Nossa Química escrita por Liiah


Capítulo 2
Pessoas ignorantes devem ficar sozinhas?




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Descemos do carro contemplando aquele imenso salão. Havia um enorme jardim em sua volta, além de um som alto de música pop que tomava conta do ambiente. Lucy perguntou pela milésima vez se eu não queria ir curtir a festa e conhecer as pessoas, mas  garanti que poderia conhecer amanhã quando as aulas iniciassem. Esperei que ela sumisse pelo enorme salão e dei a volta pelo jardim, acomodando-me em um banco de frente para a piscina. Peguei minha bolsa e retirei o livro de dentro, abrindo nos últimos capítulos. Eu simplesmente não acreditava na minha capacidade de ler livros tão rápido. O pior de tudo era estar deixando de lado uma festa badalada de garotos e garotas da minha idade para tal ato de amor à leitura.

Logo após um tempo, tive a sensação de que alguém estava me observando. Desviei os olhos do livro e procurei em volta, até me deparar com um menino de cabelos castanhos, observando-me atentamente do outro lado da piscina, sozinho. Quando viu que eu também estava o olhando deu um leve sorriso. Envergonhada, resolvi sair dali e fui para dentro do salão.

Percebi que foi uma péssima ideia quando entrei e algumas pessoas me olhavam, adivinhando que sou uma novata. Procurei pela Lucy por todos os lados, mas não a encontrei, então resolvi ir até um balcão aonde estavam oferecendo bebidas.

Quando cheguei não havia ninguém,  porém ouvi vozes alteradas vindo de uma porta atrás do balcão, parecia uma discussão. Passado alguns segundos, uma menina de cabelos ruivos e compridos saiu pela porta. Suas bochechas avermelhadas entregaram o quanto ficou  sem graça quando notou que eu havia escutado tudo.

—Vai querer beber algo? – Perguntou-me.

—Um suco, pode ser qualquer sabor.

Olhou-me como se pedir um suco em uma festa de jovens bebendo bebida alcoólica fosse surreal,  mas logo foi para perto da porta e gritou:

—Lucas, um suco, pode ser de qualquer sabor.

Não consegui ver o rosto do tal Lucas, só o braço dele esticado na porta ao entregar um suco de laranja para ela após alguns minutos. 

—Novata? – Perguntou a ruiva, curiosa.

—Sim, Mayane Castan – puxei o suco pelo canudinho – Pelo visto, todos se conhecem por aqui.

— Sim, aqui é um lugar de curiosos – sorriu – seja bem vinda, meu nome é Pâmela.

Agradeci e falei que poderíamos conversar quando tudo estivesse mais calmo, pois já havia outras pessoas pedindo por bebida. De repente, ao me virar, senti o suco manchar por inteiro o meu vestido.

A pessoa que havia esbarrado em mim e causado aquilo não parava de pedir desculpas. Olhei em seu rosto e o reconheci pela cor do cabelo. Era o menino que estava me observando do outro lado da piscina. 

—Deixa eu te ajudar  – falou colocando a mão no meu vestido, envergonhado.

Todos olhavam aquela cena e eu senti uma vontade de cavar um buraco no chão. No meio do estresse e vergonha, um impulso fez com que eu tirasse mão do menino do meu vestido e sai andando em direção a saída sem dizer nada.  Foi então que ouvi uma risada, vindo de uma garota loira e sem entender tamanha falta de empatia, continuei caminhando.

Quando cheguei ao jardim, o menino já havia me alcançado.

—Deixa eu ajudar – insistiu.

—Não precisa – respondi estressada.

—Olha eu só quero ajudar, não precisa ser ignorante.

—Ser ignorante? isso é por que não foi você o motivo de olhadas e risinhos.

Ele aproximou-se, fixando seus olhos aos meus de uma forma que conseguiu me intimidar.

—Eu só queria conhecer você, pois vi que você estava sem companhia e como novata pensei que queria interagir com outras pessoas. Eu me enganei. Pessoas ignorantes como você realmente precisam ficar sozinhas.

Ele se virou e foi para dentro do salão. Lucy surgiu do nada e ao olhar para o meu vestido se assustou. Falei que queria ir embora e depois falava o que havia acontecido de fato. 

Cheguei em casa, subi para meu quarto e me joguei na cama, completamente exausta. Ao refletir sobre o ocorrido repensei sobre minha atitude que de fato havia sido ignorante com o garoto, mas será que por eu ter sido uma pessoa ignorante em meio a vergonha, mereço ficar sozinha? 


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