Alice sentiu um toque leve e distante em seus ombros e abriu os olhos devagar. Imediatamente, tudo o que viu foi pele.

Então se lembrou do que aconteceu antes de adormecer.

– Alice? – Ela ouviu a voz de Luke chamando-a. – Está acordada?

– Luke… - Alice murmurou, abraçando-o. – Ainda está escuro.

Luke segurou os ombros dela e ergueu-a, obrigando-a a levantar. Ele levantou-se também, e Alice viu que o sol estava longe de nascer.

– São quatro horas da manhã, Alice – Luke informou-a.

– Ah, droga – disse ela, bocejando.

Ele pegou a prancha de surf que estava no chão. Alice gostava muito da cor, tão azul quanto o mar.

– Você dormiu bem rápido – Luke falou, sorrindo.

Ela estava feliz por não estar sem graça. Parecia ter desenvolvido uma ligação tão profunda com Luke em apenas dois dias que não fazia sentido sentir vergonha por tê-lo beijado. E queria beijá-lo de novo, mas não abusaria.

– Eu adorei a noite – revelou Alice. – Cada parte dela.

As bochechas dela coraram, e ela sabia que estava na hora de ir para casa. Mas Alice não queria. Foi uma surpresa quando, ao se prepararem para seguir caminhos diferentes, Luke a puxou pela cintura e lhe deu um beijo de despedida.

Entrando pela janela novamente, Alice notou que nem se lembrava do caminho todo até em casa. Só lembrava-se dos beijos, e do que isso significava.

Ela tratou de entrar no chuveiro e tomar um banho rápido, mas já bolava uma desculpa por ter certeza de que seus pais acordariam. Livrou-se do biquíni molhado e deixou a água quente escorrer pelo corpo.

Como já era esperado, algum tempo depois alguém bateu à porta.

– Por que raios você está tomando banho a essa hora, sua doida? – era a voz de Jack.

– Eu passei mal – Alice gritou, mais alto que o barulho do chuveiro.

Ela não ouviu mais a voz de Jack, mas quando saiu ele estava parado, esperando por ela.

– Onde foi que você passou mal? – Jack perguntou, a voz cheia de malícia.

– No meu quarto, Jack – Alice respondeu, já sem paciência. – E por que você se importa, hein?

Jack soltou um risinho, e segurou Alice pelo braço. Puxou-a para dentro de seu próprio quarto e fechou a porta depois.

– Eu me importo por dois motivos – replicou ele, acendendo a luz. – Primeiro, porque essa droga de chuveiro fica na frente do meu quarto e o barulho me acordou.

Alice soltou o ar que prendera, de puro nervoso.

– E segundo – continuou Jack, assustando-a novamente. –, ontem à noite eu fui até seu quarto para perguntar se queria ver Velozes e Furiosos comigo. Não encontrei você, Alice, só a janela aberta. Para onde você fugiu, hein?

Alice estava com os olhos arregalados, surpresa com Jack.

– Maldito Velozes e Furiosos – foi o que ela disse em resposta.

– Eu quero saber onde você estava – condicionou o irmão. – E com quem.

Alice pensou e pensou. Não poderia dizer que estava com Luke porque ele e o irmão eram amigos. Alice tentou encontrar uma saída que desse o mínimo de consequências possíveis, e, nervosa, acabou respondendo por impulso.

– Estava em uma festa com Alex.

Jack sorriu, um sorriso de superioridade.

– Ah, Alex – falou. – Você tem que aprender a sair escondida como um profissional. Mas admito que fez direitinho.

– Vai me entregar? – perguntou ela, querendo pôr fim àquele papo.

– Não.

– Ótimo.

Ela deu as costas a Jack e deixou o quarto, indo para o seu próprio.

Colocou o pijama e deitou. Prestes a dormir, recebeu uma mensagem.

“Hoje, às 14h, na minha casa. L.”.

Luke queria encontrar-se com ela? Ela só fora uma vez na casa dele antes e aquilo não fazia sentido. Mas Alice não se importava. Colocou o despertador para onze horas, já que dormiria até tarde naquele dia.

Estava imensamente cansada, e dormiu sorrindo.

Quando Alice acordou com o som insistente, sentia que não dormira nada.

Levantou-se e foi até a cozinha tomar café da manhã. Encontrou, para sua surpresa, Luke, Jack e Ellis na sala de jantar.

– Mãe, ontem Alice não quis assistir Velozes e Furiosos comigo – delatou Jack.

Alice encarou-o e respondeu com cautela.

– Sabe o que eu penso de Velozes e Furiosos. A décima vez já é uma droga.

Jack soltou uma exclamação e levou a mão à boca, para depois fazer uma coisa que comprometeria uma série de outras.

– Alice não assistiu ao filme comigo porque foi a uma festa com Alex!

Ellis olhou para ela, e Luke fez a mesmíssima coisa.

– Alex? – a mãe questionou, abrindo um sorriso. – Isso é ótimo! Por que não me contou?

Alice sentiu as bochechas esquentarem quando olhou para Luke e ele baixou o olhar para a mesa.

– Achei que você não deixaria – Alice mentiu, olhando fixamente para os pés.

– Ah, eu deixo sim! – insistiu Ellis. – Adoro Alex!

Luke levantou-se calmamente e fingiu olhar no relógio.

– Com licença – pediu. – Mas está tarde. Tenho que ajudar minha mãe com o almoço.

Alice engoliu em seco.

– Vai surfar hoje? – perguntou como quem não quer nada. Gostaria de saber se conversariam mais tarde.

– Não. – ele respondeu, seco.

Luke se despediu e saiu pela porta. E Alice ficou parada, atônita.

Ela voltou para o quarto e assistiu à televisão, e mais tarde almoçou. Só resolveu sair de casa perto das duas da tarde. Colocou-se à caminho da casa de Luke, torcendo que ele estivesse esperando por ela.

Mas não estava. E, quando Alice bateu à porta, quem atendeu foi uma garota loira e alta, os cabelos lisos artificialmente.

– Luke está? – Alice perguntou, mordendo o interior do lábio. Que garota era aquela e por que ela estava ali?

Será que ele ficou com tanta raiva de Alice que levou uma garota para casa?

A garota sorriu, mas não um sorriso simpático. Um sorriso de quem se diverte às custas dos outros.

– Ah, Luke mandou dizer que não está – ela respondeu, na lata.

Alice lutou para não ficar de queixo caído e começar a chorar.

– Não pode chamá-lo?

A menina loira abriu outro sorriso divertido.

– Não, querida. E acho melhor você ir embora.

Alice engoliu em seco enquanto a garota fechou a porta na cara dela.

E seguiu para cara, sentindo-se mal, rejeitada e curiosa para saber o que Luke queria fazer às 14h.