você sofrendo por isso. Seja forte, por favor.

Ouvi alguns passos atrás de mim. Alguém estava se aproximando e chegou uma hora que eles ficaram mais lentos até pararem. Soltei Stella, de súbito e virei para trás. May havia chegado e olhava de mim para ela, como se estivesse tentando entender ou até mesmo assumir alguma coisa.

— Ah... Finalmente chegou. — comecei a falar. — Não que tenha demorado, mas é que eu cheguei cedo e... Bom, vamos lá.

Stella olhava para mim como se eu tivesse acabado de falar um palavrão. Olhava feio para a May também, o que a fez abaixar o olhar para fingir que não estava percebendo.

Dei um passo em sua direção e segurei sua mão. Ela levantou seu olhar para mim e eu sorri, tentando encorajá-la a simplesmente ignorar a Stella. Fiquei feliz em vê-la sorrindo de volta, mesmo que quase imperceptivelmente.

Começamos a andar, de mãos dadas em direção a porta. Achei que Stella iria falar alguma coisa ou tentar chamar minha atenção de algum jeito, mas conseguimos sair normalmente do hotel. Ela deve ter precisado de muita força de vontade para isso.

Assim que saímos de lá, percebi que ainda estava de mãos dadas com ela. Não queria soltar, mas me sentia nervoso com aquilo e ela também. Sentia suas mãos tremendo em contato com as minhas. Decidi fingir que aquilo não era grande coisa. Seria a única maneira de ignorar e mostrar para mim mesmo que não tinha nada de mais naquilo.

Depois me lembrei da Stella. May havia visto nós dois abraçados e devia ter pensado alguma coisa errada. Decidi explicar para ela o que havia acontecido.

— May... — falei bem baixo, mas ela foi capaz de ouvir, pois a noite estava silenciosa ali fora. — Lá no saguaõ eu... Eu só estava consolando a Stella. Ela está passando por um momento difícil por causa do Robert e eu só estava-

— Eu imaginei. — ela me interrompeu. — Tudo bem. Não tem nada a ver comigo. Não precisa tentar se explicar.

Pensei em falar mais alguma coisa mas decidi que aquilo já era o bastante. Ela pareceu ter entendido tudo que havia se passado.

Depois de caminhar por algum tempo, finalmente chegamos em uma rua bem iluminada com muito movimento. Restaurantes, lojas, bares. Muitas coisas por lá. Agora era a hora de escolher um desses lugares para jantar. Lembrei daquele dia no cruzeiro em que May pediu espaguete com queijo. Ela parecia gostar bastante daquilo pelo jeito que comeu rápido. Olhei em volta, em busca de algum restaurante desse tipo e achei um perfeito; especializado em massas. Perguntei para ela se gostaria de ir naquele e ela respondeu positivamente, então fomos até lá.

Não estava muito cheio, é claro. Eu não escolho esses restaurantes de povão. Dava para ver, mesmo por fora, que esse era um 5 estrelas. As mesas todas arrumadas, gente fina conversando calmamente e baixo, iluminação perfeita, garrafas dos melhores champagnes... Assim que eu gosto.

Sentamos em uma mesa no canto do restaurante e percebi que May estava um pouco desconcertada. Olhava para todos os lados, prestando bastante atenção em tudo. Quis começar uma conversa, mas um garçom chegou assim que sentamos, nos cumprimentou e entregou o cardápio.

— Posso pedir um champagne para nós dois? — perguntei à May assim que o garçom saiu. — Estou perguntando porque talvez você não goste...

— Pode sim. — ela sorriu.

Ficamos mais alguns minutos olhando o cardápio e escolhendo o que pediríamos para comer. Depois eu chamei o garçom e fiz os pedidos. May não me surpreendeu quando escolheu o mesmo prato que havia pedido no cruzeiro. Decidi acompanhá-la nisso também. Depois que o garçom saiu com nossos pedidos e trouxe o champagne logo depois, foi a minha oportunidade de começar uma conversa.

— Animada para a festa amanhã? — perguntei antes de tomar um gole do meu champagne.

— Sim. — ela sorriu, timidamente.

— Acha que vai conseguir ficar entre os melhores coordenadores?

— Não sei... Não estou muito confiante quanto à isso, mas de qualquer jeito vou sair daqui satisfeita. Aprendi bastante.

— Eu acho que você consegue. Não, tenho certeza disso. — comentei e ela sorriu de novo, mais abertamente. Lembrei do que havia acontecido hoje de manhã e achei que agora seria a hora perfeita para falar sobre aquilo. — Sobre... sobre o que aconteceu hoje de manhã-

Ela levou um susto, visivelmente. Estava tomando um gole de champagne nessa hora e engoliu todo o conteúdo da taça de uma vez só. Depois olhou para mim, como se esperasse que eu retornasse a falar imediatamente.

