Alice baixou o volume da televisão para escutar o som vindo de fora de seu quarto. Andou até a porta, seus pés não emitiam nenhum som ao pisar sobre o assoalho rústico.

Colou o ouvido na porta e ouviu com satisfação três sons de ronco diferentes e descompassados. Alice se surpreendeu por sua audição ainda funcionar, já que quando chegou em casa para o almoço recebeu um “O QUE ACONTECEU COM O MEU TAPETE?” inimaginavelmente alto vindo de sua mãe.

Alice estava com fome, mas não se atreveu a comer algo para não correr o risco de acordar seus pais. Vendo que a hora de ir para a praia chegava, ela apressou-se em pegar uma toalha e encostar a porta do quarto devagar.

A garota abriu a janela e deslizou para fora. A parte mais perigosa e assustadora foi a queda de 50 centímetros.

A brisa quente da noite estava fraca e mal agitou seus cabelos. Alice caminhou pela calçada da parte de trás da casa e dirigiu-se à praia. Não ficava mais nervosa perto de Luke, e adorava conversar com ele.

Ela realmente gostaria de saber qual o motivo da mudança de atitude dele na noite anterior, quando a deixara na festa. Por que será que não gostava de Alex?

A silhueta na praia ao longe, só podendo ser vista por causa da luz do poste que iluminava a rua, parecia tranquila. Ele estava sentado bem próximo da calçada.

– Não tem medo de ficar sentado aí, sozinho, enquanto eu demoro para aparecer? – indagou Alice, ao chegar perto.

– Ah, sim – Luke confirmou com ar sério. – A ameaça de estupro é constante na minha cabeça, mas você vale a pena.

Ele sorriu ao ver que ela ria da piada. Não, não havia perigo naquela região e ele duvidava que houvesse muitos estupradores que tivessem vítimas masculinas.

–Foi difícil para sair de casa? – Luke perguntou.

– Não – Alice respondeu, sentando-se ao lado dele. – Todo mundo já tinha ido dormir e só para garantir eu saí pela janela.

Luke assentiu com a cabeça, sorrindo. Achava esperto da parte dela sair pela janela, e pensar que ela poderia ser pega saindo escondida durante a noite era ruim.

Mas saber que ela se arriscava para vê-lo era bom.

Talvez Luke fosse um pouco egoísta – ou muito egoísta – ao pensar assim. Mas era inevitável. Ele se perguntava se ela gostava dele tanto quanto ele gostava dela. Se conheciam há pouco mais de dois dias, mas fora amor à primeira vista.

– Quero nadar agora – Alice disse. – Podemos surfar depois?

– Por quanto tempo pretende ficar aqui? – Luke ergueu as sobrancelhas.

Alice se levantou.

– De janeiro a janeiro – citou, tirando a roupa e deixando somente o biquíni. – Até o mundo acabar.

Luke olhou-a, estupefato, mas ela não estava olhando para ele. Olhava para o mar com as mãos nos quadris. E finalmente Alice virou-se para ele.

– Você vem ou não?

Luke se levantou e tirou a camiseta. E começou a correr.

– Come poeira! – gritou, ultrapassando Alice e dando um tapinha na cabeça dela.

Ele não olhou para trás, mas sabia que ela também começara a correr; e rir.

Quando seus pés tocaram a água, ele não diminuiu o ritmo; espirrava água para todos os lados, e podia ouvir Alice fazer o mesmo. Parou no nível em que a água lhe tocava as costelas e deixou-se cair no mar.

Alice chegou rindo depois, a água batendo em seu peito.

– Você ganhou por pouco! – exclamou, espirrando água no rosto de Luke.

Ele chacoalhou a cabeça para os dois lados e toda a água contida em seus cabelos encaracolados foi parar no rosto de Alice.

Em resposta, ela voou sobre ele para tentar afogá-lo. Luke poderia ter simplesmente ter se colocado de pé e a levaria junto para cima, mas em vez disso simplesmente fingiu que ela estava cumprindo seu objetivo. Ele até se debatia.

– Ah, você é um falso! – Alice acusou, cruzando os braços. – Faz um tempão que eu parei de fazer força e você continua se debatendo.

Luke soltou uma gargalhada, fazendo-a rir também.

Depois pegaram a prancha. E surfaram.

Alice se enrolou na toalha que trouxera, e enquanto isso Luke deitava na areia. Para a surpresa dele, ela deitou-se ao seu lado.

– O céu está incrível – disse Alice.

E estava mesmo. Mas tudo em que Luke conseguia pensar era na curta distância entre os dois. E também ainda não caíra sua ficha de que tinha uma garota como aquela ali, com ele. Não era à toa que Alex estaria supostamente interessado por ela.

– Eu gosto do fato de a cidade não ter muito grande – Luke comentou. – A praia fica iluminada quase que só com a luz da lua.

– Se importa se eu me deitar sobre seu braço? – Alice perguntou subitamente. – Meu cabelo vai ficar cheio de areia.

Luke ficou nervoso e gaguejou na hora de responder. Mas estendeu o braço no chão. E o peso da cabeça dela não o incomodou.

– Sabe que horas são, Luke? – Alice perguntou, bocejando.

Era muito cedo para dizer que gostava dela?

Ele elevou o corpo para enxergar o relógio no pulso esquerdo, braço sobre o qual ela deitara. E quando olhou para ela no intuito de lhe responder, ainda na mesma posição, percebeu que seus rostos estavam muito próximos. E Alice não pareceu se importar. Luke estava com o tronco curvado, e Alice o encarava.

E, ao mesmo tempo em que ela ergueu a cabeça, ele puxou o rosto dela para mais perto. Pouco depois de Luke sentir a respiração de Alice em seu rosto, eles se beijaram. E foi um beijo incrível.

– Ainda não me disse que horas são, Luke – Alice lembrou-o depois de puxar o ar.

– São três da manhã, Alice – Luke informou.

Ainda não conseguia acreditar. Luke a beijara.

E, entre um bocejo e outro, Alice sorriu e disse:

– Boa noite, Luke – e deixou-se dormir sobre seu peito.

Luke acariciou os cabelos dela, e eram tão macios quanto pareciam ser. Depois de um tempo, ele sussurrou:

– Alice, preciso dizer mais uma coisa – o peito dela subia e descia lentamente, a respiração regular. – Preciso dizer que te amo.