Me encontrar no fosso? Como assim?

Uma mistura de dúvida, medo e alegria tomou conta de mim. Talvez ele só queira conversar, penso, isso não é tão absurdo.

O tempo se arrasta. Quando dá 23h saio em silêncio da minha cama. Confiro se ninguém está olhando. Cadê a Tris? Deve ter ido tomar água.

Quando chego no fosso, Zeke está sentado na beira com as pernas em posição de ioga.

–Flor de lotus -Digo enquanto me aproximo.

–Aham-Ele assente, sorrindo.

Seu sorriso é sincero, como se quisesse me dizer algo. Talvez "Como é bom ver você aqui".

Ele se levanta e vai em minha direção.

–Preciso te contar uma coisa- Ele diz. Olha para baixo, como se estivesse envergonhado. Segura minha mão. Sua mão é quente e áspera.

–Fala.

–Aqui não. Me acompanha- Ele me puxa para o outro lado do fosso.

Subimos as escadas e fomos até uma sala cinza.

–Paisagem do medo-Ele diz enquanto fecha a porta.

–Paisagem do que?- Pergunto.

– Logo você irá descobrir- Ele sorri e puxa uma cadeira- Sente-se.

Estou bem em pé, mas algo nele me faz acreditar que sentar seria uma boa ideia. Vou até a cadeira do seu lado e me sento.

– Zeke- Seguro a mão dele e o encaro nos olhos- Queria falar comigo?

–Aham- ele balança a cabeça- Bom, eu estou preoupada com tudo isso. Quer dizer, você luta muito bem e tem uma disciplina maravilhosa. Tem todas as qualidades para passar de estagio e mesmo assim fico preocupado. Seus medos podem te fazer perder e eu não quero te perder, na realidade nuca te tive para te perder... Nossa, isso é dificil-Seu rosto ficou vermelho- Eu... Tenho medo de não te ver daqui a alguns dias e não ter dito o que sinto.

Ele para de falar e me encara, olha no fundo dos meus olhos. Eu o encaro também, e ficamos assim por longos minutos, sem falar nada.

Coloco minha cabeça em seu colo. Ele segura todo meu cabelo para cima , pega um cacho da nuca e fica enrolando-o.

Zeke ficou ainda mais bonito na luz daquela sala. Ele é lindo. Na Erudição faziamos estudos sobre como o amor interfere no raciocinio da pessoa e porque estar apaixonado é tão bom.Na pratica é diferente, não existem nomes cienticos que explique o que sinto quando o olho.

Sento-me novamente. Temos tanto pra conversar, mas as palavras não vem. Sento em flor de lotus, como ele estava no fosso. Ele olha para mim e me beija. Talvez devesse recuar, mas não quero.

Ouço barulho de passos.

–O que é isso?

–Droga- Zeke coloca a mão na testa- Hoje é a caça a bandeira. Se eu fosse você eu corria, Eric mataria nós dois se descobrir onde estamos.

– Tudo bem. Até mais. Ah... Só uma coisa, para de dizer "Se eu fosse você". Tchau- Fecho a porta e vou correndo para o fosso.

Eric está com os iniciandos falando sobre a caça a bandeira. Tento entrar no grupo sem ser notada. Funciona, exeto por Tris que tem olhos de aguia.

–Onde você estava?- Ela me pergunta.

–Onde você estava?-retruco.

–Ok. Se nao quer me falar tudo bem.

Separaram os times dentro do trem. Acabei ficando no time de Eric. Apesar de ele parecer nem me notar fui uma das primeiras que ele escolheu.

Fomos para o outro lado da cidade, ela está totalmente destruida, perfeita para uma caça a bandeira.

Nos separamos do time do Quatro e fomos para o meio da mata. Depois disso, não me lembro muito do que aconteceu, pois aquele cheiro horrivel de terra ocupou todos os meus pensamentos.

Ouvimos o barulho da roda-gigante e todos disseram para ninguém ir naquela direção. Claro, até porque o Quatro é burro o bastante para deixar algum panaca ligar a roda, penso.

Alguns minutos depois ouvimos barulhos vindo em nossa direção. Despois disso, só lembro de tinta, muita tinta. Perdemos, pensei.

Alguns minutos depois Christina aparece com uma bandeira laranja na mão.

Todos estavam muito cansados. Fomos todos em silencio para o complexo da Audacia.

Quando cheguei, nem troquei de roupa. Tirei o macacao manchado de tinta e dormi de roupa intima.

Nao demorou muito para o sono me vencer.