Ao chegar, ela pegou um saco com gelo. Pedro deitou no banco em um canto da academia, com a cabeça no colo de Karina.

–Amor, não se preocupa, é só um hematoma...

–Claro que eu me preocupo. Agora, fique quieto, que eu vou cuidar de você. –disse, passando a mão nos cabelos dele. Gael se aproximou.

–Você tá bem, garoto? A Sara me contou o que aconteceu.

–Tô bem, sim, seu Gael.

–Não vai dar mais tempo de vocês irem pra escola. K, pode treinar, se quiser.

–Tá bom, pai. –Gael sorriu e se afastou.

–A Bianca estava certa...

–Sobre o quê?

–Ela me disse uma vez que, por trás da sua armadura, tinha uma menina carinhosa...

–Só com quem merece. –respondeu Karina.

–Esquentadinha, eu tô bem, tá. Vou deixar você treinar e vou aproveitar pra compor um pouco.

–Tá bom, manezão. –disse, dando um selinho no namorado.

Do outro lado no escritório, Bianca assistia a cena. Feliz e ao mesmo tempo preocupada. A conversa que ouvira no dia anterior não saia de sua cabeça. Saber que a mãe tinha traído o pai. Ele que levou anos pra sequer tirar a aliança e segurou seu relacionamento com Dandara pelo amor que ainda tinha a Ana. Que a mulher que ela mais admirava, poderia não ser o que ela passou a vida inteira acreditando. Karina ficaria arrasada se soubesse de tudo isso. Iria se sentir ainda menos amada pelo pai. Até ela começava a desconfiar de que isso era motivo da diferença de tratamento. Duca entrou na sala, interrompendo seus pensamentos.

–Tá tudo bem, amor? Você estava olhando pra K toda preocupada...

–Não, Duca, não tá nada bem. –Bianca suspirou.

–Me fala o que foi?

–Não posso, Du, é coisa de família.

–Bi, confia em mim. –pediu, segurando as mãos da morena.

–Eu confio. É que... Não pode ser aqui. É uma coisa que a K não pode saber nunca.

–Tá, na faculdade você me conta. Mas não fica assim, tá. –pediu, abraçando a namorada. –Você não vai pra aula na Ribalta?

–Nossa, até esqueci. Vou sim. –disse, pegando a bolsa. Normalmente, Bianca assistia às aulas de manhã, com BB e Sol, mas não estava com cabeça de manhã. A ruiva, então, trocou o treino pra acompanhar a prima.

–--*---

Karina foi até a casa de Pedro ver como ele estava.

–Veio cuidar de mim mais um pouco, esquentadinha? –brincou Pedro.

–Tá se achando, né, moleque? –Karina fez bico.

–É brincadeira, esquentadinha. –disse o namorado, a abraçando.

–Desistiu do pedido oficial? –perguntou Karina, depois de um tempo.

–Claro que não. Sou artista e romântico. Uma coisa dessas não se pede na cama. E tenho que conseguir a benção do seu Gael.

–Acho que ele simpatiza com você.

–Eu tô quase BFF da minha cunhadinha. Agora tenho que garantir o sogrão... –riu.

–--*---

–Ai, Du. –começou Bianca. –Eu ouvi um conversa ontem da madrinha com meu pai e a Bete; eles estavam dizendo que a K pode não ser filha dele...

–Nossa, Bia! Mas, como assim? A tua mãe... Ela traiu o seu pai? –perguntou cuidadosamente.

–Eu não sei, Du. Ele negou tudo, mas eu ouvi muito bem a Bete dizendo que ele nos trata diferente. Ele disse que é por causa do jeito da Karina e a Bete falou: “Não é só isso, é a duvida... Faz o DNA.”

–Meu Deus, Bi, nem sei o que te dizer...

–Minha mãe é o meu exemplo. Foi por causa dela que eu decidi ser atriz. E pensar que ela pode ter sido capaz de trair o meu pai... Du, ele levou uns 4 anos pra tirar aquela aliança... –lágrimas se formaram nos olhos da menina.