— Bom, — continuei. — Eu só espero que não tenha sido muito afobado. Sei que talvez você tenha achado isso. Só queria que você soubesse também que eu gostei muito de ter passado aquele tempo com você e... seria bom se você me disesse o que achou também.

Ela ficou calada por um momento. Achei que demoraria bastante tempo até finalmente ouvir sua voz, mas esse momento chegou mais cedo do que eu estava esperando.

— Não achei que você foi afobado... Se estivesse sendo eu não teria deixado você... Você me beijar. — ela hesitou em completar a frase.

Iria lembrá-la de falar sobre o que ela havia achado de passar tempo comigo, mas nosso jantar chegou nessa hora.

Ficamos em silêncio pelo resto do tempo. Ela parecia estar bem desconcertada com aquilo tudo. Não por não estar gostando (pelo menos ao meu ver...), mas por estar meio encabulada por eu ter tocado nesse assunto, que ainda me deixava nervoso e a ela também, com certeza.

Depois de terminarmos os pratos, pedi as sobremesas e não tocamos mais nesse assunto enquanto estávamos no restaurante. Pedi a conta depois, insistindo com ela que eu iria pagar tudo, e depois saímos de lá.

Assim que a porta do restaurante se fechou atrás de nós, adivinha quem vimos do lado da entrada? Isso mesmo. Os dois raposinhos, provavelmente esperando por nós há bastante tempo lá fora. Glaceon pulou no colo da dona e Flareon, no meu.

— Saiu da pokébola de novo, Glaceon? — May perguntou, surpresa.

Os pokémons saltaram dos nossos colos e saíram correndo, juntos, sabe-se lá para onde. May fez menção de correr atrás deles, mas eu a segurei.

— Calma. — eu disse, rindo um pouco. — Deixa eles. Vão voltar depois. Não precisa se preocupar. Estavam saindo juntos há bastante tempo.

— É verdade...

— Quer voltar para o hotel ou passear mais um pouco?

— Eu acho melhor voltarmos para o hotel. Estou um pouco cansada.

— Claro... Vamos. — estendi a mão para ela.

Ela segurou depois de um pouco de hesitação e nós voltamos para o hotel. Mas uma vez pegamos o elevador juntos e quando paramos no quarto andar, saí para o corredor junto com ela.

— Então. — comecei. — Não sei se você gostou de ter saído comigo hoje... Você pode falar pra mim se foi bom ou não. Não vou ficar chateado.

— Foi ótimo, Drew. Eu adorei. Mesmo. Está achando isso só porque quis voltar logo?

— Não vou mentir. É por causa disso mesmo.

— Não é nada pessoal. Hoje é seu aniversário e eu já tomei muito do seu tempo. Além disso eu estou mesmo muito cansada. Acordei um pouco mais cedo que o usual hoje.

— Não pense assim. Não pense que tomou meu tempo. — cheguei mais perto dela, acariciando seu rosto de leve. — Bom, agora acho melhor deixar você descansar, né? — sorri. — Boa noite.

Já havia planejado o que iria fazer a seguir. Beijá-la outra vez. Já podia sentir seu calor me preenchendo antes mesmo de começar a me aproximar ainda mais. Porém, o que aconteceu segundos antes de nossos lábios se tocarem pela terceira vez nesse dia foi algo que eu não tinha imaginado sequer ser uma possibilidade. Não depois de tudo que passamos. Ela simplesmente virou o rosto e se afastou. Disse “boa noite” e correu até seu quarto. Não tive tempo nem de correr atrás dela. Ela fechou a porta assim que pensei em fazê-lo.

Fiquei parado no corredor por um tempo, pensando em mil motivos para ela ter me recusado. Não fazia sentido para mim. Não depois de ela ter dito que gostara do tempo que passou comigo. Mas depois eu lembrei das vezes em que ela havia agido estranho. Não tocou mais no assunto no restaurante e não quis continuar a passar a noite comigo.

Aqueles pensamentos me assombraram por várias horas. Voltei para o meu quarto meio cabisbaixo e tive sorte de não encontrar nenhum conhecido até chegar lá; eles perceberiam que havia algo de errado comigo.

Deitei na minha cama, prestes a dormir, mas o sono demorou a chegar. Um turbilhão de pensamentos e possibilidades invadiram minha mente e só me senti livre daquilo tudo quando caí no sono.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam? Comentem. Precisamos da opinião de vocês! Beijos ;*