Era uma tarde fria de sábado. Estavam em pleno outono e mesmo com o sol pálido cobrindo o céu, o clima era úmido e o vento castigava as pessoas do lado de fora. Wilson era uma dessas pessoas.

Tentara permanecer dentro do barzinho confortável, mas o local parecia quente e abafado demais para si. Não sabia exatamente o porque, mas seu rosto queimava de forma incomoda e o vento ajudava a abaixar a temperatura de seu corpo. Para ser sincero, tinha a leve consciência de que toda aquela situação tinha a ver com House, e que se encontrava afogueado por culpa dele, e apenas dele.

Fazia uma semana exata desde que haviam se beijado pela primeira vez. A iniciativa partira do grisalho o que deixara Wilson levemente intrigado - não que tivesse tido tempo de pensar sobre isso, como se alguém pudesse pensar com Gregory House lhe beijando, mordendo e chupando os lábios de maneira despudorada.

Como o moralista que era, Wilson tentara conversar com o grisalho, e House, por ser ele mesmo, o ignorara completamente, o beijando de novo e de novo. E quando a situação passou do limite - chamemos este limite de "linha da fivela do cinto de Wilson". - o moreno teve que tomar uma atitude. Não que não quisesse ultrapassar os limites com House - Deus sabia como ele queria. -, mas ele tinha consciência do que tudo aquilo significava, para si mesmo e para House. Sabia como o grisalho sentia tudo com mais intensidade, e a última coisa que ele queria era machucá-lo.

House nunca se dera bem com mudanças e o fato de Wilson passar de melhor amigo para parceiro de cama - e até algo mais. - era demais para se acontecer do dia para noite. Wilson sabia disso e por isso decidiu que deveriam ir com calma.

E por isso estava ali, parado na frente do bar esperando que House aparecesse para o primeiro encontro de ambos. Os cabelos castanhos bagunçados pelo vento, lhe caindo sobre a testa, a ponta do nariz congelada pelo frio e o corpo encolhido contra seu agasalho marrom.

Não fora fácil convencer House de que um encontro seria uma boa ideia, já que ele achava aquilo tudo só uma grande baboseira sem sentido, mas Wilson achava que seria bom, ao menos pra saber se os dois conseguiriam se comportar como um casal, ou algo do tipo.

Mas agora, parado ali, com a possibilidade de House aparecer a qualquer minuto, ele apenas queria ser engolido pela calçada. Se sentia tremulo e nervoso, com medo do que poderia acontecer durante o encontro.

Fazia anos que era apaixonado pelo amigo, mas com o passar do tempo aprendera como controlar o que sentia e a guardar a vontade, quase absurda, de ter House para si. Mas agora, com tudo que acontecera naquela última semana, sentia como se todos os sentimentos confusos e intensos houvessem subido até a superfície e transbordado de dentro de seu peito. Seu coração batia forte contra sua garganta, se sentia ainda mais apaixonado pelo grisalho e simplesmente não podia parar de pensar nisso. Parar de pensar em como era estar apaixonado por Gregory House.

–Está tentando se congelar? - a voz rouca soou.

Wilson teve um sobressalto, virando-se e dando de cara com House, um sorriso torto nos lábios e bem agasalhado.

–Não... eu só... só...

Tentou se justificar, mas teve que parar e respirar fundo antes de conseguir se acalmar um pouco. Sentindo o frio do outono entrando fundo em seus pulmões quentes.

–Estava com calor.

House o olhou com descrença, mas fechou o rosto logo em seguida.

–Vamos entrar, ou você está mesmo esperando que eu abra a porta do bar pra você, como um cavalheiro faz com uma dama em seu primeiro encontro? - escarneceu.

–Quer saber? - Wilson questionou num suspiro, ignorando o grisalho. - Você tem razão, isso é idiotice. Apenas vamos pra casa, certo?

E a desconfiança voltou aos olhos azuis.

–Você insistiu nisso durante três dias, por que está mudando de ideia agora?

–Eu já disse, você tinha razão - o moreno repetiu.

–Eu sei que tenho razão - disse com a voz rouca. - Encontros são coisas sem sentido algum. Eles apenas te forçaram a ser uma coisa que você não é, e nunca vai ser, apenas pra que alguém goste de você. É hipocrisia pura, mas você não pensa assim. Nunca pensou. Por que mudou de opinião?

Wilson olhou o grisalho com os olhos cerrados, amaldiçoando aquela mente analítica que nunca deixava nada passar despercebido.

–Por que aceitou o encontro? - Wilson perguntou de forma séria.

–Pra dormir com você, claro - House deu de ombros de forma zombeteira. - Por que mais um homem aceitaria ir a um encontro?

Wilson não pode segurar o riso ante aquela frase machista. Aquilo era tão a cara dele, sem contar que totalmente previsível.

Não queria admitir, mas ficara mais tranquilo depois da piadinha idiota. A casualidade que existia entre eles ainda estava ali. Aquilo o fizera ver que nada precisava mudar, não de verdade. Que eles não precisavam se obrigar a ser um casal. Que eles só precisavam ser o que já eram, cúmplices um do outro, e amigos um do outro. E, convenhamos, ser um casal era uma coisa que eles já eram a anos.

Sorriu pra House de maneira carinhosa e suspirou.

–Vem, vamos entrar.

–Mudou de ideia de novo? - questionou House de forma surpresa. - O que está acontecendo com você?

Wilson apenas riu em resposta, balançando a cabeça levemente para os lados.

–Vamos logo com esse encontro - disse em meio a um sorriso. - Você disse que queria dormir comigo, não disse?

E seu sorriso apenas se alargou quando os lábios do próprio House se entortaram em um sorriso sacana. E passaram a caminhar para dentro do bar, fugindo do vento frio.

Podia-se dizer que aquilo havia sido um acidente. Haviam se apaixonado um pelo outro sem querer e agora, apenas não queriam voltar atrás nesse pequeno acidente.