O Thousand Sunny Jr. já se perdia no horizonte. O dia havia chegado. Finalmente chegara o momento em que tivera que abrir mão de seus sentimentos superprotetores e egoístas para deixar que seu filho seguisse seu próprio caminho. Seion partira com seus amigos há poucos minutos e agora a imagem do navio se tornava cada vez mais longínqua.

Os Mugwiaras estavam todos na costa da praia, observando os novos piratas partirem para sua jornada de aventura. Nami observava a partida de seu filho pensativa e com um sorriso no rosto.

“Parece que você, mesmo sem perceber, resolveu seguir a vontade de seu pai...”.

­Cerca de 17 anos e 8 meses antes...

Fazia três dias desde o enterro de Luffy. Nami se encontrava numa verdadeira crise de depressão. Não comia direito, não falava, sequer saía de seu quarto. Seus amigos tentavam de toda forma fazer alguma coisa para mudar isso, mas não adiantava. Afinal... Nenhum deles estava em equilíbrio suficiente para tentar trazer a navegadora de volta ao dela.

Chopper havia ido até o quarto de Nami em uma tentativa falha de animá-la, quando descobriu que ela havia passado mal a noite toda e não comunicara a ninguém. Ao se levantar para ir correndo ao banheiro, no intuito de jogar para fora tudo o que não comera em seu café, Nami desmaiou em frente ao médico, que imediatamente chamou os amigos e começou a examiná-la, acreditando que aquilo se dava pelo fato da péssima alimentação da navegadora durante aqueles dias.

Surpresa foi descobrir que aquele mal-estar tinha origem bem diferente. Depois de vários exames, Chopper descobrira:

Nami estava grávida.

(...)

― É verdade mesmo?! A Nami ‘tá grávida? – Usopp perguntava animado no almoço. Estavam todos ali reunidos, exceto Nami, que permanecia na enfermaria esperando o mal-estar passar.

― Sim! Ela está com cerca de seis semanas! – Chopper confirmou, também feliz e emocionado com a notícia.

― Parece que vamos ter mais um integrante nessa SUPER família. – Franky comentou alegre.

Todos os Mugwiaras pareciam sentir alguma alegria verdadeira em dias. Aquela notícia havia vindo exatamente para dar novas esperanças ao bando depois de uma perca tão dolorosa.

― Tsc. Aquele idiota... Eu sabia que ele estava escondendo alguma coisa...

― Hem? Do que está falando, Zoro-san? – Brook perguntou confuso.

― Não me perguntem como, mas o Luffy sabia disso. De alguma forma... Eu sei que ele sabia. – respondeu pensativo, deixando todos ainda mais confusos com o comentário.

(...)

― V-você... Você realmente já estava decidido, não é?

Nami estava sozinha na enfermaria. Sentada sobre a cama e com suas mãos sobre a barriga, imersa em suas lembranças e pensamentos.

Cerca de um mês e meio antes da Guerra...

Os pontinhos brilhantes no céu eram a única luz que existia. As folhas da laranjeira dançavam de acordo com a brisa que entrava em contato com elas. O som que vinha da água batendo contra o casco do Sunny era o único ouvido naquela noite silenciosa.

Depois de um dia bastante agitado e com notícias que pegaram a todos de surpresa, Nami se encontrava exatamente ali. A laranjeira de Bellemere-san estava sobre ela e Luffy, que estava deitado com a cabeça em seu colo.

Depois de ser surpreendida pelo pedido de namoro de Luffy há quase um ano, os dois sempre faziam a mesma coisa. À noite, quando todos já tinham ido dormir, ambos seguiam para um dos deques do navio e ali ficavam, geralmente um ao lado do outro, observando o céu estrelado ou a chuva quando essa resolvia dar as caras. Momentos assim eram os únicos onde eles conseguiam apreciar a presença do outro realmente. Onde podiam ter verdadeiramente algum tipo de conversa mais “normal”.

Nami adorava aqueles momentos principalmente por descobrir, depois do primeiro, um lado de Luffy que ela só podia presenciar quando estivessem a sós; seja em momentos tranquilos como aquele ou entre quatro paredes, no quarto deles. Era até estranha a visão completamente diferente que ela tinha de Luffy como namorado antes de ficarem juntos. Ela imaginava um namorado completamente idiota e que não saberia o que era dar atenção ou carinho a sua namorada e o que descobre é que estava redondamente enganada.

