Stella escrita por Cicatriz Vermelha


Capítulo 5
Me toque.




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Sinto dor, e muita. E ficaria até mesmo aliviado se minha dor fosse física, Stel. Queria ter-te aqui, beijar-te novamente, sentir o calor de seus abraços, olhar aquele sorriso que me iluminava. Por que só choro pensando em você? Sinto que a melhor coisa que eu tinha foi embora e está mais distante do que nunca. Sinto que você me levou junto e deixou uma parte de si aqui. Mas essa parte está machucada e está me machucando.
Gostaria de voltar no tempo, Stel. Mas o que faria se de fato voltasse? Mudaria tudo ou não mudaria nada? E se você mudasse também? Acho que não consigo pensar nisso ou irei enlouquecer. Se fosse para algo mudar, eu mudaria. Não seria idiota o bastante para te machucar. Diria "eu te amo" todos os momentos, pensaria sobre você toda vez que respirasse.

Lembro-me do dia de seu aniversário...

Nossa relação já estava bastante avançada e eu decidi levá-la ao lugar que eu mais apreciava . Estava no meio da tarde, ela estava na sua casa. Era ser aniversário e ela achava que eu havia esquecido. Eram três da tarde, se não me engano. Toquei a campainha e ela abriu, estava com os olhos inchados, vermelhos e marejados.

–O que você quer?

Eu a olhei e lágrimas quiseram escapar do meu olho. Não precisava ter deixado-a sofrer tanto.

–Eu vim aqui para te fazer uma surpresa, Stel.

Ela me olhou perplexa e protestou:

–Você esqueceu de meu aniversário, Tay. Você sabe como era importante para mim, você sabia...

Seus gritos se transformaram em sussurros em questão de segundos. E o pior, eu sabia. Sabia o que ela queria dizer. Há 4 anos, no ano em que nos conhecemos, passei seu aniversário junto à ela. Seus pais estavam fazendo uma viagem e tinham mandado-a uma mensagem avisando que chegariam logo. E o que acontece é que eles não chegaram. Tinham sido assaltados e tinham levado dois tiros. Seu pai morreu na hora do ocorrido e sua mãe ficou em coma. Percebendo a situação agravante de sua mãe,Stel permitiu a doação de órgãos e o desligamento dos aparelhos. Estava com ela naquele dia, Ela me abraçava e me pedia ajuda. "Me salva Tay, não deixe-me afogar..." E eu sabia do que ela queria ser salva. De si mesma, e para isso, eu deveria me salvar primeiro. Ela sofreu loucamente e eu me sentia útil por estar sofrendo com ela. Sentíamos um vazio que nada podia preencher. Vazio no coração, na alma... Estávamos cheios de amor, de esperança, felicidade e sonhos... E de uma hora para outra tudo mudou, tudo desapareceu de vista.

Olhei para ela e puxei o carrinho de supermercado que estava cheio de presentes. Ela me olhou numa mistura de desconfiança, ingenuidade e perplexidade:

–O que é isso?

Olhei para o carrinho cheio de bichinhos de pelúcia, pantufas, chocolates, flores... E a caixinha que estava no meio de tudo.

–É seu aniversário Stel, queria fazer-te uma surpresa. Era muita coisa, então decidi te surpreender...

Ela olhou-me estupefata e suas lágrimas se tornaram sorrisos, ela era meio instável nessa época que antecedia seu aniversário. Me abraçou e aninhou sua cabeça em meu ombro, senti-a sorrir.

–Meu Deus, obrigada, eu te amo.

Aquela foi a primeira vez que ela disse aquilo e eu senti uma lágrima sendo depositada em minha camisa. Sorri por causa do impacto que aquilo tinha.

–Eu te amo, Stella.

Fomos até seu quarto (que era no final do corredor, subindo as escadas) e tiramos todos os presentes do carinho. Vi que a caixinha havia caído no chão e ela não a tinha visto. Após ter examinado todos os presentes minuciosamente, Stella me beijou. Eu a afastei carinhosamente, ela olhou para mim e arqueou uma sobrancelha.

–O que há de errado?

Olhei para o chão e seu olhar acompanhou o meu.

–O-o que é isso, Taynor?

Sorri, seus olhos brilhavam, ela parecia uma criança. Ri de meus pensamentos.

–Abra.

Hesitante, ela pegou a caixinha e a abriu. Sua face adquiriu um tom pálido e ela me parecia um anjo.

Ela sofreu demais, porém ela continuava a sorrir, linda e misteriosamente feliz.

–Você me aceita em namoro?

Sua perplexidade se transformou num sorriso.

–Vou pensar no seu caso- ela disse com uma expressão que apareceu do nada. Ficou séria de repente. Contornou a cama e saiu do quarto.

Não conseguia me virar, estava muito chocado com os devidos acontecimentos. Senti seus pequenos dedos me tocarem, me chamando. Virei em sua direção, e a vi com um sorriso divertido estampado no rosto.

