Bianca chegou à faculdade e descobriu que não teria aula. Decidiu ir pra casa, já que havia passado a noite praticamente em claro. Foi quando recebeu uma mensagem de Karina:

“Bia, eu falei pro pai que fui dormir na Pri e que tu tá sabendo.”

“Já até sei onde você tá. Depois me conta. Sem detalhes, por favor.” –Bianca respondeu rindo.

“É muito besta, mesmo.” –brincou Karina.

“Eu também te amo. Juízo, viu! Não tô preparada pra ser tia.” –brincou Bianca.

“Vira essa boca pra lá! Preciso de mais um favor... ”

“O quê?” –perguntou Bianca.

“A Pri não vai querer vir junto comigo, então falei pro pai que tu ia me buscar, já que amanhã vai estar com o carro... ”

“Sorte a tua que eu sou uma irmã muito boa.” –disse Bianca.

“Valeu mesmo, Bi.”

Bianca sorriu. Pedro fazia muito bem pra irmã. Logo, ela entrou no ônibus, rumo ao Catete.

–--*---

Bete, Dandara e Gael estavam inquietos.

–Ai, o dia de hoje foi uma loucura. –disse Dandara.

–Valha-me Deus, a Karina deve ter ficado arrasada. E A Bianca, batendo em alguém...

–Pois é, Bete, ela chorou no colo da Bia até dormir. Quando eu entrei no quarto, a K estava dormindo e a Bianca deitada do lado dela velando o sono. –falou a professora.

–Essa menina não podia ter falado uma coisa dessas. –disse Bete.

–É,, mas a Bia não tinha nada que partir pra agressão. –ponderou Gael.

–Amor, você sabe que a Bianca sente uma necessidade de proteger a K, e essa história mexe muito com a Karina. Acho que até agora ela nem digeriu direito aquela discussão com a Bia... E olha que ela tentou se desculpar na mesma hora.

–Eu não acho que o problema seja a Bianca, o senhor trata elas diferente, seu Gael.

–Eu sei, Bete, é que a K é mais fechada. É mais difícil de lidar.

–Eu sei que não é só isso É essa dúvida que o senhor tem. –virou-se pra Dandara. –Eu já falei pra ele fazer esse bendito DNA, eu tenho certeza que vai dizer que a Karina é sua filha.

Nesse momento Bianca chegou. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Karina podia não ser filha de Gael.

(Bianca POV)

Como assim?! Eu passei a vida admirando uma mulher que traiu o meu pai?! Se eu perguntar, eles não vão contar, mas meu pai vai me explicar isso muito bem. Ai meu Deus, a K não pode nem sonhar com essa história, ela ficaria arrasada.

Ela respirou fundo. Era sua chance de esclarecer isso, já que Karina não estava em casa.

–Boa noite pra vocês.

–Filha, não tem aula?

–Que história é essa da Karina não ser filha do senhor? –cortou Bianca.

–Eu não sei do que você tá falando. –desconversou Gael.

–Eu tô falando de vocês discutindo porque você trata a mim e a K diferente e a Bete falando que você deveria fazer DNA. –os três ficaram em choque. Não era a primeira vez que o assunto era discutido na casa, mas nunca pensaram que uma das garotas ouviria.

–Responde, pai, a mamãe te traiu?

–Claro que não! –exclamou Gael.

–Então me expliquem isso, eu tenho o direito de saber.

–Não, você não tem, a Karina é minha filha e ponto. Eu não quero que você nunca mais toque nesse assunto. Aliás, ninguém nunca mais toca nesse assunto. Agora, volte pra academia, que tem muita coisa pra ser feita! E nem sonha falar isso pra sua irmã! –pontuou Gael.

–É claro que eu não vou falar! Mas eu vou descobrir essa história! –disse bufando. Foi para o quarto.

–--*---

–Pronto, já falei com a Bia, ela vai dar cobertura. E os seus pais?

–Eles vão ficar até tarde no restaurante e a Tomtom tá na casa de uma colega. É só você sair cedinho, na hora que vai pra academia que ninguém vai te ver.

–Ok, só porque eu não tô nem um pouco afim de sair daqui.

–--*---

Pedro acordou e sorriu ao ver sua esquentadinha em seus braços. Não era um sonho, afinal. Ficou observando cada detalhe do rosto da lutadora. Até que ela acordou:

–Sabia que é estanho olhar as pessoas enquanto dormem?

–Você é linda dormindo, esquentadinha. –disse, beijando a namorada.

–Você é bonitinho com essa cara de bobo. –eles se beijaram novamente. –Manezão, eu tenho que ir, a Bianca já deve estar na porta.

–--*---

Karina entrou no carro que Bianca dirigia e viu que ela tinha os olhos vermelhos.

–Bia, o que aconteceu? –perguntou preocupada.

–Nada, K, foi só uma discussão com o pai. –respondeu Bianca, tentando disfarçar.

–Foi por causa do lance da Jade, né?

