Stella escrita por Cicatriz Vermelha


Capítulo 3
Me ache.




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Cheguei no Starbucks com meia hora de antecedência, estava ansioso como nunca. Estacionei meu carro e entrei, sentei na última mesa, a mais afastada, afim de ter alguma privacidade, sem olhares para a menina mais bonita. Ciúmes? Não, era só vergonha... Quem estou enganando? Claro que eram ciúmes! Esparramei meus livros e comecei a organizar, novamente me embananei todo e acabei por deixar de um jeito não tão confuso. Olhava para o relógio de cinco em cinco minutos, onde ela está? Ouvi o barulhinho do sininho da porta, olhei para lá e a vi.

Ela era radiante, como alguém pode ser tão graciosa, tão linda? Ela simplesmente vinha de um jeito arrebatador, todos os olharem a seguiam pelo Starbucks. Ela parecia um anjo, ela era tão leve, suave... Naturalmente encantadora, deixava todos boquiabertos.

–Boa tarde senhor Taynor Clampsen, posso me juntar a ti?- Fez uma reverência encantadoramente engraçada, e acabou por se desequilibrar, mostrando a língua por estar fazendo esforço para não cair, então desatamos à rir.

Com um sorriso mais confortável, eu a respondi, finalmente, fingindo um sotaque francês:

–Claro que sim, Senhorita Prestt, seria um prazer ter tua companhia nessa pequena amostra de estudos amplos e mal-resolvidos.

Ela olhou para mim com uma sobrancelha arqueada e falou de um jeito mais simplificado, mas imitando o mesmo sotaque de antes:

–Basicamente, vamos estudar por que o senhor é burro e não presta atenção nas aulas.-Ela começou a rir e eu me juntei à ela, isso seria mais divertido do que eu havia pensado.

–Bom, por onde começamos?- Indagou sem pestanejar, querendo cortar o mal pela raiz.

–Acho que por Química, é coisa do mal, nunca entendi. -Olhei de um jeito meio desesperado e vendo minha reação, ela coçou a nuca de um jeito maravilhoso e milimetricamente calculado, perdendo-me um pouco em seus movimentos, perguntei-me se ela ficava a fazer aquelas coisas na frente do espelho. Será que ela estudava até mesmo para ser linda? Não, era natural e inocente demais para ser estudado.

Ela riu e suspirou, após dar uma olhadela no meu fichário.

–Bem, para te explicar algo, eu terei que sentar do seu lado. Algum problema nisso, Senhor? -Disse, imitando novamente o sotaque.

–Nenhum. -olhei para ela, não sei como, mas ela estava corada. Será que estava se sentindo envergonhada por ter falado aquilo?- Ahm, sente-se aqui do meu lado.

Começamos estudar e simplesmente esclareci todas as minhas dúvidas. Aquela menina era um gênio. Ela não tinha nenhuma pergunta para nada e tinha resposta para tudo. Pedimos mais ou menos, dois milk-shakes e dois muffins de laranja ela comia bem e era linda. Têm pessoas que nascem para ser lindos, só pode ser. Quando olhei para o relógio eu até mesmo assustei.

–Caramba, Stella, são 21:05!

Ela não me olhou, percebi que estávamos tremendamente próximos, conseguia sentir seu cheiro. Ela tinha um ar tão aconchegante, uma espécie de aura que era confortável e delicada. Ela tinha seu próprio cheiro, um cheiro de batom, roupa recém-lavada e perfume doce. Como ela conseguia me deixar anestesiado desse jeito? Ela amortecia todos os meus sentidos. Eu parava de ser o Taynor de sempre, e passava a ser mais ousado, mais inconsequente com ela.

Ela finalmente me olhou. Engoli todo meu medo, minha ansiedade e minha agonia e segurei seu rosto em minhas mãos. A puxei para perto e quando estávamos extremamente perto, ela me bateu. Me deu um dos maiores tapas na cara que eu já vi. E eu não estava preparado para aquilo. Parecia que todo Starbucks estava virado para nós, e eu fui o garoto que levou um tapa. Eu não pensei que tinha que me preocupar com aquilo, afinal tudo tinha corrido tão bem para mim... Para mim.

