Emma escutou atentamente enquanto Regina narrava seu plano. Aquilo parecia uma loucura aos ouvidos da xerife.  

  - Sério, Regina? - murmurou quando a morena terminou de falar. Regina assentiu, com uma expressão séria no rosto, sinal de que não estava brincando. - Eu não sei se quero fazer isso. Quer dizer, é a Ruby... Ela é minha amiga e...  

  - Deixa eu ver se entendi. - Regina interrompeu, com o tom de voz ligeiramente alterado. - Está dizendo que você não se sente a vontade pela garçonete ser sua amiga? Quer dizer que se fosse outra pessoa estaria tudo bem?  

  Emma suspirou, mas achou um pouco de graça do ciúme bobo da prefeita.  

   - O que eu quis dizer é que não quero nada com qualquer outra pessoa que não seja você, madame prefeita. - confessou, olhando para os lados antes de passar a mão nos cabelos escuros de forma carinhosa. 

  - Entendi. - Regina respondeu, tentando disfarçar o pequeno sorriso no canto de sua boca. Rapidamente fez um certo esforço para se recompor.  

  - Vamos, Swan. Precisamos nos despedir e ir pra casa. Se queremos que o plano dê certo, temos muito a fazer. 

 A empolgação na voz da morena quase fez Emma rir. Era como se ela estivesse escutando Henry numa versão adulta. 

  - Sabe, nessas horas eu vejo de onde vem a insistência de Henry. Ele tem o mesmo olhar psicopata quando fala das operações.  

  Regina revirou os olhos.  

  - Acho que a palavra que você está buscando é 'determinação'. E sim, meu filho é determinado igual à mim. - disse com um sorriso orgulhoso e dessa vez Emma não pode segurar uma risada.  

  A xerife assentiu e já ia caminhando até a mesa quando Regina a puxou de volta. 

  - Não se preocupe, querida. Elas vão desistir ao serem pegas de surpresa. Tenho certeza. - assegurou calmamente, depositando um beijo na bochecha da loira antes de acompanhá-la.  

  Quando chegaram na mesa, fizeram questão de usar todos os dons de interpretação para fingir estarem brigadas. A expressão fechada de Emma e o olhar quase mortal de Regina convenceram Henry e Snow que se sentiram levemente culpados. O menino não deu nem um pio quando as mães o chamaram para ir embora, apenas trocou um olhar preocupado com a avó antes de seguir as duas para fora.  

  Henry entrou no carro e observou suas mães conversarem alguma coisa do lado de fora, pareciam nervosas. Regina então se debruçou na janela do carro para falar com ele. 

  - Querido, Emma vai deixá-lo no colégio. - Disse tentando ser gentil. Henry odiava quando ela dizia "Emma" ao invés de "sua mãe", não era bom sinal.  

  - Você não vem? - perguntou, preocupado. O olhar arrependido dele quase fez Regina desistir do plano, mas seguiu firme.  

  - Não, amor. Emma e eu não estamos nos entendendo muito bem. - sussurrou. - Além disso, ela vai para delegacia. Vou dar uma volta com Elsa e depois te encontro, tudo bem? 

  Henry apenas assentiu, sem saber o que dizer. Não era isso que ele pretendia com seu plano. Regina se afastou do carro e pegou Elsa do colo de Emma, que entrou no fusca amarelo com cara de poucos amigos. A xerife observou a morena se afastar e então deu partida em direção a escola de Henry.  

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      Regina estava parada em um esquina depois do Granny's, esperando Emma que deveria ir ao seu encontro. Impaciente e ansiosa, a morena pensou em ligar para xerife, mas não queria tirar o celular da mão de Elsa que estava distraída com algum joguinho. Começou a andar em círculos, até ver o carro amarelo finalmente aparecer. 

  - Achei que tivesse sido sugada por algum portal! - Regina disse exasperada quando a loira veio até ela. - Como Henry está? 

  - Parece... - Emma parou, pensando no adjetivo adequado. - Culpado.  

  Ela viu o olhar de Regina vacilar, mas a prefeita disfarçou. 

  - Bem, isso não vai demorar muito. Ruby não vai adiante com essa idéia.  

  Emma deu de ombros, ainda tinha dúvidas sobre aquilo. Abriu a porta do carro para Regina, que colocou Elsa sentada no banco de trás e depois ocupou o lugar do carona. Emma deu a volta e sentou ao seu lado com o telefone nas mãos.  