–Bia, se acalma, tá. Você era muito pequena na época. Pode ser que eles estavam brigados, ou isso pode ser pilha do seu pai. Ela era atriz, o povo devia falar...

–Eu espero que seja isso... Eu quero saber a verdade.

–E o que você vai fazer? Se descobrir a verdade, vai contar pra sua irmã?

–Du, se a K sabe uma coisa dessas, eu tenho até medo de como ela vai reagir...

–Bia, se você for mesmo atrás dessa história, e isso for verdade, a K tem o direito de saber...

–Ela pode ter o direito, mas ela não vai saber lidar com isso. O papai trata mesmo ela diferente, e ela vai achar que é por causa disso. Aliás, eu tô começando a pensar a mesma coisa...

–Bia, primeiro você tem deixar a K viver mais a vida dela; ela não é de vidro, ela é uma menina forte. Segundo, eu duvido que o teu pai faça tanta diferença, ele só lida com K diferente por causa do jeito durão dela...

–Du, isso é só pose dela. Eu conheço a minha irmã. Ela é muito sensível e frágil, só que ela só sabe lidar com os sentimentos na porrada. Você tem que me prometer que não vai falar nada disso pra ela.

–Eu prometo, Bia, mas ainda acho que você exagera nessa proteção sua com a tua irmã.

–Du, você é o irmão mais novo, nunca vai entender. Mas obrigada por me ouvir...

–Eu te amo, sempre vou te ouvir. –respondeu, beijando a namorada.

–--*---

–Oi, cunhadinho. –cumprimentou Bianca, quando Pedro entrou no escritório.

–Oi, Bia. Preciso te pedir um favor. Preciso de uma ajuda sua com a K.

–Pode falar. –respondeu Bianca, colocando a papelada que lia de lado.

–Eu quero pedir ela em namoro, sabe, já comprei até a aliança. –disse mostrando uma caixinha.

–Lindas, mas sem ser extravagante; é a cara da K. O que eu preciso fazer?

–Bom, já falei com o seu pai, ele aprovou, mas eu quero que seja só eu e ela, sabe. Eu já combinei com o Johnny pra ele sair. Eu queria que você tirasse o teu pai e a Dandara de casa.

–--*---

–Oi, esquentadinha. –cumprimentou, lhe dando um beijo.

–Oi, moleque. –disse, correspondendo ao beijo. Ele entrou e começaram a assistir ao UFC. Ela torcia como uma louca e ele só olhava pra ela.

–O que foi? –perguntou Karina, ao perceber que era observada fixamente.

–É que você é muito linda, só isso. –Karina corou. Pedro resolvou mudar de assunto. –Você quer estar lá um dia, né?

–Quero muito, mas meu pai não me apoia nisso, diz que não quer me ver machucada.

–Eu sei como é. Meu pai também não apoia o lance de ser músico, mas acho que nós temos que ir atrás dos nossos sonhos. Agora que eu tenho minha musa, não desisto mesmo.

–E você iria me apoiar?

–Eu não ia ficar feliz de ver esse rosto lindo cheio de hematoma, mas, se é o que tu quer, eu apoio. Desde que eu possa cuidar de você.

–Eu não sei o que responder quando tu fala essas coisas. –disse sorrindo.

–Só diz que sim. –sorriu. –Tem mais uma coisa pra qual eu quero que você diga sim. Quer namorar comigo? –disse tirando a caixinha de dentro do bolso da bermuda e mostrando as alianças. Ela assentiu, emocionada, e o beijou.

–Eu te amo, esquentadinha. –a garota congelou. Sem conseguir responder, ela simplesmente o beijou.

–Vamos pro prefeitão. Meu sogrinho já deve estar perguntando por nós.