–Foi, mas aquela garota mereceu o que teve. Valeu a pena a bronca do pai e as flexões que a tia me fez pagar... –sorriu levemente.

–Nossa, queria ter gravado essa cena, mas, sério, você se meteu em confusão por minha causa. Não precisava. –disse quando estacionaram o carro.

–Não se preocupa com isso, tá. –elas abriram a academia.

–Bora jogar um pouco? –convidou a loira.

–Já que tu me fez vir aqui a essa hora... Pelo menos pego a corda roxa e me alivio um pouco com a tia.

–--*---

Sara chegou na academia e encontrou as sobrinhas jogando.

–Assim as duas conseguem a corda. Vamos começar mais cedo hoje. –anunciou.

Depois de algum tempo, Bianca foi para as planilhas e Karina voltou ao treino de Muay Thai.

–--*---

Dandara decidiu conversar com Lucrécia. As professoras foram para a sala dos professores.

–Você quer me explicar por que a sua enteada fez isso? Já sei, devem ser os gênios do ogro.

–Deve ser porque a sua filha não tem nenhum limite. Ela já aprontou várias com a Bianca e agora foi mexer com a Karina. Foi falar da morte da Ana! A Karina passou a noite chorando no colo da irmã por causa da tua filha! –exclamou indignada.

–Mais uma vez a Jade agindo inconsequente! Aquela garota é uma inútil mesmo!

–Não, ela não é! A culpa disso é toda sua! Você trata a sua filha que nem lixo. Fica comparando ela com a Bianca o tempo todo, só porque acha que ela tá a altura da Ana e a Jade não está na sua! Você fica depositando suas frustrações na menina! Já perguntou pra ela se dançar é o que ela quer?

–Tem que ser! A Jade vai ter o futuro que me tiraram. É pra isso que eu a criei, se ela desistir, eu desisto dela! E tem razão, a Bianca é muito melhor do que ela

–Você não tem coração, Lucrécia! A tua filha esta se perdendo por causa da sua incapacidade de dar amor e carinho pra ela.

–Não se meta no modo como eu crio a minha filha!

–Então começa a ser uma mãe, não uma professora linha dura!

–A Jade tá fazendo essas coisas porque ela não dá valor a nada do que eu faço por ela. Porque ela não quer se dedicar como é preciso!

–Você é doente mesmo, não adianta discutir com você. Você vai acabar se arrependendo de tudo isso... –mal sabiam que Jade escutara tudo. Ela correu pro banheiro começou a arrancar tufos de seu cabelo.

(Jade POV)

Ela me odeia. Como pode minha própria mãe não me amar nem um pouco? Eu preciso acabar com aquela Bianca, senão minha mãe nunca vai achar que eu sou boa o suficiente... Eu preciso sair daqui. Eu sei que eu passei da conta com a irmã da insuportável da Bianca, mas ela também falou da minha mãe, do quanto ela prefere a perfeitinha sem sal a mim. A Tomboy pelo menos tem um pai que a ama e uma irmã que, apesar de ser insuportável, faz tudo por ela. E eu... Nem sei quem é meu pai e minha mãe me despreza.

–--*---

–Cobra, tá atrasado!

–Não enche!

–Só tô tentando te ajudar, cara!

–Vai pro inferno!

–Já chega, Cobra, vai esfriar a cabeça. –ordenou Gael.

Cobra saiu nervoso, aquele cara estava de marcação com ele. Ao sair, o garoto encontrou Jade no banco da praça, reparou que a garota tinha os olhos vermelhos.

–Tá legal, princesa?

–Não é da tua conta.

–Olha, eu não tô tendo um dia bom, nem você. Que tal irmos dar uma volta no meu carro?

Tá bom. –por algum motivo, aquele garoto fazia Jade se sentir melhor, por isso, decidiu acompanha-lo.

–--*---

Karina e Pedro saíram da academia para ir para escola. Estavam de mãos dadas esperando Sol e Wallace. De repente, Alan apareceu.

–Nossa, gata, me trocou por esse frango? –riu debochado.

–Alan, me deixa em paz... –pediu Karina.

–Cara, ela é minha namorada agora. Vai embora ou... –ameaçou Pedro.

–Ou o quê, frangote? –desafiou.

–A gente terminou, lembra Alan?

–Você estava dormindo com esse moleque pelas minhas costas, né?! –ele partiu pra cima de Pedro, acertando alguns socos no guitarrista. Karina estava pronta pra interferir, quando Sara pareceu e deu um Rabo de Arraia no lutador, (um chute muito potente de capoeira) fazendo-o cair no chão.

–Some daqui! –disse a mestre.

–Pedro, meu amor, você tá bem? –perguntou a namorada.

–Tô, sim, esquentadinha, só preciso de gelo.

–Vamos voltar pra academia, moleque... –disse segurando a mão dele. Ao chegar lá, ela pegou um saco com gelo. Pedro deitou no banco em um canto da academia, com a cabeça no colo de Karina.