  - Seja convincente. E coloque no viva-voz. - Regina instruiu. - Eu quero ouvir a resposta dela.  

  Snow ainda estava no Granny's com Neal, quando Ruby veio correndo até ela com o celular nas mãos.  

  - É ela! - A morena exclamou quase desesperada. - É a Emma! O que eu faço? 

   Mary Margaret franziu a testa, sem entender o porquê de Emma estar ligando para a garota. Mas rapidamente respondeu: 

  - Atende! - Disse, já pegando o telefone da amiga e aceitando a ligação. Em seguida ligou o viva-voz.  

  - Alô, Ruby? Aqui é a Emma.- A voz da xerife soou do outro lado da linha. Ruby respirou fundo antes de responder. 

  - Olá, Emma. Sua voz é inconfundível, não precisava se apresentar. - provocou, recebendo um sinal positivo de Mary. Ela escutou Emma dar uma risada nervosa. 

  - Eu tô te ligando porque hoje você foi muito legal comigo, e acho que ficou bem claro o que estava acontecendo. - Ruby gelou, mas esperou ela continuar. 

 -  Confesso que no início fiquei confusa, mas não consegui parar de pensar em você. O que acha de ir lá em casa hoje a noite? Regina e as crianças vão estar fora, podemos ficar sozinhas, conversar a vontade.  

  Houve um silêncio. Mary e Ruby se encararam, ambas com os olhos arregalados. A professora foi a primeira a falar.  

  - Não acredito que ela vai fazer isso com Regina! - sussurrou indignada, tomando cuidado para que Emma não escutasse.  

  Ruby concordou com a cabeça. Enquanto pensava no que responder, uma ideia lhe passou pela cabeça.  

  - Elas sabem! - exclamou, tapando o telefone com uma das mãos. Snow franziu a testa. - Elas sabem que nós sabemos! Regina deve estar apoiando isso.  

  Snow desfez a expressão confusa e um sorriso malicioso se formou em seu rosto.  

  - Mas elas não sabem que nós sabemos que elas sabem que nós sabemos. - Disse pausadamente, fazendo Ruby quase rir. A voz de Emma quebrou o diálogo.  

  - Ruby? Ainda tá aí?  

  Snow gesticulou, incentivando a amiga a responder.  

  - Oi, xerife. - Respondeu, com a voz mais sensual que podia usar. - Sua confissão me pegou de surpresa. Mas eu aceito. Mal posso esperar pra te ver essa noite, Emma.  

  Emma demorou a falar. Podiam ouvir a respiração dela ficar mais pesada.  

  - Ótimo. Te espero às 20h. Sabe o endereço?  

  - Claro que sei. Já estou ansiosa. Te vejo à noite. 

  - Até mais tarde. - Emma respondeu com uma voz suave antes de desligar.  

  Ruby mordeu o lábio nervosa, ainda com o celular nas mãos. Snow sorriu confiante ao olhar para ela.  

  - Vai dar certo. Elas não vão até o fim com isso.  

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  Regina correu os olhos pela sala de jantar, orgulhosa da decoração romântica que havia feito. Já estava quase na hora que Emma havia marcado com Ruby e a loira estava no andar de cima se arrumando. A morena desviou o olhar rapidamente para a sala, apenas para constatar que Elsa continuava concentrada na TV, assistindo seu desenho favorito.  

  Aquele havia sido um dia confuso para a garotinha, Regina concluiu. Quando estavam perto de Henry, Emma e Regina fingiam estar brigadas, relaxando novamente cada vez que o menino não estava presente. Elsa não conseguia entender o que estava acontecendo e Regina, cansada de tratar Emma mal, se sentiu aliviada quando a xerife disse ao garoto para dormir na casa da avó naquela noite.  

  A prefeita foi tirada de seus pensamentos pelos passos na escada e ficou sem palavras quando Emma parou à sua frente.  

  - Que tal? - a loira perguntou se referindo à sua aparência. Usava um vestido vermelho acima do joelho e sapatos pretos de salto alto. - Não quis exagerar muito porque é um jantar em casa. 

  Regina deu alguns passos até ela e a puxou delicadamente pela cintura.  

  - Você está linda, senhorita Swan. - sussurrou no ouvido da xerife e então voltou a encará-la para então iniciar um beijo calmo. Foram interrompidas pela campainha.  