Estar com Pedro era totalmente diferente de estar com Alan; ele a fazia se sentir amada, cuidada, protegida, não se sentia obrigada a fazer nada. Se sentia leve e feliz perto dele. Até sua relação com o pai melhorara; eles estavam mais próximos.

–--*---

–Bi, o que foi? Você tá com o olho inchado de chorar.

–Eu estava lendo um roteiro triste pra Ribalta.

–Bia, essa desculpa é mais velha que o papai...

–Eu tô falando a verdade. Agora, como foi a noite com a Pedro? Lembre-se de me poupar dos detalhes sórdidos.

–Foi perfeito, Bi. Ele escreveu uma música linda pra mim. Aí, rolou...

–O Pedro te faz muito bem...

–É, aquele moleque me faz bem, sim...

–Vocês usaram camisinha?

–Claro que sim. –respondeu corada.

–K, eu vou levar você no médico. Você já passou da idade de ir, e agora tem que tomar pílula. Aliás, eu deveria ter feito isso antes.

–Mas e o papai?

–Ele não precisa saber. Eu sou maior de idade, posso assinar por você. Que tal tu ligar pra Sol e a gente fazer uma festa do pijama como quando éramos crianças.

–Ok, mas só se você fizer aquela torta de chocolate que eu adoro.

–Ai, e eu consigo negar alguma coisa quando você me pede com essa cara?!

–--*---

–Sol, sério, para de me olhar assim... –pediu BB, irritada.

–Assim como? –perguntou, dissimulada.

–Com raiva. Eu estava com o Wallace só pra ele fazer ciúmes em você.

–E deu certo. –provocou Bianca, rindo.

–Eu não gosto dele... –desconversou.

–Para, Sol, tá na cara que gosta... –afirmou Karina.

–Tá bom, eu gosto dele! Felizes?! Mas eu não quero estragar a nossa amizade.

–Vai acabar estragando de qualquer jeito. Você se gostam, não desperdiça...

–E vocês querem que eu faça o quê? Beije ele do nada?

–Por que não? –brincou Bianca.

–Vocês são podres. –riu Sol.

–Assiste o exame de Grau pra ganhar uns pontinhos. –a ruiva deu a ideia.

–Vamos parar de falar de mim. Como vai Perina e Duanca?

–Meu namorado está muito bem, obrigada. –respondeu Bianca.

–O Pedro é um moleque idiota, mas é um ótimo namorado. –disse Karina.

–E tu, ruiva, quando vai arrumar o gatinho próprio? –questionou Sol.

–Eu tô bem solteira. –fez bico.

–--*---

–Que cara é essa, Gael? –perguntou Sara. Eles estavam em um bar, conversando.

–A Bianca ouviu uma conversa minha com a Dandara e com a Bete sobre a paternidade da Karina...

–Gael, eu tô achando que devemos contar a verdade pras meninas...

–Eu não posso, isso vai magoar muito a K. Eu só queria esquecer essa história. Nós dois fomos traídos da pior forma.

–Eu sei. O René me largou com as crianças... Graças a Deus que eu tinha adotado a Bárbara. Foi muito difícil levar a vida de militar e criar eles. Se não você pela tua ajuda, nem sei o que eu teria feito.

–Você fez um ótimo trabalho.

–Você também, Gael. E esquece essa coisa da paternidade. Tu que é pai da Karina, assim como eu sou mãe da Bárbara. Se alguém deu a luz a ela e a abandonou, não importa, porque a eu criei e a amei. É a mesma coisa com a Karina.

–Mas a BB sempre soube da verdade...

–Porque ela já tinha três anos quando eu e o René casamos. Ela se lembra, mesmo que pouco, dessa época.

–A Bete e a Dandara acham que eu as trato diferente.

–E trata. Você sempre cobrou mais responsabilidade da Bianca por ser a mais velha, e fica fazendo as vontades dela para compensar. Gael, eu sei que essa traição te doeu, da mesma forma que doeu em mim, mas tu não pode deixar isso prejudicar tua relação com as suas filhas.