— Estou saindo da cidade — falei.

— Está rolando alguma passeata gay por aí? — zombou, rindo.

— Exército.

— Com certeza! Você precisa ter 18 anos. — Mickey pegou a latinha de cerveja que estava no criado-mudo ao lado da cama e bebeu um gole.

— É, já dei um jeito nisso — sorri.

Ele engoliu em seco e perguntou: — Sério? Está se alistando?

— Amanhã de manhã — respondi.

— Isso é uma jogada idiota. Quanto tempo? — perguntou se aproximando de mim. Seu olhar estava diferente. Parecia.... Preocupado. Amedrontado.

— Quatro anos, no mínimo.

— O que está esperando? Que eu diga pra não ir? — Mickey deu alguns passos pra trás, como se não acreditasse que eu realmente estava indo embora. — Que eu vá atrás de você como uma puta?

Os olhos de Mickey estavam brilhando cada vez mais, era claro que ele estava segurando suas lágrimas.

— Não vim aqui por você — dei de ombros e me virei para ir embora.

Dei dois passos curtos e lentos, justamente esperando que Mickey disesse algo. E ele disse: — Não.

Me virei para sua direção e perguntei: — Não o quê? — Isso não era o suficiente.

Seu sofrimento era notável.

Eu sei o quanto deve ser difícil para ele falar sobre seus sentimentos — coisa que ele pareceu nunca se importar — e eu sempre entendi que o jeito dele era consequência da maneira que foi criado. E eu estava bem com isso. Eu juro que estava. Mas ultimamente tem sido difícil viver um romance escondido. Um romance onde parece que eu sou o único a amar realmente.

— Só... Não.

Dei um sorriso triste e fui embora.

Eu não queria que ele corresse atrás de mim, que ele implorasse para eu ficar e nem nada do tipo. Eu só queria ouvir ele dizer que me ama. E se não amasse, que mentisse. Eu só precisava ouvir palavras de carinho sair de sua boca pra não ir embora, pra ter certeza que valeria a pena.