–Você acha mesmo que eu seria idiota o bastante para te deixar ir embora? Você é minha propriedade, você é meu, Taynor Clampsen.-Falou aquilo num tom brincalhão, mas deu à entender que não estava brincando.

Aquilo fez com que um arrepio percorresse toda minha espinha. Agarrei sua cintura e a beijei como nunca havia beijado antes. Eram beijos carinhosos e cheios de conteúdo. O quê? Na verdade eu não sei, eu apenas sentia. Após ficarmos sem fôlego, encostei nossas testas e suspirei.

–Temos mais um lugar para ir, Stel.

Ela me olhou e assentiu, segurando minha mão. Descemos as escadas e nos dirigimos à meu carro.

A viagem durou aproximadamente 30 minutos. Chegamos ao lugar que eu mais gostava.

–Por que estamos numa floresta, Tay?

Abri minha porta e em seguida, a dela.

–Venha, vou te mostrar uma coisa.-Fomos em silêncio, ela admirava toda a paisagem a sua volta. Ela já havia me explicado o por quê de examinar tudo, prestar atenção à todos os detalhes. "Gosto de ver tudo a minha volta, nada acontece novamente do mesmo jeito. Cada momento é único e eu gosto disso." Aquilo tinha virado uma lição que passei a seguir.

Aquela floresta era maravilhosa, era misteriosa e escura. Porém era levemente clara por causa dos vagalumes, que iluminavam todo o caminho. Caminhamos em silêncio até uma área ampla. Era o único lugar aberto de toda aquela floresta fechada, estava localizado bem no meio. Lá estava localizada minha casa da árvore. Era grande, não sei como havia feito. Deu um trabalho imenso para uma criança.

–É aqui, aquela é minha casa da árvore, e mais a frente está um dos lagos mais bonitos que eu conheço.

Ela me olhava espantada. Com o lugar, como tudo aquilo estava soando bem apesar de eu ainda não ter dito nada... Todos os elementos simplesmente combinavam harmoniosamente com as características de um sonho do qual você desejava não acordar. E eu adoraria viver esse sonho todos os dias se ela estivesse comigo.

–Uau, podemos subir? -ela pergunta com aquele brilhinho nos olhos.

Sorri diante da pergunta e apenas apreciando o momento, indico a casa das árvores e digo:

–Primeiro as damas.

A árvore era uma das mais altas que tinha na floresta, havia até mesmo uma escada de madeira para que pudéssemos subir sem quebrar nada. Havia anos que não entrava lá... Recordações preenchiam minha mente, boas e ruins, lágrimas e risadas... Me sentia intacto, como se tudo aquilo me fizesse bem, como se me sentisse leve e completo por dentro, era definitivamente o melhor sentimento do mundo e ninguém poderia discordar.

Era muito bom mostrar para Stel quem eu realmente era, mas eu sentia-me assustado, apreensivo. Ninguém me conhece do jeito que eu quero que ela me conheça, e apesar de estarmos juntos há um tempo, não sabia se ela gostaria de mim daquele jeito. Queria que ela me descobrisse, que sonhasse comigo e que me tocasse. Eu queria-a junto de mim para sempre, sem hesitar.

De repente fiquei receoso com meus pensamentos, será que se ela me conhecer melhor ela vai me abandonar? Será que não sou bom o suficiente para ela? Engulo em seco e afasto-os de minha cabeça. Saio de meu transe ao sentir sua mão tocar a minha.

–Isso tudo é tão lindo... Quando você fez?

Agora é a hora, vou contá-la ou não? E olhando-a naquele instante percebi que até mesmo se ela me machucasse, eu sentiria a dor sem pestanejar; pois teria valido a pena.

–Meus pais se mudaram para nossa cidade, e no começo eu não tinha amigos... Ocupava todo meu tempo com coisas idiotas... Até que um dia me perdi e cheguei aqui, entrei na floresta por que eu sempre amei a natureza; ai eu vi esse espaço e me apaixonei por ele e por tudo o que senti aqui. Pensei que valeria a pena construir um lugar que apenas eu e a pessoa mais especial do mundo viéssemos aqui. Nunca trouxe ninguém antes de você...

Ela sorriu e uma lágrima caiu de seu rosto.

–Tay, eu te amo... Sabe, eu me apaixono mais e mais por você cada vez que você me mostra uma partezinha sua que eu desconhecia totalmente. E é por isso, que eu sei que você é a melhor pessoa do mundo. Eu sei das suas inseguranças e são desnecessárias, ok? -Ela me olhou d ojeito mais fofo que eu tinha visto minha vida inteira.

Descemos da casa e fomos ao lago. Ela me olhava perplexa e assim também olhou para o lago. Deitamos na beira do lago e quando ela apoiou sua cabeça no meu ombro, senti a verdade. Se eu a salvasse, sairíamos bem. Porém se eu falhasse e ela se afogasse, me afogaria em seguida, apenas para não sair de seu lado.


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