Eu nunca havia pensado que esse tipo de situação aconteceria. Eu recolhi minhas coisas, as coloquei de volta em minha mochila e a observei de relance. Ela ria, mas não aquele tipo de risada controlada, ela gargalhava. Ela gargalhava de mim. E eu não consegui dizer nem mesmo uma palavra. Eu comecei a sentir lágrimas de raiva, de vergonha caírem leve e lentamente pela minha face. Apesar de tudo, minha expressão estava dura, e eu estava com o maxilar travado. Retirei minha carteira de um dos bolsos, e depositei $20,00 para que eu pudesse pagar, pedi para ela me dar licença, e saí. Ela virou e me chamou:

–Espera Tay, vamos conversar!-Falou, ainda um pouco embargada.

Eu parei, congelei onde estava, me virei para ela e comecei a andar em sua direção enquanto falava, sussurrava, berrava... Tudo junto. Deveria estar parecendo um cavalo relinchando silenciosamente:

–Sabe o que é, Stella? É que eu sou o garoto mais tímido que eu conheço, e eu engoli todo meu medo, meu nervosismo, minha timidez, minha agonia para tentar te beijar! -Me aproximava cada vez mais.- Para que? Para você me dar um tapa e rir da minha cara! Então pense que isso pode ter sido profundamente engraçado para você, já que devem fazer isso todos os dias com você e foi extremamente desagradável para mim! Foi horroroso, e eu não sei o que fazer por que a única pessoa que eu gostava me bateu e riu de mim.-No final da última frase eu já estava basicamente sussurrando.

Ela me olhou "stellamente" e me disse:

–Ei, eu não sabia que você era tão sensível... É só que você tirou minha oportunidade de te beijar, e eu sou orgulhosa, não deixaria que você tomasse o primeiro passo antes de mim.

Ela me puxou para baixo e me beijou. Exatamente assim. Molhado, fresco, saboroso, agradável, suave... Foi meu primeiro beijo, e foi com a Stella. Teve seu gosto e sua personalidade impressos nele. Foi inesquecível.

Quando paramos de nos beijar, ela sorriu. Um sorriso acolhedor e lindo. Todos do Starbucks continuavam à nos olhar.

Fomos até o carro e me ofereci para levá-la para casa. Não trocamos muitas palavras, apenas olhares, sua cabeça estava apoiada na sua janela, estava perdida em seus pensamentos. Chegando lá, eu a olhei, visivelmente animado com o que tinha acabado de acontecer. Ela engoliu à seco, algo estava a incomodar-lhe:

–Stella?-Perguntei, esperando um outro fora. Ainda estava demasiadamente assustado com o que tinha acabado de acontecer.

–Sim...- Ela disse um pouco insegura. Poderia dizer que não namorava à tempos, e sabia que era verdade.

–Quero ter o prazer de te conhecer melhor... Posso?-Perguntei, olhando para as minhas mãos.

–Com certeza, eu adoraria, mas antes... Quero que você saiba um pouco de mim antes de me conhecer de verdade.-Eu a olhei e encontrei-a com os olhos marejados. Ela ia começar a chorar, e eu nunca soube me portar numa situação como aquelas.

–Sabe, Tay, perdi meus pais à quatro anos atrás... E foi tão de repente,-ela havia começado a chorar e ela estava soluçando- eu estava em uma excursão. Nunca mais fui em nenhuma. Eles não tinham parentes, irmãos... Nada. E logo após, eu me entreguei para um garoto que me jogou fora. Quebrou meu coração eu um milhão de pedaços e os espalhou por todos os lugares. -ela suspirou, lágrimas escorriam de sua face- Eu não quero, eu não posso me machucar novamente. E se vou me entregar para você, você tem que se entregar para mim.-Seus olhos imploravam por compreensão, ela precisava ser protegida.

Eu a olhei, beijei sua testa e a acolhi em meus braços.

–Stella, com certeza eu irei te ajudar, te apoiar... Me doarei para você. Se doe para mim também... Não irei te machucar por nada na minha vida. Nunca.-Beijava sua testa, fazia festinhas em seus cabelos, secava as lágrimas que teimavam à cair...

Ela chorava muito, e eu percebi que era bem maior que ela. No final, ela não era tão frágil assim, ela tinha vivido muito e precisava de alguém. A garota que mais gostava poderia ser linda, mas também era uma guerreira.


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