  - Deve ser a Ruby. - Emma disse, subitamente nervosa. Regina segurou o rosto da loira e deu um selinho nela para acalmá-la.  

  - Vai dar tudo certo. Vou levar Elsa pro quarto dela e  me esconder no banheiro para caso você precise de ajuda.  

 Emma assentiu e foi até sala. Gritou para que Ruby esperasse um minuto e só abriu a porta quando Regina já estava escondida.  

  - Que bom que você veio. - Emma disse, abrindo espaço para que Ruby entrasse. A loira fechou a porta, sem desconfiar que Henry e Snow estavam do lado de fora e também podiam escutar.  

  - Eu estava ansiosa. - a morena respondeu, tentando não demonstrar o nervosismo. - Fiquei surpresa com sua ligação. 

   Ruby se aproximou da xerife e arriscou passar as mãos no cabelos loiros, colocando uma mecha atrás da orelha de Emma.  

  - Você fica ainda mais linda vestida assim. - Sussurrou, fazendo Emma engolir seco. Foi só então que Swan percorreu os olhos sobre o corpo da amiga e o fez de forma nada discreta. 

  - Você está linda também, Ruby. - Disse de forma sincera. Ruby era muito bonita. Não mais do que Regina, mas era bonita. Resolveu então mudar de assunto. - Preparei um jantar para nós duas. Regina vai voltar bem tarde, isso se voltar ainda hoje. A casa é nossa. 

  Ruby arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso provocante.  

  - Se temos a casa só pra nós duas, pra que perder tempo com jantar então? - Insinuou.  

  Emma franziu a testa, não esperava que a garota estivesse tão decidida. Ela deu um passo para trás e viu o sorriso de Ruby crescer, provavelmente a morena achou que ela estava desistindo.  

  - Porque não fica a vontade enquanto eu pego uma bebida no escritório? Você bebe whisky? - A garçonete assentiu. - Ok, então eu já volto.  

   Emma deixou a morena sozinha e saiu em direção ao escritório, porém mudou o caminho.  Ao abrir a porta do banheiro, foi arrastada para dentro por uma Regina ansiosa. 

  - E então?  -  A morena perguntou. Emma aproveitou que estava com ela para respirar fundo várias vezes.  

  - Regina, eu não consigo. Ruby quer pular o jantar, eu não sei se posso continuar com isso. - disse, nervosa.  

  Regina revirou os olhos, um lado seu estava feliz ao ver que Emma não queria estar com outra pessoa que não fosse ela. No momento, porém, ela precisava encorajar a loira a seguir com o plano.  

  - Emma, querida, preste atenção: Aquela garota tentou nos fazer de idiotas, juntamente com sua mãe e nosso filho. Você pode continuar com isso sim. Ela não vai adiante. - garantiu com confiança, logo em seguida suavizando o olhar para encarar a xerife.  

  - Você não vai precisar fazer nada, Em. Fique calma.  

  Os olhos verdes de Emma estavam tão vidrados nos castanhos que foi impossível que ela não se sentisse mais tranquila. Regina tinha esse poder sobre ela. Aliás, Regina tinha muitos poderes sobre ela, pensou, dando um sorrisinho.  

  - Ok, eu vou deixar ela acreditar que eu vou em frente. - Afirmou, dando um beijo rápido em Regina antes de sair.  

    De volta a sala, Emma não encontrou Ruby e por momento achou que a morena havia desistido. Já estava quase comemorando, quando viu a garota entrar.  

  - O que estava fazendo lá fora? - A xerife perguntou desconfiada. Ruby vacilou, mas foi rápida para disfarçar. Sua voz era tranquila quando respondeu: 

  - Nada. Ouvi um barulho e fiquei com medo de que fosse Regina e seus filhos. Só fui olhar para ter certeza de que podemos seguir em frente.  

  Emma não acreditou, mas deixou passar. Estava mais preocupada com a última frase dita por ela.  

  - Seguir em frente?  

  - Claro. Você sabe o que eu quero dizer. - Ruby falou entre sorrisos, e franziu a testa ao perceber que a loira tinha as mãos vazias. - E a bebida? 

  Emma ficou nervosa ao perceber que havia esquecido que usara a bebida como desculpa para ir até Regina. Tentou parecer casual ao encolher os ombros e fazer cara de frustrada.  