Luffy continuava a ser Luffy, o garoto brincalhão, divertido e tapado que sempre fora; porém, a forma fofa com que ele a tratava a pegava de surpresa na maioria das vezes. Quando estavam sozinhos, o capitão se revelava um homem extremamente atencioso e, por mais incrível que parecesse, sabia o que fazer ou dizer nos momentos certos. Além, é claro, de entre quatro paredes conhecer detalhadamente todo o seu corpo e exatamente cada reação que teria ao ser tocado.

“Tudo bem... esses pensamentos estão indo longe demais.”

Ao perceber que sua mente já queria levá-la a pensamentos perigosos, a navegadora sacudiu a cabeça tentando tirar seu foco daquele rumo.

― Quem diria... Zoro vai ser papai... – logo tratou de começar uma conversa com intuito de afastar aqueles pensamentos.

― Shishishishi... É estranho, né? – Luffy comentou divertido.

― Sim... Nunca imaginei Zoro trocando fraldas. – riu também, se divertindo com a conversa.

― Vai ser engraçado ver ele fazendo isso. – concordaram ainda rindo, quando então pareceu ocorrer um pensamento ao moreno. ― Um dia... Um dia também vou achar graça quando eu estiver fazendo isso.

Nami demorou um pouco a entender a fala de seu namorado e quando compreendeu, ficou completamente surpresa.

― Você... Pretende ter filhos, Luffy? – sorriu, imaginando a possibilidade.

― Claro que sim! – o moreno se levantou, sentando-se ao lado da navegadora e sorriu largamente. ― Você irá me dar um!

Novamente Nami ficou surpresa ao ouvir a declaração do capitão. Não sabia se agradecia ou se espancava Luffy toda vez que ele era tão direto daquela forma. Depois de processar a informação, passou a observar o sorriso estampado no rosto do homem, que agora observava a imensidão do mar, pensativo.

― Quem sabe ele também não vá querer ser um pirata? E navegar por todos os mares como nós fizemos... Parece bom pra mim. – deu de ombros.

A ruiva ouvia o pirata com os olhos marejados. Aquele era realmente o Luffy que todos conheciam?

― O que me diz? – voltou a encarar sua namorada, ainda sorrindo.

― E-eu... Eu não sei o que dizer... – suspirou. ― Acho melhor pensarmos nisso outra hora... Temos uma guerra daqui a pouco mais de um mês e não acho que seja muito sensato pensarmos em filhos agora. O que aconteceu com a Robin e o Zoro foi algo não planejado e que, querendo ou não, vai trazer certa dificuldade durante a guerra. Isso não pode ser descoberto ou podem querer usar contra nós e... – todavia, parou de falar assim que viu um biquinho de decepção se formando nos lábios de Luffy. Iria dizer alguma coisa pra concertar a situação, mas ele interrompera antes.

― Você está certa. – sorriu. ― Mas eu já decidi e ainda quero um filho seu. – cruzou os braços como uma criança fazendo birra, fazendo-a rir.

― Tudo bem. Prometo que pensaremos nisso depois de vencermos a guerra, ok?

― Jura? – fez bico novamente.

― Juro! – sorriu gentil, mas logo fora surpreendida pelos lábios de seu capitão tocando os seus.

Luffy era realmente imprevisível.

(...)

― Eu fiz um juramento, não foi? Então... Rei dos Piratas Mokey D. Luffy, estou cumprindo minha promessa.

Uma lágrima desceu tímida por sua face e um sorriso surgiu em seus lábios. Ela finalmente começava a ver uma luz no fim do túnel. Uma sementinha de esperança que ELA estava germinando.

Um filho dele. Um filho deles.

(...)

― Eu estava aqui pensando... Eles terão muito mais trabalho do que vocês tiveram no início da jornada... – Franky comentou.

― Sim... Nós viemos do East Blue e crescemos juntos durante os anos e os perigos que tivemos que enfrentar na viagem. Eles já irão enfrentar o Novo Mundo de cara... – Usopp compreendeu o que o amigo tinha dito.

― Eles se sairão bem... Afinal... O capitão é o Seion, não é? Ele vai dar um jeito de se safar das confusões em que irão se meter. – Sanji tranquilizou os amigos.

― Como tem tanta certeza que irão se meter em tantas confusões, Sanji-Kun? – Brook perguntou divertido, já sabendo a resposta. No entanto, foi Zoro quem respondeu.

― Bem... Ele é filho do Luffy, não é? E mesmo que não fosse, só Nara já garante qualquer tipo de encrenca para o bando todo. – se lembrou da filha maluca.

Robin riu baixinho, junto de Chopper, e concordou:

― Com toda a certeza.

Um sorriso surgiu nos lábios de todos.

Ali começava uma nova jornada. Uma jornada provavelmente maluca, estranha e repleta de aventuras.

Uma jornada digna do filho do Reis dos Piratas!