  - Não encontrei. Deve ter acabado. - Ao ver que Ruby pareceu acreditar, ela sorriu de forma maliciosa. - Mas, quer saber? Eu não preciso de bebida para seguir em frente com isso.  

  Ruby sorriu de volta, mas ficou aflita ao ver Emma se aproximar dela. Lembrou-se dos conselhos de Mary e Henry e se forçou a dar alguns passos para frente. Emma não levaria aquilo adiante.  

  - Vamos pular o jantar então? - Emma perguntou, chegando mais perto da amiga.  

  - Definitivamente. - Ruby sussurou. - Vamos ao que interessa.  

  A morena passou os braços ao redor do pescoço de Emma, que hesitou, mas pousou suas mãos na cintura dela. Cada movimento era lento, uma testando até onde a outra iria. Nenhuma das duas queria desistir primeiro e nenhuma das duas queria continuar. 

  Ruby passou a mão no rosto de Emma e fechou os olhos, tomando a iniciativa para beijá-la. Foi nessa hora que a loira parou.  A garçonete quase não acreditou quando viu Swan dar um passo pra trás, se afastando dela.  

  - Me desculpa, Ruby. Você venceu. - disse em voz baixa, um pouco atordoada.  

  Ruby sorriu satisfeita e aliviada, mas mesmo no calor da emoção queria que Emma confessasse que estava com Regina. Esse era o objetivo do plano afinal.  

  - Emma, o que foi? Porque você se afastou? - perguntou, fingindo não entender.  

   - Ruby, é sério. Pode ir embora. Já acabou. - pediu, visivelmente nervosa.  

  - Não saio daqui até você falar. - a morena cruzou os braços de forma desafiadora. Emma se sentiu pressionada.  

  - Ruby, eu desisti. Não importa.  

  - Importa, Emma! Pode falar! - Insistiu, elevando o tom de voz. Emma se sentiu pressionada, mas não falou nada. Não sabia identificar todos os sentimentos em conflito dentro de si.  

  - Emma Swan! Fala porque você não pode me beijar. - Ruby repetiu. - Fala de uma vez por todas que... 

  - Eu não posso! - Emma gritou, perdendo o controle. - Eu não consigo continuar esse joguinho com você porque eu amo a Regina! - Confessou, com a voz embargada. - Eu amo a Regina, você venceu! 

  Emma não havia se dado conta do que tinha dito. Não até ver a porta da frente se abrindo, com Henry e Snow aparecendo na sala. Todos a encararam com a mesma expressão: um misto de satisfação e surpresa. Ninguém esperava uma declaração de amor.  

  - Você o quê? - Henry perguntou, olhado para a mãe que parecia meio perdida.  

  - Responde, Emma. - a voz de Regina surgiu atrás da xerife, que se virou para encará-la. - Responda a pergunta de Henry. Você disse o quê?  

  Regina falava pausadamente, sem acreditar no que havia escutado. Seus olhos estavam marejados, e Emma nunca havia visto aqueles olhos castanhos tão arregalados. 

  A loira respirou fundo, tentando se acalmar. Ela não teve a intenção de gritar que amava Regina Mills. Ela sequer tinha consciência de que amava Regina Mills. Mas esse era um fato, ela sabia disso agora. E não tinha nenhum problema com isso.  

  Assim, ela andou até Regina lentamente e parou bem perto dela, perto o bastante para sentir a respiração irregular da morena. Ignorando completamente a pequena plateia ao redor delas, Emma tentou decifrar o olhar de Regina e não se sentiu bem ao falhar. Mesmo assim, ela inspirou o ar lentamente antes de repetir.  

  - Eu te amo, Regina. - Ela viu uma lágrima rolar no rosto da morena e se apressou em limpá-la. Então afirmou mais uma vez. - Eu realmente amo você.  

  O silêncio que se fez na sala foi perturbador. Todos ficaram na expectativa da resposta da prefeita, mas ela não disse nada. O olhar confuso e perdido de Regina não se desviou do de Emma nem por um segundo, nem mesmo quando ela deu dois passos para trás, soltando a mão da loira. 

    Emma ficou aflita. Abriu a boca para falar, mas antes que dissesse qualquer coisa, Regina havia desaparecido em sua fumaça roxa, deixando todos sem entender o que havia acabado de acontecer naquela sala.